Desde a chegada de Roman Abramovich que o Chelsea se tornou num projecto de milhões onde a formação deixou de fazer qualquer sentido. Mesmo os mais jovens chegavam provenientes de outros clubes, já formados, à procura de um lugar ao sol. É nesse imenso deserto que surge um imenso oásis. Josh McEarchran é mais do que o futuro dos Blues, é a possibilidade de começar uma nova etapa para o clube da moda em Inglaterra.
Quando se estreou frente ao Zilina no primeiro embate europeu do Chelsea esta época, McEachran fez duplamente história.
Tornou-se no primeiro jogador a actuar na Champions League nascido depois da prova ter oficialmente arrancado, em 1993. E passou a ser o primeiro jogador britânico formado inteiramente no Chelsea a actuar pelo clube nos últimos oito anos. Um feito considerável se temos em conta que, com 17 anos, McEarchran parece ter nascido para desafiar as evidências.
O jovem médio centro é um dos grandes beneficiados da polémica decisão de Carlo Ancelotti. O técnico italiano preferiu abster-se de mover-se pelo mercado, trazendo apenas o brasileiro Ramires e o israelita Benayoum para os lugares de Ricardo Carvalho e Michael Ballack, as únicas baixas da equipa campeã inglesa. Manter um plantel forte e competitivo mas sem grandes opções de banco é tarefa complicada para uma equipa com quatro frentes bem abertas. Por isso - e também por indicação da direcção, desejosa de poupar uns milhões - o técnico promoveu à primeira equipa quatro jovens das reservas. Entre eles McEarchran. A grande promessa do futebol inglês.
Só actuou em três jogos esta época mas os destelhos de talento que evidenciou foram suficientes para deixar antever que a promessa que se vinha formando na equipa junior do Chelsea era bem real. Médio centro de um recorte limpo foi peça nuclear na equipa do Chelsea que venceu a Youth Cup 2010, é um armador de jogo ao primeiro toque como há muito carece o futebol britânico. Filho de pais escoceses, cresceu desde pequeno nas instalações dos Blues vendo desfilar à sua frente as grandes estrelas pagas a peso de ouro por Abramovich. Desde os quinze anos que se assumiu - com Jack Wilshire do vizinho Arsenal - como a grande promessa das camadas jovens da selecção inglesa. Entre ambos foram deixando óptimas sensações nas equipas de sub-15 e sub-17 dos Pross. A vitória da Inglaterra no Euro sub-17 de 2010 contra a favorita Espanha teve muito mais de McEarchran do que qualquer outro elemento. Foi a primeira vitória internacional inglesa em largos anos. Um farol no meio da penumbra. A sua progressão dentro do Chelsea chamou a atenção de Ancelloti que já na época passada o chamou por diversas vezes para treinar com a primeira equipa. Nunca chegou a ser convocado mas as boas sensações tiveram continuidade na pré-época do conjunto britânico. Em Setembro chegaram as grandes oportunidades. McEarchran fez história ao estrear-se contra o Zilina na Champions (jogou também contra o Olympique Marseille) e na Premier League, na derrota dos Blues contra o Manchester City. No entanto o seu melhor jogo continua a ser frente ao Newcastle, na passada eliminatória da Carling Cup onde se assenhorou do meio-campo dos Blues com uma autoridade inusitada.
Não é expectável que o Chelsea lhe entrega a batuta da equipa nos próximos anos mas a verdade é que o facto de surgir pela primeira vez um jogador britânico made in Chelsea com talento é realmente noticia. McEarchran tem todas as condições para se afirmar como o futuro do futebol britânico. Rapidez, destreza, agilidade e uma técnica fora da média. Agora só falta percorrer o caminho passo a passo, sem nenhum golpe em falso. A sua existência é, já de por si, uma luta genuina contra a dura evidência do futebol inglês.