O Chelsea atacou mais. O Inter, atacou melhor. Houve polémica para todos os gostos e feitios. Erros imperdoáveis à frente das redes. E três golos que deixam tudo em aberto para um estádio onde o "Special One" nunca perdeu. Contra o clube que armou do nada, Mourinho deu uma verdadeira licção de eficácia ofensiva.
Nos habituais "mind games" prévios ao embate, Mourinho foi claro. Este Chelsea não tinha segredos para ele, mas ele também não tinha segredos para os seus antigos jogadores. Mas nem assim a armada azul conseguiu superar um exercício de pura confiança em si mesmo que deu o técnico português frente a um Ancelotti que tudo fez no papel para ganhar. Mas que em campo se viu sempre atado de pés e mãos. O Inter não foi melhor equipa. Mas foi mais eficaz. Controlou o ritmo de jogo, as pausas e mudanças de ritmo. Esticou o campo quando o Chelsea apertava e encolheu-o quando queria pressionar na zona de meio-campo. O trabalho titânico do meio-campo montado pelo técnico sadino controlou aquele que é provavelmente o mais eficaz miolo do futebol europeu. Ballack, Lampard e Obi Mikel estavam cercados por um quadrado hábil onde Cambiasso, Sneijder, Stankovic e, sobretudo, o incansável Motta, impunham a sua lei. O Chelsea procurou explorar os flancos com Anelka a cair sobre Maicon com o apoio de Malouda, improvisado de lateral-esquerdo e Kalou a descair pelo lado direito no apoio directo a um solitário Drogba. Ou seja, uma versão do primeiro 4-3-3 que Mourinho impôs com sucesso em Stanford Bridge. E que por isso sabia anular sem problemas. O Chelsea atacou mais, rematou mais do triplo que os italianos. Mas os lances acabavam sempre por ser inconsequentes. E com o golo inaugural de Diego Milito, num exercicio puro de eficácia "mourinhiana", as contas pareciam complicar-se.
O jogo não mudou com a segunda parte. O Inter controlava a seu belo prazer, com Etoo e Milito sós na frente a jogar no espaço, e os restantes elementos a sufocar a pressão do rival. As armas ofensivas dos britânicos pareciam esbarrar com um murro inquebrantável. E no regresso ao San Siro, onde passou a maior parte da vida como jogador e técnico, Ancelloti parecia não encontrar um só buraco. Até que Kalou desviou um passe certeiro de Ivanovic e Julio César, que dias antes tinha mostrado a sua total falta de profissionalismo num acidente evitável com o seu desportivo, não soube reagir. Balde de água fria. Um golo fora e um empate muito, mas muito comprometedor. Pensava-se já que os Blues iriam repetir o feito do Manchester United, na semana anterior, e dar a volta ao encontro. Mas não. Um remate de primeira de Cambiasso, repleto de raiva, destroçou as redes de Cech apenas um par de minutos depois do golo. Repunha-se a eficácia neroazurra. E Mourinho sem celebrar. Como prometera. Sem o guardião checo, retirado após uma lesão que pode comprometer as aspirações dos ingleses, o Inter continuou a ter opções de ampliar o marcador. Tal como o Chelsea, que até se pode queixar de um penalty por assinalar. Mas que nunca mostrou ser superior no último terço do terreno de jogo. À medida que o pulmão dos ingleses se esbatia no muro italiano, Mourinho ia estendendo a corda com Balotelli e Muntari, que foram asfixiando ainda mais um meio campo estourado. Mas sem dar o golpe de misericórdia.
Um 2-1 é um resultado mau numa prova como a Champions League. Os ingleses sabem disso e por isso a derrota com o seu mentor não doeu tanto como se podia prever. O técnico português também sabe que, apesar de ter demonstrado ter razão, também terá agora de fazer o que nunca ninguém lhe conseguiu fazer a ele. Vencer em Stanford Bridge é um feito ao alcance de muito poucos. O recorde estabelecido pelo Special One ainda vive nas bancadas azuis. Todos sabem que Mourinho será ovacionado quando entrar no relvado. Resta saber se terá a astúcia e audácia suficientes para apear o seu velho patrão e o seu querido público da única taça que continua a faltar nas vitrines que ele ajudou a encher.