De candidatos ao titulo a eliminados pela porta pequena. Uma campanha europeia para esquecer para um conjunto com muitas ambições mas sem qualquer capacidade de competir directamente contra rivais da mesma divisão europeia. A presença europeia do Benfica na Champions League resume-se a mais uma desilusão destroçando os sonhos de um clube que pensava ter encontrado o caminho mais rápido para ressuscitar.
Na Galileia a esperança era muita mas o milagre foi mesmo dos locais. Talvez homens de fé ao contrário dos discipulos, cada vez mais descrentes num Jesus que prometeu o Paraíso mas que está a mostrar-se incapaz de esquivar os enganos do Purgatório. Se o técnico encarnado prometia lutar pela maior prova europeia até ao final, relembrando que o Benfica da época passada só tinha o Barcelona como rival em qualidade de jogo, a verdade é que esta foi mais uma promessa vã. Sem hipóteses de repetir o titulo nacional, goleados pelo rival directo e sem os milhões que garantem os Oitavos de Final da Champions League a época começa a complicar-se em demasia para o conjunto da Luz.
A derrota em Tel-Aviv foi esclarecedora. O Hapoel local não precisou de ter mais posse de bola ou de ser melhor. Bastou com ser eficaz, palavra eliminada do vocabulário encarnado há demasiado tempo. Foram três golos sem resposta, resultados de falhos clamorosos do sector defensivo lisboeta, que condenam definitivamente o Benfica a penar um ano mais pela Europe League. Isto se o Hapoel não continuar na senda dos milagres galileios.
A equipa israelita, com um imenso Eneyema nas redes, pode ainda ambicionar ao terceiro lugar, mas preciso de muita ajuda à mistura. Ao Benfica cabe assegurar a honra de cair de pé, em casa, frente a um estádio que nunca se emocionou este ano com os seus. Contra os alemães do Schalke 04, renascidos ontem contra o Lyon e actuais lideres do grupo, um ponto pode até nem ser necessário. Mas uma nova imagem é fundamental para que o ano da reconquista da liga não termine num pesadelo sem fim. Jesus começa a perder o crédito, demasiado depressa para quem augurava o início de uma nova era.
Da equipa da época passada já não sobra nada. Nem espirito, nem velocidade, nem disciplina.
O Benfica em Tel-Aviv foi manso, inofensivo e medroso. Incapaz de apertar, ineficaz na hora de rematar, viu o conjunto rival controlar os acontecimentos e matar, em três estocadas, o sonho milionário. Zahavi e Douglas foram os autores dos golpes mortais mas em qualquer caso grande parte da culpa pode ser atribuida à defesa encarnada, passiva e permissiva, algo inadmissível a este nivel. Parece que há algo no onze encarnado que não se adapta ao ritmo de alta competição da maior prova europeia. A permissividade em casa frente ao Lyon que permitiu aos franceses passar de um claro 4-0 a um apertado 4-3. Os falhanços em Lyon, Gelsenkirchen e Tel-Aviv. E a incapacidade de poder gerir as oportunidades no duelo com os israelitas no encontro inaugural são demasiados sintomas para preocupar o técnico encarnado.
Jorge Jesus cometeu o pecado da soberbia e prometeu mais do que seria capaz de cumprir. Prometeu um novo ciclo interno e sofreu, em dez jogos, um severo correctivo por parte do rival portuense. Ambicionou devolver o clube à glória europeia (o Benfica não está numa final europeia desde 1990) e sai pela porta minuscula ruma a uma Europe League onde já o ano passado desiludiu no único jogo a doer (e contra o mais débil Liverpool da década). E as suas apostas mais pessoais, os argentinos Jara e Gaitán, são incapazes de fazer esquecer os seus antecessores. Se a isso justamos os ajustes tácticos que retiraram a qualidade de punch que apresentava o 4-4-2 da época passado e temos grande parte das respostas aos problemas encarnados. Cair na Europa não é grave a não ser que os objectivos proclamados sejam irrealistas. O ritmo baixo do campeonato luso deu a entender, na época passada, que a equipa encarnada jogava a alta rotação. A performance deste ano confirma que um campeonato tão débil como o luso pode perfeitamente enganar. E se o Braga lá cometeu a gesta, previsivelmente insuficiente, de vergar um Arsenal inconstante e arrogante, a verdade é que, ano após ano, se confirma que os projectos desportivos lusos têm cada vez mais dificuldade em sobreviver na mais alta roda europeia. O Benfica apenas confirmou a regra, a que o FC Porto tem sido a mais recorrente excepção.
Com o sonho da Champions pelo chão e a liderança da liga a dez pontos (que tecnicamente até são onze), a época parece que se eterniza na Luz. Lutar pelas duas taças é o objectivo mais natural mas que pouco tem a ver com a politica de crescimento e consolidação defendida durante todo o defeso. Um projecto com um imenso ponto de interrogação que pode tornar-se ainda mais complexo de resolver caso as previsiveis saídas dos activos mais valiosos no próximo defeso abram um buraco ainda maior para uma direcção deficitária e um técnico descreditado taparem. Um final de ano de pesadelo para um ano que arrancou dourado.