Sexta-feira, 6 de Novembro de 2009

Paulo Bento cometeu um erro. Não hoje. Não ontem. Em Junho.

Ao aceitar continuar uma época mais ao leme do Sporting o técnico preferiu arriscar numa época que, já se sabia, iria tremendamente complicada. Podia ter preferido sair em alta, com um curriculum invejável para a conturbada história dos leões. Preferiu ir à luta. Hoje pousou as armas. E o Sporting volta a cometer o mesmo erro do passado.

 

Em Portugal, já se sabe, não há cultura desportiva.

Aliás é um mal ibérico e não só português, um mal de pessoas que vivem para o imediatismo e nunca pensam num horizonte um pouco mais longe do que têm à frente dos olhos. Talvez por isso os inimigos de Paulo Bento tenham aumentado de forma considerável no último ano. Afinal, há décadas que um técnico não ficava tanto tempo no banco do clube leonino. Um clube habituado a despedir treinadores à minima falha. Durante 4 anos Paulo Bento reformulou o futebol do Sporting. Uma equipa com o amor próprio ferido pela semana trágica em que perdeu a Liga e a final da Taça UEFA no seu próprio estádio. José Peseiro foi vitima do seu insucesso e para o substituir a direcção escolheu o low-profile do campeão de juniores. Desde esse Outono de 2005 até hoje a equipa do Sporting tornou-se o segundo grande de Portugal. Quatro segundos lugares consecutivos. Duas vitórias na Taça de Portugal e igual triunfo em Supertaças. A primeira classificação para os Oitavos de Final da Champions League. E vários jovens emergentes lançados e consagrados por um técnico que, a principio, parecia só ser de transição. Neste seu mandato de quatro anos - uma eternidade para o típico adepto português que elogia os mais de 25 anos que leva Alex Fergusson em Inglaterra mas que não suporta uma derrota do seu treinador - a verdade é que Paulo Bento cometeu erros. Mas nenhum tão grave como ter aceitado ficar quando todos os sinais o convidavam a sair.

 

O problema do conjunto de Alvalade é claramente estrutural e quanto a isso não há santos milagreiros. O falhanço absoluto do Projecto Roquette, tapado pelas duas ligas ganhas por Augusto Inácio e Lazlo Boloni - dois técnicos que depois de se sagrarem campeões tiveram pouco apoio da direcção - levou o Sporting quase à ruína financeira absoluta. Os gastos com a equipa e com a SAD tornaram a instituição financeiramente inviável. E quem se ressentiu foi o aspecto desportivo. Nos últimos 4 anos, os mesmos em que Paulo Bento esteve ao leme, o investimento no futebol foi minímo. Enquanto o FC Porto passava os defesos a fazer milhões com vendas e a gastar milhões com compras e com o SL Benfica nos habituais gastos despropositados que poucos ou nenhuns resultados trouxeram, em Alvalade a palavra de ordem era contenção. Paulo Bento teve ordens - e traquejo - para apostar na escola de formação de Alcochete. Lançou ou confirmou os valores que fariam parte da estrutura actual leonina. João Moutinho, Miguel Veloso, Nani, Djaló, Pereirinha, Adrien, Rui Patricio ou Daniel Carriço foram apostas suas claras. Todas ganhas. Para compensar a direcção pouco ajudou. Apostou em comprar barato e mal. Trouxe jogadores em final de carreira (casos de Rochemback, Miguel Angulo ou Derlei) ou cujo o nível estava monte longe do que era "vendido" aos adeptos (Grimi, Stoijkovic, Vuckcevic, Postiga, Matias Fernandez, Caicedo). E descompensou um plantel já de si curto por definição.

 

Apesar de todas as contrariedades o Sporting conseguiu quatro segundos lugares consecutivos. No conturbado historial de um clube que passa do 8 ao 80 no espaço de uma época - e que viveu durante 19 anos bem longe dos dois primeiros postos - era um feito. Para os adeptos não. Pelo caminho ainda ficaram as conquistas de duas Taças de Portugal (frente ao Belenenses e ao FC Porto) e as constantes presenças na Champions League. O estilo de jogo de Bento pautou-se rapidamente por um 4-4-2 em losango com a aposta em constante trocas de bola no miolo à procura da rápida movimentação de Liedson, o seguro de vida pessoal do técnico durante o seu mandato. O "levezinho" resolvia quando os outros emperravam a máquina e ia escondendo as fragilidades da equipa. O treinador pedia jogadores para posições chaves mas a direcção fechava a porta a investimentos. A situação tornava-se cada vez mais complicada e com as eleições para a presidência a constentação a Paulo Bento foi ganhando cada vez mais forma. Numa equipa que dificilmente seria tantas vezes vice-campeã noutra conjuntura, ser segundo já não bastava. No final da passada edição da liga Paulo Bento teve um momento de dúvida. E optou pela via do sacrificio.

 

Desde o defeso que se percebeu que as baixas no plantel não tinham sido colmatadas e que as entradas eram de nível bastante duvidoso. A manta não tapava os pés e o resultado começou a ficar claro na precoce eliminação europeia, depois de um apuramento in extremis frente ao Twente, capaz de dissimular os graves problemas no plantel. A falta de apoio a Bento pela direcção desportiva nos seus confrontos públicos com os jogadores mais rebeldes (Stoijkovic, Vuckevic e Miguel Veloso) deu sempre a entender que o técnico estava cada vez mais só. A ponto de que não havia nenhum rosto que viesse ao terreno defender a sua atitude. Era um comandante à deriva e o naufrágio tornava-se inevitável. Foi hoje, depois de mais um resultado que espelha bem a deficiente preparação do plantel para atacar uma temporada em três frentes. Curiosamente a equipa está prestes a apurar-se na Europa. Mas nem isso é suficiente. A falta de apoio era clara e Paulo Bento tomou a única decisão que combina com o seu caracter. O erro está na direcção por ter aceite o seu pedido. A mesma linha de direcção leonina que volta a cometer os mesmos erros que custaram o cargo a Bobby Robson, Carlos Queiroz, Octávio Machado, Augusto Inácio, Lazslo Boloni e José Peseiro. Tudo técnicos com projectos estáveis para um clube instável por natureza. E que foram utilizados como cabeças-de-turco pelos rostos escondidos nos bastidores. São eles os reais responsáveis do descalabro leonino.

 

Sem Paulo Bento o Sporting provavelmente vai continuar igual. Os defeitos no plantel são largos e não se solucionam com varinhas mágicas ou incursões no mercado de Inverno. A distância para o trio da frente é já demasiado significativa para uma reviravolta e o objectivo deve ser repensar a estratégia. O Mundial - se Portugal lograr o apuramento - pode servir para o clube fazer caixa com vendas previsiveis (Miguel Veloso, João Moutinho e talvez Liedson), mas o novo treinador continuará a debater-se com a mesma crise interna de directivos. Os adeptos esperam o milagre da chicotada, mas o panorama parece ser mais negro do que auspicioso. Paulo Bento não deveria ter arrancado esta época no comando da nave. Mas deveria tê-la acabado. O Sporting devia-lhe isso!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 11:45 | link do post | comentar

Quinta-feira, 5 de Novembro de 2009

A imprensa espanhola passou a última quinzena a augurar uma rápida recuperação de Cristiano Ronaldo. Para animar as hostes tristes do Real Madrid. Falavam numa recuperação milagrosa e a alta-velocidade. Como é habitual, desinformaram ao extremo de hoje terem de comunicar a verdade dos factos. Cristiano Ronaldo continuará fora de combate. E agora?

O problema mais grave do extremo português não foi o golpe de Diawara, defesa francês responsável pela brutal entrada no duelo de Champions entre o Real Madrid e o Olympique Marseille. O português saiu lesionado mas ainda pediu para voltar ao relvado. Até marcou o terceiro golo antes de ser finalmente substituido. Daí nasceram as queixas e as dúvidas sobre o estado real da lesão. Mesmo sem estar recuperado a 100%, o extremo ganhou o pulso ao clube e apresentou-se em Óbidos para servir a selecção. De quem é capitão, lembramos. Queiroz foi irredutível. Precisava da sua estrela para o jogo decisivo e na altura ainda não se sabia que os dinamarqueses iam dar uma ajuda preciosa. Ronaldo treinou de forma cuidada mas o médico da selecção deu-o oficialmente como apto. O jogador queria jogar e alinhou de início. Aos poucos minutos de jogo percebeu-se que não estava em condições. Notavam-se as dores, os movimentos presos e a angústia de saber que o problema não tinha desaparecido. Mas a sua presença assustava os hungaros e um golpe de rins seu abriu o marcador. Foi o suficiente para mandar Portugal para o play-off. Mas também para provocar uma séria recaída.

 

Em Madrid levaram as mãos à cabeça e Queiroz e Henrique Jones foram tratados literalmente abaixo de cão, especialmente pelos jornais madrileños. O habitual aliás. Ronaldo foi proibido de ir a Guimarães festejar a passagem ao play-off mas não a ir a programas radiofónicos com contactos privilegiados no clube ou em acções de marketing com patrocinadores. O habitual em Concha Espina. Pelo meio a recuperação, lenta, demasiado lenta para uma simples lesão de tornozelo. Rapidamente a Marca e o As foram dando noticias esperançadoras aos adeptos que viviam o pior mês do novo projecto de Florentino Perez. Que voltaria para o jogo com o Milan, contra o Alcorcon, logo viajaria a Milão e nem pensar faltar o derby. O engano foi bem engendrado, como sempre, e criou-se até o falso debate sobre se o jogador deveria voltar a jogar por Portugal. Como se o clube fosse o seu dono. 

Hoje chegou a dura verdade. A lesão é mais grave do que se suponha. A recaída foi pior do que se imaginava. E o regresso é impensável para os próximos tempos. Largos tempos. 

O jogador partiu para Amesterdam onde trabalha o médico que o operou ao mesmo tornozelo há cerca de um ano e que lhe permitiu recuperar em tempo recorde. Mas ninguém acredita agora que o jogador possa ainda jogar este ano.

A FPF tem a sua quota parte na lesão de Cristiano Ronaldo, mas o mais normal do mundo seria que o capitão da selecção quisesse dar o seu contributo num dia muito complicado. Mostrou aí o seu verdadeiro caracter de campeão e de capitão e colocou em risco a época - e talvez repetir um Ballon D´Or que Messi tem nas mãos, cada vez de forma mais injustificada - para ajudar a selecção. Mas que era notório de que não estava apto, isso é hoje evidente. Mas os merengues também têm a sua quota parte por muito que gostem do papel de virgem ofendida. Acelararam a recuperação do jogador pelos graves problemas desportivos que se enfrentaram e provocaram uma sobrecarga que agora terá de ser cuidada com pinças. Tudo para paliar as falsas expectativas criadas à volta da segunda galáxia. 

 

Mesmo que esteja disponível - um cenário hoje quase impossível - acredito que Cristiano Ronaldo não deveria ser convocado por Carlos Queiroz. A selecção deve isso a um jogador que arriscou parte da época para dar o contributo num dia decisivo. Onde assumiu o seu real estofo. Mesmo que possa estar disponível, CR9 precisa de um plano de recuperação realmente eficaz. Uma lesão mal curada é um grave problema. Uma lesão reincidente mal curada é ainda pior. E em Espanha começa-se a defender que o jogador jogue injectado nos próximos meses para paliar a dor. Ou seja, que arrisque a ter de parar várias vezes ao ano para recuperar-se de forma a dar o seu "contributo" à màquina merengue. Uma situação que a longo prazo pode ser fatal. Que o diga Marco van Basten, por exemplo.

Portugal tem de saber afirmar-se sem a sua maior estrela e mesmo sem o actual Ballon D´Or continua a ser favorita para o play-off. E se vencer sem Ronaldo consegue finalmente matar o fantasma de dependência que não é positivo para nenhuma selecção. Se for derrotada, fica claro que o apuramento não foi merecido. Não pode ser a ausência ou baixa de forma de um homem responsável por um cenário tão negro. Ao jogador resta sacar todo o seu profissionalismo e brio e recuperar de forma lógica, sem datas. Perdendo o derby, perdendo os jogos da Champions. Até mesmo perdendo o confronto com o Barcelona. Sob o risco de arrastar problemas ao largo de todo o ano e no final de temporada estar ainda em piores condições.

Depois de dois anos a criticar a escolha de Cristiano Ronaldo como capitão da selecção, hoje em dia é necessário reconhecer que o seu risco esteve à altura do seu posto. Foi determinante e os adeptos sabem-no bem. Agora resta montar uma equipa sólida e competitiva capaz de bater uma motivada Bósnia. E esperar que em Junho se viaje até à Àfrica do Sul com o capitão no seu melhor. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 20:46 | link do post | comentar

Muitos questionaram o título de grupo da morte. Mas a verdade está aí, indiscutível. A dois jogos do final quatro equipas com opções legitimas de sonhar com os Oitavos de Final. Uma mudança constante na tabela que levam o último a primeiro num abrir e fechar de olhos. E no meio de tudo isto o lobo de Barcelona que se parece transformar em cordeiro. E está muito perto do altar do sacrifício. E segundo o seu técnico, pode bem vir a merecê-lo.

É impressionante ver a expressão séria de Josep Guardiola diante dos jornalistas. Depois de um jogo sofrível - mais um na Europa do campeão europeu - o técnico do Barcelona não teve problemas em assumir que a sua posição é complicada. Mas também que a equipa não merece mais. E o apuramento? "Se não fizermos seis pontos, é porque não o merecemos!". Retumbante.

Com a coragem habitual Guardiola destapa o temível mês que se avizinha para os culés. Nunca, nos últimos 20 anos, um clube soube renovar o ceptro europeu. Mas cair eliminado na fase de grupos é algo inesperado. Especialmente com este Barcelona, a equipa que na época passada encantou a Europa e nos apresentou a versão mais bela do jogo mais popular. Mas, como são as coisas. Apenas meio ano depois de se sagrar campeão em Roma, o Barcelona está à beira da eliminação. Continua a depender apenas de si próprio e provavelmente nem precisa de vencer os dois jogos. Mas a imagem sofrivél e os problemas encontrados com rivais, teoricamente, acessiveis, espelha bem a preocupação do seu técnico. Que bem tinha avisado que este era o Grupo da Morte. Sem nomes sonantes ninguém acreditou. Aí está a prova.

Os catalães recebem agora o líder do grupo. Sim, o Inter de José Mourinho.

O técnico português não vencia na Europa há um ano. A mesma Europa que fez dele um Special One como poucos. O Inter arrancava em último para a segunda etapa da classificação e com tantas lesões e problemas a viagem a Kiev parecia um pesadelo. O português sabia que precisava de vencer no momento em que soube que o Barcelona, que tinha jogado em Kazan duas horas antes, tinha empatado. Mas o golo de Shevchenko, num notável golpe de sorte, logo aos 21 minutos, deixou-o desanimado. Num Valery Lobankovsky gelado, os ucranianos estavam como peixes na água e preparavam-se para carimbar praticamente o apuramento. Uma vitória tinha-os deixado como lideres isolados do grupo e a depender apenas de uma vitória em casa com o Rubin. Fazia-se a festa. Mas Mourinho nunca se dá, realmente, por vencido.

A equipa italiana reagiu, lutou e apesar de não mostrar um bom futebol não se deixou abatar. Aos 85 minutos o argentino Diego Milito teve a frieza para parar o tempo e bater Shovkovsky. O eliminado Mourinho ressuscitava e festejava de forma entusiasta. Ainda nem imaginava o que lhe esperava. Poucos minutos depois, com os 90 a dar as badaladas, Wesley Sneijder, o mais lutador, apanha um ressalto em cima da linha e dá o toque súbtil. O toque da liderança. Da vitória, um ano depois. E do sonho.

 

A dois jogos do final os italianos levam um ponto de avanço ao Rubin Kazan - que só pontuou contra o Barça - e dos campeões europeus. E mais dois que o Dynamo Kiev que terá de receber os catalães e o Rubin. Para Mourinho uma vitória em casa diante dos russos pode ser suficiente para logar o apuramento. Para o Barcelona é indispensável conquistar quatro pontos, como mínimo. E que a vitória seja, preferencialmente, contra o rival directo de Milão. Todas as contas são possíveis e o duelo do Camp Nou torna-se mais apetecível que nunca. Mas todos os ouvidos estarão essa noite em Kiev. Um empate é o resultado ideal para os dois colossos e uma vitória de qualquer um dos clubes de leste torna a última jornada dramática.

O Grupo da Morte promete ser um altar de sacrificio implacável e a esta altura do jogo parece claro que pelo menos um dos lobos se vai transformar em cordeiro.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:40 | link do post | comentar | ver comentários (1)

A polémica designação de Liga das Estrelas foi a forma ideal para que a Liga de Futebol Espanhola conseguisse criar um producto para competir com a Premier League. Juntar os clubes com mais história com os melhores jogadores do planeta era um objectivo ambicioso. Mas necessário para revitalizar um campeonato em crise. Mas agora a constelação de estrelas está prestes a desmoronar-se. Pelo mesmo motivo porque subiu aos céus...

Imaginemos que um futebolista tem propostas de vários países. O projecto desportivo é similar nas distintas ligas, clubes da mesma dimensão e com os mesmos objectivos. A nível pessoal a escolha é indiferente, são lugares aprazíveis para viver. Chega o aspecto financeiro. Numa das ligas o jogador sabe que os seus milionários ingressos serão quotizados a 45%. Noutra a 50%. Ainda outra a 46%. E depois há uma oferta a 24%. Qual delas escolherá?

Durante seis anos a questão foi levada por diversas vezes à FIFA e UEFA por responsáveis das grandes ligas europeias. No Velho Continente os futebolistas são pagos a peso de ouro mas a comparticipação tributária é igualmente elevada. Um salário de 10 milhões anuais, em realidade é apenas de 7 a 8 milhões, assim que estejam deduzidos os impostos. Como qualque trabalhador, aliás. É assim em Itália - o primeiro país a aplicar uma tributação a 45% - França, Alemanha, Holanda, Portugal e Inglaterra. Na Premier a tributação chega mesmo aos 50%, o mais elevado valor das ligas europeias depois da última reforma fiscal. E se a debandada de jogadores de renome de Itália está intimamente ligada à esta polémica lei, que retirou aos clubes cerca de 80 milhões de euros por ano, em Inglaterra as estrelas continuam porque o governo teve o cuidado de pactar com a FA uma série de benefícios sociais sobre o agregado familiar dos desportistas.

 

Ora em Espanha a conversa é bem diferente. Ou melhor, era!

No final dos anos 90 a liga espanhola estava a viver a sua particular crise. O Calcio estava em alta, tinha sido a coqueluche europeia da década e a Premier League tinha já dado os primeiros passos e tinha lançado as bases para o fenómeno desportivo e social em que se tornaria rapidamente. Historicamente o futebol espanhol tinha imensa reputação mas na prática a situação era desastrosa. A esmagadora maioria dos clubes possuía dividas inimagináveis. Os estádios não tinham condições e o nível dos jogadores estrangeiros tinha baixado muitíssimo com a chegada da lei Bosman. As grandes estrelas mundiais estavam em Itália (Ronaldo, Zidane, Shevchenko, Vieri, Crespo...) ou em Inglaterra (Beckham, Bergkamp, Henry, Owen, Pires, Shearer). Na liga espanhola, à parte da formação local - sempre avessa a emigrar - havia alguns nomes de luxo, mas muito pouco comparado com a concorrência mais directa. A nível europeu percebia-se bem a diferença com italianos, alemães e ingleses a levarem para casa os principais trofeus. Até 1999 o país apenas esteve presente em seis finais europeias (venceria três, duas Champions (Barcelona e Real Madrid) e uma Taça das Taças com o Zaragoza). Em 30 possíveis.

Para combater a problemática situação a LEFP começou a preparar com o governo de José Maria Aznar um pacote de leis que impulsionasse o futebol espanhol a nível internacional. A mais polémica demoraria alguns anos a ser aplicada e ficaria conhecida como Lei Beckham. Mudaria por completo o rosto do futebol em Espanha.

A lei aprovada no parlamento em 2004 dava a todos os estrangeiros cujo o salário fosse superior a 600 mil euros a possibilidade de serem tributados não a 43% - como acontecia com os desportistas espanhois e a esmagadora maioria dos cidadãos - mas sim a 24%. Isso permitia aos clubes oferecer salários mais elevados a grandes estrelas internacionais pelo simples facto de que em Espanha os jogadores recebem o salário em bruto, já com os impostos pagos. Pelos clubes. A nova legislação - junto com outros perdões fiscais polémicos do governo central e das diferentes autonomias - permitiu a muitos clubes pagarem as dividas e começar a investir de forma clara no mercado. Florentino Perez tinha aberto o conceito de futebol Galáctico e foi rapidamente imitado. Chegaram Beckham, Owen, Pires, Henry, Van Nistelrooy, Forlan, Oliveira, Denilson, Robinho, Riquelme, Saviola, Kaká, Cristiano Ronaldo. Todos pagos a peso de ouro. Todos com salários astronómicos. Salários com que as outras ligas, pura e simplesmente, não podiam competir pelo agravar da carga fiscal.

A situação permitiu criar a chamada Liga de las Estrellas. Agora já não era apenas o Real Madrid ou o Barcelona a disporem de um arsenal de galácticos. Clubes de menor impacto social como Villareal, Deportivo, Valencia, Sevilla, Atletico Madrid, Mallorca ou Betis começaram a ter poder de compra para roubar a rivais europeus de igual ou maior estatuto, as suas maiores pérolas. A balança deslocou-se precipitadamente para o lado espanhol. As ligas francesa, alemã, portuguesa e holandesa perderam importância. A italiana entrou em crise. E só a Premier se ia salvando.

 

Hoje o cenário pode mudar drasticamente. O governo de Jose Luis Zapatero conseguiu aprovar uma nova lei que remove os benificios aos jogadores e clubes desportivos com salários milionários. A partir de agora todos terão a mesma base de quotização: 43%. Nem mais, nem menos.

A situação não afecta os jogadores estrangeiros já a actuar em Espanha mas sim todos os que entrem a partir de 1 de Janeiro. Um cenário que se prevê catastófrico para os clubes que, empolgados pela nova lei, voltaram a endividar-se de forma sucessiva. Hoje Valencia, Atlético Madrid, Betis, Mallorca, Deportivo ou Real Madrid vivem com um passivo assustador. Há obras parados, salários em atraso e muitos problemas nos bastidores que não chegam às capas de jornais. Acabar com esta benesse é destroçar a politica desportiva destes clubes - e de outros igualmente - e voltar a colocar a liga espanhola diante de todas as suas debilidades. Curiosamente numa era em que a formação espanhola melhor se apresenta, com os evidentes resultados na selecção principal.

Os clubes já ameaçam entrar em greve. É normal, é a única arma de que dispõem. Atrás de si têm a liga, os bancos que apoiam as principais provas, os patrocinadores dos jogadores milionários e muito do público fanático que não quer voltar a ver a sua prova nacional ao nível da média europeia. É demasiado para o orgulho espanhol. 

O debate está na rua e prevêm-se meses dificeis até Janeiro. Os clubes irão tentar aguentar o braço de ferro com um governo com graves problemas para resolver. O encaixe financeiro com esta operação é fundamental para paliar os números negros da crise, que afectou Espanha mais do que qualquer outro país europeu. É tudo uma questão de números. Mas se a lei for aprovada fica claro que o seu real efeito só se começará a apreciar ao largo das próximas duas ou três épocas. Só que as disparidades do futebol espanhol são tais, que o efeito acabará apenas por ter o condão de afundar ainda mais os clubes de pequena e média dimensão. Os grandes conseguem sempre sobreviver!  


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:34 | link do post | comentar

Quarta-feira, 4 de Novembro de 2009

estádios onde mais do que futebol cada noite acontece magia. Há estádios onde a emoção só termina mesmo com o apito final. E há equipas que nascem com uma estrelinha de sorte única. Estádios e equipas assim estão fadados para entrar nos livros da épica do desporto rei. E talvez por isso ontem em Old Trafford o Manchester United ter voltado a mostrar que nada é o que parece.

Não era um dos jogos mais chamativos da jornada e os especialistas preferiam o Bayern-Bordeaux (repleto de erros de arbitragem e dos defesas bávaros) ou o confronto em S. Siro do AC Milan contra o Real Madrid (muitas taças do passado e pouco jogo no presente). Mas era inevitável não reparar no confronto entre Man Utd-CKSA Moscow, duas das equipas candidatas ao apuramento à próxima fase. Num grupo mais complexo do que se imaginava à partida, os Red Devils precisavam apenas de um empate para garantir o apuramento. Os russos queriam abrir um fosso para os alemães do Wolfsburg. Era o seu primeiro jogo sem o espanhol Juande Ramos e a sua jovem armada queria mostrar serviço. E Old Trafford era o local ideal. Um autêntico teatro dos sonhos numa noite fria de Outono. Uma noite em que duas das maiores promessas do futebol europeu destroçaram a defesa do Manchester United. Antes de perceberem que há equipas fadadas para os últimos instantes. Mais uma vez.

 

O jogo foi electrico do principio ao fim com ataques sucessivos de ambas as equipas. O jovem prodigio do CSKA Moscow e do futebol russo, Alan Dzagoev, rasgou por completo a defesa dos Red Devils e com um golpe letal deixou van der Sar pregado ao solo. Um golo madrugador que gelava as bancadas do mitico estádio. Havia tempo. Minutos depois o United lança-se à carga e com um golpe certeiro o ressuscitado Michael Owen empata o jogo. Poucos festejos e muita tensão. No outro campo o Wolfsburg começa a massacrar o Bessiktas e ambas as equipas sabem que a margem de manobra é reduzida. É preciso vencer. Os russos atacam vezes sem conta e num golpe de génio da conexão Dzagoev-Krasic, o jovem médio sérvio isola-se frente ao guardião holandês do United. 1-2 e delirio entre os poucos mas fervorosos adeptos russos no estádio. Chega o intervalo e com ele espera-se um novo Man Utd. Longe disso foi o CSKA que decidiu matar o jogo. Golpe de cabeça letal de Berezursky, um jogador chave na estrutura defensiva da equipa que decidiu dar uma ajuda ao ataque. Parecia um resultado impossível. Mas em Old Trafford essa palavra é proibida.

O Manchester United partiu então desesperadamente para o ataque. Sem Wayne Rooney - acabado de ser pai, sentado no banco - coube a Federico Macheda liderar as hostes. Sem sucesso. A equipa contava com muitas segundas opções, a pensar claramente na liga. Os reforços lá foram entrando. O cronómetro avançava perigosamente e a vantagem parecia inultrapassável. Só que há jogadores feitos para estes momentos. Um súbtil centro e a cabeça de Scholes a reduzir a desvantagem. Os adeptos acreditavam. Fergusson não parava de gesticular. Igor Akinfeev ia parando cada remate e transformando golos em defesas impossíveis. Até que Valencia olhou para ele, olhos nos olhos. A distância era considerável. Mas não impossível. O desvio súbtil em Giorgi Schennikov trouxe ainda mais drama ao momento. Com a bola a retumbar nas redes o estádio explode de alegria. Faltavam 20 segundos para o final dos descontos. Um golo que só o Man Utd é capaz de apontar. Um golo que vale um apuramento. Um golo capaz de destroçar uma exibição imaculada de uma equipa que prova que o futebol russo está cada vez mais perto da elite desportiva.

 

Agora cabe a CSKA e Wolfsburg discutir o apuramento. O jogo entre ambos será decisivo e os alemães esperam recuperar a desvantagem que os separa. Quanto ao United, continua a fazer sofrer os seus adeptos até ao final. No próximo fim de semana defronta o líder Chelsea já sabendo que só terá de voltar a preocupar-se com a Champions em Fevereiro. Fergusson e Ancelloti cumpriram os serviços minimos. O combate de boxe arranca dentro de instantes.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:11 | link do post | comentar

Apesar de tudo. Apesar de todos. Pela quarta vez consecutiva o FC Porto carimba o apuramento para os Oitavos de Final da Champions League. Um feito conseguido com quatro jogos, apenas logrado no passado por António Oliveira. Já lá vão 13 anos. Apesar do mau futebol. Apesar dos jogadores. Apesar da atitude. Apesar das opções tácticas. Apesar de tudo os dragões voltam a estar entre os 16 melhores. E muito antes do previsto...

 

Em 1996/1997 António Oliveira lançou as bases do que viria a ser o primeiro Tricampeonato azul e branco. Com um notável arranque de época venceu os quatro primeiros jogos da fase de grupos da Champions League frente ao AC Milan (no melhor jogo europeu da década azul e branca), IFK Goteberg e Rosenborg. E qualificou-se como líder do grupo. Passados 13 anos o feito volta a ser repetido, só que sem um recorde absoluto de triunfos. A esperada derrota em Londres não atrapalhou o dragão e a equipa soube ser eficaz quando se lhe pedia. Nove pontos em três jogos revelaram-se suficientes, especialmente graças ao empate em Madrid entre os rivais directos. Agora no Porto discutirá a liderança do grupo com o Chelsea e provavelmente tentará amealhar mais uns milhares de euros a juntar ao óptimo cesto que já vai acumulando. Mas essencialmente, este apuramento precoce para muitos permitirá ao campeão nacional esquecer-se da Europa até Fevereiro e voltar baterias para a liga nacional. Pela primeira vez em largas épocas o sofrimento da última jornada desaparece dos rostos azuis e brancos. Mas o feito não foi tão fácil como parece.

 

Em Nicósia o FC Porto voltou a cometer os mesmos erros que têm marcado este início de época. Sabendo que os cipriotas eram uma equipa mais aguerrida em casa do que fora, os portistas foram cautelosos desde o início. A vitória daria o apuramento directo, sempre e quando o Atlético de Madrid não vencesse o Chelsea. E um empate deixaria tudo para o duelo do Vicente Calderon. Conhecedor da realidade matemática, Jesualdo voltou a mexer na equipa. Sapunaru e Alvaro Pereira eram os donos das laterais, mas só o romeno soube realmente colaborar nas transições ofensivas. O uruguaio vai em picado depois de um bom início de época. No miolo Fernando funcionou bem como tampão mas sem saber soltar a bola rapidamente. Raul Meireles tentou rematar de todos os angulos, mas nota-se a léguas que está a anos luz do que já foi. Salvou-se Guarin. O jovem colombiano substituiu Bellushi (que nota-se ainda não ter ritmo para a competição) e foi o melhor dos portistas. Pegou na bola, distribuiu jogo e tentou rematar um par de vezes com perigo para Chiotis. Uma exibição de encher o olho, tal como frente ao Chelsea que provam que o jogador é uma opção cada vez mais evidente para um posto sem dono. Com este esquema os dragões controlavam o jogo mas o ataque voltava a mostrar os mesmos sintomas de nervosismo. Rodriguez sem ritmo, Falcao demasiado só e Hulk precipitado, iam destroçando cada oportunidade criada. O FC Porto rematava muito mas mal. Os golos iam-se falhando a ritmo de metralhadora e do outro lado valia Helton, seguríssimo, para garantir o empate nas poucas iniciativas cipriotas.

 

O segundo tempo foi menos ofensivo pelos dragões. O golo do Atlético de Madrid deixava as contas mais complicadas do esperado e Jesualdo começou a sentir o habitual nervosismo que o caracteriza. A equipa vai-se relaxando e o APOEL torna-se mais atrevido. Os ataques azuis e brancos vão tornando-se escassos e sem qualquer efectividade. Hulk continuava a ser inconsequente e Guarin o mais esforçado. O veterano técnico azul e branco sabia que face ao marcador de Londres a situação complicava-se e lança Farias para o lugar de Rodriguez. O 4-3-3 torna-se em 4-4-2, mas Hulk continua perdido e a dupla sul-americana do ataque não acerta com o golo. Helton torna-se providencial, Alvaro Pereira repete erros e Guarin perde fulgor. O Chelsea começa a dar a volta ao marcador e quando já todos maldiziam o azar dos remates falhados, eis que surge o goleador de serviço a provar, mais uma vez, ter sido o grande investimento do ano. Num movimento subtil Falcao parte os rins ao seu marcador e com um remate colocado faz o golo. O golo do apuramento. O alivio é imediato e nem o empate surpresa do Atlético pode estragar as contas. Pelo quarto ano consecutivo Jesualdo consegue superar a fase de grupos. Mas sem brio.

A falta de atitude competitiva dos jogadores azuis e brancos no segundo tempo chegou a ser preocupante. A equipa entrou bem, concentrada, e apenas uns erros de palmatória do ataque impediram os campeões nacionais de terem uma dilatada vantagem. A eficácia continua a ser matéria mal estudada na Invicta. E o sofrimento a imagem de marca azul e branca ontem com um equipamento especial. Para dias especiais.

 

No entanto, apesar de todo o negativismo à volta da equipa, a classificação é um dado incontornável e permite agora à equipa encarar a época com outro espirito. Sem matemáticas precoces a não ser a luta pelo primeiro posto, o FC Porto poderá recuperar lesionados (a suspeita pré-época na Andaluzia que só fez bem aos cofres da SAD continua a passar factura), ultrapassar a fase de selecções e apostar tudo na liga. Para Jesualdo Ferreira e os seus homens, o campeonato começa agora.

 

PS: Como foi muito bem lembrado aqui, não é a primeira vez que os dragões se apuram á 4 jornada. Em 1999/2000 a equipa azul e branca derrotou o Real Madrid, Molde (por duas vezes) e o Olympiakos para carimbar a passagem á fase seguinte, também ela de grupos onde acabou em segundo, por detrás do Barcelona. Viriam a ser eliminados nos Quartos de Final diante do Bayern Munchen. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:07 | link do post | comentar

Terça-feira, 3 de Novembro de 2009

Hoje o FC Porto pode conseguir matematicamente o apuramento para os Oitavos de Final da Champions League. Seria o apuramento mais tranquilo da história do campeão nacional. Para tal os dragões podem agradecer àquele que partia como seu rival directo. O Atlético de Madrid vive (mais uma) grande crise desportiva e parece estar disposto a atirar hoje a toalha. Para Quique Sanchez Flores a época colchenera começa sábado.

 

Depois do empate em casa contra o APOEL e a derrota clara no Dragão frente ao FC Porto tornou-se fácil perceber que o Atlético de Madrid teria graves problemas em imitar o feito da época passada. A juntar a isso estavam as péssimas exibições na liga espanhola, a falta de entendimento entre o técnico e os adeptos e a baixa de forma das suas grandes estrelas. Um cocktail molotov que explodiu em Londres com uma derrota histórica às mãos do Chelsea. O técnico Abel Resino foi demitido e durante 48 horas houve nove técnicos a quem foi oferecido o posto de treinador. Por uns motivos ou outros, todos rejeitaram. Todos menos um, Quique Sanchez Flores. O ex-técnico do Benfica, Valencia e Getafe viu no Vicente Calderon uma oportunidade para voltar a demonstrar o seu valor. Depois da derrota em San Mamés no passado fim de semana o treinador foi perentório. O objectivo é a Europe League e a época começa no próximo sábado: um derby com sabor especial.

 

Hoje à noite no Vicente Calderon a cabeça dos adeptos de ambas as equipas estará concentrada no próximo fim de semana. O genial Chelsea de Ancelloti espera vencer o Manchester United, rival directo na luta pela Premier, e ampliar a vantagem em cinco pontos. Para eles o jogo de hoje é apenas um trâmite já que a classificação está praticamente assegurada. Um ponto será suficiente. Em três jogos.

Já os adeptos colchoneros esperam que a equipa dê a cara. O que não se avizinha fácil. Uma vitória do FC Porto no Chipre obriga o Atlético a vencer para poder ainda aspirar ao apuramento. Qualquer outro resultado significa a eliminação imediata. E uma derrota dos dragões aliada a uma vitória do Chelsea pode mesmo colocar em perigo o terceiro lugar. Dias dificeis se vivem ao lado do Manzanares, esse pequeno riacho que em Madrid, à falta de outro, chamam rio. Só que tanto o técnico como os jogadores sabem que o encontro de hoje é pouco relevante para o seu futuro. O inicio da época foi um desastre e é preciso agora recomeçar do zero. Em lugares de despromoção o conjunto madrileño sabe que tem de apostar forte na Liga. Há sete anos atrás a ambição europeia de Gil y Gil já tinha levado à despromoção. O fantasma está aí.

 

No sábado há jogo contra o Real Madrid. As derrotas dos merengues nas últimas jornadas e a fraca exibição diante do Getafe dá um tónico de esperança aos adeptos do Atlético, que há largos anos não vencem o eterno rival. Com a perspectiva da ausência de Cristiano Ronaldo e com o clube de Concha Espina a viver uma grave crise de balneário, o Atlético sonha começar a sua recuperação contra o rival mais apetecido. Diego Forlan, Kun Aguero, Maxi Rodriguez e Simão Sabrosa estão a afiar as facas para o grande duelo. O novo técnico sabe que tem de priorizar opções e é possível que hoje algumas das figuras fique no banco. Um sinal claro aos adeptos que irão assobiar do principio ao fim um conjunto que passou do céu ao inferno em questão de meses. A polémica vem de há muito e envolve a junta directiva, onde ainda subsiste o espirito do polémico presidente Jesus Gil y Gil sob a figura do seu polémico filho. A substituição de Abel, como todas as outras dos últimos anos, só ajudou a incendiar mais os ânimos e o técnico sevillista que agora chega à capital sabe que terá a missão mais complicada da sua carreira.

 

Uma vitória frente ao clube mais em forma do futebol europeu é uma utopia. Mas os adeptos do Atlético definem-se assim por excelência. Caso contrário, seriam do Real Madrid, o pragmatismo feito futebol, dizem. Na televisão espanhola passa todos os anos um anúncio do clube que começa sempre por "Papa, porque soy del Atleti?". E é por noites como esta, onde um clube nos postos de despromoção e praticamente fora da Europa, continua a sonhar com tudo, que se percebe porque há sempre aqueles sonhadores que jogam todas as cartas no cavalo que sabem que não vai ganhar. Mas sonhar, não custa nada! 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:00 | link do post | comentar

Segunda-feira, 2 de Novembro de 2009

O AIK Solna voltou a sagrar-se campeão. Um dia redondo para os adeptos que esperavam há já 11 anos para conseguir o 11 título. Uma vitória clara de um conjunto que marcou o futebol sueco do final dos anos 90 e começa agora a ressurgir de novo para a ribalta desportiva. Os amarelos estão em festa.

Solna é um pequeno subúrbio da grande Estocolmo, capital do reino e princesa do Báltico. Poucos ouviram falar dela até há uns anos atrás um clube ter catapultado de novo o nome da localidade para as capas de jornais. O AIK, de amarelo e preto, quebrava a hegemonia do trio de grandes do futebol do sul composto por IFK Goteborg, Malmo e Norkoping e abria uma cisão entre o passado e o presente do futebol nórdico. Fundado no popular bairro de Solna, então pertencente à capital, o clube consolidou o seu poderio nos anos 30 onde venceu 7 dos seus actuais 11 titulos. Nos anos 50 Solna tornou-se uma localidade independente e o AIK permaneceu fiel aos seus terrenos históricos. Mudou o nome mas manteve-se habitué do Rasunda Stadion, o mesmo da selecção nacional. Então começou o seu declive desportivo, tanto contra os rivais da capital - Hammarby e Djurdgarden - como com os clubes do sul. Durante 60 anos a equipa não voltou a saborear um titulo apesar de continuar a ser tratada com a reverência de um grande. Um grande adormecido! 

 

No arranque desta época o conjunto de Solna não estave entre os favoritos. Uma formação baseada em jovens locais e apenas cinco estrangeiros (dois argentinos, um eslovaco, um brasileiro e um holandês) destoavam da formação tipicamente sueca. O técnico Mikel Stahre tinha um árduo trabalho pela frente, até porque o IFK Goteborg, também longe dos seus melhores dias, exibia-se de forma demolidora no arranque do torneio. A pouco e pouco o AIK foi trepando na classificação e quando chegou ao primeiro posto nunca mais o deixou. Com uma equipa sem estrelas nem grandes promessas da temível selecção sueca de sub-21, aos amarelos bastou-lhe um conjunto homogéneo e sólido. Foi aguentando as investidas dos rivais e amealhando pontos preciosos em terrenos complicados. Kalmar, Elfsborg, Hammarby, Helsinborg e companhia tentaram acompanhar o ritmo do conjunto amarelo mas só os rivais de Goteborg se dispuseram a lutar até ao final. Este fim de semana decidia-se tudo e os dois grandes voltavam a olhar para a classificação e a fazer contas.

O AIK tinha perdido sete jogos contra seis do IFK. Mas partia com um simples ponto de avanço graças à maior regularidade, particularmente na segunda volta. O jogo no mitico Ullevi em Goteborg ia decidir o título. Era o duelo que todos esperavam. Os adeptos locais encheram o recinto para apoiar a sua equipa mas o dia era dos eternos rivais. Um jogo disputado, do principio ao fim, e um resultado determinante. Vitória por 1-2 dos visitantes e o titulo celebrado, mesmo ali, no relvado do eterno rival. A equipa até tinha estado a perder. Mas o caracter ganhador veio ao de cima. A conexão Antonio Flávio-Ivan Obolo voltou a funcionar. E ambos fabricaram o golo do empate. O golo do titulo. Para evitar contas perigosas surgiu Daniel Tjernstrom. A poucos minutos do final fechou o campeonato de forma definitiva. E ajustou as contas pendentes com todas as derrotas da última década do histórico clube do norte.

 

Para o próximo fim de semana há taça e repete-se o duelo, agora em Estocolmo. Poderá ser o ano da dobradinha e em Solna a euforia é total. Vem aí o duro inverno e o campeonato termina. Para o ano já se sonha com repetir o feito. Na capital pede-se que chegue depressa a Primavera. Pelo menos este Inverno será mais fácil de suportar. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 17:15 | link do post | comentar

É apenas um terço de campeonato mas está visto já que há uma equipa com um ás na manga. E de trunfos. Um trio vergado ao sabor do vento arsenalista que começa a olhar com outros olhos para um clube que cresce a olhos vistos e que está aí para demonstrar que as candidaturas ao titulo provam-se no campo e não nas palavras.

Quando o Boavista de Jaime Pacheco se sagrou campeão houve um sentimento de alegria especial. Pela primeira vez em 50 anos a hegemonia dos chamados 3 grandes era quebrada. Por uma equipa que vinha em crescendo na década anterior e que se estruturara de forma ideal para disputar o ceptro ao triunvirato do futebol português. Até ao final o técnico e a direcção recusaram ostentar o titulo de favoritos, apesar de terem comandado a prova durante largas jornadas. A pressão estava sempre do lado dos outros, os que começavam a época a afirmar, à boca cheia, que este ano era seu. Não foi. E fez-se história. Um pouco de história como aquela que se vai forjando na pedreira de Braga, nesse recinto que tem mais de arquitectura do que de funcionalidade desportiva que é o Estádio Axa. Esse campo de batalha onde os arcebispos voltaram a mostrar-se infaliveis. E com um sabor especial. Do outro lado estava o exército do Temistocles da Luz, o antigo general bracarense que no Verão tinha trocado de homens. A justiça poética encarregou-se de comprovar a ironia. Depois de tantos anos com os dois actuais técnicos de FC Porto e SL Benfica, é com Domingos que o Braga finalmente se consolida na frente.

 

O técnico bracarense soube anular o impeto ofensivo do Benfica com mestria.

Sem abdicar da filosofia de jogo da sua equipa, provou que a disciplina táctica é mesmo uma das armas forte deste candidato real. Uma equipa que em 8 jogos sofreu apenas 4 golos e que saiu incólume da esperada avalanche ofensiva encarnada. Que não chegou a ser. O Braga controlou o jogo a meio-campo, graças ao notável trabalho de Hugo Viana e Vandinho, essenciais a bloquear a construção de jogo encarnada. O golo madrugador do médio respecado em Valencia este ano foi decisivo. Permitiu ao Braga jogar com a tranquilidade necessária e colocou mais pressão ainda no Benfica. Os encarnados nem reagiram mal mas encontraram um rival bem organizado e metódico. As oportunidades escassearam e eram de parte a parte. Com o jogo controlado o Braga voltou do intervalo sem um central, Andre Leone. E o Benfica sem o seu avançado, Cardozo. Mais uma série de problemas no túnel, tal como sucedeu com o Nacional, que provam bem que a guerra, para Jesus, não se disputa apenas no campo. Os encarnados perderam a sua referência ofensiva e Jesus esteve mal no banco. Domingos limitou-se a controlar os danos, abdicou de Meyong e voltou a por ordem na defesa. E foi deixando os minutos passar. O Benfica perdia a cabeça e o Braga usava-a sempre que podia. Num desses lances surgiu Matheus, endiabrado. E o golo tornou-se inevitável.

Depois de vencer em Alvalade e derrotar FC Porto e SL Benfica, este Sporting de Braga provou, mais uma vez, que não está para brincadeiras. Terá de esperar mais 10 jogos para voltar a medir-se a um grande (Sporting em Braga). Até lá está o verdadeiro osso de roer, vencer as equipas teoricamente acessivéis, mas que, e Domingos sabe-o bem, podem ser os verdadeiros quebra-cabeças. O técnico sabe que as ligas ganham-se nessas viagens e recepções e o próximo derby do Minho poderá ajudar a confirmar essa ideia. Três e cinco pontos de avanço podem parecer muito numa equipa equilibrada e inexpugnável, mas uma simples derrota volta a colocar tudo igual. A liga vence-a o mais regular, e de momento o Braga cumpre esse requisito. Já provou saber contrariar o poder dos grandes. Agora só lhe resta impor sob os pequenos.


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