Segunda-feira, 03.11.14

Aqui está o motivo por detrás da ralentização temporal da publicação de artigos no Em Jogo.

 

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Esta semana publica-se em Espanha o meu primeiro livro em castelhano, dedicado ao médio do Real Madrid, Toni Kroos. Provavelmente o melhor médio interior do Mundo, vencedor de tudo o que há para ganhar (salvo um Europeu de selecções) com apenas 24 anos, o livro publicado pela editorial Al Poste, é uma viagem á vida e carreira do internacional alemão desde o seu nascimento nos dias da Alemanha de Leste à sua chegada a Madrid.

 

Á venda a partir desta semana em Espanha estará também disponível na Amazon para os leitores fora do território espanhol. Uma vez publicado oficialmente o livro o Em Jogo voltará brevemente à sua normalidade!


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 19:00 | link do post | comentar | ver comentários (5)

Quarta-feira, 08.10.14

Fernando Santos iria sempre ser seleccionador português. Era uma questão de quando, não de se. Depois de passar pelos “3 Grandes” sem levantar demasiada polémica estava estabelecido o quórum necessário para estas situações. O jogo de interesses prevaleceu sobre o futebol e depois de largos anos a ver como a Grécia sobrevivia com gramos de futebol e quilos de luta, resta rezar para que o novo começo não dure demasiado.

 

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Há um treinador em Portugal que conseguiu não ser campeão nacional com Mário Jardel a marcar mais golos do que nunca. Esse mesmo treinador – o Engenheiro de um Penta desenhado no ano anterior – passou por Benfica e Sporting com mais pena que glória. Noutro contexto a sua carreira ter-se-ia afundado no esquecimento. Em Portugal, Fernando Santos acabou como seleccionador nacional. Homem de paz que esquiva sempre o confronto e a polémica, é a figura diametralmente oposta ao perfil de seleccionador que existe desde 2000. Tanto António Oliveira como depois Scolari, Queiroz e Bento procuraram sempre impor a sua imagem através de soundbyites fortes, decisões polémicas e altamente questionáveis e lutas paralelas com dirigentes e imprensa. Santos não é nada disso. Mais parecido a Humberto Coelho que a qualquer outro seleccionador português, tem a vantagem de não ser um homem associado historicamente a um clube. O engenheiro dos subúrbios de Lisboa que levou o Estoril e o Estrela de Amadora a serem equipas de moda nos anos noventa, sempre se assumiu como benfiquista mas, sobretudo, como profissional o que lhe permitiu ser aceite por Pinto da Costa como um dos treinadores em quem mais confiou. A sua passagem por Alvalade ajudou a fechar um ciclo histórico. Nunca saiu a mal com nenhum dos clubes que treinou, nunca teve más palavras para os seus dirigentes e isso, na diplomacia do futebol, vale ouro. Para Santos o premio de ser um low profile há muito que estava escrito. Todos sabiam que seria um dos próximos seleccionadores. Era uma questão de timing. O haraquiri de Paulo Bento e a ausência de opções de vulto por decisão própria como Mourinho, Vilas-Boas ou Jesus facilitou as contas. Nem a (ridícula) suspensão da FIFA fez a federação mudar de ideias. O perfil de Santos é único no mercado e a oportunidade era de ouro mesmo com o eventual prejuízo desportivo. Que pode não ser tão grande como isso. Santos é um homem popular no mundo do futebol mas não é, necessariamente, o homem certo no momento certo. Nem sequer um treinador de elite. É o que estava mais à mão num país que gosta sempre de soluções fáceis.

 

Analisando futebolisticamente o que foi Fernando Santos nos últimos vinte anos ficamos com a sensação de que acabou por ser muito menos do que dele se esperava. Um titulo de liga – em 1999 – e duas Taças de Portugal, tudo com uma equipa que valia o seu peso em ouro e que devia ter ganho mais, muito mais. Com ele começou em campo declive desportivo do FC Porto que só Mourinho conseguiu revitalizar. Santos sobreviveu à habitual política bianual de Pinto da Costa mas não à falta de resultados. O seu estilo de jogo aborrecia as Antas como poucas vezes se viu. Um 4-3-3 rochoso, lento e que beneficiava-se de ter um goleador genial como Jardel e, mais tarde, um génio no meio campo chamado Deco. Depois dos anos de azul e branco veio um vazio, uma passagem pelos grandes de Lisboa sem grande interesse desportivo e o seu exílio futebolístico para a liga grega onde foi escalando posições, sempre graças à sua imagem de gentleman. Acabou com o difícil posto de sucessor de “King Otto”, o homem que deu ao país o Euro 2004. Esteve à altura das expectativas. Muitos imaginavam uma Grécia decadente, futebolisticamente. Santos não conseguiu impedir essa quebra futebolística mas compensou-a com organização, trabalho e espírito colectivo – a base do sucesso original de Rehagel – aguentando a pressão de manter-se na elite, disputando Europeu e Mundial com resultados mais do que satisfatórios. Mas o seu catenaccio grego é tudo aquilo que este Portugal não precisa. Ao contrario do que sucedia com os helenos, aqui Santos vai encontrar uma nova geração de talentos. Um jogador único e uma legião de jogadores de muito bom nível. A disciplina defensiva já era o b-á-b-á do “bentismo”. Ao novo seleccionador pede-se algo mais. Espectáculo, acutilância, dinamismo ofensivo. Um jogo não exclusivamente de rápidas transições para Ronaldo completar mas um futebol mais pensado, fiel aos anos dourados do nosso futebol e possível quando entre os elegíveis estão Moutinho, André Gomes, João Mário, William, Tiago – felizmente recuperado – Adrien, Marcos Lopes, Bruno Fernandes ou Bernardo Silva. Jogadores de toque muito diferentes dos Meireles e Velosos dos anos cinzentos. Portugal continua com problemas graves. Não há avançados (e o ratio de golos de Ronaldo empalidece em comparação com o Real Madrid) e guarda-redes de elite e mesmo nas faixas laterais contar com Cedric, Eliseu, Antunes ou Ivo Pinto não é propriamente uma noticia entusiasmante. Mas a pouco e pouco pede-se um salto de qualidade adequado a um novo leque de opções. Sobretudo, pede-se um seleccionador que saiba que a esses jogadores não basta ensinar conceitos defensivos e que é necessário desenhar um modelo que permita fluir o seu estilo de jogo mais ofensivo e de posse. Fernando Santos nunca foi um treinador desse perfil e tendo em conta as chamadas de Danny, Tiago, Quaresma, Carvalho (os punidos por Bento) parece estar mais interessado no imediato do que no futuro. Precisamente o que Portugal não precisa. Para isso Bento servia perfeitamente.

 

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Está claro que o adepto português continua a pensar que o momento em que José Mourinho seja apresentado como seleccionador todos os males do mundo desaparecerão. O sadino terá a sua oportunidade, seguramente, mas até lá falta tempo, muito tempo. E ter alguém como Fernando Santos – alguém com o perfil de Fernando Santos, melhor dito – não parece ser a melhor solução. O processo de estabelecimento de uma nação futebolística com identidade própria é largo. Portugal pensa sempre no amanhã. A Alemanha começou a ser campeã do Mundo de 2014 em 2004 com a contratação de Klinsmann e Low. O mesmo sucedeu com a Espanha de Aragonés ou, em 1994, com a França de Jacquet. Portugal joga em ciclos de dois anos, nunca vai mais além. Ter Vítor Pereira disponível e não pensar nele como o homem que podia estar seis, oito anos a preparar um modelo de jogo português moderno com espaço para o talento que aí vem é um dos maiores erros de gestão que a FPF podia cometer. Não que a solução encontrada não fosse óbvia, todo o contrario. Fernando Santos é o homem do consenso porque assim funcionam as coisas. Com ele há quem pense que Portugal vai começar um novo ciclo. Em determinados aspectos de gestão, será seguramente um perfil diferente, menos estridente. Futebolisticamente o vazio continuará. Até que venha o D. Sebastião, não o treinador mas o dirigente que tenha a coragem de comportar-se como a importância do cargo lhe exige. O de pensar no futebol português em primeiro lugar e nos resultados da selecção depois. Sonhos difíceis de concretizar. 

 

PS: Aos leitores habituais do Em Jogo lamento a ausência de posts. Uma inevitabilidade tendo em conta um projecto profissional dentro do universo da escrita futebolistica que farei publico brevemente e me manteve afastado do ritmo habitual do blog que será retomado a partir de agora. Obrigado por esperarem!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 19:57 | link do post | comentar | ver comentários (5)

Segunda-feira, 15.09.14

O futebol português permanece igual a ele próprio. Perdido numa espiral circular que ameaça repetir-se até ao fim dos tempos. Não há motivos para pensar que alguma vez será diferente. O circo montado à volta da renovação da selecção acabou com a cabeça de Paulo Bento numa bandeja e um cheiro a podre que chega dos bastidores. Onde sempre esteve a origem do mal.

A participação de Portugal no Mundial 2014 foi um desastre. Não há outra forma de o dizer que seja mais directa e verdadeira. Também o tinha sido a fase de qualificação tal como o apuramento para o Euro 2012. Muitos, muitos erros somados e somados que foram varridos para debaixo do tapete. Com a imprensa controlada, as vozes criticas silenciadas, questionar o evidente tornava-se tão paradoxal como necessário. Um grito no meio do silêncio. Ninguém o deu. Os resultados no Brasil estavam escritos nas estrelas e não nas fichas médicas. Mas foram esses, os culpados. Eles e apenas só a julgar pela renovação institucional, pomposa – como tudo o que mete a FPF – e incipiente que se seguiu após ao relatório que demorou o tempo necessário para que todos pudessem ir de férias, tranquilos, com os seus. Nessa metamorfose kafkiana, a selecção saía aparentemente reforçada debaixo da liderança de um seleccionador a quem os resultados não causavam mácula, um líder com mais poder e influencia que nunca a quem a Alemanha nunca goleou, os Estados Unidos nunca vulgarizaram e o Gana nunca assustou. Depois veio o caos, em forma de guerreiros albaneses, veio o circo, em forma de reuniões para fumar charuto, e a decisão de despedir o novo líder depois do primeiro round. A congruência sempre foi uma característica muito do adn português. Bento sai com três meses de atraso e atrás de si deixa nada de que se possa orgulhar. O staff médico, renovado a gosto de quem realmente manda, está ilibado de culpas, pelo menos por ano e meio. E Portugal, num momento crucial da vida da sua selecção nacional, continua entregue aos de sempre.

 

Paulo Bento era um dos grandes problemas da selecção. Mas nunca foi o problema.

A sua inépcia táctica, evidente, a sua dificuldade em distinguir o melhor do amigo, clara. Com Bento ao comando vários jogadores bateram com a porta, outros seguramente desejávamos que o tivessem feito. As suas convocatórias eram tão previsíveis como uma telenovela brasileira e os protagonistas os mesmos, como o cardápio da Globo. Mas da novela das sete, não do prime time. Enquanto houve um Ronaldo física e mentalmente em condições (vide Euro 2012, vide play-off com a Suécia) todos os outros problemas técnicos, tácticos e liderança foram sendo escondidos dentro de um baú de coisas proibidas. Mas sem o CR7 – porque o CR7 só está quando quer, não quando se necessita, que para isso é capitão – não há mais créditos que gastar. Bento sai porque é um mau treinador, um fraco seleccionador e um péssimo gestor. Mas nada disso difere do que era quando foi eleito no cargo, quando sobreviveu a uma penosa fase de qualificação para o Brasil ou quando foi reconfirmado e viu reforçado o seu estatuto interno. Só alguém muito deslocado da realidade poderia estar por detrás de algo assim. Felizmente para Portugal, há muitos personagens de esse nível e curiosamente estão todos em cargos de poder.

Bento perdeu com a Albânia depois de ter feito o que muitos pediam – começar a integrar novas caras – de ter feito aquilo que lhe obrigam a fazer – dar carta branca ao capitão – e com uma lista de convocados que pertence à carteira de um só homem, o seu. Quem vier a seguir, se seguir a mesma directriz, encontrará o mesmo fim. Sabendo que quem o vai eleger – e quem quer ser eleito? – pertence ao mesmo grupo de pessoas que tomou a decisão em Agosto de deixar tudo na mesma, a esperança é nula. Portugal tem melhores futebolistas do que nos querem fazer crer. Não há uma Geração Dourada. Já não a há desde o fiasco da Coreia e do Japão. Desde o fiasco do Euro 2004. Desde então que tem havido outros jogadores, outras referências. Para o amanhã também os há, especialmente havendo a clara consciência de que o apuramento para o Europeu é quase uma formalidade. Sem Bento haverá espaço para recuperar Tiago, Danny, Manuel Fernandes ou Ricardo Carvalho, transformados em párias. Sem Bento haverá coragem para abdicar de Veloso, Meireles, Ricardo Costa, Bruno Alves ou Hugo Almeida? Sem Bento haverá quem decida que o amanhã é mais importante que o hoje e que está na hora de Bruma, de João Mário, de Adrien, de Marcos Lopes (Espanha, que tem muito mais por onde escolher, não quis perder Munir como nos estamos a preparar para perder Ronny), Anthony Lopes e companhia e procurar um esquema de jogo que beneficie a 10 e não a 1 individualidade? Ou vamos ter de esperar algumas debacles mais para entender que nem grandes jogadores sós fazem uma grande equipa nem um só jogador faz milagres.

 

Portugal teria um futuro brilhante nos palcos internacionais. Brilhante. Só precisava de ter dirigentes de nível e treinadores sem ataduras, que pusessem em prática o que parece ser o b-á-b-á da profissão, aproveitando alguns dos melhores jogadores da Europa, presentes e futuros, nas suas posições. Portugal não é, nunca foi nem nunca será França, Espanha, Itália, Inglaterra ou Alemanha com os seus mais de 50 milhões de habitantes e mercados potentes. Mas não há nada que não tivéssemos já feito que pudesse voltar a ser repetido. Falta apenas trocar as peças mais importantes, as que não se vêem e esperar que ao homem do leme que venha a seguir não lhe escolham por ser vizinho do amigo do terceiro direito. E que não lhe entreguem em mãos uma rota que está destinada a encalhar num baixio com terra à vista lá ao longe.



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Sábado, 06.09.14

Off topic para os amantes de fotografia!

 

 



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Segunda-feira, 25.08.14

Num país onde os jogadores criativos eram olhados com sérias suspeitas, foram heróis sem glória. Durante uma década ofereceram o lado mais irreverente e artístico do futebol alemão mas a história deixou-os para um segundo plano. Assistiram ao final da era dourada do futebol germânico e deixaram no relvado a esperança de uma renovação que demorou uma década a fazer-se realidade.

Os anos 90 foram, talvez, a nível de resultados, uma década inesquecível para a selecção germânica. Igualou o registo de finais e títulos conquistados nos gloriosos anos 70. Começou a década com um Mundial e no meridiano dos anos 90 conquistou o seu terceiro Europeu, deixando para trás uma final inesperadamente perdida contra a Dinamarca. E no entanto, quando a década chegou ao seu final, o futebol alemão preparava-se para despertar de uma longa festa com uma dor de cabeça que nenhuma aspirina, por si só, era capaz de curar.

Os problemas, de natureza diversa, congregaram-se no tempo e no espaço para provocar uma depressão que durou quase uma década. Foi o tempo da Alemanha repensar a sua própria abordagem ao futebol. Devolveu-se o jogo aos adeptos, baixaram os preços, renovaram-se os estádios a pensar no Mundial de 2006, apostou-se na formação definitivamente, com a integração progressiva de minorias étnicas e controlaram-se as contas dos clubes com precisão teutónica. Sobretudo, devolveu-se o protagonismo aos artesãos  aos génios do meio-campo que tinham sido praticamente relegados para um segundo plano emocional nos anos de glória do futebol alemão.

O abandono definitivo do libero, a passagem progressiva do 3-5-2 para um modelo mais adequado às exigências do futebol moderno trouxe consigo uma nova estirpe de jogadores. Mas a sua influência vinha de atrás no tempo. Durante anos eles foram os heróis silenciosos dos triunfos da Mannschafft. Os heróis da imprensa e do público ora manobravam a bola desde a linha mais recuada, ao melhor estilo de Beckenbauer e Mathaus, ora decidiam jogos com golos oportunos e determinantes, de Muller a Rummenigge, de Hrubesch a Klinsmann. Mas era no meio do terreno que se coziam as vitórias, onde habitavam os génios malditos do futebol alemão.

 

Durante pouco mais de uma década, deambularam pelos relvados europeus, jogadores atipicamente germânicos. Capazes de improvisar, de procurar no toque curto a resposta à equação de espaços. Jogadores fisicamente pouco imponentes, tacticamente sábios e filosoficamente rebeldes. Os adeptos europeus tinham na memória, vagamente, as genialidades de Netzer e Schuster, mas em ambos os casos, o seu génio individual tinha sido sacrificado em prole do colectivo e de jogadores capazes de percorrer mais kilómetros sem a bola do que com ela, capazes de ocupar os espaços antes que criá-los. Lothar Mathaus, consagrado definitivamente no Itália 90, foi o exemplo perfeito desse todo terreno alemão que fez escola no futebol continental.

Enquanto isso, ao seu lado, gravitavam ao seu lado actores secundários com um papel fundamental na narrativa. De Thomas Hassler a Andreas Moller, passando por Steffen Effenberg e Mario Basler, o futebol alemão da complexa década de 90 teve os seus idolos quase anónimos para o grande público, o mesmo que aplaudiu a coroação de dois médios como Mathaus e Sammer, com funções primordialmente de contenção, como génios superlativos. Ambos estiveram por detrás dos dois triunfos internacionais alemães da década, mas não estavam sozinhos nessa cruzada. Entre eles somam mais de 220 internacionalizações pela selecção alemã, episódios de uma era de interrogantes. Estiveram nos momentos de consagração mas também (des)apareceram no sol californiano dos Estados Unidos, em 1994, e do França 98. Quando em 2000, a Alemanha acabou o grupo da morte do Euro 2000 em último lugar, por detrás de portugueses, romenos e ingleses, sem pena nem glória, foi sobre eles que caiu o peso da crítica quando nunca antes lhe tinham sido entregues as coroas de flores da glória.

Hassler e Moeller eram os perfeitos estranhos na equipa que Beckenbauer levou ao título mundial, em 1990, e que realizou um excelente Europeu, dois anos depois na Suécia, apenas para cair na final. Jogadores capazes de romper os espaços em velocidade, com uma visão de jogo perfeita, aproveitavam o trabalho e a presença de Mathaus no miolo para mover-se com a liberdade que necessitavam para explorar todo o seu potencial. Tal como a maioria dos grandes jogadores europeus da época, atingiram o pico individual a jogar na exigente liga italiana e demonstraram mais tarde no futebol alemão, o primeiro com o Karlsruher e o segundo com o Dortmund, que eram lideres naturais dentro e fora de campo. Foi sobretudo graças a eles que a Alemanha superou a mediania do Euro 96 para sagrar-se campeão da Europa apesar dos louros terem sido divididos publicamente entre os golos oportunos de Bierofh e o trabalho defensivo de Sammer. Espelho de velhos relatos.

Basler e Effenberg eram jogadores malditos antes da glória ter aparecido à sua porta. Curiosamente, protagonizaram a fábula mais trágica da história do futebol bávaro, no relvado de Camp Nou numa noite de Maio de 1999. Eram os génios que faziam mover a máquina do Bayern Munchen que venceu uma Champions League em 90 minutos para depois perdê-la em 180 segundos. Dois anos mais tarde tiveram direito a desforra, mas foi um prémio de consolação para quem tinha chegado já ao ocaso definitivo da sua carreira. Sem terem sido tão influentes no jogo da Mannschafft como Hassler e Moeller, foram dois elementos importantes na narrativa histórica desse período. Effenberg pagou o preço de ser a reencarnação de Schuster, passando quatro longos anos afastado da selecção pela sua atitude rebelde, enquanto Basler foi forçado a viver na sombra de um Sammer reconvertido em herói depois de um Euro 96 que ninguém esperava.

 

Quando a carreira deste quarteto de ases chegou ao fim, curiosamente o futebol alemão notou-o profundamente. A meados da década de 90 já eram todos veteranos de mais de 30 anos e nos torneios seguintes mostraram-se incapazes de aguentar o ritmo dos seus rivais, mais jovens e ambiciosos. Mas não havia substitutos à altura e o seu mandato prolongou-se no tempo. Quando finalmente pareceu desenhar-se uma dupla de sucessor, o jovem Sebastian Deisler não aguentou a pressão e o promissor Michael Ballack preferiu tornar-se numa réplica de Matthaus abdicando das condições técnicas que o faziam ideal para ser o sucessor moral de Moeller e Hassler.

A Alemanha penou durante quase uma década até que o novo sistema táctico, treinado desde as categorias base, permitiu ao clubes colher uma seiva de novos talentos, os Ozil, Reus, Gotze e Muller que estão chamados a ser os máximos protagonistas desta década. Mas, desta vez, os heróis dos adeptos e da imprensa alemã deixaram de ser Khedira e Gomez, mas sim estes génios individuais, criativos e imprevisíveis  génios que deixaram para trás o rótulo de malditos que a geração magnifica da década de 90 teve de suportar enquanto o futebol alemão pensava que a época de glória ia durar para sempre.


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 22:24 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sábado, 26.07.14

O Em Jogo vai de férias até ao próximo dia 20 de Agosto.

 

Entretanto podem continuar a visitar o Futebol Magazine, quem mantém a sua programação habitual.

 

Para leitura de Verão, na praia, a recomendação obrigatória do Noites Europeias e dos Sonhos Dourados via Amor á Camisola.

 

Bom Verão a todos!

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:58 | link do post | comentar

Segunda-feira, 14.07.14

Prometeu muito, deixou pouco. O Mundial 2014 chega ao fim. Com ele a mais espectacular fase de grupos de que há memoria. E uma ronda a eliminar que foi descrendo de qualidade até alcançar uma final decepcionante. Foi um torneio de oito e oitentas, de guarda-redes fadados a momentos de glória e de estrelas globais abaixo do que prometiam. Um torneio que não deixa uma grande equipa, um grande jogador mas sim uma grande certeza. A queda da Espanha não significou o fim do tiki-taka e a sua Némesis defensiva vai encontrar sempre forma de continuar a morder-lhe os calcanhares.

 

No dia em que os oitavos-de-final arrancaram, com o drama entre Brasil e Chile, os adeptos de futebol estavam no céu. Tinham vivido quinze dias de uma intensidade única. Golos – muitos, de muitas formas e feitios – grandes exibições colectivas e individuais (sobretudo dos guarda-redes) e surpresas. Parecia que o torneio ia igualar as desigualdades sociais do Mundo e que os europeus seriam a chacota. O Brasil avançava a passo tremido para fazer história e o futebol perfumado das caraíbas encandeava mais que o jogo dos europeus. Um mundo ideal quase previa uma final Colômbia vs Costa Rica. Foi um sonho bonito. Mas curto. Quinze dias depois a sensação não podia ser mais distinta.

O torneio abandonou o seu ritmo de samba e entrou num longo e angustioso solo de Bossa Nova, lento e previsível. Os favoritos foram eliminando os rivais sem problemas de maior. As surpresas desapareceram e com elas a magia do momento. Os europeus que sobreviveram à purga inicial (principalmente uma purga de equipas mal preparadas) impuseram-se sobre os rivais sem dificuldades de maior. Pela primeira vez na história dos Mundiais fora da Europa a competição esteve a uma grande penalidade de ter os dois finalistas do “Velho Continente”. Lá se foi a justiça social. Os guarda-redes foram perdendo protagonismo (salvo se entraram para defender penalties) e os nomes do costume foram aparecendo. Mas a anos-luz do que sabem e podem fazer. Não houve uma grande série de exibições mágicas de um jogador nem um futebolista que se impusesse como figura icónica do torneio. O futebol moderno dá cada vez menos liberdade aos Ronaldo, Zidanes ou Romários – para não ir mais atrás no tempo – reclamar o seu lugar na história. A péssima qualidade das arbitragens só encontrou par no péssimo estado táctico e emocional do Brasil. Foi o descalabro numa semana de um espectáculo inesquecível. Depois de uma fase de grupos digna do México 86 ou Espanha 82 a competição a eliminar caiu ao nivel emocional de um Itália 90 ou Coreia do Sul-Japão 2002. E claro, dentro de tantos falsos mitos que fracassaram, um imperou sobre os demais. Sobrava a Alemanha.

 

O futebol germânico teve o merecido premio a oito anos de trabalho.

A aventura que Klinsmann começou mudou o curso quando Low se encontrou com Espanha. Em duas provas seguidas a Mannschaft caiu aos pés do tiki-taka. Foi suficiente para introduzir no seu próprio ADN o código de sobrevivência do futuro. Espanha pode ter sido a selecção mais decepcionante do torneio – continua a ter, quase posição por posição, um dos três melhores do Mundo – mas a sua herança manteve-se viva nos alemães. Uma equipa que teve altos e baixos evidentes no torneio, que sofreu – como os espanhóis – nos jogos contra equipas tacticamente organizadas na defesa, e que não tem um interprete singular mas um rosto coral de maravilhosos músicos capazes de tocar em harmonia absoluta. A Alemanha foi a melhor selecção colectiva do torneio sem ter sido, no entanto, uma selecção para a história. Pode perfeitamente este ter sido o ponto de inicio para uma nova era de hegemonia mundial, que o próximo Europeu confirmará ou não. Há muita juventude e opções de futuro para pensar nisso. Mas este pode ser também o titulo que coroa um trabalho que vem de longe e que merecia este reconhecimento. Os alemães deram um toque vertical ao tiki-taka espanhol (no fundo o mesmo que o modelo tinha na sua primeira encarnação e que Guardiola, um treinador mais vertical do que se pensa, exige no Bayern) e souberam ser eficazes nos momentos certos. Foram protagonistas do jogo mais marcante da competição (o melhor, esse, foi o Itália vs Inglaterra, duas equipas eliminadas o que diz muito da magia da primeira quinzena de torneio) e só esses sete golos ficarão seguramente para a história impressos com mais força que o titulo mundial. Foi a gesta do torneio, mas nem foi brilhante, nem foi a única.

O Mundial foi, sobretudo, um torneio previsível quando os astros se alinharam. Beneficiando de um cruzamento acessível desde a fase de grupos, a Argentina ultrapassou o seu Rubicão e chegou à final com pouco futebol e aplicando a antítese do tiki-taka que deixaria Mourinho orgulhoso. Marcaram poucos golos (nenhum finalista marcou menos na história na fase a eliminar, apenas dois golos em 430 minutos), defenderam bem e tiveram em Mascherano a sua figura. Messi esteve mal acompanhado no ataque e demasiado longe da área para criar perigo real. Lutou com as armas que tinha, manifestamente insuficientes. Na fase a eliminar não marcou nem decidiu nenhum dos jogos a favor da sua equipa e depois de uma boa primeira ronda eclipsou-se progressivamente. Na final passou de uma excelente hora de jogo a uma fantasmagórica exibição no prolongamento, vómito incluído. Não foi o seu Mundial a pesar de ter chegado à final. Olhando para o futebol argentino actual é possível que seja a única da sua carreira. No entanto, continuar a insistir que um jogador do seu calibre precisa de um titulo Mundial para ser grande é não conhecer a história do jogo. Messi é o jogador que define o futebol pós-2008 pelo seu jogo, não pelos títulos que conquistou.

 

Messi foi uma figura decrescente como todas à medida que o torneio avançava. Robben, Muller e James Rodriguez foram os mais constantes no brilho que deram a uma competição onde Neymar, Benzema e Suarez começaram por prometer muito mas, por motivos vários, deixaram de produzir à medida que passavam os dias. No fim da competição foram os Mascherano, Lahm ou Kroos que se fizeram indispensáveis. Os guarda-redes também passaram da magia da primeira ronda à sobriedade dos momentos difíceis.  O torneio foi perdendo a magia à medida que o Brasil deixava a nu todas as deficiências e equipas como a Costa Rica, Colômbia, Bélgica ou França diziam adeus. A Holanda manteve-se em competição mais pelo génio táctico de van Gaal e a excelente forma de Robben do que pelo mérito do seu colectivo. Os europeus, que começaram tão mal – Itália, Inglaterra, Portugal, Croácia e, sobretudo, Espanha – impuseram a sua vontade e pela primeira vez venceram um torneio fora do seu continente. Foi também a terceira vitória consecutiva da Europa deixando claro que se a alma do futebol está na América, a qualidade de jogo está na Europa. Será difícil mudar a tendência enquanto a desorganização nos gigantes continentais americanos, africanos e asiáticos continuar a imperar. No final impôs-se a justiça do campeão, premiou-se o esforço de uma Argentina escassa em talento e do trabalho táctico de um génio como van Gaal no pódio. As lembranças dos primeiros días foram engolidas no tempo, de tal forma que parecem a um Mundial diferente do que acabou. No entanto, um palco mágico como o Brasil seguramente tornará as coisas difíceis para os russos em 2018. Será difícil organizar um torneio com tanto simbolismo num país gigante mas desfasado do Mundo onde não há esse perfume de um futebol que já não existe a cada passadeira numa avenida rodeada de memorias e ilusões.  Porque afinal, mais do que um torneio entre países, o Mundial é precisamente isso, um pretexto, de quatro em quatro anos, para celebrar a essência deste beautiful game.

 

PS:  A polémica levantada pela eleiç4ao de Messi como jogador do torneio espelha bem a diferença do que é o Mundial de futebol, em campo, e o torneio organizado pela FIFA, nos bastidores. A competição deixou claro que a FIFA cometeu erros graves – equipas de arbitragem, política de venda de bilhetes, horários de jogos para beneficiar as televisões europeias, o circo à volta da suspensão de Suarez – à medida que o futebol em campo ia sobrevivendo.  Messi não precisa de um premio destes para se reafirmar pelo que é, um dos melhores jogadores de sempre. Mas este não foi o seu Mundial. Não foi um Mundial decepcionante, como em 2010, mas também não foi o torneio que fez seus. Face à ausencia de uma super-figura (desde Ronaldo que não há ninguém com esse simbolismo) o premio fazia muito mais sentido em James Rodriguez, Arjen Robben, Thomas Muller, Philip Lahm ou Javier Mascherano, cada qual representante perfeito de momentos e estilos próprios. Que o argentino não esteja no onze tipo do torneio de quase nenhum jornalista, técnico ou comentador que tenho lido nos últimos dias não surpreendem em absoluto. Como diz, por uma vez bem, Diego Maradona, o mediatismo da entrega do premio a Messi – prémios que nunca foram entregues desta forma circense – eclipsa cada vez mais a meritocracia que rodeia a essência do jogo. Provavelmente tanto ele como Cristiano Ronaldo, esse sim protagonista de um Mundial penoso, estejam no top 3 do próximo Ballon D´Or. O futebol, se é que alguma vez esteve, não tem nada a ver com estes prémios. Mas é preciso vender jornais e encher redes sociais. É o futuro (triste) do jogo.


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 21:37 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Quarta-feira, 09.07.14

Podem passar os anos. As gerações. Haverá momentos únicos, históricos. Viveremos torneios exibidos em novos suportes digitais. O mundo acabará mas os Mundiais continuarão a disputar-se noutra galáxia. O que nunca irá ser esquecido foi o vivido ontem em Belo Horizonte. Naquele que foi, muito provavelmente, o jogo mais importante da história do futebol desde o Inglaterra vs Hungria, entendemos definitivamente que o passado nunca volta.

 

Billy Wright e Tom Finney olhavam desconfiados para um jogador gorducho, cabelo impecavelmente penteado, meias altas. Não parecia um jogador de futebol profissional. Tinha mais aspecto de dono de bar de má reputação. Para esses dois símbolos do Rule Britannia o futebol consistia numa série de leis não escritas. No topo da lista estava a eterna invencibilidade dos ingleses. Os Pross já tinham perdido internacionais, mas sempre longe de casa. No tapete sagrado de Wembley eram invencíveis. Até àquela tarde. O jogador gorducho provou em campo que o futebol não era uma questão de credo, de raça, de coração. Era um jogo altamente sofisticado, cheio de burocráticos detalhes tácticos mas onde o génio individual tinha sempre de casar com o talento colectivo para forjar o triunfo final. Puskas mostrou aos ingleses que o futebol que eles tinham reinventado e dominado de forma insultante tinha chegado ao fim. Demonstrou-o diante dos seus olhos para não haver mais duvidas. A verdade é que há décadas que os ingleses não eram os melhores do Mundo, per se. Nos anos 30 a escola danubiana e a Itália tinham ocupado o seu lugar e do outro lado do Atlântico o futebol rioplatense tinha demonstrado estar, como mínimo, à altura dos insulares. Mas esses duas décadas tinham passado sempre debaixo de um fantasma de genuína admiração pelos ingleses. Viviam da glória passada, do seu jogo fascinante, das suas velhas lendas, como se bastasse vestir a camisola com os três leões, cantar o God Save the Queen e ganhar por direito divino. Os seis golos dos húngaros em Wembley acabaram com oitenta anos de hegemonia emocional inglesa. O império tinha chegado ao fim.

 

Foi isso que aconteceu em Belo Horizonte.

O mesmo fiel retrato dessa tarde de Londres em que o futebol se despediu entre lágrimas das suas origens e seguiu o seu caminho. Cinco anos depois da hecatombe inglesa, apareceu um novo império. Chegou com o mesmo fascínio original provocado pelos ingleses. O Brasil era tudo aquilo que a Inglaterra já não era mais tinha feito o mundo acreditar que sim. Tinha talento, organização, engenho, velocidade e jogadores capazes de roubar corações para a eternidade. O triunfo no Mundial de 1958 tinha sucedido ao drama do Maracanazo e à brutalização do futebol (já) canarinho em 1954. Nesse torneio, disputado na SUécia, começou a saga memorável dos brasileiros. Quatro anos depois o segundo titulo. Em 1970, debaixo do sol asfixiante do Azteca, o tricampeonato Mundial e a certeza de que não havia ninguém no Mundo que pudesse estar à altura da sua sombra. O Brasil tornou-se na nova Inglaterra. Era a segunda selecção de todos, a equipa que chegava sempre como favorita, mesmo em más horas. A que tinha um jogo inconfundível, aquela cujos adeptos podiam presumir de ser únicos e inimitáveis. A “amarelinha” tornou-se tão grande como os “leões”. O God Save the Queen foi substituído pelos batuques, passos de samba e gritos de ordem tropicais. A dinâmica emocional manteve-se. O Brasil perdeu, mais do que ganhou. Perdeu a jogar bem, perdeu a jogar mal. Chegou ao zénite do seu génio colectivo em Espanha, em 1982, baixou às profundezas oito anos depois com um modelo de jogo atrasado no tempo e desfasado no espaço do ADN brasileiro. Recuperou títulos e prestigio mas, como sucedia com a Inglaterra dos anos 30 e 40, já estava longe da sua insultante hegemonia. Foi-se tornando menos Brasil e o resto do Mundo fingiu que não o sabia e continuou a olhar e a assobiar para o lado por respeito a uma velha glória que sabe que os focos já apontam noutra direcção. Mas todas as velhas glórias mais tarde ou mais cedo se confrontam com a realidade. Em casa, diante dos seus, o golpe é sempre muito mais duro. Os ingleses só entenderam que o mundo tinha realmente mudado quando os húngaros destroçaram o seu lote de estrelas intocáveis em pleno Wembley. A humilhação em 1950 contra espanhóis e americanos passou ao lado da critica dos adeptos porque foi distante. O mesmo foi sucedendo com os dramas vividos pelas sucessivas encarnações de um decrépito Brasil. Até ontem.

No Mineirão os brasileiros procuraram sacar das mesmas armas dos ingleses. Houve o hino, o equipamento icónico e o fervor do público que ainda acreditava que existia uma vontade divina que tratava os futebolistas brasileiros como uma raça à parte. Do outro lado um rival que já vinha, como os húngaros, dando sinais nos anos anteriores que o seu caminho era outro. Mas um rival que, ainda assim, sabia que defrontava o Brasil no Brasil. O respeito impunha-se. Tudo isso acabou com o primeiro toque da bola na relva. O Brasil foi atropelado com uma facilidade insultante. Reflexo perfeito daquela tarde em Wembley. Thomas Muller e Toni Kroos reencarnaram em Ferenc Puskas e Nandor Hidgekuti. O Brasil limitou-se a pedir a ajuda dos ausentes, fantasmas antigos e novos criados na psique nacional como canalizador de desculpas. Os golos foram sucedendo-se a um ritmo de jogo de amigos. O estado de estupefacção era mais evidente do desnorte do que o avolumar do marcador. Os brasileiros não acreditavam que mesmo sem futebol, sem jogadores e sem colectivos o facto de ser o Brasil não os deixava isentos de uma noite assim. Os homens que se julgam Deuses olham sempre com descrença para o fatalismo que os espera. A Alemanha foi ela mesma, sem mudar uma vírgula, e bastou-lhe para ganhar. Não quis fazer sangue. O resultado pode enunciar o contrario mas os golos surgiram de forma tão natural que o difícil era não marcá-los. Tivesse a Alemanha jogado ao mesmo ritmo os noventa minutos e o marcador teria colocado o Brasil ao nível futebolístico do Guam. Era ontem o nível onde estava.

 

O fim do império britânico foi confirmado em Londres naquela tarde. Os ingleses ainda assim demoraram a dar-se conta. Meses depois foram a Budapeste perder por sete golos. Nos três Mundiais seguintes perpetuaram a sua fama de decadentes figuras de cera com resultados decepcionantes atrás de resultados decepcionantes. O titulo conquistado em 1966, a hegemonia dos clubes insulares na segunda metade dos anos setenta e o sucesso da Premier League serviram de consolo emocional. O resto do Mundo continua a olhar para a Inglaterra com uma reverência emocional que já não se confunde com respeito desportivo. O processo futuro  do Brasil tem tudo para seguir o mesmo caminho. Os problemas do futebol brasileiro são tão antigos como o tempo. Quando acabou a mágica geração dos anos cinquenta e sessenta, apareceram de novo os treinadores brutalizadores do esférico , os desastrados “cartolas” da CBF e no coração dos clubes. A Globo fez do futebol o aperitivo das novelas. A decadência em campo começou no próprio jardim de casa. Há mais de vinte anos, desde o São Paulo de Telé Santana, que não há uma equipa brasileira de clubes digna desse nome a nível de projecção global. Os jogadores foram sendo vendidos cada vez mais cedo, cada vez mais fora de tempo e o espírito da “ginga” e do “malandro” foi substituída pelo engrossar de legiões de operários made in Europa. A tudo isso a resposta da CBF foi a eleição de treinadores desinspirados ,de Carlos Alberto Parreira a Scolari sem esquecer os Zagallo, Menezes ou Dungas. Sem lideres fora e dentro de campo o futebol brasileiro tornou-se cada vez mais o fiel reflexo dos decadentes ingleses. O jogo de Belo Horizonte abriu definitivamente os olhos aos brasileiros e aos descrentes do Mundo.

O jogo bonito há décadas que não existe, ontem o que caiu ao chão foi a constante sensação de que, do nada, o Brasil pode voltar a ser o velho Brasil pelo simples desejo de sê-lo. Esses dias acabaram para sempre. O novo império está por entregar e será seguramente partilhado pelos herdeiros ideológicos do tiki-taka espanhol , alemão ou quem os queira seguir. O que é certo é que esta história chegou ao fim. E daqui a muitos anos os nossos filhos vão pedir-nos, â hora de ir para a cama, que lhes contemos essa fábula mágica do dia em que a Alemanha acabou com essa Camelot que um dia se chamou Brasil.


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:18 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Segunda-feira, 07.07.14

Houve grandes jogadores antes de Alfredo di Stefano. E houve grandes jogadores depois. Mas o argentino que se converteu em espanhol marcou o equador da história do jogo. Tudo mudou com ele, tudo mudou graças a ele. O futebol de hoje deve muito a um jogador que não cabia na mitica linha de ataque conhecida como La Maquina mas que marcou o padrão futuro de todos os grandes jogadores desde a sua chegada a Madrid. Alfredo di Stefano pode não ter tido o marketing e o poder mediático de vários astros. Mas pode perfeitamente ter sido o jogador mais importante da história do futebol.

 

Os recordes de Di Stefano são ridiculamente insultantes. Nunca ninguém marcou (e ganhou) em cinco finais consecutivas da Taça dos Campeões Europeus. É o homem que deu importância a uma competição que era um enigma quando foi criada. As Noites Europeias cresceram à sua sombra. O mesmo se pode dizer do Real Madrid. Clube importante mas ao mesmo nível do seu vizinho Atlético e dos rivais de Bilbau e Barcelona, o Madrid tornou-se Real com a presença do génio argentino. Depois de uma vitória pouco limpa num duelo na secretaria com o Barcelona, os “merengues” desfrutaram de quase uma década de momentos fantásticos de La Saeta.

Com ele ganharam tudo o que havia para ganhar vezes sem conta. E isso que DI Stefano chegou em Madrid, em teoria, no ocaso de uma carreira que teimava em arrancar. Apesar de admirar o astro paraguaio do Independiente, Arsénio De Erico, o jovem Alfredo queria realmente triunfar na linha de ataque de outro gigante de Buenos Aires, o River Plate. Mas apesar de ser já um grande jogador, o seu talento inato era insuficiente para romper a mítica linha conhecida como La Maquina. Durante anos o génio de Lostau, Pedernera e Labruna barraram-lhe a titularidade. Desesperado, experimentou jogar noutras paragens, do modesto Huracan ao Millionarios de Bogota, tomando parte na liga rebelde colombiana que agitou o futebol mundial nos anos cinquenta. Foi aí que o Real Madrid o conheceu, num amigável em Chamartin em que o jogador encandilou a Santiago Bernabeu.

O Barcelona já tinha feito a primeira jogada e enviado um emissário a negociar com o River Plate – clube ao qual oficialmente ainda pertencia – mas com a intervenç4ao habilidosa do General Moscardo, ministro dos desportos do governo franquista, Di Stefano acabou em Madrid. Durante oito anos foi o Madrid. Ao clube a quem tanto deu voltou como treinador. Pelo caminho tinha ficado uma saida pouco gratificante, um ultimo capitulo em Barcelona mas com a camisola do Espanyol e um trabalho como treinador notável no Valência. Foi ele que abriu caminho para a segunda reencarnação do Real Madrid, a “Quinta del Buitre”.

 

Di Stefano foi talvez o jogador mais importante de sempre.

Mas não o foi só por aquilo que ganhou. Cinco Taças dos Campeões Europeus, marcando em todas as finais (perderia a de 1963 contra o Benfica de um Eusébio que só queria a sua camisola), varias títulos nacionais, a primeira Taça Intercontinental. Tudo podia ser suficiente para o elevar aos altares do futebol. Nem sequer o facto de nunca ter disputado um Mundial (a Argentina não entrou em prova entre 1950 e 1958, altura em que já tinha a nacionalidade espanhola, com quem falhou esse torneio, eliminados na qualificação, e o seguinte, por lesão) merma a sua reputação. Di Stefano fez história por ser o paradigma por excelência do jogador moderno.

Em Buenos Aires foi superado pelos últimos grandes interpretes românticos do futebol rioplatense. Na mesma altura brilhavam na Europa génios como Mazzola, Mathews, Walter, Peyroteo, Kubala ou Puskas. Mas todos eles eram fieis reflexos do jogador da época. Poucos cuidavam o físico, tinham capacidade física para aguentar um jogo de noventa minutos em perpétuo movimento. A maioria jogava sempre na mesma zona de influencia e esquecia-se de que o jogo seguia quando a bola passava a linha do seu meio-campo. Eram mitos, todos eles por direito próprio, e actuavam como tinham aprendido e como era prática. Mas Alfredo foi mais longe. Desafiou as convenções e estabeleceu as bases do jogador do futuro.

Não tinha posição fixa em campo. Partia, no velho WM, da posição de nove, para ocupar todo o campo. Era habitual vê-lo a começar jogadas no seu meio-campo e acaba-las mais tarde. Jogava como avançado, extremo, lateral e médio organizador. Tinha um pulmão que nunca se cansava, fruto do seu exigente treino e elevado profissionalismo. Era um goleador feroz, um assistente privilegiado e um conhecedor profundo da dinâmica táctica de um jogo em evolução. Era um líder em campo e um autêntico ditador no balneário. Foi o primeiro jogador a ter poder suficiente para eleger e descartar colegas. Foi o responsável pela promoção de Gento e pelo afastamento de Didi. Com Puskas estabeleceu uma longa amizade e parceria apenas depois do húngaro – mais velho e fora de forma – ter entendido que teria de trabalhar para ele em campo. Num torneio da liga espanhola, com os dois jogadores empatados a golos na última jornada e a lutar pelo Pichichi, Puskas assistiu duas vezes o argentino que levou o premio e a glória, ainda estando em melhor posição para marcar. Foi o primeiro futebolista a entender que valia o seu peso em ouro e que era por ele que os adeptos acudiam em massa ao Chamartin. Graças ao seu peso mediático o Real Madrid transformou-se de um clube sem expressão europeia num mito do futebol mundial. Sem ele, provavelmente, os merengues seriam uma figura secundária ainda hoje.

 

Di Stefano pode não ter tido a brilhantes técnica de Pelé, a sagacidade intelectual de Cruyff ou o carácter indómito de Maradona, mas foi o precursor de todos eles como estrela global. Foi o primeiro mito vivo do jogo a ser conhecido universalmente, o primeiro herói de multidões consagrado pela televisão. O aparecimento da “Caixa mágica” coincidiu com o seu ocaso mas também com as suas vitórias com os Blancos. Tivesse sido filmado mais vezes e talvez hoje ninguém discutisse o facto de ser o melhor de todos os tempos. Mas as câmaras preferiram prolongar a magia de um jovem brasileiro chamado Pelé e Di Stefano passou para a história como o último herói de uma era em vez de ser, merecidamente, reconhecido como o primeiro de um novo mundo. Equador da história, foi o fiel reflexo de dois mundos em múltiplos sentidos. Nunca nenhum futebolista foi, alguma vez, mais completo ou fundamental em definir o futuro do jogo como ele. Os heróis de hoje, ainda que brilhantes, empalidecem em comparação com a sua lenda. Os que o antecederam, empequenecem debaixo da sombra de um jogador total. Essa é a grande verdade da vida de um homem que foi mais do que um futebolista. Alfredo di Stefano foi, na realidade, o Futebol.


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publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:20 | link do post | comentar | ver comentários (13)

Domingo, 29.06.14

Convocar jogadores com elevado risco de lesão? Estagiar longe dos paradigmas climáticos com que se iam encontrar os futebolistas? Chegar o mais tarde possível a um centro de estágio que não só era distante dos locais de jogos mas cujo clima era paradigmaticamente diferente? Ignorar o estado físico de jogadores em favor dos serviços prestados? Um desses erros, muitas vezes, é suficiente para causar a eliminação de uma equipa numa grande competição. Portugal, a Federação e o seleccionador, quiseram ir mais longe. Cometeram-nos todos.

 

Em 2010 o arrogante capitão português justificou a derrota contra a Espanha com um lacónico "perguntem ao Carlos Queiroz" aos jornalistas.

Parecia que tudo o que tinha corrido mal na África do Sul - quatro jogos, dois empates, uma derrota e uma goleada a uma das mais fracas selecções do torneio - se devia apenas á má gestão do treinador que perdeu Nani a poucas semanas do arranque da prova e que preferiu a meritocracia sobre o talento colectivo ao não convocar João Moutinho depois de uma temporada para esquecer. Portugal não jogou bem, caiu contra os futuros campeões com um golo no limite do fora-de-jogo, desenhado brilhantemente por Xavi e executado por Villa, num jogo em que os espanhóis tiveram muitos problemas em fazer valer a sua superioridade até á entrada de Llorente. Portugal saiu nos oitavos-de-final do torneio mas a culpa era, exclusivamente do seleccionador. No entanto, a seleção tinha realizado uma preparação física adequada. Havia pouca discussão entre os jogadores convocados, o centro de estágio foi escolhido de forma estratégica e apesar das evidentes limitações tácticas de Queiroz, pouco mais se podia esperar de uma geração que vinha de seis anos de "scolarismo" decadente.

De repente, em 2014, o ano da mais miserável participação portuguesa numa prova internacional, a culpa já não é do "Paulo", as criticas ao centro de estágio, ao estado físico de jogadores e ás omissões dos convocados já não fazem qualquer sentido. Como Cristiano Ronaldo, o mesmo que culpou o homem que tanto o ajudou em Old Trafford, preferiu assumir o complexo de pequenez - que não tem qualquer sentido no quadro competitivo da prova - de capitão das Quinas, instalou-se o silêncio incómodo. Poucos perguntam, poucos criticam, poucos querem saber mais não vão ofender um seleccionador que sabe que tem o lugar garantido apesar de ter tido a pior prestação da história do futebol português numa prova internacional. A cultura do amiguismo na imprensa e a impunidade do circuito Mendes e dos abutres que gerem a Federação sai impune do Brasil.

 

Portugal voltou para casa mais cedo porque tinha de voltar. Era impossível uma selecção que se recusou a assumir o mínimo profissionalismo para embarcar nesta viagem seguir em frente. Como sempre sucede, a incompetência crónica de um jogador acentuou a derrota. Se Ronaldo tivesse sido mais Ronaldo, Portugal podia ter seguido em frente e tudo isto seria escondido debaixo do tapete. Mas os golos falhados, incrivelmente, contra o Gana, foram suficientes para demonstrar que o "melhor do mundo" só o é quando está motivado pelo seu duelo pessoal com Messi lá para alturas da entrega do Ballon D´Or. Ronaldo foi um problema, nunca a solução, mas não foi, de longe, o único nem o mais grave.

A FPF funciona sempre mal em torneios longe da Europa. Foi assim no México 86 e na Coreia do Sul em 2002. É nessas viagens que se põe á prova o grau de incompetência do dirigismo português. O grande jornalista brasileiro Juca Kfouri habitualmente diz que Deus colocou no Brasil os melhores jogadores e os piores dirigentes. Juca conhece pouco Portugal. A FPF cometeu erros que uma federação distrital da Sibéria dificilmente cometeria. Renovou antes do torneio um seleccionador limitado, obstinado e sem nível para estar ao leme do navio. Preferiu uma tour para fazer ingressos nos Estados Unidos - os espanhóis e os ingleses, em 1950, fizeram o mesmo e pagaram o preço - em vez de uma adaptação longa e adequada ao difícil clima brasileiro. Elegeram um centro de estágio longe de todos os estádios onde Portugal jogaria - mesmo qualificando-se para oitavos - e com um clima diametralmente oposto ao que ia encontrar em Brasilia e Manaus. Permitiu um discurso paralelo constantemente entre o ambicioso capitão e o resto do plantel. Não o calou quando este sugeriu que este era o "ano de Portugal" nem o censurou quando o mesmo, quinze dias depois, tentou enganar os adeptos portugueses com um "há equipas muito melhores que nós".

Mas talvez o elemento mais grave de todos tenha sido permitir que a convocatória final fosse a que fosse. Na esclarecedora - para bom entendedor - conferência de Henrique Jones, ficou claro que muitos dos jogadores portugueses não estavam em condições físicas para disputar o torneio e que a propensão para contrair lesões era a mais alta de sempre numa convocatória oficial. Jones, médico da FPF, colocou o dedo na ferida deixando evidente que a FPF era conhecedora dos problemas que viriam caso Bento seguisse em diante com a ideia de enviar o seu pelotão de legionários coxos, cansados e prontos a desertar para a batalha mais importante da sua vida. Bento, sargento pequeno e sem sentido estratégico, caiu na ilusão que um pelotão que dois anos antes - com outra condição física, noutro cenário climatérico, dois anos mais novos - lhe tinha respondido bem em batalha o faria de novo. Porque sim. Sem mais.

Portugal foi a chacota da Europa á medida que as lesões se sucediam. Outros países, com ambições maiores, preferiram não arriscar. Ribery não viajou. Falcao também não. Ronaldo sim. E com ele vieram também Hélder Postiga, Nani, Fábio Coentrão Hugo Almeida, Raul Meireles, André Almeida, Bruno Alves, jogadores fisicamente em estado deplorável. Todos eles titulares, em algum momento. Uns acumulavam lesões da temporada exigente. Outros, pelo motivo oposto, tinham jogado tão pouco que ao minimo sinal de esforço romperam. Ronaldo, em pior estado que todos, insistiu em enganar tudo e todos, desviando a atenção para o penteado. O seu caso é o mais compreensível mas foi também o pior gerido. A FPF permitiu esse esquadrão de lesionados viajar sem forçar a mão do seleccionador. Depois, confirmou-o no posto, dando sinais de apoiar a sua politica de auto-destruição.

 

Bento é o principal responsável por esta lamentável campanha.

Mas ao contrário de António Oliveira em 2002 ou de Carlos Queiroz em 2010 não tem a imprensa a pedir-lhe a cabeça. É tratado com respeito e reverencia apesar de não ter acertado uma só jogada. Só a pressão mediática do grupo Mendes e o medo que grassa nos media portugueses o pode explicar. Poucos estão preparados a exigir uma solução exemplar como a de Prandeli, um treinador com muito maior exigência aos ombros que Bento, e com um resultado igual de decepcionante. Com ele foi também o presidente da federação italiana. Num pais onde a corrupção e o imobilismo é ainda maior que Portugal fica a lição para o futuro.

O seleccionador insistiu numa convocatória envelhecida, sem opções para todas as posições e mantendo o veto a alguns jogadores que lhe podiam ter sido úteis por questões de ego pessoal. Sabedor do estado físico de muitos não se entende a ausência de laterais dos convocados (Antunes, Duda, Eliseu, Cedric), a presença de um central como Ricardo Costa quando se pede sangue novo como Miguel Rodrigues, José Fonte ou Paulo Oliveira, e a sobrecarga de anos no meio-campo onde nem sequer William teve a oportunidade de entrar até ao último hurrah. Que um jogador do estado fisico de Miguel Veloso tenha sido titular em todos os jogos diz tudo o que é preciso saber de Bento. Em casa ficaram Adrien, André Gomes, André Martins, Daniel Carriço, João Mário e até um Tiago que pertence a essa lista de excluídos onde estão também Danny e Quaresma. O seleccionado português - que nem se demiti nem será demitido entre outras coisas porque tem o apuramento para o próximo torneio no bolso antes de começar a jogar já que um Europeu com 23 classificados numa confederação de 52 federações parece mais do que claro - nem sequer equacionou uma mudança táctica. As evidentes limitações de Ronaldo e a fundamental ausência de Coentrão tornaram o lado esquerdo da defesa portuguesa o corredor preferencial de alemães, americanos e ganeses. Uma situação que Ancelooti, em Madrid, resolveu pragmaticamente trocando o 4-3-3 por um 4-4-2 com Ronaldo com verso solto no ataque e um reforço posicional. William em campo (com Meireles escorado para a esquerda) teria resolvido a equação e dado liberdade a Moutinho, como se viu no jogo com o Gana, para pegar no jogo. Uma opção tão elementar que surpreende que não tenha sido sequer equacionada. É o nível de qualificações de uma equipa técnica que beneficiou de dois golos in extremis de Varela - em 2012 e contra os Estados Unidos - para não estar matematicamente eliminado de duas provas á segunda jornada de forma consecutiva.

O futuro da selecção portuguesa depende da vontade de mudar. É evidente que é nula. Não há demissões, nem nos cargos federativos nem no banco. A FPF continua a fazer-se de desentendida aos seus erros de amadorismo puro, encarnados na figura inconsequente de Humberto Coelho, o treinador que nenhum jogador respeitava em 2000. Bento fica e com ele ficam os seus. A entrada de caras novas será lenta, penosa e provavelmente condicionada aos agentes a que pertençam os jogadores como tem sido. Com ele ao leme será difícil ver a necessário mudança de guarda como Holanda, França ou Inglaterra fizeram neste torneio. Há um excelente grupo de jogadores que precisa de minutos como profissionais e internacionalizações para crescer. Um lote de dezenas de futebolistas á espera do seu lugar ao sol. Provavelmente terão de esperar mais dois anos até que alguém se dê conta, finalmente, que o mandato de Paulo Bento foi o mais nefasto da história do futebol internacional português.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:03 | link do post | comentar | ver comentários (19)

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