Segunda-feira, 11 de Outubro de 2010

No futebol internacional estagnar é morrer. Talvez por isso se torne inevitável que depois de cada prova, a elite que saiu vergada por um rival mais poderoso insista na necessidade de começar do zero. Renascer, reconstruir, recomeçar. Sinónimos de uma realidade que não admite a ideia de que pode estar-se no caminho correcto perdendo. A finais de 2010 só duas equipas seguem à margem de revoluções. Espanha, porque ganhou e Alemanha, porque mereceu ganhar. Todos os outros continuam à procura de si mesmos num processo sem fim à vista...

Vicente del Bosque é um homem feliz. E com razões para sê-lo.

O afável seleccionador espanhol, homem impossíve de não admirar, confirmou esta sexta-feira que a sua Roja está para dar e durar. A ameaça de supremacia espanhola para a próxima década é real. Como era com a França de Zidane e companhia em 2000, quando juntaram a coroa europeia à mundial. Depois viu-se o que se passou. Mas na história tudo se repete e tudo está aberto à dúvida e no país vizinho há matéria prima para dar e vender. E, acima de tudo, há uma ideia de futebol, inatacável. Mas adaptável, a arma da sobrevivência. Contra a Lituânia a Espanha não tinha o seu maestro, Xavi Hernandez. O futebol rendilhado e estético não fazia muito sentido com uma defesa posicional perfeita. Funcionou o centro e remate, à inglesa, graças à presença de um homem de área que impõe respeito, Fernando Llorente. O plano B espanhol funcionou porque tem armas (centradores e cabeceadores) e atitude para que funcione. Saber jogar de maneira diferente é o primeiro passo para manter-se na elite. Del Bosque sabe-o e repete-o incessantemente. Por isso Espanha continua aí, inalcançável, no topo. Ele é o primordial constructor de catedrais moderno, o constructor de selecções.

Mas se é fácil ganhar e regenerar-se com tranquilidade (a última convocatória espanhol deu a entender isso mesmo), mais dificil é perder e manter-se fiel a si mesmo. Joachim Low é um homem coerente e é essa ideia que vem defendendo desde 2004, quando se juntou a Klinsmann no banco da Nationalmanschaft, que decidiu imprimir o seu cunho pessoal custe o que custar. Em seis anos conseguiu duas meias-finais de um Mundial e a final de um Europeu, sempre perdendo com o vencedor final. E a ideia não mudou. Em 2010 surgiram novos rostos e novas pernas. Mas a ideia ofensiva e atractiva é a mesma. Low vai trazendo a pouco e pouco as maravilhas que despontam no futebol germânico para render os veteranos. Mas o mais importante é transformar as jovens promessas em jogadores maduros e preparados para a alta competição. Foi essa a chave do sucesso espanhol. Espanha sempre teve jogadores e técnicos. Nunca teve foi um nivel competitivo capaz de aguentar até ao limite sem pestanejar. Esta nova Espanha é letal. Como o foi a Alemanha. Como Low quer que volte a ser. Que Ozil, Muller, Podolski, Kroos e companhia sejam autênticos matadores como os Villa, Xavi, Iniesta, Torres e companhia. Só assim poderão tirar a espinha espanhola da garganta.

 

Se a estabilidade é um bem precioso no futebol, mais o é no mundo das selecções.

Equipas feitas a retalhos, sem tempo para serem trabalhadas, as selecções são mais um case-study humano do que um fenómeno futebolistico. A função do seleccionador é mais a de gestor de grupo e mentor de uma ideia que funcione, seja quem for o jogador convocado. Foi isso que falhou nas grandes equipas nacionais que arrancam este ano um novo periodo de vida. Nenhum soube controlar o balneário, nenhum soube transmitir correctamente a sua ideia. A classe do atleta é algo que o técnico não pode controlar. Que Cristiano Ronaldo, Andrea Pirlo, Wayne Rooney e Frank Ribery desapareçam é mais culpa do jogador do que do técnico. Mas este tem de saber ter opções, planos B´s, alternativas. Não o teve nenhuma selecção da elite mundial. Algumas nem plano A realmente apresentaram. Agora toca recomeçar do zero, num contra-relógio angustiante.

Laurent Blanc teve um inicio pouco auspicioso. O treinador campeão no Girondins Bordeaux tem uma ideia. Futebol rápido, alegre e colectivo, acente numa estrutura defensiva forte e um ataque eficaz. Funcionou na Ligue 1. Tinha as armas certas. Em Clarefontaine terá algo pior, egos imensos que gerir. Benzema, Ribery, Evra, Gallas, Diarra são atletas problemáticos. O fantasma dos grandes da era do técnico ainda está aí, na cabeça dos franceses. Dar tempo e espaço a que os Remy, Briand, Mvila, Tremoulinas e afins assimilem essa ideia do técnico é a sua principal tarefa. Mais do que o 4-4-2 ou 4-3-3 por onde se movem no espaço, os jogadores terão de aprender a mover-se na mente do técnico. E a tornarem-se parte da engrenagem. Parte da solução. Nunca do problema.

Cesare Prandelli, o homem que recuperou a herança de Lippi, sabe como fazê-lo. Inverter tendência. A Itália campeã do Mundo jogava com a classe de um número 10 e o espirito colectivo reforçado. Quatro anos depois não havia nem fantasista, nem grupo. Os italianos nunca precisaram de goleadores (Toni quase que passou ao lado do Mundial da Alemanha), mas sempre tiveram um artista nas suas fileiras. Antonio Cassano foi resgatado do exilio e deu outro ar à azurra. Com ele a criar os operários desfrutam do jogo. São nomes pouco sonantes, jovens e com muito caminho que percorrer. Mas têm a quem admirar ao seu lado e isso ajuda-os a integrar-se numa equipa que vive da mesma ideia há cinquenta anos.

Mais complicada será a missão de Inglaterra e Holanda. Porque mantêm técnico e estrutura (leia-se jogadores), mas porque deixaram uma imagem agridoce. Estão no limbo. No perigoso limbo. Os ingleses tentaram ser continentais e perderam a sua fleuma e originalidade. Depois de Capello ter tentado convencer a Inglaterra a ser mais Itália agora são os ingleses a tentar convencer o italiano a ser mais inglês. Adam Johnson, Theo Walcott e Andy Carroll estão aí para recuperar o jogo de bandas com um killer na área. Na Holanda a final perdida foi uma ocasião flagrante para testemunhar o impalidecer do mais belo futebol da Europa. Uma tendência que já levava dez anos e que agora ficou a nú. Bert van Maarjwick sabe que tem de apresentar futebol, para lá dos resultados. Tem a matéria prima, tem os novos rostos, falta saber moldar a sua ideia ultra-competitiva a um modelo mais amigo do espectador. Ás vezes esse é o grande desafio. Aquele que Espanha e Alemanha superaram há muito e que todos os outros têm forçosamente de seguir. Para sobreviver a outro renascimento. Reconstrução. Recomeço. Chamem-lhe como quiserem. Os constructores de catedrais modernas nunca têm maus a medir.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:03 | link do post | comentar

.O Autor

Miguel Lourenço Pereira

Novembro 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


Ultimas Actualizações

Toni Kroos, el Maestro In...

Portugal, começar de novo...

O circo português

Porta de entrada a outro ...

Os génios malditos alemãe...

Últimos Comentários
Thank you for some other informative web site. Whe...
Só espero que os Merengues consigam levar a melhor...
O Universo do Desporto é um projeto com quase cinc...
ManostaxxGerador Automatico de ideias para topicos...
ManostaxxSaiba onde estão os seus filhos, esposo/a...
Posts mais comentados
69 comentários
64 comentários
47 comentários
arquivos

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

.Em Destaque


UEFA Champions League

UEFA Europe League

Liga Sagres

Premier League

La Liga

Serie A

Bundesliga

Ligue 1
.Do Autor
Cinema
.Blogs Futebol
4-4-2
4-3-3
Brigada Azul
Busca Talentos
Catenaccio
Descubre Promesas
Desporto e Lazer Online
El Enganche
El Fichaje Estrella
Finta e Remate
Futebol Artte
Futebolar
Futebolês
Futebol Finance
Futebol PT
Futebol Total
Jogo de Área
Jogo Directo
Las Claves de Johan Cruyff
Lateral Esquerdo
Livre Indirecto
Ojeador Internacional
Olheiros.net
Olheiros Ao Serviço
O Mais Credível
Perlas del Futbol
Planeta de Futebol
Portistas de Bancada
Porto em Formação
Primeiro Toque
Reflexão Portista
Relvado
Treinador de Futebol
Ze do Boné
Zero Zero

Outros Blogs...

A Flauta Mágica
A Cidade Surpreendente
Avesso dos Ponteiros
Despertar da Mente
E Deus Criou a Mulher
Renovar o Porto
My SenSeS
.Futebol Nacional

ORGANISMOS
Federeção Portuguesa Futebol
APAF
ANTF
Sindicato Jogadores

CLUBES
Futebol Clube do Porto
Sporting CP
SL Benfica
SC Braga
Nacional Madeira
Maritimo SC
Vitória SC
Leixões
Vitoria Setúbal
Paços de Ferreira
União de Leiria
Olhanense
Académica Coimbra
Belenenses
Naval 1 de Maio
Rio Ave
.Imprensa

IMPRENSA PORTUGUESA DESPORTIVA
O Jogo
A Bola
Record
Infordesporto
Mais Futebol

IMPRENSA PORTUGUESA GENERALISTA
Publico
Jornal de Noticias
Diario de Noticias

TV PORTUGUESA
RTP
SIC
TVI
Sport TV
Golo TV

RADIOS PORTUGUESAS
TSF
Rádio Renascença
Antena 1


INGLATERRA
Times
Evening Standard
World Soccer
BBC
Sky News
ITV
Manchester United Live Stream

FRANÇA
France Football
Onze
L´Equipe
Le Monde
Liberation

ITALIA
Gazzeta dello Sport
Corriere dello Sport

ESPANHA
Marca
As
Mundo Deportivo
Sport
El Mundo
El Pais
La Vanguardia
Don Balon

ALEMANHA
Kicker

BRASIL
Globo
Gazeta Esportiva
Categorias

a gloriosa era dos managers

a historia dos mundiais

adeptos

africa

alemanha

america do sul

analise

argentina

artistas

balon d´or

barcelona

bayern munchen

biografias

bota de ouro

braga

brasileirão

bundesliga

calcio

can

champions league

colaboraçoes

copa america

corrupção

curiosidades

defesas

dinamarca

economia

em jogo

entrevistas

equipamentos

eredevise

espanha

euro 2008

euro 2012

euro sub21

euro2016

europe league

europeus

extremos

fc porto

fifa

fifa award

finanças

formação

futebol internacional

futebol magazine

futebol nacional

futebol portugues

goleadores

guarda-redes

historia

historicos

jovens promessas

la liga

liga belga

liga escocesa

liga espanhola

liga europa

liga sagres

liga ucraniana

liga vitalis

ligas europeias

ligue 1

livros

manchester united

medios

mercado

mundiais

mundial 2010

mundial 2014

mundial 2018/2022

mundial de clubes

mundial sub-20

noites europeias

nostalgia

obituário

onze do ano

opinião

polemica

politica

portugal

premier league

premios

real madrid

santuários

seleção

selecções

serie a

sl benfica

sociedade

south africa stop

sporting

taça confederações

taça portugal

taça uefa

tactica

treinadores

treino

ucrania

uefa

todas as tags

subscrever feeds