O terrivel drama que vive o Japão coloca em cheque uma prova disputada a milhares de quilómetros de distância. A Copa America arranca a 1 de Julho e os organizadores do torneio não sabem ainda se contarão com a presença dos convidados nipónicos. Um problema que levanta de novo o debate sobre a estrutura da mais antiga prova de selecções do Mundo.
A CONMEBOL conta com dez países membros.
Os históricos Brasil, Argentina e Uruguai e ainda Chile, Bolivia, Paraguai, Equador, Peru, Colombia e Venezuela. Não há margem de manobra para mais. Com a reestruturação da Copa America, nos anos 80, chegou o conceito de nações convidadas. Uma situação impensável em qualquer outro torneio continental mas que na América do Sul parece ter adeptos. Afinal, é dificil gerir um torneio curto com dez equipas, número que atrapalha qualquer matemática classificativa. O convite inicial teve por base critérios geográficos. A necessidade de juntar duas selecções às dez da confederação fez os organizadores recorrerem às vizinhas Caraíbas e à CONCAF. O México, grande potencia regional, era um convidado quase obrigatório e mais tarde a particiapção dos clubes mexicanos nas provas continentais de clubes da CONMEBOL selou um acordo táctico que serve perfeitamente a ambas as partes apesar de alguns momentos tortuosos e resolvidos com muita diplomacia. O México - que não deixa de ser uma potência desportiva superior à esmagadora maioria dos rivais do sul - chegou por duas vezes à final da prova, deixando a entender que o conceito de um torneio sul-americano começava, forçosamente, a perder sentido. A sua presença nas últimas dez edições fizeram dele um habitué que transformou um torneio regional em algo forçosamente maior. Aos mexicanos juntaram-se ao longo dos últimos anos outros rivais da CONCAF, dos Estados Unidos ao Canadá passando por Costa Rica e Honduras. Apesar de equipas com passado (e presente) mundialista, em nenhum dos casos lograram brilharetes exibicionais dignos de entrar nos registos. O máximo que os norte-americanos conseguiram foi um 4 posto, em 1995, na ressaca do Mundial dos Estados Unidos. Nada mais. Por isso não estranhou, a principio, que a CONMEBOL procurasse novos desafios. Soltas as amarras da divisão regional equacionou-se convidar selecções africanas e até mesmo europeias, nomeadamente Portugal e Espanha, as potências ibéricas. No final o convidado foi o Japão. E o conceito Copa América colocou-se eternamente por debaixo de um gigantesco ponto de interrogação.
Os nipónicos estrearam-se em 1999 no sorteio.
Na altura vinham do seu primeiro Mundial (o França 98) e preparavam-se para receber a elite do futebol três anos depois. Foi um convite de cortesia que correspondeu a uma educada recusa dos EUA. Os japoneses - que até têm uma significativa colónia de emigrantes na América do Sul, particularmente no Brasil - acabaram últimos do seu grupo com apenas um ponto, um empate frente à Bolivia, também ela eliminada da prova. Apesar de desportivamente se mostrarem longe do nivel do outro convidado - o México - e da maioria das selecções do continente, as sensações da organização foram positivas.
Depois de um hiato de uma década, por onde passaram vários conjuntos da CONCAF, o convite repetiu-se para a edição de este ano, a disputar a partir de 1 de Julho na Argentina. Os motivos são evidentes. A organização regional do norte da América tem-se esforçado por fazer da Gold Cup, o seu torneio de selecções, uma prova respeitada. E pressionou as suas federações a manterem-se fieis ao seu compromisso continental. Só o México destoará como seria de prever. Face a essa falta de candidatos, a América do Sul voltou-se para o Japão. Mas o desastre que abateu o país do Sol Nascente ameaça deixar o torneio sem um dos seus intervenientes, a apenas quatro meses de arrancar a prova. O Japão oficialmente não anunciou a sua retirada, mas com a liga suspendida e os problemas que terão os nipónicos num futuro próximo será dificil honrar o compromisso. Os rivais do norte terão a Gold Cup em datas demasiado próximas e poderão acabar por enviar uma equipa de segundas linhas, algo que ninguém quer. E convidar selecções europeias ou africanas, com a época já planeada, é um risco bastante grande. Mas será que faz realmente sentido a Copa América continuar a funcionar nos mesmos moldes?
O torneio regenerou-se em 1987 depois de uma longa estagnação e descubriu o formato quadrangular - e por isso precisou dos países convidados - e a organização de dois em dois anos. Mas o que os sul-americanos nunca pensaram realmente foi na possibilidade de unir esforços, de forma definitiva, com as nações do norte de um continente que nem está realmente separada a não ser pelas mãos do homem. As relações entre países do norte e sul da América sempre foram boas - basta ver o espaço caribenho - e haveria a possibilidade de realizar um torneio em lugar de dois. Afinal a Guiena Francesa e o Suriname, que se encontram a norte do Brasil, estão inscritas na CONCAF. Juntar duas federações continentalmente unidas e com vários projectos em comum seria um grande passo para o desenvolvimento do futebol em toda a América. Um torneio com fase de qualificação - algo que não existe hoje em dia - e com mais nações participantes (16 como o actual Europeu ou 24 como as que marcarão presença no torneio europeu a partir de 2012). Uma lufada de ar fresco numa prova que não deixa de ser repetitiva e cada vez um producto menos atractivo até para os próprios adeptos locais.
Na Argentina 2011 todos estarão de olho em Leo Messi. Mas não saberemos até Maio se os japoneses irão defrontar o pequeno génio de Rosário na sua primeira grande oportunidade de se redimir diante dos seus de anos de exibições contestadas por tudo e por todos. Mas mesmo que o Japão consiga mais um pequeno grande milagre, a América devia aproveitar este momento para pensar mais além e preparar-se para o futuro. E o futuro passará sempre por uma união, a todos os niveis, com os seus vizinhos do norte. É uma inevitabilidade que o tempo acabará por confirmar, tarde ou cedo...