Um golo a abrir. Poucas emoções fortes a fechar. Um derby sem sabor de boca e com a habitual polémica servida pelo técnico leonino. A suspensão - algo recorrente em Paulo Bento - espelha o desnorte que se vive em Alvalade. E facilita o trabalho a um FC Porto que continua a anos luz do que pode e deve fazer. Sob pena de ser presa fácil de uma ave predadora em grande forma.
Apesar das dificuldades inesperadas - face ao pobre jogo leixonense até ao fim de semana - o SL Benfica voltou a massacrar. Cinco golos sem resposta continua a ser muito para uma liga tão pobre na eficácia como a portuguesa. E se a eficácia em bolas paradas ajuda, e de que maneira, a verdade é que o conjunto encarnado se está a especializar em ser uma verdadeira equipa de ataque. O Leixões resistiu enquanto pôde, tem razões de queixa dos árbitros mas, feitas as contas, nunca foi uma oposição real. E continua a pertencer ao clube do Portugal dos pequeninos. Que por esta liga são cada vez mais. Se o Braga mantém o nível - excelentes niveis de concentração do conjunto bracarense mesmo em jogos assumidamente complicados como o do Olhanense - e o Benfica assume-se como definitivamente rejuvenescido, já o Sporting continua a confirmar-se como a decepção da época. Já não é apenas o jogo sem vida, sem chama, sem garra. O leão tem as unhas aparadas mas não a lingua curta. Face à superioridade desportiva do rival e - pior ainda - face à incapacidade técnico-táctica diante de um rival que até tem um historial de grandes dificuldades com os leões, Paulo Bento voltou a adoptar o discurso da vitima. O técnico do Sporting é hoje, cada vez mais, uma caricatura de si próprio. O balneário pode ser curto e complicado mas o desnorte é evidente. Um meio campo sem uma ideia, um ataque sem eficácia (sem Liedson em forma a equipa continua a flutuar entre o fraco e o mediocre) e uma defesa de bradar aos céus, facilitaram, e de que maneira, o trabalho aos campeões nacionais.
O FC Porto saiu vencedor do derby, mas por pouco. O clube das Antas entrou melhor, dominou e controlou na primeira meia hora e podia ter ampliado a vantagem madrugadora conseguida por Falcao. Mas não. Este FC Porto perde rapidamente o combustível e ainda não tinha chegado o jogo a meio e os azuis e brancos já tinham perdido o controlo do encontro dando aos rivais soberanas oportunidades de empatar. Contra outros rivais talvez o desfecho pudesse ter sido diferente, mas de Alvalade não parecem sair armas letais. O conjunto de Jesualdo Ferreira é cada vez mais lento, previsivel e pouco emocionante. Um jogo pastelento e sem chama que não explora o jogo pelas alas e que congestiona demasiado o futebol no eixo central. Raul Meireles - chamado a ser o elemento fulcral desta época - continua uma sombra do que já se viu. E quanto aos reforços, estes teimam em desiludir. Salvo o olfato goleador do colombiano (que ainda teve tempo para falhar o penalty que podia ter afundado ainda mais o orgulho leonino) e a velocidade de Alvaro Pereira e Varela, nota-se claramente que o professor do Tetra tem muito trabalho pela frente se quer aprovar a tese de mestrado do Penta.
De momento fica o sabor dos três pontos conquistados a ferros e o sentimento de superioridade perante uma figura de desenho animado que a cada golpe levanta a polémica do vazio absoluto. No seu caso, de ideias está claro.
Agora que o Manchester City voltou à ribalta do futebol inglês graças ao milhões dos petro-dolares, os Citizens sonham com o regresso aos titulos, algo que não sentem há largas décadas. Num fenómeno similar ao que sucedeu há meia década com o Chelsea, o olhar para o passado levanta nomes esquecidos que fizeram história. No City of Manchester - a nova versão do histórico Maine Road - há um nome dessa idade de ouro que destoa dos demais: o inimitável Mike Summerbee.
O útlimo titulo de campeão do City remonta a 1968. Uma vitória ofuscada pelo titulo europeu do rival - o United foi o primeiro clube inglês a vencer a Taça dos Campeões Europeus, poucos dias depois do Man City ter ganho o título - e que desde então levou a uma imensa travessia no deserto aos azuis celestes mancunianos. No entanto esse período entre 1967 e 1970 tornou-se épico no historial do clube. Além da conquista do campeonato o City venceu também a Charity Shield e a FA Cup de 1969 e ainda a Taça das Taças de 1970. Todas as vitórias com o selo de Summerbee. O extremo direito tinha começado a sua carreira uma década antes no modesto Swindon Town com apenas 16 anos. Esteve cinco anos no clube e com 22 anos assinou em 1965 pelo Manchester City. Tornou-se num dos elementos nucleares da estratégia de Joe Mercer, o histórico técnico do clube. Com Mercer a orientá-lo o extremo venceu todos os trofeus da era dourada do clube tendo sido igualmente um goleador destacado e um verdadeiro rei das assistências. Numa época de grande rivalidade, ele era a resposta do City ao fenómeno George Best. Nunca chegou ao nivel (e fama) do irlandês mas tornou-se num dos jogadores mais respeitados das ilhas britânicas.
O sucesso pelo City levou-o à selecção inglesa que se deslocou ao México para defender o titulo mundial, conquistado quatro anos antes. O seleccionador Alf Ramsey utilizou-o apenas oito vezes como titular e depois da eliminação do Mundial a equipa da rosa entrou numa era negra, marcada pelas ausências em todas as grandes provas internacionais da década. A carreira de Summerbee entrou também em progressivo declineo à medida que o City ia sendo ultrapassado por Liverpool e Leeds na hegemonia do futebol inglês. Em 1975, depois de ter actuado quase 450 vezes pelos citizens, Summerbee mudou-se para o Burnley mas a experiência correu mal e dois anos depois assinou por aquele que viria a ser o último clube da sua carreira, o Stockport.
Em 1979 estreou-se como técnico mas não teve grande sucesso e rapidamente preferiu adoptar uma vida fora dos relvados. Continuou ligado ao jogo ao entrar no mitico Escape to Victory, ao lado de Pele, Michael Caine e Sylvester Stallone e ao fundar uma empresa com o seu rival e amigo Best. Hoje em dia Mike Summerbee continua a ser uma das maiores referências da história do clube e acaba de ser nomeado para o mitico Hall of Fame do futebol inglês. Um logro ao alcance de muito poucos.
Fez história ao tornar-se o mais jovem bilbaino a marcar num jogo internacional mas há muito que o seu nome salta de boca em boca nos assistentes fieis do San Mamés. O Athletic Bilbao pode não ser a grande potência que já foi em Espanha mas os seus adeptos continuam à procura do seu próximo heroi, capaz de os devolver à glória. Iker Muniain é a sua última esperança.
Depois de anos a brilhar nas camadas jovens formadas em Lezama - a escola de formação e coração do clube basco - chegou a hora de Muniain. Jogar num clube que obriga a que todos os elementos sejam de origem basca (onde se inclui Navarra, La Rioja, País Basco francês e descendentes de bascos no estrangeiro) pode facilitar a entrada na equipa principal mas o trajecto de Muniain tem tudo menos de convencional. Aos 15 já era referenciado por Caparrós, tecnico principal do clube, como a grande jóia do futebol espanhol, uma especie de Messi basco. Chegou a entrar em algumas convocatórias mas nunca se estreou durante a passada temporada. Em Julho fez a pré-época com a equipa principal e começou a actuar regularmente nos amigáveis. Falava-se num clone de Julen Guerrero, o último crack basco de que o San Mamés se lembra, mas Muniain é um jogador explosivo. Tem um sprint invejável e uma técnica superior para a sua idade. Descai habitualmente pelo flanco direito e com Llorente promete formar uma dupla letal no ataque vizcaíno.
Nascido a 19 de Dezembro de 1992 em Pamplona (Navarra), o jovem cedo foi captado pela equipa de formação do Athletic de Bilbao. Em Lezama tornou-se no simbolo de uma jovem geração que se prepara para substituir uma equipa envelhecida e que tem, ano após ano, baixado drásticamente o seu nivel futebolistico e a sua posição na tabela classificativa. Apesar de chegar na época passada à final da Copa del Rey (conseguindo assim este ano marcar presença na Europe League), o Bilbao atravessa uma era complexa e a pressão já está nos ombros do jovem de apenas 16 anos. No primeiro jogo com a camisola rojiblanca, contra os suiços do Young Boys, os adeptos esperavam que resolvesse o encontro mas acabou por ver o conjunto rival a vencer em pleno San Mames. Uma semana depois a desforra com o golo da vitória que confirmou o apuramento do Bilbao para a fase de grupos. O golpe de efeito funcionou e a Muniainmania desatou-se na cidade. O facto de ter sido o mais jovem autor de um golo com a mitica camisola que no ano passado aceitou pela primeira vez receber patrocinio já lhe garante um lugar na história. Mas Muniain quer mais.
Se na selecção espanhola ainda não passou da equipa junior, os sub-19 que tão pobre imagem deram de si no último Europeu, a verdade é que no seu clube é já uma peça nuclear na estratégia de Caparrós. No entanto é preciso ter em atenção que Iker Muniain ainda nem cumpriu os 17 anos e que o seu melhor futebol está ainda por chegar. Há já quem aventure que será ele a grande figura do futebol de Euskadi nas próximas duas décadas.
Durante os anos 80 houve uma selecção que fez furor por onde quer que passasse. Conseguiu o feito de estar em duas fases finais consecutivas de um Mundial e de desafiar a toda poderosa RF Alemanha na final do Euro 80. Foi uma década dourada para o futebol belga e em particular para o seu mentor, Jan Ceulemans.
Há poucos jogadores tão marcantes de uma geração como é Ceulemans para os belgas. A selecção que hoje se arrasta no quarto posto de apuramento para o Mundial viveu há mais de vinte anos a sua época dourada. Foi uma década repleta de gestas heróicas, triunfos inesperados e jogos para guardar na memória do mais apaixonado adepto futebolistico. Uma coincidência: em todos eles estava o dedo de Ceulemans.
Nascido em Fevereiro de 1957 em Lier, o jovem médio mal sabia que ia tornar-se no mais internacional de sempre do seu país, com 80 jogos às costas. Em 1974, com 17 anos, estreou-se na liga belga ao serviço do modesto Lierse. O seu estilo de jogo, rápido e versátil, rapidamente fez dele uma sensação no seu país. Depois de quatro anos em grande forma foi contratado pelo Club Brugges, um dos grandes do futebol belga de então. Impressionados pelos seus registos no anterior clube (em mais de 100 jogos apontou 40 golos), os dirigentes do Brugges entregaram-lhe a batuta do meio campo e Ceulemans respondeu com mestria.
Ao serviço do seu novo clube o jovem Ceulemans, então com 21 anos começou a fazer história ao guiar o Brugge à vitória na liga de 1980 contra o favorito Anderlecht. No conjunto azul e negro Ceulemans acabaria a carreira, doze anos depois. Tornou-se num simbolo belga quando publicamente anunciou que rejeitara ofertas de AC Milan e Juventus para deixar a Bélgica. A sua fidelidade foi recompensada pelos adeptos que fizeram dele o grande simbolo do clube e da liga que voltou a conquistar por três vezes em 1988, 1990 e 1992, ano em que se retirou. Por essa altura era já um mito vivo, com 410 jogos e cerca de 200 golos ao serviço do clube que levou ao estrelato. Mas apesar de nas provas europeias o Brugge não ter estado nunca à altura do seu génio, Ceulemans teve a oportunidade de brilhar ao serviço da equipa belga.
Sob a orientação do mitico Guy Thys, o médio foi a peça chave da equipa que disputou o Euro 80 em Itália. A equipa belga surpreendeu tudo e todos ao empatar o jogo de abertura com a favorita Inglaterra. Ceulemans empatou o jogo e liderou o ataque belga na contundente vitória sobre a Espanha no segundo encontro assistindo Gerets para o golo inaugural. No jogo chave a equipa belga conseguiu empatar com a anfitriã Itália a 0 e assim vencer o grupo. Na final, disputada em Roma, os belgas foram melhores mas um golo de Hrubesch a abrir e outro a fechar o jogo impediu a Bélgica de lograr o seu primeiro titulo internacional. Mas estava dado o aviso. Dois anos depois em Espanha, mais uma surpresa com o médio a ser a grande figura na vitória histórica sobre a Argentina, campeã mundial. Os belgas passaram à segunda fase mas aí perderam os dois jogos contra URSS e Polónia. Afastados do Euro84 os belgas voltaram em força no Mundial do México. Seria a prova de consagração do génio de Ceulemans que levou a equipa a um histórico quarto posto depois de eliminar a URSS de Belanov por 4-3 nos Oitavos de Final e de bater a Espanha em penaltys nos Quartos. Derrotado por Maradona no jogo das semi-finais os belgas não resistiram a Platini e companhia, mas com o 4 posto conseguiram aquele que é, até hoje o seu melhor resultado numa prova internacional. Ceulemans ainda marcou presença no Itália 90 mas a sua carreira já estava em fase descendente.
Após acabar a carreira como jogador Ceulemans optou pelo banco e começou uma carreira como técnico no modesto Aalst. Em 1999 tomou conta do Westerloo, no qual conseguiu surpreendentes resultados o que o levaram de novo ao seu Club Brugges em 2005. No entanto a performance ficou aquém das expectativas e o técnico voltou ao Westerloo onde ainda se encontra, a lutar no meio da tabela da liga Jupiter.
1 minuto e 40 segundos foram suficientes. Cristiano Ronaldo é, oficialmente, o mais eficaz estreante com a camisola do Real Madrid. Quatro jornadas sucessivas a marcar, seis golos apontados na liga e ainda mais dois na Champions League. Um registo de goleador para um extremo que recupera a sua melhor forma. E disfarça as deficiências dos merengues...
Enquanto o Barcelona continua a deslumbrar com o seu melhor jogo (que o digam Atletico de Madrid e Racing Santander, destroçados por Xavi, Zlatan, Messi e companhia), o Real Madrid mantem-se na liderança. De forma tremida, mas constante, os madrileños igualam o rival em pontos ao mesmo tempo que assumem a liderança do seu grupo na Champions League cuja final, este ano curiosamente, será no seu Santiago Bernabeu. E tudo isso por culpa de um homem: Cristiano Ronaldo.
Enquanto o técnico Manuel Pellegrini continua à procura de uma identidade e de um fio de jogo, a equipa vai ganhando de forma pouco convincente. Mas eficaz. Os oito golos do extremo português em cinco jogos disputados desiquilibram a balança a favor dos merengues. Como nenhuma outra estrela da constelação de Florentino Perez. Actuando a extremo, falso ponta de lança e até mesmo avançado centro (lado a lado com Higuain), CR9 atirou às urtigas todas as criticas sobre a sua dificuldade de aptação ao futebol espanhol e assina o seu melhor arranque de época de sempre, superando mesmo os números logrados na sua época dourada em Manchester, há precisamente dois anos.
Enquanto Kaká destaca pela sobriedade e Xabi Alonso pela organização (Benzema ainda anda desaparecido) é o português que acapara todas as atenções. E não é para menos. Eficaz na marca de grande penalidade (que em Madrid é rotativa como se viu ontem), na marcação de livres, a jogar de cabeça, a assistir e a finalziar, Ronaldo assume-se como o elemento mais completo do plantel madrileño. Uma equipa que continua com graves deficiências na defesa e que tem aguentado graças ao brilhante trabalho a meio campo de Lass Diarra, o jovem Granero e o renascido Guti (curiosamente o fiel da balança Xabi Alonso, ausente por lesão, não tem sido o mais esclarecido). Mas que se não fosse pelo português continuava no estilo cinzento que marcou a bem sucedida série de vitórias de Juande Ramos. Falta saber como será este Real Madrid com rivais directos (o Villareal foi destroçado, mas a equipa do Submarino Amarelo está em queda livre na tabela e não parece a mesma da era de Pellegrini) na Europa e na liga espanhola. Serão esses jogos a doer que medirão todo o potencial de uma equipa com um plantel invejável, mas que continua sem um onze esclarecido.
No meio de todo o burburinho levantado sobre os milhões que Perez pagou por ele, Cristiano Ronaldo fez o que sabe melhor. Em campo provou a sua rentabilidade desportiva enquanto que fora dele começa a dar receitas extraordinárias nos mercados orientais às depauperadas finanças do clube merengue. Apesar de continuar a ser a habitual sombra de si próprio com a equipa das Quinas - tal como Messi na Argentina - no seu novo clube o português já conquistou o mais sério dos adeptos. A sua arrancada de ontem em Villareal, mal o árbitro apitou para o arranque do jogo, prova a sua total concentração em ser sempre o melhor em campo. A imprensa já lhe exige o Pichichi (prémio ao melhor marcador, classificação que lidera a par de Villa e Messi), o que surpreende face ao arsenal ofensivo de avançados que tem o clube e ao posicionamento táctico de Ronaldo. E se Pellegrini continua realmente sem saber o que fazer com tantos jogadores ofensivos, inventando um sistema de rotação que disfarce a sua falta de decisão, Ronaldo continuará a sofrer em campo. Em cada jogo actua numa posição distinta e com ordens diferentes. Já foi o extremo puro das origens em 4-4-3 (com Raul e Benzema), já apoiou Benzema no ataque num 4-2-3-1 e já dividiu as despesas ofensivas ao lado de Higuain num falso 4-4-2. E em todas as variantes acabou por ser decisivo.
Superado o primeiro mês com o titulo de melhor estreante com a camisola merengue era o incentivo que o jogador precisava. É normal que à medida que Pellegrini vá decidindo o sistema de jogo a adoptar surjam Kaká, Benzema e Xabi Alonso noutra forma. São três jogadores que dependem muito do fio de jogo para posicionar-se, particularmente o brasileiro que ora está só na criação, ora tem um apoio de dois ou três jogadores. Mas aí também está a diferença. Ronaldo não precisa dessa adaptação. Já está a facturar e fazer facturar o clube que quer voltar a levar ao sucesso...e que o pode voltar a levar a ele de novo aos trofeus individuais por que tanto ânsia. Este ano já sabe que não tem hipóteses face ao vendaval blaugrana e com Portugal quase fora do Mundial os prémios do próximo ano estão também hipotecados. Mas CR9 trabalha a longo prazo. E a continuar assim pode mesmo tornar-se no simbolo madridista para a próxima década.
A partir de hoje o Egipto recebe a nata do futuro do futebol mundial. Bem, é verdade que as habituais jogadas entre clubes e federações deixam de fora a muito boa gente. Mas o Mundial de sub-20 arranca hoje na máxima força e promete confirmar jovens promessas debaixo de olho de muitos clubes e revelar ilustres desconhecidos que farão no futuro as delicias de muito boa gente.
São seis grupos, vinte e quatro equipas equipas e mais de 500 jovens promessas à procura de um lugar ao sol. A história diz-nos que o nome do país vencedor afinal conta pouco. São as individualidades que destacam quem fica para a história. Basta ver as últimas edições e comprovar que em a prova revelou ao Mundo nomes até então desconhecidos como Maradona (1977), Prosinecki (1987), Xavi (1999), Saviola (2001), e Leonel Messi (2005).
A prova desenrola-se no Egitpo mas a selecção dos faraós não parte como favorita. Os grandes candidatos chegam - uma vez mais - da América do Sul, esperando-se que Brasil, Uruguai e especialmente o Paraguai, voltem a exibir o seu melhor rosto, depois do Campeonato Sul-Americano da época transacta. Os brasileiros apresentam um conjunto fortíssimo liderado por Giuliano, um médio centro bem ao gosto de Dunga. Os grandes favoritos africanos são o Gana de Ransford Osei e a Nigéria de Rabiu Ibrahim e Lukman Haruna. Duas equipas poderosissimas que querem quebrar a maldição. Afinal esta é a única prova de formação de cariz mundial que nunca foi ganha por uma nação do Continente Negro. Neste ano "africano" da FIFA - com o Mundial FIFA a desenrolar-se na África do Sul - não há melhor momento para quebrar a malapata.
A Europa envia um contigente de respeito mas sem grandes favoritos. Itália (que disputará o grupo A com os anfitriões, o Paraguai e Trinidade e Tobago) e Alemanha no B (frente a frente terá os Estados Unidos, Coreia do Sul e os Camarões), são as equipas melhor posicionadas. Mas atenção à sempre fiável Espanha (sem Bojan e Asenjo) e à Inglaterra (numa versão B) que medirá forças com os favoritos Gana e Uruguai.
Portugal, naturalmente, está fora de uma prova que venceu já por duas vezes (1989 e 1991), espelhando bem as gritantes diferenças entre o futebol de formação luso e o que se pode seguir no resto do Mundo. O primeiro Mundial Jovem foi disputado em 1977 e conta com dezasseis edições. O trofeu foi ganho apenas por sete países sendo que a Argentina é detentora de seis edições, o Brasil de quatro e Portugal surge no terceiro posto com duas vitórias, à frente de nações como Espanha, URSS Alemanha e Jugoslávia. Os argentinos são igualmente os detentores dos dois últimos titulos mas não estará presente para renovar o trofeu depois da desilusão no último campeonato sul-americano.
A partir de hoje a elite jovem do Mundo reune-se para vencer um troféu que levanta sempre polémica junto dos grandes clubes, que se queixam de que a prova retira-lhes alguns jogadores chaves nos seus planos. Basta ver as razias nas equipas europeias para perceber que muitos craques ainda preferem ficar em casa a exibir-se diante do Mundo. No entanto a moeda tem sempre dois versos e muitas das ausências de cracks já consagrados abre a porta a novas promessas que têm aqui a oportunidade de ouro para que o Mundo conheça o seu nome por direito próprio. Ao largo do próximo mês vamos ver quem mostra ter valor para fazer história...num futuro próximo!
É um verdadeiro enigma que o mais tecnicista futebolista das últimas décadas nas ilhas britânicas seja, ainda hoje, um ilustre desconhecido para muitos. A falta de ambição, o questionável profissionalismo e o seu particular estilo de jogo afastaram-no dos grandes palcos mas não foram suficientes para retirar-lhe um lugar na história da Premier. Matthew Le Tissier eterniza-se por direito próprio.
Hoje já não existe o mitico The Dell, substituido pelo moderno St. Marry´s. Nem existe o poderoso remate literalmente do meio da rua de um jogador que teimava decidir jogos com um gesto que só os predestinados conseguem dar forma. Para depois hibernar. Até ao seguinte momento de glória. Assim foi a longa carreira de Matthew Le Tissier, o heroi de Southampton, o simbolo de um jogador que cada vez mais está em desuso. Le Tissier não queria ser uma estrela, um simbolo de marketing. Gostava de ir ao pub e beber umas cervejas demais. E isso notava-se na sua sempre questionada forma fisica. Gostava dessa Inglaterra grey and green (cinzenta e verde), e nunca esteve disposto a abandonar as paragens da infância, esse olhar atrevido ao Atläntico do sul da ilha. Nunca foi um desportista profissional ao máximo - como os técnicos hoje exigem - mas foi um adepto do fair-play e um dos últimos cavalheiros dos relvados. Abandonou a carreira sem ter logrado um único titulo memorável. Mas os seus golos - um dos quais eleito o melhor da história da Premier - fintas e arranques passaram à história.
Nascido em Outubro de 1968 na ilha de Guernsey, um arquipélago no canal da Mancha, Le Tissier viveu toda a vida ligado ao futebol. Ainda com 10 anos entrou na equipa juvenil do clube local, o Vale Recreation. Sete anos depois o seu talento ecoava por todo o sul da Inglaterra e foi o Southampton, um histórico, a lograr convencê-lo a deixar a terra natal. Le Tissier provavelmente não o sabia mas esse seria o seu único clube profissional. Uma carreira que começa em 1985 e que se extende até 2002 num total de 443 desafios e 162 golos, o número mais elevado conseguido por um médio centro na história da Premier. Chamar médio a Le Tissier é uma notória (in)conclusão do estilo do jogador. Avesso às tácticas ferreas, era um dandy no relvado. Basculava entre o centro e o ataque o seu ritmo e apesar de jogar e fazer jogar, corria muito pouco. A bola corria sempre por ele. Depois de um percurso brilhante nos sub-21 ingleses, o médio foi consolidando-se como o lider de uma equipa que era sempre temível de derrotar nas longas viagens ao The Dell. Em 1989 ganhou o prémio a jogador jovem do ano. Em anos o Southampton lutou pela Europa enquanto que outros foram vividos com a corda na garganta. Em todos eles a figura do clube foi apenas e só Le Tissier. Em 1993-1994, a melhor época do clube, apontou 30 golos, um feito inédito na história do clube perdendo apenas o titulo de melhor marcador para Alan Shearer.
Em 1994, já com 26 anos, estreia-se pela equipa principal inglesa mas por aí só passa durante oito jogos. O seu estilo não se coadunava com uma equipa como a dos Pross e passou rapidamente a proscrito. No entanto, em cada competição, o seu nome era levado a todas as especulações sobre se iria ou não com os 23 eleitos. Nunca o logrou mas várias vezes esteve perto, especialmente em 1998 quando meia Inglaterra pedia a sua inclusão na lista de Gleen Hoodle. Em 2001, quando o The Dell deixou de ser a casa mitica do clube, Le Tissier marcou o último golo do Southampton em casa num jogo louco contra o Arsenal. Nas bancadas chorou-se mais do que se riu de alegria. O médio tinha anunciado também o final de carreira e apenas actuou um ano no novo recinto. Hoje o St Mary´s tem uma bancada com o seu nome mas o clube milita na III Divisão depois de uma queda estrepitosa. Le Tissier ainda tentou comprar o clube mas o negócio falhou.
Amado, mais do que odiado, Le Tissier é um desses jogadores que não tem uma era própria. Avesso a qualquer caracteristicas tipo, foi responsável por alguns dos melhores momentos da história da Premier. Sete anos depois do seu abandono, o seu clube de sempre vive na pele a sua ausëncia, e os adeptos ingleses têm saudades de um jogador que tinha o fisico de inglês e a técnica de um brasileiro.
A grande sensação do início de época foi o Tottenham Hotspurs. O clube londrino conseguiu pela primeira vez em quarenta anos três vitórias consecutivas a abrir a Premier. Mas as derrotas diante de Manchester Utd e Chelsea abrandaram as expectativas à volta de Harry Redknapp. Em San Mames e no Luigi Ferrari a situação é oposta. Vive-se a euforia do regresso em força de dois históricos do futebol europeu.
Quem poderia antever que depois do primeiro mês de provas oficiais em Espanha e Itália, a liderança da prova estivesse em mãos de Athletic Bilbao e Sampdoria. Um feito que não é inédito. Afinal, são dois dos clubes com mais historial do futebol. Mas um cenário que há muitos anos não se via. Uma liderança partilhada, é certo, com rivais de maior potencial, mas que não deixa de dar óptimas indicações sobre equipas com aspirações mas à volta das quais havia muitas, talvez demasiadas, dúvidas. No lado do histórico clube basco pela natureza do seu projecto e os sustos do passado recente. No lado da formação genovesa, pela falta de consistência de uma equipa que vivia à sombra de Antonio Cassano. Cumprida uma primeira - e importante - etapa dos campeoantos europeus, há ainda muitos pontos de interrogação. E nunca se poderá esperar que estas posições sejam as mesmas que encontraremos, digamos, lá pelo Natal. É claro que não. Mas são um sinal positivo de dois projectos em reestruturação que demonstram que o sucesso presente e as glórias passadas são possiveis de conjugar numa equação ganhadora.
Em Espanha o caso do Bilbao é ainda mais curioso. O clube orientado pelo andaluz Joaquin Caparrós - responsável igualmente pela reestruturação do Sevilla que abriu as portas ao sucesso de Juande Ramos - já tinha conseguido o brilharete na época transacta de disputar a final da Taça do Rei. Uma prova da qual era a equipa com mais vitórias (o Barcelona igualou o feito) e que provou que o sangue frio basco continuava bem vivo. Apesar da derrota diante da máquina goleadora de Pep Guardiola, o conjunto deixou boas impressões que contrastavam claramente com a péssima campanhã doméstica que os atirou para a luta pela sobrevivência. No arranque do novo ano a tremideira na pré-eliminatória da Europe League deixou no ar muitas dúvidas. Mas Lezama e uma nova vaga de talentos - dos consagrados Llorente, Iraola, Susaeta e Amorebiata à promessa Muniain - ao serviço de um técnico conhecido pela sua capacidade de trabalho, começaram a dar frutos. Em quatro jogos na liga espanhola o Bilbao sumou quatro vitórias. É co-lider com os favoritos Real Madrid e Barcelona e na última jornada derrotou o Villareal, um dos candidatos aos primeiros postos. Mais do que isso, o futebol da equipa é mais agradável e fluído do que em anos passados. E a muitos começa a vir à memória a notável época em que o conjunto disputou até ao fim o titulo com o Real Madrid, acabando em segundo posto na liga das Estrelas. Os adeptos do San Mamés sabem que sonhar com a Champions pode ser muito numa liga extremamente competitiva, mas esperam voltar aos postos europeus por direito próprio e afastar fantasmas do passado.
Na portuária cidade de Genova o clima é de maior euforia, até porque, pela primeira vez em largas décadas, os dois clubes da cidade estão em grande forma. O Genoa perdeu dois jogadores chave para o Inter mas vem lançado de uma grande época e quer repetir o feito. Só que neste arranca de campeonato os holofotes estão no histórico rival. A Sampdoria foi das poucas equipas nos últimos trinta anos de Calcio a desafiar os três grandes (AC Milan, Juventus e Inter). Venceu o campeonato em 1991 e disputou no ano seguinte a final da Taça dos Campeões. Era uma geração fantástica a orientada por Sven-Goren Erikson com Mancini, Vialli, Lombardo, Pagliuca e Vierchwood. Hoje a equipa é muito menos ambiciosa. Antonio "Il Talentino" Cassano é a única estrela num plantel repleto de obreiros de génio (Palombo, Volpi) e jovens talentosos (Pieri, Fiorillo, Ziegler, Foti) que combinam muito bem. O conjunto genovês cedeu apenas um empate, contando os restantes jogos por triunfos. Está lado a lado com a poderosa Juventus na liderança da Serie A e depois de ter eliminado o Inter na Taça de Itália do ano passado, este ano tem um projecto mais ambicioso. Jogar no Luigi Ferrari é um terror para qualquer rival e mais ainda quando a equipa está motivada. O projecto da "Samp" não é imediato, mas a baixa de forma de AC Milan e AS Roma abriu à classe média italiana (onde andam também Genoa, Udinese, Napoli, Lazio ou Fiorentina) uma possibilidade de chegar mais longe do que seria esperado. Resta saber que pedalada tem o conjunto genovês que bem pode olhar para o exemplo de outro histórico. Afinal o Napoli no ano passado arrancou de forma demoníaca mas a segunda volta foi um suplício e o clube acabou a meio da tabela.
O sinal dado por Bilbao e Sampdoria pode ser ainda recuperado por outros velhos clássicos. O já citado caso de Redknapp e o seu Tottenham (numa liga cada vez mais equilibrada com a chegada em força do Manchester City) ou do ressuscitar do Bayer Leverkusen na Alemanha são apenas exemplos. Enquanto que há grandes equipas que agonizam nas divisões inferiores (Real Sociedad, Boavista, Newcastle, Nottingham, Leeds, Nantes, Verona), há outros projectos que mostram dar a volta por cima e apresentar trunfos de valor na mesa. Resta ver o que ainda têm guardado nas mangas...
Enquanto que os arcebispos continuam intratáveis, começam a notar-se cada vez mais as diferenças entre os dois crónicos candidatos ao título. A versão macia, descaracterizada e sem pingo de ambição do FC Porto que se passeou por Braga constrasta com a garra e dinâmica encarnada. O Benfica de Jesus há muito que não apresenta o futebol espectáculo que a pré-época vendeu como de primeiro nível, mas para onde se foi a classe chegou a raça e a inteligência de jogo. Com vitórias sofridas e uma notável eficácia a bola parada também se ganham titulos.
Desenganaram-se os que, lançados pela tipica campanhã de pré-temporada, acreditavam que a Liga Sagres ia ser um passeio para o Benfica do genial Jesus. Genial, segundo ele, e segundo a imprensa que rapidamente tentou fazer do técnico amadorense um fenómeno. Está longe de o ser mas o seu Benfica é claramente distinto às últimas equipas encarnadas. Não só por ter um plantel mais equilibrado e maturo, com opções de nível para a esmagadora maioria dos sectores de jogo. Mas essencialmente pela atitude que demonstram em campo. Se o Benfica de Giovanni Trapattoni, o último técnico que cantou um titulo na Luz, era raçudo mas extremamente defensivo (como não haveria de o ser), a equipa de Jesus é iminentemente ofensiva. E quando a classe individual dos jogadores não resolve, puxa dos galões e entrega-se à raça dos campeões. Exceptuando a goleada ao Vitória de Setubal, este ano ainda não se viu uma equipa realmente espectacular. Mas a eficácia concretizadora - especialmente nas bolas paradas - e o ritmo que o Benfica impõe aos jogos é um trunfo a favor do técnico. Dessa forma as águias vencem (com mais ou menos polémica), convencem e são, nesta altura, a única formação que morde os calcanhares invictos de Domingos Paciência.
Por outro lado há o desanimo e a falta de ambição de um dragão sem chama.
Depois de um jogo muito meritório a meio da semana em Londres - onde houve momentos de óptimo futebol - o FC Porto tinha em Braga o seu primeiro grande teste doméstico. Vencer significava assumir a liderança da prova mas esse cenário nunca esteve realmente em discussão. O Braga impôs o seu futebol, do principio ao fim, benificiou da sorte no golo de Alan mas ficou a queixar-se com razão de um penalty por assinalar a Alvaro Pereira. Mas, mais do que a polémica, foi o bom futebol arsenalista que pautou o ritmo do encontro. Uma equipa rápida, solta e ligeira, capaz de rasgar o onze rigido dos campeões.
Em Braga percebeu-se também que Jesualdo Ferreira tem este ano mais trabalho do que nunca (o que vem em mau momento já que, pela primeira vez, tem também um rival a sério). A forma exibida pela esmagadora maioria do onze portista é de bradar aos céus, um cenário que já vem detrás com o empate com o Paços e a vitória sofrida ante um Nacional diminuido a 9 jogadores. Em Braga o técnico podia apostar em toda a sua artelharia mas a pólvora estava mais que seca. Hulk é a confirmação de todas as suspeitas de que havia ali mais fumo que fogo quando o apelidavam de "Incrível". A defesa esteve constantemente insegura e Bruno Alves parece andar com a cabeça perdida. E quanto ao meio campo, sem Belluschi, é ainda mais um vazio de ideias que o voluntarismo de Meireles e Guarin não consegue esconder. Sumando tudo, voltamos ao início, à má planificação de época, ao défice de opções em sectores chave. E à atitude.
Este FC Porto não tem minimamente uma atitude ganhadora. O jogo é pastelento e os jogadores emaranham-se numa burocracia táctica inexplicável. É um jogo sem um fio condutor, sem um elemento de criação definido que depende mais da permissividade rival do que da iniciativa própria. Ao contrário do SL Benfica, os dragões não assustem em lances estudados, e mostram uma temivel ineficácia diante das redes. Mas se era esse o problema mais grave de outros anos, esta época, sem um elemento com as caracteristicas de Deco ou Lucho, o problema começa mais atrás. Onde o Benfica está mais equilibrado com Ramires-Di Maria-Aimar, o FC Porto é um deserto de ideias. E sem raça.
Uma raça que, sabem os dragões melhor do que ninguém, muitas vezes é suficiente para decidir o titulo. A corrida só agora começou mas já se começam a ver quantos trunfos na manga têm realmente estes candidatos.
É por tardes como esta que a Premier League continua a ser a verdadeira pedra filosofal do futebol europeu. Golos, espectáculo, emoção até ao último sopro, heróis e vilãos e no final um veterano rejuvenescido que continua a fazer história. Mais do que esta mitica vitória por 4-3, este Manchester United vs Manchester City confirma - se falta fizesse - o quão indispensável é (ainda) Sir Ryan Giggs.
Há grandes equipas e estrelas em Espanha, há uma enorme cultura táctica em Itália e em França, Alemanha ou Holanda os vencedores são quase sempre imprevisiveis. Mas a magia do futebol britânico é única e não tem comparação com qualquer outra liga europeia. Se a Premier League ainda precisa-se de publicidade, nada melhor que ver este derby de Manchester para entender que a mentalidade nas ilhas acompanha o espirito vibrante do jogo. A polémica posterior ao golo decisivo é apenas o resultado da enorme paixão que se vivem nos 90 (mais 5) minutos de jogo no tapete verde de Old Trafford. Frente a frente, mais do que dois rivais com mais de cem anos de história, os dois rostos da Premier. O grande dominador da prova - desde que esta começou em 1992 - e o mais recente candidato ao trono de campeão, o embaixador do novo-riquismo árabe e o seu dinheiro do petróleo. Um vizinho ruidoso, como apelidou à posteriori Ferguson, ou um rival tremido, como antecipou Tevez?