Desde há muito tempo que o obituário estava pronto nas redações dos principais jornais tal era a gravidade da doença que o consumia por dentro e por fora. Foram anos de luta como só o velho leão era capaz de realizar com aquele sorriso tão honesto. Aos 76 perdeu o último jogo da sua vida, depois de ter derrotado os quatro tumores anteriores que o tinham atacado desde 1991. Uma vida marcada a letras de ouro na história deste desporto. Uma vida épica daquele que foi o último grande Mister. Uma vida mágica de um verdadeiro Sir. Obrigado Mister Robson!
Foi provavelmente um dos maiores gentlemans da história do desporto-rei. Durante quase quarenta anos provou que o seu estilo, sempre correcto e educado, tinha lugar num desporto cada vez mais envolto em picardias e confrontos. Começou a brilhar numa era de treinadores guerreiros como Brian Clough ou Bob Pasley, herdeiros directos da escola de Bill Shankly. Eram os jogos psicológicos, tão de moda nas ilhas britànicas, que então atraiam o público. Mas não o jovem Robert "Bobby" Robson, chamado então a converter-se num dos mais bem sucedidos treinadores da história do futebol inglês. Foi jogador durante os anos 50 e 60 no West Bromwich Albion e mais tarde no Fulham londrino, tendo sido internacional pelos Pross por várias vezes, incluindo uma participação nos Mundiais de 1958 na Suécia e 1962 no Chile. No entanto foi como treinador que Bobby Robson começou a fazer-se notar . O seu primeiro grande projecto foi o Ipswich Town, um clube modesto da zona de East Anglia, que vivia uma época tranquila quando chegou o jovem treinador para dar inicio a uma nova era. Esteve em Ispwich 14 temporadas e no final da sua etapa como técnico chegou o seu triunfo mitico na F.A. Cup (1978), seguido quatro anos depois pela sua primeira vitória europeia, na Taça UEFA. Daí passou para o banco da selecção inglesa, orfã de triunfos há quase duas décadas.
Depois de falhar o apuramento para o Euro 1984 conseguiu levar a Inglaterra ao Mundial de 1986. Na prova azteca colocou a equipa da rosa a jogar o seu melhor futebol em vários anos logrando chegar aos quartos de final. Aí foi derrotado pelo golpe de Maradona, do qual diria mais tarde que era "a mão de um embusteiro. Deus não tem nada a ver com isto!". Depois de uma performance para esquecer no Euro88, dois anos depois conseguiu o segundo melhor resultado da história do futebol inglês ao lograr o quarto posto no Mundial de Itália, depois de ter caído nos penaltis diante da Alemanha. Finalizada a notável carreira como seleccionador saiu das ilhas para orientar o PSV Eindhoven onde esteve dois anos conquistando as duas ligas lançando para o estrelato o jovem Romário. Foi então quando trocou o país das tulipas por Portugal. Sousa Cintra foi buscá-lo para o seu Sporting mas uma derrota em Salzburg afastaram-no de uma das melhores equipas leoninas da história. Despedido de forma amarga acabou por ficar em Portugal, substituido a Ivic no FC Porto. Com ele levou parte do seu staff técnico onde estava já o seu inseparável traductor, José Mourinho. Nas Antas arrancou para um notável final de época -logrando ultrapassar os próprios leões de Carlos Queiroz - e montou a base da equipa que ia conquistar o primeiro Penta. Entre 1994 e 1995 venceu dois titulos de campeão e uma Taça de Portugal. Lançou as bases de uma era dourada para os dragões com uma geração única mas foi também na Invicta que viu a carreira ser interrompida pelo cancro que lhe tinham diagonesticado anos antes. Durante meses esteve em tratamento e foi Augusto Inácio que acabou por orientar os campeões rumo ao bicampeonato. No final da época foi seduzido por Josep Luis Nuñez e partiu para Barcelona.
Na cidade Condal esteve apenas uma época mas viveu-a repleta de titulos. Do Porto levou consigo Vitor Baía, Fernando Couto e José Mourinho. E com Figo, Ronaldo, Luis Enrique, Guardiola e companhia terminou a época no segundo posto, venceu a Taça do Rei e a Taça das Taças, diante do PSG. Titulos insuficientes para a direcção blaugrana que o substituiram por Louis van Gaal. O técnico voltou então para o PSV mas sem o mesmo sucesso da primeira etapa. A doença começava a miná-lo e depois de vários anos parado, acabou por tomar as rendas do seu Newcastle, onde treinou até 2004 passando posteriormente a director técnico. Até que a doença triunfou e abandonou definitivamente os relvados, passando os últimos anos numa luta inglória e épica.
De Bobby Robson ficam as miticas conferências de imprensa (incluindo a mitica conferência na Luz onde declarou que o derby, que então deu o titulo aos encarnados, tinha sido um "Mozer 2-0 Fernando Couto"), as sempre correctas palavras com os seus rivais e o seu estilo de general tranquilo. Foi o mentor desportivo de José Mourinho, do qual se queixou mais tarde que nunca o reconheceria, e o exemplo do futebolista gentleman britânico que nos bancos não deixou de ter o comportamento perfeito que exibiu em campo. Numa era onde os simbolos escasseiam cada vez mais, onde os técnicos se matam numa refrega constante, sir Bobby Robson ficará sempre na história como um dos maiores nomes que nos deu este desporto tão belo a que o próprio Bobby sempre se referia como "the beautiful game".
O futebol da Europa de Leste sempre foi menosprezado pelas potências ocidentais mas ao largo da história cada país teve direito à sua geração dourada que irrompeu nas grandes provas internacionais para demonstrar que o beautiful game é universal. Durante dez anos, e coincidindo com o ocaso futebolistico da URSS, o grande embaixador da Cortina de Ferro era uma selecção veloz, ágil e eficaz. A inesquecivel cavalaria polaca do marechal Gregorz Lato.
Uma equipa genial que apanhou a onda do futebol total que então brilhava no país das tulipas e a adaptou ao seu estilo de jogo, com jogadores velozes nas alas, avançados móveis e uma defesa de ferro. O seleccionador Kazimierz Gorsky tinha vindo a trabalhar com as selecções jovens polacas durante uma larga década e conhecia melhor que ninguém a próxima colheita do futebol polaco. Montou um onze repleto de jovens que durante quase uma década seriam a base de uma das equipas que melhor futebol jogava na Europa. Em 1972 em Munique a equipa olimpica, onde já alinhavam algumas das futuras estrelas, venceu a medalha de Ouro em Futebol. Na fase de qualificação para o Mundial de 1974 eliminou surpreendentemente a Inglaterra em pleno Wembley. Com uma equipa composta por Lato, Zmuda, Szarmach e Deyna, entre tantos outros, os polacos chegaram ao Mundial como equipa de segundo plano mas rapidamente mostraram que vinham com vontade de vencer.
No primeiro encontro venceram por 3-2 a favorita Argentina com uma notável exibição de Lato e poucos dias depois bateram a frágil equipa do Haiti por 7-0. No último jogo nova vitória surpreendente, 2-1 frente à Itália, vice-campeã em titulo, e vitória num grupo onde estavam destinados a figura de corpo presente. Na fase seguinte - dois grupos de quatro equipas onde os vencedores disputavam a final - a Polónia voltou a mostrar que havia mais que a Holanda no Mundial. Contra os suecos uma vitória por 1-0 e contra a Jugoslávia triunfo por 2-0. Chegava o jogo decisivo contra a RF Alemanha, a equipa da casa. O dia do encontro ficou marcado por um imenso temporal que prejudicava o rápido futebol polaco face ao jogo mas fisico dos alemães. Gorsky queria adiar o encontro mas a direcção não o permitiu e Muller fez ao minuto 72 o golo que impedia aos polacos chegar à final. A desilusão foi ultrapassada pela vitória diante do Brasil e o terceiro lograr conquistado e pela vitória de Lato na disputa pelo trofeu de melhor marcador do torneio.
A notável performance no Mundial de 74 não se repetiu quatro anos depois apesar de que os polacos, tinham voltado a brilhar nos Jogos Olimpicos de 76, ficando com a medalha de Prata. Já sem Gorsky a equipa que eliminou Portugal na qualificação mantinha a mesma estructura a que se juntava o jovem prodigio Zbigniew Boniek, começou com um empate a 0 com os alemães, carrascos em 74. Seguiu-se uma vitória diante do México e o consequente apuramento para a segunda fase onde os sul-americanos Argentina e Brasil desforraram-se das derrotas quatro anos antes. A cavalaria polaca caiu por 2-0 diante da equipa da casa e por 3-1 contra o Brasil. A vitória por 1-0 diante do Peru serviu para lavar a imagem de uma equipa em renovação. Foi de cara lavada (só Lato, Zmuda e Szarmach repetiram a experiência) que os polacos chegaram a Espanha para o Mundial de 1982. Tinham passado oito anos e poucos davam crédito a novo brilharete.
Depois de dois empates a zero com Itália e Camarões a equipa garantiu o apuramento com um 5-1 ao Peru. Na segunda fase o ataque composto pela dupla Smolarek e Boniek, com o apoio do ainda decisivo Lato, bateu por 3-0 a surpresa Bélgica, que tinha derrotado a Argentina de Maradona, e depois bateram a URSS confirmando o apuramento para as meias finais. Boniek, suspeno, viu o jogo da bancada e a defesa que tinha sido tão eficaz em marcar Rossi no jogo de abertura foi destroçada pela velocidade e sentido de oportunidade do dianteiro italiano que com dois golpes cirúrgicos decidiu a eliminatória. Tal como em 74 o sabor a desilusão foi compensado com o terceiro posto, após vitória sofrida diante da romântica França de Platini, por 3-2.
Foi o fim da era dourada do futebol polaco. Apesar de Boniek continuar a brilhar a nivel individual, a equipa polaca nunca mais logrou chegar tão longe. Eliminado por Portugal no apuramento para o Euro 84, a presença no Mundial do México 86 foi modesta. Seguiu-se um periodo de 16 anos sem voltar a um grande palco, mas na Coreia do Sul os polacos foram uma sombra do seu passado glorioso, uma época onde a armada de Lato era respeitada nos quatro cantos do planeta futebol.
Um poço de força pura aliada a uma inteligência de jogo apuradíssima fazem de Mamadou Sakho um dos defesas centrais de maior futuro do futebol europeu. Com apenas 19 anos é já um dos jogadores mais referenciados da Europa e uma ambição particular de José Mourinho que vê nele o jogador perfeito para a defesa do Inter de Milão. Capitão nas camadas jovens francesas, o central do PSG que pode igualmente actuar em ambas as laterais é, ao lado do britânico Micah Richards, o defesa central europeu mais promissor da actualidade.
Um verdadeiro bulldozer (mede 1m87 e pesa 86 kg) tem um sentido de colocação exímio e um espírito de líder único. Não é por acaso que se tornou no mais jovem capitão de sempre do PSG (e de qualquer clube da Ligue 1), precisamente no seu jogo de estreia contra o Vallencienes em Outubro de 2007. Tinha apenas 17 anos.
Rezar quinzenalmente no San Paolo é um dos rituais mais habituais de um napolitano. O santuário soberano do futebol do sul de Itália, o único reduto capaz de rivalizar em tamanho e grandeza com o Olimpico de Roma e o San Siro, é um exemplo de resistência e devoção. Dos milhares que assistiram aos dribles de Maradona ao sofrimento das divisões inferiores, os adeptos do Napoli fizeram do seu recinto o seu estandarte de eleição.
Não é por acaso que o presidente do Napoli e o presidente da câmara da cidade propuseram há uns anos que se modificasse o nome do San Paolo para Estadi Diego Maradona. Foi na era dourada de "El Pibe" que o estádio napolitano atingiu o seu apogeu. Estavamos em plena década de 80 e o recinto, então com 35 anos, vivia em constante ebulição. Quando o astro argentino foi apresentado, os 70 mil lugares estavam preenchidos por napolitanos desejosos de ver o seu particular salvador. Não se enganaram. Diego Armando Maradona fez do Napoli uma equipa temível. Em Itália desafiou o poder estabelecido entre os clubes do norte (AC Milan, Inter, Juventus, Torino, Sampdoria) e da capital (Lazio e Roma) e conseguiu os dois únicos titulos da história do clube. Numa cidade marcada pelo sangue da máfia e com o Vesúvio majestoso em pano de fundo, a pouco e pouco o San Paolo foi conhecendo uma dimensão trascendental mais do que nunca se imaginara nos anos posteriores à sua fundação.
Foi em 1959, época aurea de construção de novos recintos, que Napoles viu nascer o seu estádio. Construido para rivalizar com os do Norte, rapidamente se tornou num dos três grandes recintos italianos. Era o orgulho da população loca, isolada e ostracizada por quase toda a Itália. Uma cidade marcada pelo braço longo da máfia e pela extrema pobreza que se agarrou à equipa de futebol como um simbolo da região. Localizado num pequeno subúrbio perto do mitico Vesúvio, o imponente estádio foi ganhando fama. Mas é realmente na década de 80 onde atinge a condição de mito. Os jogos disputados pela equipa azul celeste eram acompanhados por uma multidão eufórica e ensurdecedora de tal forma que o próprio Maradona chegou a dizer que muitos jogos foram ganhos pelo próprio estádio. Em 1989 foi construida uma cobertura especial para preparar o recinto para o Mundial de 1990. Durante a prova o San Paolo recebeu vários jogos mas nenhum como a inesquecível semi-final entre a Argentina, do idolo local, e a própria Italia. Maradona chegou a pedir o apoio dos napolitanos mas o estádio aplaudiu o onze da azzurra como nunca o tinha feito. Apesar da vitória argentina, Maradona saiu do estádio sob um imenso coro de aplausos. Anos depois, com a saída do astro, veio a falência financeira e o Napoli caiu estrepitosamente nas divisões regionais. Mas o San Paolo manteve-se vivo.
Durante largos anos, enquanto que a equipa napolitana ia subindo nas provas nacionais, o San Paolo continuava a ser o seu estandarte de eleição. Quando a equipa napolitana militava na Serie B, o recinto continuou a ser o terceiro com melhor médio de assistência, apenas atrás do S. Siro e Olimpico de Roma. Um feito enorme que levou a novas melhorias nas infra-estruturas, justificadas com o regresso do clube à elite desportiva. O ano passado as bancadas voltaram a vibrar com a notável primeira volta da equipa e para este ano a emoção ferve já no coração dos napolitanos, que peregrinam como nenhuma outra massa associativa para rezar à casa de um santo que foi consagrada por um Deus.
Durante quatro anos o futebol foi o escape de uma equipa repleta de magos que souberam desafiar um império brutal que só soube destruir o sonho de um visionário pela força. O Wunderteam foi mais do que uma invenção desde génio precoce chamado Hugo Meisl. Foi o simbolo do desafio ao império nazi de Adolf Hitler de um grupo de guerreiros com a bola nos pés que lançaram as bases do mais belo futebol do centro da Europa. Tradição recuperada, vinte anos depois, por outros magos de sotaque magiar...
Na década de 30 o futebol já era um fenómeno mais do que consolidado. Cada país tinha já formada a sua liga e as duas primeiras edições do Mundial de futebol tinham apresentado ao mundo o poderio do jogo sul-americano (Argentina, Uruguai) e a eficácia do Calcio italiano face à poesia do jogo francês. A Inglaterra continuava isolada do Mundo, acreditando na sua total superioridade e no coração da Europa começava a nascer um novo estilo de jogo, arrojado e profundamente belo.
Em Abril de 1931 a equipa orientada pelo mago vienense começou uma série inesquecivel de jogos sem perder. Durou mais de ano e meio (até Dezembro de 1932) e lançou as bases do jogo bonito de toda a década, acente no toque rápido e versátil de um verdadeiro poeta chamado Mathias Sindelar.
Meisl, visionário como poucos na história do desporto rei, aproveitou as lições aprendidas durante uma viagem ás ilhas britânicas. Em vez de seguir o modelo inglês do seu amigo intimo Herbert Chapman - inventor do WM e à época técnico do invencivel Arsenal - preferiu apostar por uma variante do modelo escocês de James Hogan, muito mais acente no toque de bola no pé e no passe rápido em lugar dos lançamentos longos e em profundidade. Sem inovar no esquema táctico, que continuava a ser o inevitável 2-3-5 (Meisl nunca acreditou no WM) o técnico chegou à sua Áustria natal e colocou em práctica toda a teoria que tinha aprendido. Tomou o comando da selecção austriaco e rodeou-se de jovens talentosos que actuavam principalmente nos clubes da capital. Pekarek, Smitsik, Vogl, Schall, Zizchek, Nausch e acima de tudo o "Homem de Papel" (devido à sua compleição fisica e rapidez) Mathias Sindelar, foram as bases em que o técnico montou o seu sistema de jogo, como um carrousell, onde a troca de bola a meio campo e o desdobramento do eixo ofensivo provocava uma série de desiquilibrios na defesa contrária. No sistema de Meisl a táctica não era fixa. O médio centro apoiava o eixo ofensivo que atacava com seis elementos e era nele que começava e terminava todo o jogo ofensivo. Nascia a figura do 10, numa época onde ainda eram os extremos que habitualmente levavam a bola nos pés em campo. Apesar da táctica pouco inovadora, o estilo de jogo de Meisl preconizo uma autêntica revolução de pressing e circulação de bola, tornando-se no avô do que seria o Futebol Total.
Foi dessa forma que durante 18 meses a Áustria foi uma selecção invencivel.
Por essa época eram vistos no Velho Continente como a única equipa capaz de bater a armada sul-americana, que tinha dominado os Jogos Olimpicos de 1928 e logo o Mundial de 1930, então as duas únicas aventuras internacionais do beautiful game. Na prova seguinte, marcada em 1934 para França, os austriacos lideravam as apostas dos favoritos e os primeiros jogos deram razão aos seus adeptos. Depois de vencer por 6-0 a vizinha Alemanha - num jogo que traria futuras consequências politicas - 6-2 a Suiça e 8-0 a vizinha Hungria, a equipa de Meisl chegava ás meias-finais com clara vantagem. Só que o jogo disputado sobre um imenso temporal que impediu a rápida circulação de bola dos austriacos ficou marcado por um garrfal erro arbitral, quando um avançado italiano empurrou o guardião austriaco e o árbitro fez vista grossa. Uma derrota que teve mão de Mussolini (a Itália venceria a prova e reeditaria o triunfo quatro anos depois, também após fortes pressões do Duce) e que destrui a fama de invecibilidade austriaca.
No entanto, e tal como sucederia mais tarde com os seus sucessor hungaros, a fama do Wunderteam ficou. De tal forma que Adolf Hitler, que tinha assistido à humilhante derrota alemã, não hesitou após o Anchluss (anexão da Áustria à Alemanha) em incluir os jogadores austriacos na equipa alemão. Por essa altura já o maestro Meisl, o primeiro a defender a máxima "A melhor defesa é o ataque", já tinha falecido (morrera em 1937) e Sindelaar, a sua maior estrela, rejeitou jogar por outro país. Acabou por suicidar-se poucos meses depois quando se preparava para ser preso pela Gestapo.
O irromper da II Guerra Mundial destruiu a geração do Wunderteam. A maioria dos jogadores acabou por falecer ou ficar ferida durante o conflito e quando a guerra terminou, em 1945, o futebol austriaco estava de rastos. O país nunca mais voltou a ter uma selecção de alto nível mas lançou as bases do futebol do centro da Europa, distinto a qualquer outro estilo de jogo do Velho Continente. Uma revolução que se transferiu na década seguinte para os vizinhos hungaros, e que nos anos 60 seria transformada, por outro técnico austriaco, Ernst Happell, na base do Futebol Total holandês provando que os ensimentos do genial Meisl, o primeiro treinador verdadeiramente visionário da Europa continental, continham mais inovações que o novo esquema táctico tão em voga até ao irromper dos anos 50.
Ao contrário do que os mais novos possam pensar, a Inglaterra sempre teve a tradição de contar com excelente guarda-redes. Os dias de ouro de Banks, Stephney, Clemence, Shilton e Seaman parecem de facto, ter acabado, mas há uma luz ao fundo do túnel. Uma luz capaz de iluminar essas espessas manhãs de nevoeiro em que os adeptos Pross vivem, esperando o salvador da pátria…um salvador que pode muito bem chamar-se Ben Foster.
Foi um dos melhores jogadores estrangeiros a alinhar no futebol português numa era onde só uma elite podia singrar num grande. Durante mais de meia década foi o coração e alma da última grande geração a brilhar no estádio da Luz. Chamavam-lhe a força da Natureza mas Isaías era mais do que isso, um verdadeiro profeta.
A grande noite da sua carreira foi provavelmente a épica vitória encarnada em Highbury Park, onde apontou os dois golos que eliminaram o Arsenal e permitiram ao SL Benfica entrar na fase decisiva de grupos da Champions. A equipa então orientada por Erikson acabaria por ser eliminada pelo Dream Team de Cruyff, mas o nome de Isaías ficou na retina de todos. Estávamos em 1991 mas o médio ofensivo tinha já chegado a Portugal há seis anos. Depois de ter feito no Brasil carreira no Riofriense, chegou em 1987 ao Rio Ave, já com 24 anos. Um ano em Vila do Conde foi suficiente para dar o salto para o Boavista, que começava a gerar a equipa que ia assumir-se como quarto grande. Dois anos de alto nível no Bessa garantiram uma transferência memorável para o Estádio da Luz. Chegou a uma equipa em alta, depois de duas finais da Taça dos Campeões, mas a precisar de renovação face à idade de alguns dos veteranos titulares. Aposta pessoal de Sven Goren Erikson, o médio rapidamente provou que tinha valor para se impor como titular. Por essa época os duelos entre FC Porto e SL Benfica eram verdadeiramente de vida ou morte e foi ai que se começou a notar o carácter do médio, capaz de suportar a pressão das Antas e de levantar os adeptos na Luz. Esteve ao serviço das águias cinco anos. Nesse período realizou 168 jogos e apontou 69 golos, alguns dos quais verdadeiramente memoráveis e capitais para o titulo conseguido em 1991. Em 1993, a saída dos elementos chave do meio campo, Paulo Sousa e Pacheco para o Sporting, antecipou uma época que parecia complicada. Uma goleada em Setúbal por 6-3 parecia condenar o Benfica mas então Isaías imergiu como líder da quadrilha. O técnico Toni decidiu apostar num onze altamente ofensivo onde o brasileiro convivia com João Vieira Pinto, Stefan Schwarz, Alexander Mostovoi, Vasili Kulkov, Vítor Paneira, Rui Costa, Yuran e César Brito, naquela que foi a última grande geração encarnada. Com esta equipa o Benfica viveu na mesma época dois jogos inesquecíveis. O empate a 4 em Leverkusen, um jogo impróprio para cardíacos, e a mítica vitória por 3-6 em Alvalade contra o Sporting, que consagrou JV Pinto e ofereceu de bandeja o titulo aos encarnados depois de a meio da época terem sido descartados da luta pelo titulo. Uma vitória épica mas que seria a última para o médio.
De todos os clubes europeus há sempre aqueles que se tornam em símbolos indiscutíveis de um estilo, uma politica, uma forma de estar. No universo da formação de talentos o grande referente mundial ainda hoje é o Ajax Amsterdam. Mas o gigante holandês vive uma crise profunda – até na própria criação de talentos – e cada vez mais se vão descobrindo clubes que lhe seguem de muito perto. Sporting, Bordeaux, Villarreal, West Ham Utd ou AZ Alkmaar são um bom exemplo mas hoje em dia o clube mais fascinante no universo da formação vive numa Belgrado reconstruída e pronta para os desafios do novo século. Bem vindos à escola Partizan.
Já está disponível a crónica semanal publicada no weblog Futebol Artte.
O tema desta semana é a participação do Paços de Ferreira na recém-criada Liga Europa e os problemas que esta nova competição oficial da UEFA não conseguiu solucionar ao nivel do universo das competições europeias. Podem continuar a ler o artigo clicando no primeiro parágrafo.
Apesar do avassalador domínio de um clube nos últimos vinte e cinco anos. Apesar de que um dos clubes está numa grave crise de identidade, perdendo a base de adeptos que foi conquistando ao longo da história. Apesar de que a número mágico dos seis milhões há muito que deixou de ser mito urbano para passar a ser uma ambição impossível. Apesar de tudo o futebol português continua a girar à volta dos chamados Três Grandes. Reportagens, jornais, revistas, transmissões televisivas, dinheiro. Tudo em Portugal gira à volta de FC Porto, SL Benfica e Sporting CP. Não interessa o aspecto desportivo ou financeiro. Nem que uns hoje sejam mais grandes que outros. Nem que haja equipas cada vez mais consolidadas na parte alta da tabela. A Liga Sagres continua a publicitar-se a coisa de três, e a três semanas do arranque da prova chegam as Três Grandes Questões:
O FC Porto vive uma pré-temporada agitada e cheia de sinais para o futuro e uma pertinente primeira questão presente. A venda de dois elementos chave do plantel do Tetracampeonato - os argentinos Lucho Gonzalez e Lisandro Lopez - e da revelação Aly Cissokho permitiram um encaixa na ordem dos 60 milhões de euros, valores a que se acrescentam as vendas definitivas de Paulo Machado, Ibson e os direitos sobre Paulo Assunção. Face a estas receitas extraordinárias - que seguem a tendência dos últimos seis anos e que permitiram nesse periodo aos dragões tornar-se num dos clubes que mais dinheiro viu entrar nos seus cofres - gastaram-se aproximadamente 25 milhões de euros em dez caras novas. Jesualdo Ferreira terá de montar nova equipa do zero, à semelhança do que vem ocorrendo nos últimos anos. O treinador conta com um vazio de poder no balneário (Pedro Emanuel também terminou a carreira e Bruno Alves pode estar de saída) e muitos jovens novos para encontrar um lugar ao sol. O novo FC Porto é também espelho da tendência dos portistas de pescar na América do Sul de fala castelhana. E aí os campeões são argentinos. Quase se pode dizer, ironicamente, que os campeões nacionais podem trocar os calções azuis pelo preto já que se parecem tanto à albi-celeste. São sete os jogadores das pampas no plantel (Farias, Benitez, Tomas Costa, Mark Gonzalez, e as novidades Valeri, Belluschi e Perdiger) quase tantos como os sul-americanos não argentinos (quatro brasileiros - Helton, Maicon, Hulk e Fernando - três uruguaios - Fucile, Alvaro Pereira e Rodriguez - e dois colombianos - Guarin e Falcao). Esta colónia da América do Sul é um problema num clube que tentou contrabalançar o efeito, aportuguesando o balneário com novas caras. É aí onde entram Beto, Miguel Lopes, Nuno Coelho, Varela ou Orlando Sá. No entanto, os jovens portugueses são vistos como promessas e terão mais dificuldades em impor-se num onze ainda pouco lusitano.
A grande questão dos campeões, que procuram o segundo Penta da história, é saber se as bases da equipa campeã se sustêm sem a dupla Licha-Lucho. Enquanto que Alvaro Pereira deu optimas indicações no lado esquerdo da defesa e Maicon, Nuno Coelho e Beto parecem ser boas opções para o eixo defensivo, as principais questões centram-se na linha de meio-campo. Enquanto que Jesualdo Ferreira tem finalmente um plantel para abandonar o 4-3-3 por um 4-2-3-1, a equipa parece continuar a apostar na táctica que tantos bons resultados deu nos últimos anos. Raul Meireles e Fernando são fixos no coração do meio campo com uma vaga aberta para Belluschi, Guarin, Costa e Valeri lutarem. Nas alas há várias soluções, da explosão de Varela, à força de Hulk sem esquecer o jogo vertical de Gonzalez e Rodriguez. Quanto ao lugar de ponta de lança, orfão de Lisandro, os dragões contam com Falcao - com fama de goleador no River Plate - e ainda Orlando e Farias. Apesar das criticas à gestão do FC Porto (a questão do passivo, jogadores emprestados em excesso, mau aproveitamento de marketing e imagem, autismo dentro da própria liga), é indiscutivel que os azuis e brancos são o clube dominante no futebo nacional e arrancam como favoritos em Agosto para celebrarem em Maio (ou antes até, como já se viu há duas temporadas).
A questão número 2 chama-se Sporting Clube de Portugal.
O conjunto lisboeta tem um gravíssimo problema que ainda não soube resolver nos últimos dois anos. Há muito que perdeu a massa associativa histórica ganha com os titulos dos anos 50 e 60 e hoje é claramente o mais "pequeno" dos grandes. A nivel de publico e a nivel financeiro com uma gravíssima crise, resultado dos erros do Plano Roquette que amputaram por completo a ambição desportiva. A participação na última Champions League, apesar de histórica, deixou a nu todas as debilidades do conjunto leonino que, apesar dos quatro segundos postos consecutivos, não ganha uma liga desde 2002. E a verdade é que o conjunto não joga bem, ganha pela minimo e vive do esforço fisico de Moutinho e dos golos de Liedson. Para este ano não se esperam mudanças. No mercado a equipa simplesmente limitou-se a substituir o que perdeu. Saiu Derlei e entrou Caicedo para formar dupla com Liedson, um jogador fisico e explosivo para contra-balançar o oportunismo e técnica do 31. E no meio campo saiu Romagnoli, que nunca vingou no onze de Paulo Bento, e chegou Matias Fernandez, chileno que não deixa saudades em Villareal. Da formação - a salvação leonina nos últimos anos - chegam apenas Andre Marques e Carlos Saleiro, mas estes já há vários anos que actuavam emprestados. Quanto aos últimos a ser promovidos, o clube continua a viver com as birras de Miguel Veloso e a falta de explosão de Adrien e Pereirinha.
O Sporting 2009/2010 é menos candidato ao titulo que nos últimos anos. Um futebol cada vez mais previsivel e pastelento, capaz de adormecer o mais entusiasta e uma manifesta dificuldade em improvisar, fazem do onze leonino um alvo relativamente acessível para equipas mais ambiciosas. O plantel não é grande para quatro frentes abertas e Paulo Bento ainda não provou ter o golpe de génio capaz de dar a volta ás mais complexas contrariedades. Este é o seu ano decisivo.
Por fim chegamos à questão número 3, o eterno drama benfiquista.
Depois de vencer a liga em 2004 - a primeira em dez anos - o clube presidido por Luis Filipe Vieira entrou em fase de auto-destruição. As experiências com Koeman e Quique não funcionaram e agora Rui Costa e o polémico presidente apostam num treinador popular junto da massa associativa e cheio de ambição, mas sem provas dadas. Dando o beneficio da dúvida a Jorge Jesus e ao seu 4-4-2 uma coisa é certa. A qualidade do plantel encarnado melhorou bastante. Apesar da critica habitual aos planteis benfiquistas, a verdade é que as melhoras, de ano para ano, tem sido progressivas porque durante anos o plantel do Benfica era realmente miserável. Este ano voltaram-se a gastar quase 25 milhões de euros (tal como no ano passado sem retorno o que aumenta os problemas financeiros do clube que há muito deixou de ser a referência em Portugal), dois quais 13 foram para os cofres do Real Madrid.
Enquanto que o problema da baliza continua, a defesa continua a ser o calcanhar de aquiles do clube da Luz. Nas laterais, Sepsi e Schaffer não convencem à esquerda enquanto que Patric e Maxi dão boas indicações no lado oposto. No eixo não há jogadores capazes de substituir Luisão, apesar de que Miguel Vitor e Roderick são nomes a seguir. Apostando no 4-4-2, o lado mais recuado do meio campo está entregue a Ramires (com Yebda e Javi Garcia como opções) com Di Maria, Carlos Martins/Ruben Amorim e Aimar no apartado ofensivo. O ataque Cardozo-Saviola parece eficaz e Nuno Gomes, Mantorras e Weldon são opções com caracteristicas distintas e que podem equilibrar a equipa no decorrer do ano.
Mas se o plantel encarnado tem mais soluções este ano do que na temporada passada, Jorge Jesus tem de jogar com as altas expectativas que ele próprio levantou. Em lugar de partir como underdog e aproveitar falhas do conjunto azul e branco, o técnico colocou a fasquia bem alta e não tem margem de manobra. O clube precisa de um titulo grande para justificar os investimentos e a arrogância dos últimos anos, sem quaisquer resultados práticos até hoje. No papel são os grandes rivais do FC Porto. Na prática têm de demonstrar tudo o que têm dito. Porque palavras leva-as o vento..