Há cinco anos que não celebrava um título. Ontem, depois de um largo interregno, voltou a celebrar. E com direito a golo. Um remate potente, marca da casa. A imprensa lembrou-se agora que existia, mas ele sempre esteve ali. Sangue, suor e lágrimas é com ele. Desta vez as lágrimas foram de alegria.
É um dos mais completos médios centros do nosso futebol. E também dos menos mediáticos. Campeão da Europa com o FC Porto de Mourinho, sempre foi um dos pilares da variação táctica do técnico setubalense que abandonou o 4-3-3 de Sevilla eplo 4-4-2 de Gelsenkirchen. Ao lado de Maniche, Costinha e Deco, ali estava o sucessor do russo Alenitchev. Tudo indicava que seria o patrão do Porto do futuro. Até que de Londres acenaram com um cheque e o presidente portista nem hesitou. Para que arriscar num português de talento se tenho aqui preparado um lote de argentinos e brasileiros? A ideia de um FC Porto português de Mourinho saiu com o técnico.
Para Londres, para norte de Londres foi esse craque. Pedro Mendes, nome próprio com direito a referencia. No Tottenham não foi feliz. É difícil se-lo num clube há anos perdido no seu próprio historial, com mil e um projectos aventureiros de final infeliz. O centro campista vimaranense era um deles. E depois de se comprovar o erro de casting – do clube, não do jogador – o herdeiro de Afonso Henriques marchou rumo ao sul, onde em Portsmouth o receberam de braços abertos. Com Muntari formou um meio campo de sonho que permitiu aos “pompeys” o milagre de estrear-se em provas europeias. Golos, desmarcações e desarmes invisíveis. Como aquele golo do meio campo que marcou um dia em Old Trafford e que só o arbitro não viu. Esse é Pedro Mendes.

Mais uma vez os negócios entorpeceram a carreira e o recém-europeu Portsmouth teve de vender peças valiosas para manter-se de pé. Mourinho foi lá pescar mas trouxe o guerreiro negro e deixou que o rebelde Pedro rumasse a Norte, às Higlhands. Tal e qual novo William Wallace, cabelo largo ao vento, Pedro Mendes entrou de rompante em Ibrox Park e reinou de imediato sobre o condado protestante de Glasgow. A ferida da equipa, bem fundo no orgulho, depois de anos de derrotas diante dos católicos de verde, estava bem marcada. A derrota, meses antes, no City of Manchester frente aos russos de Arshavin e companhia ainda não sarara. Tranquilizar o mítico Ibrox era tarefa difícil. Mas Pedro Mendes logrou-o. Tornou-se na bússola deste Glasgow implacável que soube trepar pela classificação até se colar aos verdes católicos. Venceu e passou para o primeiro posto. Era esperar pela consagração. Em casa. Diante dos seus. Com um golo de Pedro Mendes. Levantou-se o estádio, levantaram-se os guerreiros. Com Queiroz a inventar em mil e uma convocatórias, Pedro continua a sonhar. O lugar de soldado invisível impediu-o de entrar na “família de Scolari” quando por lá andavam outros guerreiros bem menos valentes.
Para o futuro resta a esperança de que Portugal saiba que ainda há guerreiros nacionais por aí fora, escondidos. Mesmo que não vendam capas de jornais e apareçam numa pequena nota de rodapé, eles estão aí, à espera da hora em que serão chamados para cantar o hino bem alto, desembainhar espadas e partir para a luta…como fez Pedro Mendes uma vez mais neste domingo de festa protestante escocesa.