A 4 de Agosto o Sporting de Braga já saberá se o sonho europeu ainda faz sentido ou se o peso da realidade continua a ser maior que a ilusão dos sonhos. Um sorteio complicado, prova justa de forças para saber o real potencial de uma equipa que quer transformar o brilharete de um ano na rotina de uma vida.
De todos os rivais em cima da mesa, o Celtic de Glasgow era, certamente, o mais temido. A sorte é assim. Vai e vem quando quer.
A equipa que perdeu a final de Sevilla com o FC Porto em 2003, o conjunto que tem tido dois anos para esquecer na Scotish Premier League, a equipa que é um velho clássico do futebol europeu, com direito a titulo e tudo, será o fiel da balança para o projecto desportivo do clube bracarense pós-Carlos Freitas. O director desportivo abandonou o barco, depois do ano quase perfeito, mas deixou montada a estrutura que tem permitido aos arsenalistas um crescimento sustentado nos últimos anos. A ponto de estar aqui, a sonhar com o hino da Champions League.
Aceder à maior prova de clubes do Mundo é um desafio ao alcance de muito poucos. É talvez o torneio mundial com menor número de equipas participantes. A nata, e só ela, tem direito a entrar. E a sobreviver. O Braga nunca foi uma equipa sonante nos palcos europeus. O seu maior feito, que remonta a dois anos, foi vencer a última edição da Taça Intertoto. Ou, o mesmo é dizer, chegar aos Oitavos de Final da Taça UEFA. Nada mais. Muito pouco comparado com o rival que defrontará no estádio Axa, pela primeira vez, a 28 de Julho. Mas o historial não joga e o Braga é um projecto moderno, que nada tem a ver com o histórico clube da cidade dos Arcebispos. Depois dos mandatos de Manuel Cajuda, Jesualdo Ferreira e Jorge Jesus, o técnico Domingos Paciência logrou o melhor resultado da história arsenalista. Algo para relembrar ou para repetir?
A melhor época da história do Sporting de Braga começou com um fracasso europeu estrepitoso.
O conjunto foi eliminado pelo Elfsborg, equipa sueca de segunda linha, e lançou vários alertas. Eram as primeiras semanas do consulado Domingos e rapidamente se percebeu que foi uma derrota fundamental para o sucesso posterior. Diminuiu as frentes de combate. E fortaleceu o colectivo. Este ano o Braga foi forçado a arrancar, uma vez mais, cedo para a realidade doméstica. Quase um mês antes do arranque da Liga. E com muitas indecisões num plantel que perdeu o seguro de vida na baliza e vive à volta de um dilema sobre o seu substituto, já que Quim assinou e depois foi forçado a passar pelo pós-operatório. A perda de Evaldo, um seguro de vida constante (Silvio e Antunes parecem ser as opções), e de Hugo Viana, o fiel da balança, são dúvidas para as quais ainda não parece haver resposta clara à vista. Demasiados senões para um clube que almeja a elite. E que terá de se ver já com essa elite antes mesmo do circo começar.
Ao contrário do Braga, o Celtic de Glasgow está habituado a isto. A Escócia é um país com história no futebol mas, actualmente, sem grande cartel. Os seus clubes estão habituados a pré-eliminatórias e a terem de definir o plantel bem mais cedo do que é habitual. A equipa chegará a Braga perto da máxima força, com vários dias de preparação em cima, e com a ambição notória de voltar a um palco onde estão habituados a marcar presença. Têm o estatuto de favoritos e a mentalidade adequada para as grandes noites. Algo que o Braga nunca mostrou verdadeiramente.
O sonho da Champions League pode nascer morto. Terminar no céu cinzento de Glasgow, com um copo de whiskey ao lado para afogar as mágoas. Seria o resultado natural de um duelo entre um velho experimentado e um jovem em crise existencial. Mas também pode ser que toda a lógica e retórica em que consiste o rodopiar da bola sob o tapete verde se rompa definitivamente num golpe do destino, e que Glasgow seja a porta de embarque para um sonho maior. A Europa, afinal, está cheio de sonhos cumpridos.