Queiroz acertou em toda a linha. Cristiano Ronaldo chamou a si a responsabilidade e esqueceu-se da pressão de marcar. A equipa voltou às origens e o resultado foi uma surpreendente e merecida goleada à Coreia do Norte. Mesmo perdendo com o Brasil, Portugal fica apurado caso os marfilhenhos não consigam repetir a goleada portuguesa. Boa esperança à vista!
Portugal é um país de 8 e 80´s por isso não é normal que a sua selecção de futebol o seja também?
A equipa saiu com um novo ar. Voltou ao equipamento totalmente vermelho, o mesmo que vestiu nos últimos seis anos, e às grandes exibições. Este foi, talvez, o mais conseguido jogo na fase de grupos de Portugal desde 1966. Não só pelos golos, que também os houve no passado (Portugal vs Polónia), mas pela coerência do jogo luso e pela soltura com que a equipa se exibiu. Sem os espartilhos defensivos que Carlos Queiroz obrigou os seus jogadores a vestir no duelo contra a Costa do Marfim, a equipa portuguesa foi ela própria. Desinibida, ofensiva e directa. Apesar dos quatro golos, falhou outros tantos que poderiam ter dado um resultado mais aproximado do que houve no terreno de jogo. Resultado das mudanças inicias de um seleccionador que leva a palma, por emendar a mão. Tiago trouxe ao meio-campo o que nunca se viu em Deco. Simão foi o extremo que Danny nunca soube ser e Hugo Almeida a referência de ataque que o meio-campo luso necessita para esmagar o rival. Até a entrada de Miguel, longe dos seus melhores dias, foi chave para abrir um campo onde Fábio Coentrão continua a ser um grande destaque. Excelente exibição do defesa-esquerdo que, junto com Raul Meireles no miolo, foram a chave da vitória. E claro, Cristiano Ronaldo. O número 7 vestiu hoje, finalmente, os galões de capitão. Esteve sempre perto do maldito golo que se lhe escapa há 16 meses. Se há algo que fica claro é que a dificuldade de Cristiano Ronaldo em marcar com a camisola lusa está no facto de que é habitualmente ele quem está na genese das jogadas de golo. Ora abrindo espaços chave nas marcações defensivas, como sucedeu no primeiro tento, ora com assistências primorosas como se viu nos golos de Hugo Almeida e Tiago. Se alguém merecia hoje um golo, era o número 1 do Mundo. Lá chegaria!
Portugal aplicou a goleada do Mundial mas começou titubeante.
A equipa queria encontrar o seu espaço neste novo modelo de jogo, um 4-3-3 mais claro e directo, e os coreanos revelaram-se rapidamente mais ambiciosos do que no jogo com o Brasil. Durante um quarto de hora as oportunidades dividiram-se, a mais clara de Ricardo Carvalho ao travessão. Depois a equipa lusa pegou no jogo. Debaixo de um imenso charco, os navegadores começaram a dobrar o seu particular cabo tormentoso num excelente lance de futebol a meio-campo com um bom passe de Tiago e melhor finalização de Raul Meireles. O golo que dava a vantagem ao intervalo já parecia pouco, até que a equipa ganhou o plus de confiança necessário para puxar pela tão ansiada goleada. Cristiano Ronaldo liderou pela esquerda a rebelião, mas foi Simão Sabrosa, depois de um lance onde se percebeu a vital importância de Hugo Almeida nesta equipa, quem marcou. Pouco depois foi Fábio Coentrão a procurar o espaço que lhe ofereceu Ronaldo para dar a Hugo Almeida o terceiro tento. Os coreanos estavam desorientados e o extremo do Real Madrid, num lance de máxima inteligência, ofereceu o golo a Tiago. O seu rosto sério dizia tudo. Sacrificou o seu ego pessoal e a ânsia de marcar, pelo jogo colectivo. Teria a sua recompensa.
Com a goleada garantida, Queiroz foi hábil nas substituições. Lançou Veloso para o meio, Duda para abrir o jogo pela esquerda e Liedson para rematar. E assim nasceram os últimos três golos. Com a sua dose de sorte. Liedson, por fim Tiago e no meio, o merecido tento de Cristiano Ronaldo. Um golo cheio de sorte mas que termina essa longa seca. Finalmente.
Com esta goleada Portugal está com pé e meio nos oitavos de final. E pela porta grande, com uma goleada das maiores da história recente dos Mundiais, que acaba de uma vez com a fama de equipa incapaz de ser eficaz diante das redes contrárias. No meio da autêntica travessia das tormentas, emerge-se a figura de liderança de Cristiano Ronaldo, a quem só faltou mais um par de golos para alegrar o sorriso. Portugal está vivo, muito mais do que se pensaria, quando soube respeitar a sua essência. E terminar em segundo do grupo até pode dar um bónus inesperado. Ver para crer.