David e Golias? Nem tanto. Uma equipa renascida dos mortos, como qualquer relato de Stephen King. O tipico underdog, menosprezado até ser impossível de apanhar. Dois rivais de circunstância que nunca pertenceram ao mesmo escalão. Mas que a histórica coloca, frente a frente, num duelo indirecto para a eternidade. A Holanda prepara-se para inspirar e aguentar a respiração por 90 minutos.
O Twente nunca foi campeão. O Ajax tem mais títulos que qualquer outro conjunto do futebol holandês.
Uma boa história para os mais distraidos, que certamente pensarão no pequeno e humilde conjunto contra o gigante de Amesterdam. Mas a realidade é bem, bem distinta. O gigante, por assim dizer, que até é Tetracampeão europeu e conta com 29 ligas caseiras não ganha a Eredevise há 6 épocas. Mas no entanto, desde 1965 que só uma equipa ousou desafiar o poder establecido do trio dominante do futebol orange. Essa equipa é o actual campeão em titulo, que na época passada acabou com os sonhos dos adeptos do Twente. 365 dias depois os de Alkmaar vivem angustiados numa luta por um lugar europeu, cientes de que a forte aposta na Europa não funcionou. Enquanto isso, o pequeno conjunto de Twente segue orgulhoso no primeiro posto. Onde está há várias jornadas numa temporada que dominou em vários momentos. E que está prestes a vencer. Afinal, que são 90 minutos?
O conjunto orientado pelo inglês Steve McClaren prepara-se para fazer mais do que história. É uma das equipas que melhor futebol pratica nos relvados europeus. Uma verdadeira máquina de ataque que, no entanto, começou mal a época. Caiu diante do Sporting na primeira pré-eliminatória da Champions League. Na Europe League também não se exibiu ao melhor nível. Mas na Eredivise a conversa foi outra. Entrou de rompante e até ao Natal liderou o torneio. Depois viu-se desafiado pelo PSV, a grande força holandesa da década, e foi trocando de posições com o conjunto da Philips. Até que ganhou o braço de ferro e se viu isolado diante do oásis. Do sonho que ninguém arriscava a transformar em acto. Mas que está aí, bem perto de se fazer real. Os golos de Bryan Ruiz, a grande revelação da época, e o brilhante jogo do eslovaco Miroslav Stoch, pautam o futebol ofensivo da equipa. E alimentam sonhos.
A Liga Holandesa é das mais antigas da Europa mas até aos anos 60 manteve-se totalmente amadora. Essa foi a época da explosão do Ajax Amsterdam. O conjunto que em 1917 venceu o primeiro titulo de Liga conseguiu também a primeira vitória da Eredivise profissional. Desde então são incontáveis os titulos domésticos e internacionais das gerações de Cruyff, van Basten, Bergkamp, Litmanen e companhia. Mas há uma década que em Amesterdam se perdeu a magia do triunfo. A escola de formação, outrora a mais invejada do Mundo, entrou em declinio. E o futebol profissional ressentiu-se. A última liga ganha remonta a 2004. Depois disso a hegemonia do PSV. E a inesperada vitória do AZ Alkmaar de Louis van Gaal. Em todas essas edições o Ajax manteve-se fora da luta pelo titulo. Até agora.
Martin Jol substituiu o polémico van Basten e moldou uma equipa à sua medida. Um onze ofensivo, repleto de jovens e com vontade de comer o Mundo. A equipa que até começou bastante mal a liga foi trepando posições e ganhando duelos importantes. A um ponto do Twente o sonho continua aí e muitos lamentam-se agora de tropeções insuspeitos nas primeiras rondas. Os golos de Pantelic, Suljemani e Suarez mantiveram a esperança viva enquanto que a defesa de van der Wiel, Atouba, Verthogen e Alderweireld foi-se aperfeiçoando a cada jogo disputado. A pouco e pouco o conjunto ajaccied voltou a ser um espelho dos seus melhores momentos. Mas será tarde demais?
Hoje de tarde o futebol holandês pára. Um duelo a dois que se transforma numa disputa a quatro. Ao Ajax espera só lhe pode valer o NAC Breda, uma equipa modesta como poucas. O Twente depende si próprio mas não se importava de receber uma ajuda do NEC. Ambas as equipas jogam fora. Ambas esperam. Ambas sonham. Só uma poderá respirar tranquila. Só uma poderá vencer. Mas ambas mereciam-no. O futebol é assim, injusto por natureza.