Sábado, 31 de Outubro de 2009

A eterna máquina de estrelas brasileira não tem descanso. Ano após anos há sempre uma nova dezena de jovens talentos à procura de um lugar ao sol. Muitos deles acabam por não vingar. Outros tornam-se estrelas planetárias. No meio de tanta oferta é dificil falhar. Allan Kardec também não falha. Como um antigo voador, é letal diante das redes!

 

 

Fisicamente é inegável a sua comparação natural com Mário Jardel.

Mas as coincidências vão muito para lá do aspecto. Kardec é um goleador nato, um jogador que está em campo apenas e só com um objectivo. A táctica, as marcações, a disciplina. Tudo isso lhe é indiferente. O que importa é ter a bola, é encarar o defesa, surpreender o guarda-redes. Levantar a bancada.

Aos 20 anos Kardec é já um dos melhores atletas brasileiros em lográ-lo. Depois de três anos a forjar-se no sempre prolifero Vasco da Gama, o dianteiro está preparado para novos desafios. O último Mundial sub-20 no Egipto provou-o. Numa equipa de talentos imensos como Alex Teixeira ou Giuliano, foi o goleador Kardec quem muitas vezes desbloqueou os momentos mais complicados. Uma movimentação subtil, um gesto de antecipação. E a bola no fundo das redes. Foram quatro golos e só a final sofreu com a sua sequia. O Brasil dependia dele para vencer. Kardec ficou em branco e o titulo foi parar ao Gana. Mas confirmou-se o que o Campeonato Sul-Americano Junior já tinha dado a entender. Kardec é um dos nomes obrigatórios do futuro. 

 Foi em 2007 que o avançado se estreou, então com 17 anos, pelo clube da Cruz de Malta.

No São Januário o dianteiro formado nas escolas do Vasco aprendeu a admirar heróis como Edmundo, Romário e companhia. Agora era a sua vez. Estreou-se pelo clube em Manaus na Taça do Brasil e dois meses depois apontou o seu primeiro golo, num duelo contra o Botafogo. Um golo que evitou a derrota. E que o lançou para a lista de titulares de onde não voltou a sair. Pelo meio a aventura pouco bem sucedida na Venezuela, na sua estreia pela canarinha. Ao lado de Walter do Internacional formou uma dupla temível, mas o Brasil não estava no seu ano. Depois veio o Mundial e aos dois golos inaugurais da prova juntou os decisivos frente ao Uruguai e Costa Rica. Golos que lhe permitiram acariciar o titulo mundial. Que ficou assim, por uma leve carícia.

 

Agora com 20 anos feitos e uma bagagem competitiva considerável, Allan Kardec quer dar o salto. E a Europa está atenta. Os clubes disputam os nomes maiores da nova  vaga de talentos (Sandro, Walter, Alex Teixeira, Giuliano, Douglas Costa) e o dianteiro do Vasco tem ofertas de Itália e Portugal. Resta saber se tardará tantos anos como o Super-Mário a explodir ou se a sua precocidade voltará a evidenciar o killer-instinct que muitos poucos jogadores conseguem realmente ter. 

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:11 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sexta-feira, 30 de Outubro de 2009

Carlos Queiroz proclama, a quem o quer ouvir, que Portugal é candidata a campeã da Mundo. Se bater a Bósnia, subentende-se. O público português no entanto tem vivido um progressivo afastamento da equipa que na última década de se tornou a "selecção de todos nós". Mas nem sempre foi assim. Houve largos períodos em que a equipa das quinas era apenas mais um pretexto da eterna guerra Norte-Sul. Como a 24 de Setembro de 1979, na estação da Campanhã no Porto. Onde se começou a forjar uma lenda...

 

Às 14h00 desse dia ainda com tons de Verão um comboio vindo de Lisboa pára na estação de Campanhã no Porto. A paragem final é Vigo e a bordo segue a selecção nacional de futebol. Ou melhor, os jogadores dos clubes lisboetas da selecção nacional. À frente da comitiva, Mário Wilson. O "velho capitão" da Académica, internacional nos anos 50, tinha o posto de seleccionador-treinador depois de um largo e polémico mandato de José Maria Pedroto, intercalado com a performance de Juca, antigo técnico de campo do então treinador do FC Porto. O comboio tinha ordem para parar e receber os 9 jogadores dos azuis e brancos que estavam convocados para defrontar a Espanha, no dia seguinte, no estádios dos Balaídos. Pela primeira vez na história havia 9 jogadores dos dragões (e já não "andrades") numa convocatória. E o que parecia motivo de orgulho para o Bicampeão nacional, tornou-se num episódio que iria deixar a nu a clara guerra Norte-Sul que o país desportivo vivia. E que serviria para lançar o mito de Jorge Nuno Pinto da Costa como o elemento nuclear do novo FC Porto.

 

Toda a polémica estava já herdada da etapa de Pedroto como seleccionador nacional.

O técnico de Lamego abandonou o cargo numa era de grandes tumultos desportivos entre a classe de treinadores. Como era também presidente do sindicato, optou por dimitir-se quando entrou em divergência moral com a FPF. O seu mandato como técnico tinha ficado marcado pela reforma definitiva da geração de 66 e o lançamento de novos internacionais. Mas a nível de jogo a equipa não logrou melhor do que três empates com a Inglaterra. A saída do técnico foi colmatada com a entrada de Juca. O "Zé do Boné" achou um ataque pessoal o seu antigo técnico de campo ter ficado com o seu posto e cortou relações com este. Juca durou seis jogos até ser substituido por Mário Wilson. O técnico, antigo rival de Pedroto da época em que este era técnico da Académica capitaneada por Wilson,  aproveitou imediatamente para lançar os primeiros ataques ao rival de sempre, criticando a sua gestão na selecção. Mas a provocação maior estava guardada para Setembro de 1979. A FPF marcou um amigável em Espanha, com visto a preparar a futuro participação na fase de apuramento para o Euro 1980. A uma semana de um decisivo encontro para a Taça dos Campeões Europeus do FC Porto em Milão contra o AC. O clube protestou e mais ainda quando foi divulgada a convocatória. Estavam 9 jogadores elegidos para juntar-se à equipa das Quinas. Algo nunca visto.

 

Pedroto reagiu de imediato, bem ao seu estilo. O técnico portista, que tinha quebrado 19 anos de seca e procurava o inédito Tri nessa época, chamou o seleccionador de "palhaço". Foi imediatamente suspenso por 30 dias em multado em 500 contos. Não contente, voltou à carga e acrescentou que "ao chamar Mário Wilson de palhaço eu certamente não quis ofender a classe dos palhaços, até porque todos sabem que são brancos e não negros, e que mesmo que o sejam têm o hábito de pintar a cara de branco". E pediu um castigo mais de acordo com as suas declarações: 30 anos.

Wilson não respondeu mas deixou antever que esperava os jogadores azuis e brancos às 14h00 na Campanhã. Quando lá chegou deparou-se com Jorge Nuno Pinto da Costa, então director desportivo do conjunto azul e branco. Ao seu lado centenas de adeptos portistas. E nenhum jogador. O clube tinha proibido os atletas de sair de casa e em seu lugar a massa adepta surgia insultando a equipa nacional, o seleccionador e os atletas do eterno rival. À cabeça o director desportivo, mostrando pela primeira vez o seu poder. Meia hora depois o comboio arrancou e seguiu caminho. Sem os jogadores portistas. A equipa azul e branca começou a preparar a eliminatória com o AC Milan. E uma semana depois um empate a zero deixava tudo para a segunda mão na Invicta, onde Pedroto afirmava que uma arbitragem similar seria suficiente. E foi! Uma vitória histórica que ia servir para eliminar os italianos.

 

Estavamos em vésperas do Verão Quente. O FC Porto de Pedroto falharia o Tricampeonato. A guerra com a selecção tinha assustado o então presidente, Américo de Sá, que temia que a atitude dos seus dirigentes dificultasse a sua carreira politica na Assembleia da República, onde era deputado pelo CDS. Exonerou Pinto da Costa do cargo e demitiu Pedroto no final do ano em que a equipa não ganhou nada. Antonio Oliveira e Octávio Machado deixaram o clube e o Verão Quente deixou a nu as fortes clivagens dentro do clube das Antas. Ao velho FC Porto, subserviente, surgia como contraposição um grupo de revolta que começava já a preparar a candidatura presidencial de Pinto da Costa. Que demoraria dois anos a chegar ao posto mais alto, onde se encontra até hoje. Pedroto entretanto passou por Guimarães - depois de recusar um convite de João Rocha, presidente do Sporting - antes de voltar ao banco azul e branco onde não voltou a vencer nenhum titulo, antes de falecer, tristemente, em 1985 vitima de doença prolongada. Mário Wilson viu o seu mandato interromper-se pouco depois, com a selecção a falhar de novo o apuramento para um Europeu. E Portugal, então ainda a lamber as feridas do PREC, passava de uma guerra política a uma nova guerra desportiva. Nasceram as claques organizadas na Invicta, o "Lisboa a arder" em cada festejo nos Aliados. Os adeptos dos clubes de Lisboa uniam-se a cada visita de um clube que tinha deixado de ter medo ao atravessar a ponte D. Maria. Durante os seis anos seguintes o clube das Antas pouco venceu. Mas lançou as bases de um domínio que se prolongaria até hoje. 

 

Naquela tarde de início de Outono quem esteve presente em Campanhã desconfiava que este era mais do que um simples fait-divers. Ali lançou-se o definitivo domínio de Pinto da Costa sob a massa associativa dos dragões e ali começou a desmoronar-se o domínio clubistico dos dois grandes de Lisboa. O nascimento definitivo de uma terceira força a nível social e desportivo tornava-se inevitável. Pela primeira vez desde que o Benfica entrara em guerra com a FPF nos anos 60 que um clube ousava bater o pé à Federação. Começava um confronto ainda hoje não totalmente sanado e que espelha bem o quão frágil pode ser a "equipa de todos nós". 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 07:22 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Quarta-feira, 28 de Outubro de 2009

Os prédios cinzentos e tristes de Alcorcón hoje amanheceram com uma luz especial. A noite foi longa na pequena localidade, 10 kilómetros a sul do centro de Madrid. Afinal, não é todos os dias que se aplica a maior humilhação da história de um clube que tem um orçamento 300 vezes superior. O Alcorconazo volta a colocar a nú toda a podridão do reino de Concha Espina.

Despertar em Madrid e dar uma rápida vista de olhos às capas de jornais será um exercicio dificil para a multidão de merengues que se encaminham para o trabalho. Muitos apanharão a notícia em primeira mão, tão seguros que estavam numa vitória que nem se deram ao trabalho de ouvir o relato do jogo. Mas quem esteve no San Domingo, o pequeno estádio de 3 mil lugares do modestíssimo Alcorcón, já conhece os contornos desta história. Desta história épica, ou cómica, vá-se lá saber em que lado da barricada se acaba. É o tipico David e Golias, com todos os detalhes apimentados de uma humilhação em toda a ordem. O jogo era da Taça do Rei, essa mesma prova que desde 1993 não ganha o Real Madrid. Por algo será, devem pensar os seus adeptos, que já no ano passado sofreram a vergonhosa eliminação do Real Union, um histórico na Segunda B. A mesma divisão onde está este Alcorcón. Uma equipa de uma cidade-dormitório que tem como estrela um sócio de lugar anual no Bernabeu e que até fez a formação no clube. Como tantos outros. Um Alcorcón que apenas ganhou uma em oito vezes o desafio que o opôs ao Real Madrid Castilla, a equipa B dos merengues que disputa a mesma divisão. Um Alcorcon que ontem tinha a lição muito bem estudada.

 

Ao contrário de Manuel Pellegrini.

O técnico chileno vive um periodo de contestação desde que tomou cargo da equipa. Depois de cinco épocas de bom nível com o Villarreal - que há 10 anos andava na mesma divisão que o Alcorcón - a sua performance no Bernabeu não convence ninguém. Florentino Perez ofereceu-lhe uma equipa com 300 milhões de euros gastos e a base da equipa bicampeã do reinado de Calderon. Material suficiente para bater o pé ao super-Barça, pensavam. Mas exceptuando Cristiano Ronaldo, não há Madrid. Foi o português lesionar-se e a equipa perdeu o norte. Derrota em Sevilla, um rival directo. Derrota com o Milan, em casa, com o jogo controlado. Empate no modesto Molinon, o terreno do Sporting Gijon. E agora a humilhação completa.

Não foi a tipica derrota de Taça, com muitos juniores e falta de empenho. Estavam praticamente todos os titulares no terreno de jogo. Dudek no lugar de Casillas (como é habitual na prova), Arbeola no posto de Sergio Ramos e Metzelder por Pepe, lesionado. No meio campo saiu Kaka e entrou Guti. No ataque lá estavam Benzema e Raul. De nada lhes valeu. Os amarelos de Alcorcon correram mais. Jogaram mais. E marcaram mais. 4 golos sem resposta. 4 golos inquestionáveis e que podiam ter sido bastante mais, não fosse a habilidade de Dudek evitar males maiores. Borja Ernesto, são os nomes próprios de um colectivo que vive modestamente. Mas que tem o mesmo direito a sonhar. E há sonhos que se tornam realidade.

A falta de interesse dos grandes na Taça já vem de há muito e por isso a Federação espanhola instaurou um sistema a duas mãos, de forma a evitar eliminações prematuras dos grandes face aos mais modestos. A tipica injustiça do futebol espanhol. Por isso o Real Madrid ainda não está eliminado. Mas quase. Curioso é que o Villarreal de Pellegrini viveu uma situação similar na época passada. 5-0 diante do Poli Ejido, outro da Segunda B. E nem o segundo jogo lhes valeu. Como ao Madrid contra o Union. No Bernabeu os merengues acreditam que podem dar a volta, especialmente se já está Cristiano. Quem ainda não sabe se vai estar no banco é Pellegrini. A contestação é muita mas alternativas há poucas. Perez gastou muito e quer retorno imediato. Valdano não quer voltar a um banco maldito. E os nomes tardam em tornar-se em colectivo. Vem aí um derby, um jogo chave em Milão e a contagem decrescente para o confronto com o Barcelona já começa. Os adeptos rezam pelo rápido regresso de CR9. O extremo consegue, pela sua ausência, ganhar contornos cada vez mais decisivos neste Real Madrid. Porque ningum outro jogador conseguiu pegar na equipa na sua ausência. E porque o nível de profissionalidade que se lhe questionava, começa a contestar-se agora nos restantes elementos do plantel.

Para muitos esta derrota é apenas um fait-divers de uma época longa. Nem significa uma eliminação, nem deixará de ser uma anedocta no final do ano. Uma para os livros. Mas deixa a nu todos os problemas de uma equipa que tenta repetir a era dos Galácticos e que recai nos mesmos erros do passado. Obcecada com uma final da Champions no Bernabeu, paralizada pelo o estilo de jogo atractivo do eterno rival, a direcção do Real Madrid tentou com nomes tapar os buracos do colectivo. Mas nem os milhões gastos conseguem mudar uma situação critica. Abandonando uma vez mais a cantera - quando os seus melhores jogadores jovens brilham noutras equipas - e vivendo uma vez mais do marketing, ao clube da capital resta-lhe o espirito guerreiro de Cristiano Ronaldo para dar a volta por cima. No final ainda pode ganhar tudo. Mas há noites que não se esquecem nunca. Esta ainda se celebra pelas ruas de Alcorcon...


Categorias: ,

publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:19 | link do post | comentar

Terça-feira, 27 de Outubro de 2009

É provavelmente o melhor ponta de lança do futebol europeu actual. E o baluarte do mitico Liverpool. Estava lesionado e ninguém acreditava que iria jogar no derby contra o Manchester United. Mas jogou. E inventou um golo do nada salvando assim o emprego ao seu mentor. Nem as dores conseguem travar Fernando Torres, a grande estrela da Premier League.

 

Só no autocarro a caminho de Anfield soube Torres que ia jogar. Benitez duvidou até ao final mas, como ele próprio confirmou, ter um Fernando Torres a 80% vale muito mais que ter outro jogador a 100%. E assim foi. O avançado madrileño fez um jogo de esforço. Calcorreou o ataque do Pool e dispôs de várias ocasiões. Com apertada marcação de Ferdinand soube criar espaços para os companheiros lançarem os dardos envenenados. Mas nada parecia capaz de bater van der Saar. Até que um lançamento em profundidade de Benayoum descubriu no espaço vazio a corrida do veloz espanhol. Torres dominou a bola com elegância e manteve durante largos metros um ombro a ombro com o possante Ferdinand. Há dois anos atrás provavelmente o central venceria o duelo. Mas não. Torres ganhou posição. Fuzilou. E matou o jogo. O Liverpool batia o eterno rival e Benitez continuava vivo. Com a corda ao pescoço mas bem mais desafogada. Cortesia da sua grande aposta pessoal. Da grande estrela actual da Premier League.

 

Quando Torres chegou à liga inglesa, chegou rodeado de duvidas.

Se tinha fisico para aguentar o duro futebol inglês. Se era maturo o suficiente. Se conseguiria adaptar-se ao estilo de jogo do Pool. Mil e uma dúvidas que ensombravam a chegada do mais promissor avançado europeu. Depois de anos a levar às costas o Atlético de Madrid, o seu clube de coração, Torres fartou-se. Depois de uma derrota por 6-1 com o Barcelona disse chega. Era o capitão e estava farto de não ter ninguém que o acompanhasse na sinfonia de ataque do Manzanares. De Inglaterra Benitez ouviu os suspiros e forçou a sua compra. Prometeu um goleador. Os adeptos franziam o olho ao Niño. Hoje têm-no como um idolo, ao nível de Owen, Rush, Keegan e Toshack, esses dianteiros endiabrados que fizeram história com a camisola dos reds.

No seu primeiro ano Torres explodiu como goleador e levou de novo o Liverpool a lutar pelos postos cimeiros. Mas vivia debaixo da sombra de Cristiano Ronaldo, a estrela da prova. Ficou a uns poucos golos do português, obtendo o melhor registo de estreia de um avançado na Premier. Mas poucos lhe deram importância. No ano seguinte viu-se afectado pelas lesões que lhe custariam muitos jogos e golos perdidos. O Liverpool ressentiu-se e o titulo ficou mais longe. E Torres provava ser indispensável. Cada vez mais.

 

Curiosamente o avançado idolatrado em Inglaterra é cada vez mais polémico em Espanha.

Na selecção sempre viveu sob a sombra de ser considerado como um menino prodigio, num país que ainda idolatra o seu anterior prodigio adolescente, Raul, hoje cada vez mais perto da reforma desportiva. No Euro 2008, em que a selecção espanhol bateu tudo e todos, perdeu o protagonismo para David Villa. Que acabou por se sagrar o goleador da prova. Mas o golo decisivo, na final, foi dele. Um gesto tipico de Torres, um nunca desistir de acreditar que surpreendeu Lahm e Lehman. Um golo à Torres que o país não soube apreciar. Meses depois, com todo o rebuliço à volta do Ballon D´Or, o avançado queixava-se de que em Espanha ninguém o queria. A imprensa de Barcelona apoiava Xavi e Messi. A de Madrid a Casillas. A ele, ninguém. Acabou por conseguir o terceiro posto. Só pelos seus próprios méritos. Soltou palavras imperdoáveis num país que se ama demasiado. Disse que a Premier era superior à Liga. Responderam-lhe da terra dos touros que, quando marcasse pela selecção, teria direito a opinar. Ele que nunca ganhou um trofeu em Espanha. Nem em Inglaterra. Mas que o persegue loucamente.

 

Hoje em dia há poucos avançados como Fernando Torres. Atlético, possante e rápido, o espanhol é um animal de área que sabe vir buscar jogo quando a equipa não consegue romper as filas. No Liverpool é pouco mais que essencial e pela Espanha, por muito que não lhes entre no goto, é fundamental para atacar o tal Mundial que em Madrid já dão por ganho. Com 25 anos está melhor do que nunca e a caminho de se tornar uma lenda viva em Liverpool. E isto sem ter ganho nada. Imaginemos só o que acontecerá se El Niño, o homem que nem a dor consegue travar, acaba com essa sede de duas décadas. Talvez seja o seu destino!

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 17:28 | link do post | comentar

Um verdadeiro amante do desporto-rei descobre-se realmente quando consegue deixar de lado a intensa paixão clubística e reconhecer a beleza onde ela é evidente. Este é o dilema que Jorge Jesus apresenta aos adeptos portugueses. Seja qual for a cor ou paixão, é inegável que nos terrenos de jogo lusos há uma equipa que joga como os anjos...e outras que se vão arrastando. O Benfica volta a ser temível, quinze anos depois!

 

Foi na época de 1993/1994 que se viu a última grande versão das águias. Um titulo épico, pela recuperação na classificação, pela vitória por goleada diante do rival directo. Mas, acima de tudo, pelo notável jogo ofensivo dos comandados de Toni. Quinze anos depois o Benfica regressa às suas origens, ao futebol de puro ataque que o celebrizou durante mais de quarenta anos. E que andava adormecido entre crise e desespero. Hoje nas bancadas da Luz já não ve vêm lágrimas, mãos na cabeça e adeptos desalentados. Esses rostos transferiram-se para os terrenos rivais. Em Alvalade cada jogo é uma tragédia. No Dragão um drama de suspense. Na Luz é uma alegria intensa. Cada passa, cada movimentação ofensiva é seguida com o mesmo entusiasmo que levou um dia o France Football a sequência do ataque benfiquista entre Coluna, Jaime Graça, Simões, José Augusto, Eusébio e Torres, uma simulação futebolistica da capela Sistina.

A equipa de Jorge Jesus ainda não atingiu esse nível. Aliás, é preciso ser justos. A equipa de Jesus beneficia dos últimos 15 anos de desastres, onde o conjunto com mais titulos no palmarés nacional apenas juntou um à galeria. E do fraquíssimo nível dos rivais directos. Se o Sporting adormece qualquer estoico com o seu estilo de passe inconsequente, o tal "futebolzinho" de que falava Pedroto nos anos 70, já o FC Porto desespera pela sua falta de nível e argumentos. Face a estes dois espelhos, é normal que as águias se engrandeçam ainda mais. Mas humilhar Everton e Nacional, duas equipas da Europe League, num espaço de cinco dias é obra. Obra de Jorge Jesus.

 

O técnico provou já ser capaz de viver às expectativas que ele próprio ajudou a criar.

O seu Benfica é uma tremenda máquina de jogar futebol. As unhas ruídas deram lugar aos constantes saltos da cadeiro. Uma média de 3,7 golos por jogo, uma verdadeira barbaridade numa liga habituada aos 0-0 e aos 1-0...a sofrer. O traça distintivo desta equipa é a ansia pelo golo. Nunca estão satisfeitos. Nunca o pé pisa o travão. Ao quarto golo, uma outra qualquer equipa portuguesa começava o habitual exercicio de contenção e poupança. Na Luz procura-se já o quinto, sexto e afins. E é dessa forma que nascem as goleadas. Não diremos que o Benfica é o único clube em Portugal com arsenal ofensivo para atingir estes números. Mas é o único que os procura. Ver o FC Porto sofrer até ao final num jogo que tinha praticamente controlado e que podia acabar, também ele, em goleada, espelha bem a diferença de atitude e de espirito competitivo. Os dragões fazem de cada encontro um drama kafkiano, entre os desacertos do meio campo e a inoperância ofensiva, passando por um estático Jesualdo no banco. Na Luz respira-se movimentação e dinamismo. O tridente argentino é a palete onde Jesus pinta a sua melhor obra. Um Di Maria endiabrado, um Aimar solto, um Saviola endiabrado, são meio caminho para a vitória. Cardozo limita-se a não falhar e Javi Garcia e Ramires a dar o equilibrio necessário no pressing central. O mérito de Jesus passa por atacar sem descurar em demasia a defesa. O seu Benfica é uma equipa equilibrado em todos os sentidos e que já não treme ao primeiro sobressalto. A lesão de César Peixoto no aquecimento antes seria um drama. Agora é a oportunidade de Fábio Coentrão voltar a mostrar serviço, com três assistências para golo. No Dragão, um fenómeno similar (a lesão de Fucile e a sua substituição por Sapunaru) tornou ainda mais frágil um onze já de si titubeante. As comparções são odiosas, mas inevitáveis. O FC Porto há anos arrasta um estilo de jogo criticamente defensivo. O Benfica voltou a recuperar a sua identidade ofensiva.

 

O jogo da Luz teve mais casos do que merecia. Dois penaltys mal assinalados, um golo em fora de jogo validado (ao Nacional) e um outro mal anulado (ao Benfica), ensombrecem um espectáculo desportivo de primeiro nível. Porque o Nacional perdeu por goleada, mas perdeu bem. Particularmente na primeira parte. Manuel Machado soube estancar a hemorragia goleadora do Benfica e Ruben Micael continua a perguntar porque ainda está na Choupana e longe das escolhas de Queiroz. Mas a falta de condições fisicas, os riscos necessários e a diferença de nível do sector chave a meio campo ditaram a diferença. Enquanto que no Dragão os madeirenses só perderam quando o árbitro decidem começar a mostrar cartões a torto e a direito, na Luz a equipa mostrou poder dar mais luta. Mas até aí se observa a diferença de atitude deste Benfica para com os rivais. Inevitavelmente, este era um jogo que o Nacional não podia - nem sabia como - ganhar.

 

Na próximo fim de semana os dois lideres procuram desempatar as contas. Um Braga seguro e mais maturo, mas ainda com fortes problemas de finalização que espelham bem a liga portuguesa. E um Benfica com a confiança em alta e uma armada preparada a esclarecer a questão da liderença de forma definitiva. De longe os dragões esperam o empate que lhes permita encostar. A Liga Sagres aparenta um equilibrio que no terreno de jogo não é real. O jogo na Cidade dos Arcebispos poderá confirmar isso mesmo. E lançar a águia para voos ainda mais altos.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:24 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 26 de Outubro de 2009

Na época passada o Hertha de Berlin lutou até às derradeiras jornadas pelo título da Bundesliga. Perdeu o sprint final e acabou no quinto posto. Na vizinha França o Montpellier lutou pelo triunfo na Ligue 2, mas também acabou por soçobrar. Mesmo assim conseguiu a ansiada subida de divisão. Hoje, seis meses depois, os dois históricos clubes vivem situações diametralmente opostas. Em França o Montpellier luta pelo título. Na Alemanha o Hertha caminha solitário no último posto... 

Imaginem desfazer a estrutura base de uma equipa. Não ter orçamento para reforços. E ter de viver com as altíssimas expectativas de uma época que correu muito melhor do que o esperado. Foi com esse cenário que se depararam os dirigentes do Hertha de Berlin. Já se podia antecipar que a coisa não ia correr muito bem. E assim foi.

Lucien Favre, o artesão da notável campanha da época passada, destituido sem apelo nem agravo. O novo técnico, Friedheim Funkle, repleto de ideias, não logrou ainda um só triunfo. E com esse cenário desolador o Hertha de Berlin é último numa das ligas mais equilibradas do espectro europeu. Uma só vitória em dez jogos. 23 golos sofridos e apenas 7 apontados. Numeros preocupantes para um conjunto de nível europeu - está no grupo do Sporting na Europe League - que paga cara a política de contenção veraneia que destroçou a base ganhadora do ano passado.

Voronin, o grande avançado ucraniano, voltou a Liverpool contra a própria vontade. Tudo porque em Berlim não havia orçamento que pagasse a sua transferência definitiva. Pantelic (Ajax) e Simunic (Hoffenheim) também deixaram o barco porque a direcção não lhes podia renovar o contrato com os números que acreditavam que mereciam. E com um orçamento de transferência a 0, assim ficou o plantel.

 

O Hertha não só perde. Joga mal. Sem alma nem critério.

A equipa arrasta-se pelo relvado, sempre sujeita a humilhações como a aplicada pelo recém-promovido Freiburg (0-4). No Olympiastadion de Berlin o desespero dos adeptos é notório. Uma das mais frenéticas massas adeptas da Alemanha, os azuis e brancos não conseguem aceitar a situação desesperada em que vive o conjunto. O medo agora é imitar outros clássicos do futebol germânico como o Kaiserlautern ou Eintracht Frankfurt, que das provas europeias acabaram na II Divisão num só ano. Um cenário imprevisto no inicio de época mas que acaba por ser inevitável quando se destrói uma base de sucesso. Ao contrário do que se vive em Montpellier.

Na solarenga provincia do Herault a alegria é facilmente contagiaso.

Mais ainda se o mitico clube local voltou aos grandes momentos. Algo absolutamente impensável há um ano. O clube azul e laranja militava na Ligue 2 e tinha dificuldades em chegar-se aos postos de promoção. Muito pouco para um clube onde jogaram Bellone, Blanc, Valderrama, Cantona ou Milla. Depois de conseguir a subida de divisão a direcção confiou em Rene Girard, antiga estrela dos Bleus dos anos 80, e o técnico provou que estavam certos. Criou uma onda de optismo à volta da equipa apesar de que o objectivo para este ano era claro: não voltar a cair no poço. Mas como em França nada é realmente o que parece, eis que os ocitânios aí estão, de volta aos lugares cimeiros do futebol gaulês.

A equipa do Montepellier é um deserto de estrelas. Mas um poço de trabalho e dedicação. Com muita juventude e dois sul-americanos letais, o argentino Alberto Costa e o colombiano Victor Montano, o onze de Girard tem espalhado o perfume do seu jogo por todo o hexágono. A equipa esteve perto de liderar a prova, mas um tropeção este fim de semana atirou-a para o quarto posto. A dois do líder, o campeão Girondins Bordeaux. Os criticos acreditam que ao longo do ano o Montpellier vai acabar por cair no esquecimento do meio da tabela. Mas no La Mosson, um dos mais belos estádios franceses, a crença é de que a equipa pode ser a grande surpresa do ano e rivalizar com os eternos adversários, Marseille, Lyon, Toulouse e Bordeaux, a dominante conecção do sul.

 

Hertha e Montepellier são dois rostos do imeditaismo do futebol. A verdade ontem hoje é mentira. Os alemães têm ainda quase 30 jogos para dar a volta à dramática situação em que se encontram. Os franceses têm quase o mesmo número de desafios para provar que os criticos estão errados, e que têm estofo para lutar até ao final pelos postos de glória. Talvez daqui a uns meses voltemos a olhar pelas tabelas classificativas e tudo esteja na mesma. Ou talvez esteja tudo diferente. Assim é o futebol. Objectivamente imprevisível. 


Categorias: , ,

publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:14 | link do post | comentar

Sábado, 24 de Outubro de 2009

Nos últimos anos tornou-se notícia constante dos pequenos quadradinhos que enchem os cantos dos jornais. Um final indigno para um dos mais letais avançados dos últimos 20 anos. Percorreu meio mundo e atrás deixou uma lista de golos inesquecíveis. Christian Vieri decide parar. De vez!

Para os mais distraídos há largos anos que Vieri deixou o futebol. São os que não leram sobre as suas passagens aceleradas por uma série de clubes onde, por vezes, não sequer chegou a calçar as chuteiras. Os mais atentos sabiam que o mitico avançado que quase deu à AS Lazio um titulo histórico continua por aí, a vaguear pelos relvados europeus, sabendo que os melhores dias já tinham passado. E que dias. Durante uma década foi um dos avançados mais temidos dos relvados europeus. É dos poucos que se podem gabar em ter sido Pichichi e Capocannonieri na sua carreira. E é que o mais dificil foi descobrir Vieri mais de um ano no mesmo sítio.

 

O avançado que nasceu em Bologna em Julho de 1973 começou a sua carreira no Torino no final dos anos 80. Em 1991 fez a sua estreia pela equipa principal do Toro Negro mas só ficou dois anos no Comunale. Depois de vaguear pela Serie B, onde actuou em Pisa, Veneza e Ravenna, voltou à primeira divisão ao serviço do Atalanta, o clube que acabaria por representar três vezes ao largo da carreira. Em 1995, o seu primeiro ano como titular fixo, apontou 9 golos e chamou a atenção aos olheiros da Juventus que decidiram contratá-lo para substituir Fabrizio Ravanelli. Em Turim conquistou os primeiros titulos. Com Inzaghi formou uma excelente dupla ofensiva marcando 20 golos que lhe permitiram vencer o seu único Scudetto em 1997. Antes tinha já ganho a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental e aberto a sua passagem pela Squadra Azzura onde formaria com Del Piero e Inzaghi um tridente de luxo. Surpreendendo tudo e todos Vieri anunciou que sairía de Turim para rumar ao Atlético de Madrid, recém-campeão espanhol. No Vicente Calderon esteve apenas um ano, mas os 24 golos apontados em 24 jogos permitiram-lhe sagrar-se Pichichi apesar da equipa não ter podido renovar o título de campeão. E Vieri voltava a mudar de ares.

Em 1998 muda-se de Madrid para Roma e torna-se no simbolo da rejuvenescida Lazio. Ao lado de Veron e Mancini forma um eixo ofensivo letal que permite ao conjunto italiano vencer a última edição da Taça das Taças diante do Mallorca e disputar até ao último minuto do campeonato um titulo que lhe escapava à largas décadas. Uma polémica arbitragem acabou por dar o titulo ao AC Milan e foi precisamente para o Piemonte que o avançado se mudou. O Inter, desejoso de formar uma dupla de ataque única, pagou 40 mlhões de euros pelo avançado que tinha acabado de brilhar no Mundial de 1998. Juntar Ronaldo e Vieri era um sonho e foi no clube neruazurri onde ficou mais tempo: seis temporadas.

Só que as constantes lesões de Ronaldo, as entradas e saídas de técnicos e jogadores foram baixando o nível competitivo do Inter e nesse período o avançado acabou por ter de levar várias vezes a equipa ás costas. Em 2003, com 30 anos, logrou finalmente ser eleito Capocanonieri e no ano seguinte venceria o seu único titulo com o Inter, a Taça de Itália. Era a hora do adeus e da traição. Vieri mudou-se para o AC Milan mas a experiência durou apenas quatro meses. Daí passa para o AS Monaco e começa a dar a sua pequena volta ao mundo. Afastado da selecção italiana e dos grandes do Calcio, pela primeira vez voltou à Atalanta mas uma grave lesão manté-no todo o ano fora dos relvados.

 

Era o ínicio do fim.

De Bergamo passa a Florença mas depois de um ano apagado na Fiorentina decide voltar ao clube que o lançou. A experiência não corre bem com o técnico Luigi del Neri e o avançado rapidamente deixa de ser opção. Teve convites das Arábias e de Inglaterra, mas nenhuma avançou. Perde a vontade de correr e decide parar. Aos 36 anos e com uma carreira marcada por golos 185 de todas as formas e feitios em todos os grandes palcos. Faltou-lhe um grande titulo europeu e a uma vitória a nível de selecções mas é reconhecidamente o último grande 9 puro do futebol italiano. Um verdadeiro animal diante das redes que agora diz finalmente adio!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:05 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Sexta-feira, 23 de Outubro de 2009

Qualquer semelhança entre este Benfica e qualquer outra versão de outros temporadas é, definitivamente, pura coincidência. Exibição e resultados históricos, murro na mesa e delírio nas bancadas. A águia regressou às épicas noites europeias e massacrou o Everton. Às portas do seu primeiro grande teste de fogo interno.

A hora (18h00) não convidava muito a enchentes. Mas o público lá respondeu, mais uma vez, mostrando que está em total sintonia com este equipa. Cerca de 45 mil pessoas para testemunhar mais uma jornada europeia. E a equipa não os defraudou. A história do clube encarnado está marcada por grande noites europeias. As goleadas da era de Eusébio, os golos decisivos de Nené e Águas, a vitória diante do Arsenal, o empate em Leverkusen ou a eliminação do Liverpool em pleno Anfield. Mas há muitos anos que os encarnados não viviam uma noite assim. O rival nem convidava a grandes optimismos. Não é a versão perfeitamente oleada da época passada mas era lider de grupo e um dos mais sólidos conjuntos da Premier. Orientada por um dos mais capazes técnicos britânicos, o Everton vinha para ganhar. Saiu humilhado como nunca na sua longa história. 5-0 é um resultado que, a esta altura do campeonato, é cada vez mais improvável. Mas quando Jesus solta o seu circo ofensivo, torna-se inevitável.

 

Se as debilidades defensivas das águias ficaram a nú na derrota em Atenas - com uma versão muito soft do AEK - a eficácia ofensiva do Benfica ficou comprovada definitivamente diante dos toffees. Os ingleses não contavam com alguns titulares mas apresentavam quase toda a sua artilharia pesada no ataque. O Benfica mostrou o seu melhor rosto. Julio César voltou às redes com Luisão e David Luiz à frente. Pela direita Amorim, pela esquerda Peixoto. A partir daí a orquestra pura e dura. Javi Garcia a pautar o jogo e Ramires a dar velocidade às transições. A conexão sul-americana tratou do resto. Di Maria rasgava pela esquerda, Aimar deslocava-se para o eixo central e Saviola e Cardozo entendiam-se às mil maravilhas. O Everton nem tinha tempo de reagir ao primeiro golpe. Aos 14 minutos El Conejo - mais eficaz na Europa do que na Liga - abriu a contagem com total oportunismo. Jesus pedia mais acutilância mas os ingleses iam aguentando a carga e esboçando, aqui e ali, uma timida reacção. Pouco, muito pouco. Ao intervalo o técnico voltou a provar que é um motivador nato. E lançou as bestas selvagens. Bastaram 15 minutos para fazer história. Cardozo (por duas vezes) e Luisão, ampliaram o marcadora para uns inesperados 4-0. Sem que Moyes tivesse tempo de ajustar as peças. Um vendaval ofensivo que terminou a sete minutos do fim, com Saviola a bisar. O público delirava e lembrava-se de dias que os mais novos nem conhecem e que os mais velhos se cansaram de lembrar depois de anos de tanta mediocridade. Ontem a águia avisou a Europa que estava de volta.

Ao contrário do FC Porto diante do Apoel, os encarnados encaram o jogo com um despeito insultante. Procuram constantemente as linhas ofensivas e não se cansam até ver a bola dentro das redes. Uma acutilância que traz os seus frutos e transforma o ataque encarnado num dos mais concretizadores de toda a Europa. O mérito é todo de Jesus que soube espalhar bem as peças no terreno e sacar delas a máxima produtividade. Javi Garcia, um médio ofensivo de combate, também ajuda na criação. Aimar, um jogador a quem o fisico atraiçoou vezes demais, deambula como um gigante. E a dupla Saviola-Cardozo tem a mesma eficácia da longinqua época gloriosa de Águas e Magnusson. A vitória - aliada à derrota do AEK diante do BATE - lançou os encarnados para a liderança do grupo. O apuramento não está garantido mas bem encaminhado. A equipa mostra-se atrevida e aguenta o ritmo de estar, pela primeira vez em largos anos, activa em três frentes. E mais do que isso, a sintonia criada com os adeptos é superior àquela que conseguiu na época do último titulo nacional. À indiferença dos adeptos no Dragão e ao desespero dos sócios de Alvalade, na Luz respira-se uma tremenda vontade de vencer a jogar bem. Algo raro em Portugal.

 

Na próxima segunda-feira vem o primeiro teste a doer. Se na Europa o clube mostrou ter nível para ir longe - especialmente se melhorar o aspecto defensivo que continua a dar uns valentes sustos - a nível doméstico o Benfica encontra o primeiro rival "a sério". O Nacional é um claro candidato aos postos europeus e viajar à Madeira é sempre um pesadelo para qualquer equipa. Se a prova for superada a candidatura encarnada ganha ainda mais força. E o que mais surpreende neste conjunto encarnado é o acreditar. E quando alguém acredita que é o melhor de forma tão clara, é díficil de travar.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:00 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Na época passada a dupla presidencial norte-americana Tom Hicks e George Gillet tentaram substituir Rafa Benitez pelo controverso Jurgen Klinsmann. A mitica Kop, bancada habituada a idolatrar os grandes técnicos que deram vida a Anfield Road, inventou um novo cântico: "In Rafa We Trust". Hoje, nas vésperas de defrontar o eterno rival de Manchester, a dúvida instala-se em Merseyside. E Rafa Benitez tem, pela primeira vez, a corda na garganta. 

Depois de uma etapa notável ao serviço de Valencia (2 Ligas, 1 Taça UEFA, 1 Taça do Rei), em 2004 o espanhol Rafa Benitez mudou-se de armas e bagagens para Liverpool. A mitica equipa inglesa vivia dias dificeis depois da saída de Gerard Houllier. Uma geração de talentos desaproveitada e muitos problemas financeiros a resolver. A venda do simbolo do clube, Michael Owen, tinha deixado os adeptos furiosos. E todos suspeitavam de um técnico espanhol na exigente Premier League. O ano correu mal na prova doméstica - o clube terminou em quinto, atrás do rival Everton. Mas uma noite inesquecível em Istambul fez de Benitez um idolo para a mítica Kop. Ao intervalo a equipa perdia por 3-0 com o AC Milan na final da Champions. No final acabaria por levar o trofeu para casa. Pela quinta vez na sua história. Graças a Jerzy Dudek, que parou tudo o que pode na marcação de grandes penalidades. Graças ao caracter do capitão Steven Gerrard. E graças ao espirito de Rafa Benitez. Voltava o grande "Pool".

 

A partir daí Rafa tornou-se no 4 grande para os adeptos depois da mágica tríade Shankly-Paisley-Fagan. A nível doméstico o Liverpool passou de lutar para conseguir participar na Taça UEFA a disputar os primeiros lugares. O técnico foi renovando a equipa e montando um onze à sua medida. Exagerou na armada espanhola que foi incorporando - pelo clube passaram Josemi, Nuñez, Morientes, Reina, Luis Garcia, Arbeola, Xabi Alonso, Riera e Torres - e apesar de exibir-se a bom nível, acabava sempre por falhar o ataque ao titulo. Uma segunda final europeia em 2006 - derrota diante do AC Milan - lançou uma nova etapa. A chegada de uma administração americana azedou as relações com o técnico que fez tudo para trazer Torres desde Madrid. O clube voltou então ao ser melhor e durante duas épocas lutou até às últimas jornadas pelo titulo. Na Europa continuava a mostrar o seu melhor rosto, mas viu-se batido pela efectividade do rival Chelsea. E apesar das saídas de jogadores descontentes. Apesar da falta de atenção à formação local. Apesar da falta de titulos, a Kop continuava a gritar a plenos pulmões "In Rafa We Trust". Até agora.

A derrota no último instante diante do Olympique de Lyon abriu uma ferida que teima em não sarar. O Liverpool leva já cinco derrotas esta época. Na Premier League encontra-se em nono a 7 pontos do lider. O Manchester United. O mesmo conjunto que defronta este fim de semana e que no ano passado derrotou por 4-1. Na Champions a derrota diante dos franceses atirou o Liverpool para o fundo da tabela. A equipa precisa de uma segunda volta perfeita para apurar-se para os Oitavos de Final. E o tempo começa a escassear.

Benitez queixa-se das lesões. Fernando Torres e Steven Gerrard, os jogadores chave da equipa, regressaram lesionados da semana internacional. A eles juntam-se Skrtl, Johnsson e Aquilani. O italiano foi contratado para substituir Alonso, mas ainda não disputou um minuto de jogo. O público está impaciante e a direcção espera o momento certo para acabar uma refrega que começou há um ano. Nessa altura os adeptos apoiaram o técnico de tal forma que obrigaram a equipa directiva a voltar atrás. Agora começam a questionar-se. E olham para os números.

Benitez contratou 70 jogadores em 5 anos como treinador. Muitos para a equipa de júniores que logo foram vendidos. Muitos outros passaram ao lado de uma longa carreira em Anfield. De todos estes apenas Reina, Mascherano e Torres se transformaram em peças chave do conjunto. Àparte dos negócios falhados (Keane, Kromkamp, Degen, Leto, Bellamy, Crouch, Josemi, Mark Gonzalez, Morientes) poucos foram os jogadores que se impuseram no onze. Ryan Babel, Dirk Kuyt, Lucas Leiva, Dossena, Insua, Voronin e Benayoum teimam em não mostrar o seu real valor. E o técnico começa a ter de recolher à equipa júnior para tapar buracos.

Os próximos quinze dias serão determinantes para Rafa Benitez. Uma derrota diante do eterno rival ampliará a diferença com o líder a 10 pontos. Em Outubro. Uma "não vitória" em Lyon implica praticamente o adeus à Champions League. E o final da época para um clube que almeja voltar aos títulos. Benitez tem pouquíssima margem de manobra e a ideia de construir-lhe uma estátua às portas de Anfield Road começa a parecer mirabolante para muitos. O seu futuro em Merseyside é cada vez mais negro e a Kop espera impaciante um futuro que muitos temem que se torne ainda mais tenebroso.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 03:51 | link do post | comentar

Quinta-feira, 22 de Outubro de 2009

Quantas vezes não ouvimos a mesma lengalenga. Um jogador num golpe desastrado comete um erro fatal. Auto-golo e vantagem ao rival. Minutos depois, movido por uma vontade imensa de ressarcir-se, eis que o mesmo vilão se faz herói e volta a marcar...desta vez no sítio certo. Ontem foi Ciani, central do Girondins de Bordeaux. Mais um nome para a lista interminável de jogadores que sentem na pele uma responsabilidade especial.

 

As ausências dos jogadores chave do Bayern de Munchen não ajudavam Lois van Gaal. Nem Ribery nem Robben viajaram a Bordeaux. Havia Thomas Muller, a jovem promessa, mas esse cometeu o favor de se auto-expulsar com um golpe irreflectido e que lhe poderá custar caro. Parecia que os seus estavam, na realidade, contra si. E os outros? O técnico holandês desesperava já até que um golpe de sorte, cortesia de um dos centrais mais eficazes da liga francesa. Um corte trapalhão, desastrado, inoportuno...e um auto-golo fatal. Sem saber, como diz a giria, ler nem escrever, os bávaros adiantavam-se no marcador e deixavam o grupo num imbróglio complexo. O sonho dos gascões parecia começar a desfazer-se. E todos os olhos se abatiam sob Ciani. Cabisbaixo, este retoma a sua posição. Os colegas tentam confortá-lo, mas eles também sofrem pelo golpe do destino. Terão agora de correr o dobro. Esforçar-se o dobro. Marcar o dobro de golos necessários. Ou talvez não

 

Michael Ciani tinha sido a estrela da épica vitória em Haifa.

Um golo determinante garantiu os três pontos e a liderança do grupo ao conjunto francês. O erro retirava-lhe agora a auréola de heróis. Foi vê-lo durante largos minutos a incentivar os colegas e a incorporar-se em acções ofensivas. Tinha um forte peso na consciência. E como quem dá, tira, decidiu fazer justiça pelas próprias mãos. Ou melhor, pela própria cabeça. Um canto, confusão na área e de novo aí está Ciani. Desta vez no sitio certo. Desta vez eufórico. Desta vez alegre. Repunha-se a justiça e começava a reviravolta. Os franceses empolgados partiam para o ataque e pouco depois Planus aproveita um erro de Altintop e dá a volta ao marcador. Van Gaal não queria acreditar e Blanc estava eufórico. Os franceses que na época passada tinham mostrado uma inocência própria de quem está pouco habituado à alta roda, este ano lideram o grupo de forma categórica. Um grupo onde estavam muito longe de ser favoritos. Ainda houve tempo para falhar dois penaltys - com Butt a redimir-se brilhantemente de um erro brutal diante de Gourcouff - mas a vitória, essa não escapava já a Ciani e companhia.

 

Do outro lado da barricada o Bayern volta ao pesadelo. Na Bundesliga a equipa não consegue arrancar apesar da esquadra de estrelas que dispõem van Gaal. Não havia ontem os dois extremos letais mas regressou Toni que acertou no poste em vez de voltar aos golos. E com isso o Bayern Munchen cai para o terceiro posto, a um ponto da Juventus. Agora têm três finais para evitar cair no precipicio da Liga Europa. Em França começa a sonhar-se com os Oitavos de Final uma vez mais e há quem diga que Laurent Blanc tem equipa para ir mais longe. Para já tem Ciani, um novo herói vilão capaz de redimir o mais cruel dos pecados. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:57 | link do post | comentar

.O Autor

Miguel Lourenço Pereira

Novembro 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


Ultimas Actualizações

Toni Kroos, el Maestro In...

Portugal, começar de novo...

O circo português

Porta de entrada a outro ...

Os génios malditos alemãe...

Últimos Comentários
Thank you for some other informative web site. Whe...
Só espero que os Merengues consigam levar a melhor...
O Universo do Desporto é um projeto com quase cinc...
ManostaxxGerador Automatico de ideias para topicos...
ManostaxxSaiba onde estão os seus filhos, esposo/a...
Posts mais comentados
69 comentários
64 comentários
47 comentários
arquivos

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

.Em Destaque


UEFA Champions League

UEFA Europe League

Liga Sagres

Premier League

La Liga

Serie A

Bundesliga

Ligue 1
.Do Autor
Cinema
.Blogs Futebol
4-4-2
4-3-3
Brigada Azul
Busca Talentos
Catenaccio
Descubre Promesas
Desporto e Lazer Online
El Enganche
El Fichaje Estrella
Finta e Remate
Futebol Artte
Futebolar
Futebolês
Futebol Finance
Futebol PT
Futebol Total
Jogo de Área
Jogo Directo
Las Claves de Johan Cruyff
Lateral Esquerdo
Livre Indirecto
Ojeador Internacional
Olheiros.net
Olheiros Ao Serviço
O Mais Credível
Perlas del Futbol
Planeta de Futebol
Portistas de Bancada
Porto em Formação
Primeiro Toque
Reflexão Portista
Relvado
Treinador de Futebol
Ze do Boné
Zero Zero

Outros Blogs...

A Flauta Mágica
A Cidade Surpreendente
Avesso dos Ponteiros
Despertar da Mente
E Deus Criou a Mulher
Renovar o Porto
My SenSeS
.Futebol Nacional

ORGANISMOS
Federeção Portuguesa Futebol
APAF
ANTF
Sindicato Jogadores

CLUBES
Futebol Clube do Porto
Sporting CP
SL Benfica
SC Braga
Nacional Madeira
Maritimo SC
Vitória SC
Leixões
Vitoria Setúbal
Paços de Ferreira
União de Leiria
Olhanense
Académica Coimbra
Belenenses
Naval 1 de Maio
Rio Ave
.Imprensa

IMPRENSA PORTUGUESA DESPORTIVA
O Jogo
A Bola
Record
Infordesporto
Mais Futebol

IMPRENSA PORTUGUESA GENERALISTA
Publico
Jornal de Noticias
Diario de Noticias

TV PORTUGUESA
RTP
SIC
TVI
Sport TV
Golo TV

RADIOS PORTUGUESAS
TSF
Rádio Renascença
Antena 1


INGLATERRA
Times
Evening Standard
World Soccer
BBC
Sky News
ITV
Manchester United Live Stream

FRANÇA
France Football
Onze
L´Equipe
Le Monde
Liberation

ITALIA
Gazzeta dello Sport
Corriere dello Sport

ESPANHA
Marca
As
Mundo Deportivo
Sport
El Mundo
El Pais
La Vanguardia
Don Balon

ALEMANHA
Kicker

BRASIL
Globo
Gazeta Esportiva
Categorias

a gloriosa era dos managers

a historia dos mundiais

adeptos

africa

alemanha

america do sul

analise

argentina

artistas

balon d´or

barcelona

bayern munchen

biografias

bota de ouro

braga

brasileirão

bundesliga

calcio

can

champions league

colaboraçoes

copa america

corrupção

curiosidades

defesas

dinamarca

economia

em jogo

entrevistas

equipamentos

eredevise

espanha

euro 2008

euro 2012

euro sub21

euro2016

europe league

europeus

extremos

fc porto

fifa

fifa award

finanças

formação

futebol internacional

futebol magazine

futebol nacional

futebol portugues

goleadores

guarda-redes

historia

historicos

jovens promessas

la liga

liga belga

liga escocesa

liga espanhola

liga europa

liga sagres

liga ucraniana

liga vitalis

ligas europeias

ligue 1

livros

manchester united

medios

mercado

mundiais

mundial 2010

mundial 2014

mundial 2018/2022

mundial de clubes

mundial sub-20

noites europeias

nostalgia

obituário

onze do ano

opinião

polemica

politica

portugal

premier league

premios

real madrid

santuários

seleção

selecções

serie a

sl benfica

sociedade

south africa stop

sporting

taça confederações

taça portugal

taça uefa

tactica

treinadores

treino

ucrania

uefa

todas as tags

subscrever feeds