Há vários anos que não se assistia a tantos sprints emocionantes no final de uma larga maratona. Espalham-se pelo mapa deitado do continente com forma de mulher e colocam frente a frente alguns dos colossos desportivos do futebol actual. As principais ligas da Europa vivem em suspenso. O futebol europeu arranca para as últimas quatro semanas sem reis e com muitos pretendentes para as coroas vazias.
Enquanto as pequenas ligas do continente como Portugal, Escócia, Bélgica ou Grécia já têm (ou estão prestes a ter) o campeão consagrado, pela primeira em largas temporadas não há ainda um vencedor anunciado entre o top 5 das principais ligas futebolisticas da Europa. Nem uma tem um rei coroado à falta de um mês para o final oficial de uma temporada que para muitos acaba antes. Entre as 3 jornadas (que faltam em Inglaterra e Alemanha ) e as cinco (casos de Espanha e França), há ainda mais dúvidas do que certezas. Mais candidatos do que coroados. E ao contrário da última temporada, onde só Bordeaux em França, o Wolfsburg alemão e o Manchester United tiveram, efectivamente, de sofrer até ao fim, para já ninguém pode sair à rua para celebrar. Exceptuando o caso francês, as restantes ligas pautam-se por um equilibrio inusual, com vantagens que não ultrapassam os três pontos. Uma jornada, portanto. A emoção está garantida e desmente a teoria daquelas que atacavam os principais campeonatos europeus pela falta de emoção que transpareciam. São as pequenas ligas que, cada vez mais, vivem de vencedores antecipados. Em Portugal o cenário repete-se este ano com o SL Benfica que segue os passos do FC Porto e prepara-se para festejar bem antes do fim da prova. Na Escócia o Glasgow Rangers está a apenas um jogo do titulo, enquanto que Anderlecth na Bélgica e Panatinaikhos na Grécia, já celebram o trofeu conquistado sem grandes problemas. Neste grupo só a Holanda, sempre a contra-corrente, espera uma decisão de última hora. São 90 minutos de infarto que separam os adeptos do Twente da história. E os da Ajax da esperança.
Em Espanha o improvável duelo entre Barcelona e Real Madrid continua depois do correctivo aplicado pelos azulgrana ao eterno rival no clasico de há quinze dias. O actual campeão tropeçou no duelo com o rival local, o Espanyol, e viu o clube merengue reduzir a desvantagem com que saiu do clássico para apenas um ponto. Tolerância zero para os comandados de Guardiola, mais pendentes de revalidar o ceptro europeu, e que poderão sofrer como poucos as consequências do vulcão islandês que deixou a Europa em suspenso. Sem pressão e kilometros nas pernas, os jogadores blancos vão atacar até ao final sabendo que o calendários os benificia duplamente. Nos rivais internos e na ausência de Quartas-Feiras europeias. Afinal de contas, Cristiano Ronaldo pode acabar mesmo por ultrapassar Messi.
Se em Espanha a diferença é de um ponto, a situação não é diferente em Itália e Inglaterra. Com a particularidade de que, aqui, os campeões seguem na segunda posição. Na Premier League, quando tudo parecia decidido, o último fim-de-semana voltou a revelar o lado mais emocionante da prova por excelência do Velho Continente. A superioridade do Tottenham (que dias antes tinha também ganho ao Arsenal) frente ao Chelsea, e a sorte dos Red Devils de Ferguson no duelo com o eterno rival reduziram para 1 ponto a diferença de quatro. À falta de três jornadas o clube de Londres tem tudo para vencer e um plantel na máxima força. Só que terá ainda de ir a Anfield Road. E ninguém esquece que o Manchester United já provou várias vezes saber apertar até ao último suspiro e em Old Trafford continuam a sonhar com o histórico Tetra.
No país da bota a situação é bem distinta. A AS Roma fez história ao voltar à liderança de uma prova que desde 2001 tem sido dominado pelas equipas do norte, especialmente de Milão. O Inter de José Mourinho, actual Tetracampeão, tropeçou demasiadas vezes e desperdiçou uma imensa vantagem. Agora tem três encontros para recuperar o ponto de atraso para o conjunto giallorrosso. E um duelo europeu que será a sua máxima prioridade. Todo o país está, indubitavelmente, ao lado do clube da capital. Mas isso nunca foi um problema para o técnico sadino.
Se as grandes ligas se decidem por um ponto, as duas provas mais emotivas dos últimos anos continuam a dar um particular ar da sua graça. Alemanha e França, que entre si vão, merecidamente, decidir um dos finalistas da próxima Champions, vivem os seus particulares e confusos duelos. No caso germânico a luta pelo titulo pode reduzir-se a dois, mas realmente há quatro equipas com possibilidades de levar o troféu para casa. O Bayern Munchen lidera a prova com mais três pontos que o Schalke 04, que por sua vez tem Werder Bremen e Bayer Leverkusen muito próximos. Uma luta onde já não entram Wolfsburg e Sttutgart, que por estas alturas na época passada partilhavam a liderança. O conjunto bávaro tem tudo para se sagrar, uma vez mais, campeão. Mas as ambições europeias podem complicar, e muito, a luta pelo titulo da Bundesliga. Situação similar vive o Olympique Lyon, que depois de sete titulos consecutivos, parece de novo afastado da vitória na Ligue 1. O clube lionês segue no terceiro posto mas corre mesmo o risco de estar fora da máxima prova europeia, dez anos depois. Culpa do notável Montpelier, que continua a aguentar o segundo posto e, acima de tudo, da época excepcional do Olympique Marseille de Didier Deschamps. O conjunto da Cote D´Azur está bem perto de voltar a celebrar um título, 17 anos depois do escândalo Tapie. São cinco pontos de avanço para cinco jogos por disputar. Uma luta onde ainda está o actual campeão, o Girondins de Bordeaux, que depois de apostar tudo na prova rainha da Europa percebeu que deixou demasiados pontos pelo caminho. A vitória no jogo em atraso com o Vallenciennes atira o conjunto gascão para o terceiro posto. Mas o Bicampeonato parece já, missão impossível.
As ligas europeias caminham apressadamente para o seu final. A última semana de provas domésticas do Velho Continente é a de 16 de Maio. Mas na semana anterior já se conhecerão vários campeões. Nas próximas quatro semanas vão-se revelar, a pouco e pouco, os novos reis da Europa. Duelos demasiado apertados para deixar pistas sobre os eventuais campeões. E que demonstram que, em ano de Mundial, ninguém quis abdicar de lutar até ao final. Afinal, as grandes Ligas continuam a ser as que deixam o futebol europeu em suspenso até ao final. Como num filme de Alfred Hitchcock.