No dia em que o polvo Paul partiu desta para melhor, os espanhóis ficarão sem saber qual dos seus sete candidatos terá mais hipóteses de romper com um maleficio de quase 50 anos e emular o feito de Luis Suarez. A FIFA e a France Football anunciaram os candidatos ao renovado Ballon D´Or e, como era de esperar, o Mundial de Paul foi o factor determinante na escolha. Como será, naturalmente, na atribuição do prémio final. Mas a quem?
Xavi Hernandez, Andrés Iniesta, David Villa, Iker Casillas, Charles Puyol, Cesc Fabregas e Xabi Alonso.
Os espanhóis dividem-se sobre quem é o mais justo ganhador do novo Ballon D´Or, entregue em simultâneo pela FIFA e pela revista France Football. No país vizinho a certeza de que o ganhador será um dos seus é absoluta. Queixam-se, como sempre, de que os nomeados eram poucos. Havia que eleger os 23 campeões do Mundo, hombre!.
Desde a vitória, tão longinqua, de Luis Suarez, estrela do Barcelona e Inter de Helenio Herrera, que Espanha não voltou a ver um dos seus artistas triunfar no prémio individual mais cobiçado do mundo futebolistico. Nem Paco Gento, nem Emilio Butrageño, nem Josep Guardiola, nem sequer Raul Gonzalez. Nada de nada. Nem mesmo Xavi Hernandez, superado pelo mediatismo de Cristiano Ronaldo e Leo Messi no ano em que Espanha rompeu um maleficio de 40 anos e se sagrou campeã europeia. Mas agora parece que vai ou racha. O problema é saber quem escolher.
A FIFA (e a France Football, que parece ter saído a perder neste negócio), elegeu a 23 elementos. Todos eles brilharam no Mundial. Todos, menos Cristiano Ronaldo, talvez o jogador mais em forma do planeta. Por muito explosivo que seja o seu renascimento às mãos de Mourinho, o português sabe que dificilmente repetirá o seu quarto pódio consecutivo. Mais hipóteses tem Leo Messi, também ele com um Mundial muito abaixo das expectativas. Mas com um titulo de campeão espanhol e uma Bota de Ouro nas mãos (mais aquela admiração que o argentino é capaz de gerar, ao contrário do luso), pode ser suficiente para desafiar a "armada espanhola". Aliás, para os experts, só mesmo Leo ou algum membro da armada interista, podem dar a surpresa. Num trofeu que encontrou também o seu espaço para o Treinador do Ano. Vicente del Bosque vs José Mourinho, sem margem para dúvidas de que o primeiro pode ganhar como prémio de carreira e o segundo deveria ganhar pela imensidão da tarefa de ressuscitar dois mortos num só ano civil.
Wesley Sneijder seria o vencedor lógico do troféu se o mediatismo não superasse, como sempre, o rendimento real de uma só época desportiva (CV incluído).
Vencedor da Serie A, Taça de Itália, Champions League e finalista vencido do Campeonato do Mundo, é de todos os jogadores nomeados aquele que chega com o melhor palmarés. Mas é também fruto da labor de Mourinho e estrela de uma equipa pouco ou nada amada. E não é espanhol, que hoje em dia parece ser condição sine qua non para receber o elogio de turno. Outro holandês destacado é Arjen Robben. Tem o mesmo curriculum que o seu colega de selecção, exceptuando a Champions, perdida na final de Madrid. Robben tem mais perfil de "Balon D´Or", mas o seu timido arranque de época, entre algodões, e os falhanços na final de Johannesburg jogam contra si.
Sem Diego Milito ou Wayne Rooney, jogadores chave na última edição da Champions mas que não existiram no Mundial, nota-se a predominância do trofeu patrocinado pela própria FIFA. Daí sai o quinteto germânico composto por Philip Lahm, Miroslav Klose, Bastian Schweinsteiger, Mezut Ozil e Thomas Muller. Os três do Bayern Munchen têm atrás de si uma época doméstica imaculada, um grande ano europeu e um Mundial asfixiante (Muller foi melhor marcador e melhor jogador jovem da prova). Ozil é o rosto do novo Madrid de Mourinho e da nova Mannschaft de Low. São projectos de vencedores futuros, mas aquela meia-final contra a omnipresente Espanha ditou a sua sentença.
Asamoah Gyan, do Sunderland, Samuel Etoo, do Inter, e Didier Drogba, do Chelsea, representam o continente africano mas são cartas fora do baralho como os brasileiros Dani Alves, Maicon e Julio César. Quanto a Diego Forlan, MVP do Mundial e vencedor da Taça UEFA, espera-se uma votação simbólica. Mas sem opções reais. Porque depois há os espanhóis.
As divisões clubisticas fazem-se sentir na imprensa do país vizinho (a eterna campanha pró-Casillas em Madrid) mas há quatro nomes consensuais (Fabregas, Puyol e Xabi Alonso são um mistério na lista). O guardião do Real Madrid foi determinante na campanha espanhola (salvou um penalty frente ao Paraguai e dois golos certos da Holanda na final) e é, consensualmente, o melhor do Mundo na actualidade. O goleador David Villa demonstrou a sua eficácia no arranque do Mundial para depois desaparecer nos jogos decisivos (um pouco como agora lhe sucede no Barcelona e como sucedeu no Europeu). E ficam os artistas bajitos do Barça. Quem deles ganhará o pulso?
Andrés Iniesta foi o homem da final e isso conta (e muito nestas coisas). Marcou um golo determinante e confirmou-se como um dos mais determinantes jogadores do futebol actual (que o diga o Chelsea). É um jogador de low profile, "campechano" e muito apreciado onde quer que vá. Um fora-de-serie que teve um ano para esquecer e um Mundial de sonho. E depois há Xavi. Hernandez. O professor. O maestro, a régua e esquadro que definem um jogo de futebol. Para Xavi é a última oportunidade. Ele que é, sem dúvida, o melhor jogador espanhol da história. Ele que é, sem dúvida, o mais determinante jogador dos últimos cinco anos. Ele que é, sem dúvida, a razão de ser deste Barcelona tão idolatrado. Mas para Xavi um Ballon D´Or se calhar era pouco. Seria preciso criar um de diamantes, para se poder entender a diferença entre ele e o resto.