Ser vizinho de um dos clubes mais bem sucedidos da história é sempre um problema. Para o Atlético de Madrid tornou-se numa maldição. A equipa que já foi filial do Athletic Bilbao na capital é hoje um terceiro grande que procura encontrar o seu espaço num futebol espanhol cada vez mais bipolarizado. Poucos são os que se lembram da sua época aurea, quando começaram a ser conhecidos como os "colchoneros".
Entre a imprensa indefectível do Real Madrid o Atlético ganhou a alcunha de "Pupas", um termo espanhol similar ao infantilismo luso "doi-doi".
Uma picada ao orgulho dos atléticos, essencialmente porque o clube nos últimos trinta anos passou a maior parte das temporadas a queixar-se e a lamber as feridas de sucessivos erros de gestão. Não é por acaso que desde os anos 70 que a equipa só venceu um titulo de Liga, em 1996. Muito pouco para o segundo conjunto da capital espanhola e, historicamente, o terceiro grande de Espanha. Há muito que o deixou de ser. Não só para o mais titulado Athletic Bilbao, o constante Valencia ou o emergente Sevilla. Até mesmo perante equipas de menor historial mas com projectos desportivos sustentados e que têm demonstrado no terreno e fora dele, a sua superioridade.
A presença nas Meias-Finais da Europe League, que começam a disputar-se esta semana, é o grande êxito desportivo da década para o clube rojiblanco. Desde o afastamento do polémico Jesus Gil y Gil que os seus sucessores, o filho Miguel Angel Gil e o productor cinematográfico Enrique Cerezo, têm sido incapazes de inverter o rumo. Os adeptos afastam-se da equipa e nem o forte investimento realizado este ano - não vendendo nenhuma das estrelas e contratando vários jogadores nos mercados de Verão e Inverno - mudou a fraca prestação doméstica. Salva-se a Europa e a lembrança de outros tempos.
A história pregou ao conjunto atlético o termo colchonero.
A origem remonta aos anos 20. Por essa época o clube começou a estabelecer-se como um dos grandes de Espanha, depois de ter sido largos anos apenas a filial do Athletic Bilbao na capital. Ao funcionar como equipa satélite do conjunto basco, os madrileños importavam os seus equipamentos de Bilbao. As celebres camisolas às listas brancas e vermelhas tornaram-se num icone da entidade. E, curiosamente, deram origem ao seu apelido. Por essa altura a maioria dos colchões comercializados em Espanha tinham a mesma origem. O desenho era funcional e exactamente igual à camisola atlética. Um colchão branco com quatro tiras vermelhas bem identificativas. A comparação foi inevitável. A alcunha ficou da mesma forma que o conjunto acabou intimamente ligada à praça Neptuno, recém-construida, para comemorar os seus triunfos. E ao rio Manzanares, que passa pelo oeste madrileño, e onde construiu o seu estádio, antecessor do actual Vicente Calderon. Ao contrário do rival Real, clube das gentes ricas do centro e norte da cidade, o Atlético ficou intimamente associado ao povo da zona sul. E assim seria.
Durante a Guerra Civil o conjunto mudou de nome para Atlético Aviacion, já que a designação Athletic Madrid fora proibida por Franco. Depois da fusão definitiva entre o clube e o Aviacion Nacional, em 1947, o clube passou a utilizar a designação de Atlético de Madrid. E viveu então uma das suas melhores épocas que terminou nos anos 70, com uma final da Taça dos Campeões e a subsequente conquista da Taça Intercontinental. A partir daí o oásis. O fim do sonho colchonero!
Cercado por todos os lados, o conjunto colchonero procura rever a sua identidade. Tem um estádio novo à espera e uma equipa jovem com grande potencial. No entanto a divida acumulada pela direcção e a falta de competitividade do plantel tem levado a massa adepta à beira do desespero. Ser colchonero, hoje, é cada vez mais um sacrificio a que poucos se sujeitam. Mas, os que o fazem, levam as cores no peito até ao fim!