Segunda-feira, 07.07.14

Houve grandes jogadores antes de Alfredo di Stefano. E houve grandes jogadores depois. Mas o argentino que se converteu em espanhol marcou o equador da história do jogo. Tudo mudou com ele, tudo mudou graças a ele. O futebol de hoje deve muito a um jogador que não cabia na mitica linha de ataque conhecida como La Maquina mas que marcou o padrão futuro de todos os grandes jogadores desde a sua chegada a Madrid. Alfredo di Stefano pode não ter tido o marketing e o poder mediático de vários astros. Mas pode perfeitamente ter sido o jogador mais importante da história do futebol.

 

Os recordes de Di Stefano são ridiculamente insultantes. Nunca ninguém marcou (e ganhou) em cinco finais consecutivas da Taça dos Campeões Europeus. É o homem que deu importância a uma competição que era um enigma quando foi criada. As Noites Europeias cresceram à sua sombra. O mesmo se pode dizer do Real Madrid. Clube importante mas ao mesmo nível do seu vizinho Atlético e dos rivais de Bilbau e Barcelona, o Madrid tornou-se Real com a presença do génio argentino. Depois de uma vitória pouco limpa num duelo na secretaria com o Barcelona, os “merengues” desfrutaram de quase uma década de momentos fantásticos de La Saeta.

Com ele ganharam tudo o que havia para ganhar vezes sem conta. E isso que DI Stefano chegou em Madrid, em teoria, no ocaso de uma carreira que teimava em arrancar. Apesar de admirar o astro paraguaio do Independiente, Arsénio De Erico, o jovem Alfredo queria realmente triunfar na linha de ataque de outro gigante de Buenos Aires, o River Plate. Mas apesar de ser já um grande jogador, o seu talento inato era insuficiente para romper a mítica linha conhecida como La Maquina. Durante anos o génio de Lostau, Pedernera e Labruna barraram-lhe a titularidade. Desesperado, experimentou jogar noutras paragens, do modesto Huracan ao Millionarios de Bogota, tomando parte na liga rebelde colombiana que agitou o futebol mundial nos anos cinquenta. Foi aí que o Real Madrid o conheceu, num amigável em Chamartin em que o jogador encandilou a Santiago Bernabeu.

O Barcelona já tinha feito a primeira jogada e enviado um emissário a negociar com o River Plate – clube ao qual oficialmente ainda pertencia – mas com a intervenç4ao habilidosa do General Moscardo, ministro dos desportos do governo franquista, Di Stefano acabou em Madrid. Durante oito anos foi o Madrid. Ao clube a quem tanto deu voltou como treinador. Pelo caminho tinha ficado uma saida pouco gratificante, um ultimo capitulo em Barcelona mas com a camisola do Espanyol e um trabalho como treinador notável no Valência. Foi ele que abriu caminho para a segunda reencarnação do Real Madrid, a “Quinta del Buitre”.

 

Di Stefano foi talvez o jogador mais importante de sempre.

Mas não o foi só por aquilo que ganhou. Cinco Taças dos Campeões Europeus, marcando em todas as finais (perderia a de 1963 contra o Benfica de um Eusébio que só queria a sua camisola), varias títulos nacionais, a primeira Taça Intercontinental. Tudo podia ser suficiente para o elevar aos altares do futebol. Nem sequer o facto de nunca ter disputado um Mundial (a Argentina não entrou em prova entre 1950 e 1958, altura em que já tinha a nacionalidade espanhola, com quem falhou esse torneio, eliminados na qualificação, e o seguinte, por lesão) merma a sua reputação. Di Stefano fez história por ser o paradigma por excelência do jogador moderno.

Em Buenos Aires foi superado pelos últimos grandes interpretes românticos do futebol rioplatense. Na mesma altura brilhavam na Europa génios como Mazzola, Mathews, Walter, Peyroteo, Kubala ou Puskas. Mas todos eles eram fieis reflexos do jogador da época. Poucos cuidavam o físico, tinham capacidade física para aguentar um jogo de noventa minutos em perpétuo movimento. A maioria jogava sempre na mesma zona de influencia e esquecia-se de que o jogo seguia quando a bola passava a linha do seu meio-campo. Eram mitos, todos eles por direito próprio, e actuavam como tinham aprendido e como era prática. Mas Alfredo foi mais longe. Desafiou as convenções e estabeleceu as bases do jogador do futuro.

Não tinha posição fixa em campo. Partia, no velho WM, da posição de nove, para ocupar todo o campo. Era habitual vê-lo a começar jogadas no seu meio-campo e acaba-las mais tarde. Jogava como avançado, extremo, lateral e médio organizador. Tinha um pulmão que nunca se cansava, fruto do seu exigente treino e elevado profissionalismo. Era um goleador feroz, um assistente privilegiado e um conhecedor profundo da dinâmica táctica de um jogo em evolução. Era um líder em campo e um autêntico ditador no balneário. Foi o primeiro jogador a ter poder suficiente para eleger e descartar colegas. Foi o responsável pela promoção de Gento e pelo afastamento de Didi. Com Puskas estabeleceu uma longa amizade e parceria apenas depois do húngaro – mais velho e fora de forma – ter entendido que teria de trabalhar para ele em campo. Num torneio da liga espanhola, com os dois jogadores empatados a golos na última jornada e a lutar pelo Pichichi, Puskas assistiu duas vezes o argentino que levou o premio e a glória, ainda estando em melhor posição para marcar. Foi o primeiro futebolista a entender que valia o seu peso em ouro e que era por ele que os adeptos acudiam em massa ao Chamartin. Graças ao seu peso mediático o Real Madrid transformou-se de um clube sem expressão europeia num mito do futebol mundial. Sem ele, provavelmente, os merengues seriam uma figura secundária ainda hoje.

 

Di Stefano pode não ter tido a brilhantes técnica de Pelé, a sagacidade intelectual de Cruyff ou o carácter indómito de Maradona, mas foi o precursor de todos eles como estrela global. Foi o primeiro mito vivo do jogo a ser conhecido universalmente, o primeiro herói de multidões consagrado pela televisão. O aparecimento da “Caixa mágica” coincidiu com o seu ocaso mas também com as suas vitórias com os Blancos. Tivesse sido filmado mais vezes e talvez hoje ninguém discutisse o facto de ser o melhor de todos os tempos. Mas as câmaras preferiram prolongar a magia de um jovem brasileiro chamado Pelé e Di Stefano passou para a história como o último herói de uma era em vez de ser, merecidamente, reconhecido como o primeiro de um novo mundo. Equador da história, foi o fiel reflexo de dois mundos em múltiplos sentidos. Nunca nenhum futebolista foi, alguma vez, mais completo ou fundamental em definir o futuro do jogo como ele. Os heróis de hoje, ainda que brilhantes, empalidecem em comparação com a sua lenda. Os que o antecederam, empequenecem debaixo da sombra de um jogador total. Essa é a grande verdade da vida de um homem que foi mais do que um futebolista. Alfredo di Stefano foi, na realidade, o Futebol.


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Quinta-feira, 13.02.14

Sempre que penso em Moeller-Nielsen penso em Portugal. Penso na esperança de um futuro, não melhor. Mais feliz. Depois de uma década com uma selecção maravilhosa, viciada nas derrotas inesperadas, os dinamarqueses encontraram em Møller Nielsen o antidoto para a depressão. Foram campeões da Europa e não se perguntaram como e porquê. Não fazia falta. Depois de uma geração dourada pode sempre haver ouro. É preciso é saber como encontrá-lo.

Lembro-me de cada jogo do Euro 92. Consumi o torneio até à exaustão possível.

Caderneta de cromos completa (para quem não se lembra, a caderneta incluía a Jugoslávia), vídeo sempre preparado para gravar jogos, resumos e uma bola esfarrapada, destinada a ser chutada da mesma forma que as estrelas golpeavam debaixo do estranho sol sueco o esférico oficial do torneio. Lembro-me de tudo e no entanto, lembro-me pouco da Dinamarca. A razão é simples e prosaica. Não eram uma equipa para recordar. Jogavam pelo seguro, com quatro defesas duros, cinco médios rápidos e correctos e Brian Laudrup, livre de ataduras tácticas, só na frente. Sim, Brian. Os que adoravam a ideia de um triunfo dinamarquês faziam-no, seguramente, porque tinham na retina a mítica Danish Dynamite. Os anos dourados de Elkjaer, Simonsen, Lerby, Molby, os irmãos Olsen...e Michael Laudrup. Mas o maior génio da história do futebol nórdico não estava lá. Tinha preferido ficar na praia onde o resto da equipa se preparava para descansar depois de uma dura temporada. A suspensão da Jugoslávia, acabada de entrar em guerra, abriu uma vaga surpreendente para os dinamarqueses. Laudrup, que não suportava os métodos de Moeller-Nielsen, preferiu retirar-se temporalmente. Já imaginava um destino similar ao dos torneios anteriores. Enganou-se. Sem ele (também porque jogavam sem ele) os dinamarqueses sobreviveram a uma fase de grupos soporífera com a pior versão de sempre das selecções inglesa e francesa numa competição oficial. Apuraram-se como segundos, atrás dos anfitriões, aguentaram a soberba holandesa até ao penalties e confiaram tudo às mãos gigantes de Peter Schmeichel. Quando os alemães deram conta, já tinham perdido uma final que a Dinamarca não podia ganhar. Mas que tinha ganho. Moeller-Nielsen, o homem que atirou o futebol dinamarquês vinte anos atrás no tempo, foi coroado rei de Copenhague. O mundo ao contrário.

 

Se alguém pergunta a um adepto de futebol neutral com algum conhecimento da história do jogo quem foi o treinador mais importante da história do futebol dinamarquês, a resposta sai fácil. Sepp Piontek, alemão de nascimento, pegou num país onde o futebol era um desporto quase amador e transformou-o numa das maiores potências do continente europeu. Durante dez anos a Danish Dynamite fez o mundo sonhar. Mas um dinamarquês poderá ter outra resposta na ponta da língua. Poderá dizer que, para eles, esse homem foi Richard Moeller-Nielsen. O que faz uma vitória.

Nielsen era um treinador cinzento, sem grande inspiração. Apostava, sobretudo, na organização táctica do sector defensivo como pedra de toque das suas equipas. Era um homem precavido. Defender primeiro, atacar depois e com o menor número de toques a ser possível. Era um dos seguidores da escola britânica que tinha conquistado a Escandinávia nos anos setenta, entrando pela Suécia e chegando rapidamente até aos vizinhos noruegueses e dinamarqueses. A sua etapa ao comando da selecção dinamarquesa provou ser o apogeu dessa corrente. Foi durante esses anos que a Noruega chegou a ocupar o primeiro posto do ranking FIFA, participando em dois Mundiais consecutivos. E que a Suécia, depois de três décadas cinzentas, chegou a duas meias-finais de competições internacionais. Era o renascimento do futebol nórdico a partir de um ideário táctico e emocional em tudo distinto ao que celebrizou os dinamarqueses dos anos oitenta. Mas compensava. Com dois títulos - o Euro 92 e a Taça das Confederações de 1995 - Moeller-Nielsen deu ao povo dinamarquês o que nunca tinham tido: sucesso. A "Geração Dourada" tinha ficado presa na nostalgia romântica dos anos 80. Eram bons, muito bons. Tinham o apoio dos adeptos neutrais internacionais. Mas não sabiam ganhar. De repente, uma geração repleta de ilustres desconhecidos, onde o jovem Laudrup, Kim Vilfort e Schmeichel eram as figuras de proa, aparece do nada e a partir da ordem, da organização defensiva e do trabalho colectivo começam a ganhar. Uma redenção emocional como houve poucas na história do futebol mundial. A eliminação na fase de qualificação para o Mundial de 1994 (uma derrota em Sevilha com a Espanha, a besta negra dos dinamarqueses) e um pobre Euro 96 (graças, a entre outros, a cabeça de Sá Pinto) acabaram com o reinado de Moeller-Nielsen. A sua carreira caiu em picado porque a sua fórmula era limitada, pouco inspiradora e estava datada. Com um ar mais ofensivo, com Laudrup de novo ao leme, os dinamarqueses realizaram um brilhante Mundial de 1998 e qualificaram-se para os quatro torneios seguintes. Mas o seu papel na história não pode ser esquecido. E serve de aviso. Principalmente para países como Portugal.

 

Eternos derrotados, os portugueses já sofreram o fim de três "Gerações de Ouro". Aconteceu no pós-66, no pós-86 e depois de 2006, quando ficou evidente que nem a união do melhor dos meninos de Riade e da Luz com o FC Porto de Mourinho e a aparição de Cristiano Ronaldo era suficiente para apagar as mágoas. Para muitos adeptos a sentença final estava dada. Se nem com esta equipa a selecção portuguesa vencia, nunca seria a hora. Mas talvez isso fosse o que pensavam os dinamarqueses. Antes de 1992, antes de Moeller-Nielsen. Ele é o exemplo perfeito de que um treinador sem chama nem brilho pode encontrar um atalho para o sucesso pelas vias mais inesperadas. Provavelmente, no futuro, ninguém se lembre dele em comparação com o romantismo da geração anterior. Mas no livro de história só há um selecionador dinamarquês campeão da Europa. E é ele. O homem que hoje nos deixou para sempre e cujo o legado será sempre analisado com a suspeita de quem não se lembra sequer de se o seu cromo aparecia na colecção oficial!



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Sábado, 01.02.14

Toca-a outra vez. Quando ninguém dava por eles, quando ninguém acreditava. Toca-a outra vez. Quando os bajitos estavam na lista de transferíveis e os "todocampistas" enchiam as capas de revistas. Toca-a outra vez. Com a moral pelo chão, com as angústias do passado ao virar da esquina. Toca-a outra vez viejo! Luis Aragonés reinventou o futebol espanhol misturando a sua herança histórica, que sacou das entranhas de um país farto de desilusões, com as melhores inovações tácticas da escola centro-europeia que aterraram no país. O elo perdido numa história de desencontros que se fez magia, uma noite em Viena.

Luis nunca esqueceu o tiro que Sepp não soube parar. O tiro perfeito. O livre indefensável que ia acabar com a hegemonia espanhola do Real Madrid na competição que os merengues diziam ser sua por direito divino. A bola entrou, os colchoneros celebraram. O título parecia seu. Cedo demais. Reina, mais entretido em fazer-se fotos do que em estar atento aos últimos lances do encontro, não soube parar o remate desesperado de Schwarzenbeck. Uma bola que nunca devia ter entrado. Mas que custou a Aragonés o título que lhe faltava no dia do seu adeus.

Esse foi o momento que talvez passou pela cabeça do Sabio de Hortaleza quando Torres e Lahm correram a disputar o mesmo esférico. Ao seu lado, no banco, o filho do seu velho amigo Reina susteve a respiração. El Niño foi mais rápido, mais ágil e mais eficaz. Desta vez os alemães teriam de ver como Aragonés, sobre todos os outros, levantava o troféu. Outra taça, certo, mas o seu ajuste de contas pessoal. Despedido antes da competição ter sequer arrancado, sabia que era outra forma de dizer adeus. Em Viena ninguém lhe estragaria a festa. A sua obra estava completa, a trajectória como jogador reivindicada como técnico. A história teria de memorizar o seu nome, quer quisesse quer não. Podia ir em paz.

Luis Aragonés foi o homem que redefiniu o Atlético de Madrid da era de Vicente Calderón. Como jogador e como treinador permitiu ao clube manter uma identidade emocional própria numa época em que o seu rival a norte de Madrid parecia invencível. Com as suas declarações polémicas, carácter indomável e espírito guerreiro, Luis uniu a paróquia à volta de uma ideia comum. A fortuna nunca lhe acompanhou como merecia nas suas sucessivas etapas no banco do Manzanares. Mas ninguém naquelas bancadas se esqueceu do seu contributo. A história do futebol, essa, lembrar-se-ia dele por uma invenção inesperada que roubou o coração do Mundo. Pela sua simplicidade, romantismo e honestidade. Um comentador desportivo chamou-lhe tiki-taka. Para Luis era apenas o velho espírito espanhol aliado com o que melhor holandeses e jugoslavos tinham trazido para o país através de treinadores como Michels, Cruyff, van Gaal, Boskov ou Miljanic. Um estilo de jogo que não abdicava dos princípios emocionais da "Fúria" mas que lhe dava critério, pausa e sabedoria. Um modelo que fazia da bola e não dos ídolos das bancadas, o protagonista principal. Aragonés podia suspeitar mas não saber que a sua invenção dominaria o mundo do futebol com uma frieza germânica. Tudo começou na sua cabeça.

 

A vida de Luis foi marcada por episódios conflitivos.

As declarações racistas sobre Henry como forma de motivar a Reyes. A exclusão dos pesos-pesados da era Clemente e Camacho da selecção, a começar pelo "intocável" Raúl Gonzalez. A sua crença absoluta nos "bajitos", jogadores que então eram desprezados pelos seus próprios adeptos. Enquanto o Camp Nou assobiava a Xavi Hernandez e a direcção pensava em vendê-lo ao AC Milan, o técnico fez dele a sua bússola. O pequeno Iniesta, que alguns pensavam que não tinha lugar no meio-campo catalão, foi o seu joker. Com eles chegaram também os Silva, os Cazorla, os Alonso e os Fabregas à selecção que ele insistiu de chamar de Roja. A sua senha de identidade, da mesma forma, dizia, que os brasileiros eram a canarinha e os argentinos a albiceleste. Sem conotações políticas. Aragonés tinha vivido a Transição e sabia que no seu tempo essa expressão estaria condenada. Com ele, e a sua teimosia, o país aprendeu a aceitar a palavra que definia o seu combinado nacional. O que não tinha medo de confiar o meio-campo a um brasileiro reconvertido. O que permitia a Sérgio Ramos as suas loucuras. O que decidiu ignorar as velhas guerras Madrid-Barça para forjar um selo de união que ainda hoje perdura, para lá de todas as tentativas da imprensa e de treinadores de quebrar o elo. Sobretudo, uma selecção que aprendeu a tocar a bola como nenhuma outra. Onde se jogava por valor e não por estatuto. Um esquema que começou a desenhar-se no Alemanha 2006 e que foi traído pelo último sopro de vida de Zidane. E que se fez mito nos campos austríacos que testemunharam como o futebol se decidia finalmente a ajustar contas com Espanha. Na meia-final, talvez o melhor jogo de toda a geração do tiki-taka, os ambiciosos e refrescantes russos foram atropelados por um vendaval de futebol de ataque. Organizado, coordenado, pensado. Mas ambicioso, vertical e letal. O fantasma dos quartos tinha ficado para trás e com ele todos os complexos. Em Viena, dias depois, os alemães não assustaram como antes provavelmente teriam feito. Espanha para conquistar a Europa aprendeu a conquistar-se a si mesma. Aprendeu com ele, o homem que não tinha nada a ganhar e nada a perder.

 

Depois da selecção veio a polémica. Alguma imprensa tentou ajustar contas com anos e anos de palavras secas, frases polémicas e decisões contestadas. O novo staff dirigente da selecção, capitaneado por Del Bosque, manteve-se respeitoso com o passado mas foi a pouco e pouco alterando o ADN impresso por Luis e Espanha tornou-se mais eficaz mas menos espectacular. Com esta nova abordagem veio o Mundial nunca ganho e o terceiro Europeu da história. Mas também uma certa aura de desencanto sentida pelos próprios espanhóis que tinham aquele Junho austríaco na memória. Aragonés, sempre polémico, preferiu o silêncio. Tinha conseguido o mais difícil em campo e não estava disposto a voltar a ser protagonista por algo que não fosse Viena e os seus "Bajitos". Silenciosamente aceitou ser o Quixote da saga nos seus campos manchegos de moinhos de vento endemoniados. Um Quixote que ensinou um país a gostar de si mesmo com a sua franqueza e que demonstrou que o futebol se podia jogar de mil e uma formas, sem dogmas. Depois veio Guardiola, o anti-guardiolismo, a frieza italiana de Del Bosque, o mourinhismo e tudo serviu para atacar a sua herança. Mas quem viveu na pele a euforia de celebrar a sua Espanha em 2008 sabe que hoje partiu um dos homens mais importantes da história do futebol europeu. Só por isso vale a pena dizer uma vez mais, "Gracias, viejo".



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:26 | link do post | comentar

Segunda-feira, 28.11.11

Por cada estrela planetária há uma centena de jogadores anónimos para a maioria dos adeptos mas que representam muito uma pequena parte dos amantes do beautiful game. Jogadores que fintam as adversidades com o que têm e que dão o que não têm para deixar a sua marca no tempo. Gary Speed, esse incombustível herói de muitas tardes, era um desses mitos anónimos estranho para muitos, tão familiar para mim...

Não quero saber como Speed morreu. Basta-me saber como viveu, como jogou!

Ouço boatos e prefiro guardá-los no caixote, debaixo desses mais de 500 jogos que disputou na Premier League. O primeiro a lográ-lo antes de que o veteraníssimo David James lhe roubasse o recorde. Talvez o único que detinha. Como se a ele isso lhe importasse algo. Speed era a antítese do seu nome. Jogador calmo, pausado, um box-to-box profundamente vertical mas que sabia jogar com critério, que encontrava sempre o passe certo para resolver a tarde. Tinha a garra e força de qualquer galês, esse espírito de guerreiro que transportou ao longo dos seus 20 anos como futebolista profissional. Mas possuía igualmente uma inteligência de jogo que nunca foi muito comum nas ilhas britânicas, essa capacidade de ler e pensar o jogo parando o tempo e medindo o espaço. Sem ser um jogador dotado de uma grande técnica (como foi, por exemplo, Mathew Le Tissier) ou um de uma superlativa visão de jogo, encontrava sempre o tempo certo para aparecer.

Doi-me a ausência de Speed quando relembro as tardes que passamos juntos, separados por tantos kilómetros, unidos pelos raios que saiam da televisão em forma de imagem onde o redescobria de branco, azul e amarelo ao lado desse tridente histórico composto por David Batty, Gary McAllister e Gordon Strachtan. Juntos formaram o miolo do Leeds United de Howard Wilkinson, o mesmo Leeds que devolveu à glória e aos titulos uma cidade murcha desde os dias de Don Revie.

O mediatismo do triunfo foi todo para um superlativo Eric Cantona - que não suportava nem o técnico nem os colegas - mas o trabalho duro desse último ano da First Division, desse despedir de uma era, pertenceu todo a essa linha de quatro onde Batty defendia, McAllister dava o último passe, Strachan emprestava veterania e Speed, um jovem Speed, estava por todos os lados. Esse titulo foi o primeiro e também o último da sua carreira. E no entanto a sua vida, de bola nos pés, estava apenas a começar.

 

Quando essa equipa histórica do Leeds se desfez (até que chegou O´Leary e a sua promissora juventude) mudei-me com Speed para Goodison Park onde o seu talento foi confirmado e reforçado. Capitão ao segundo ano no histórico conjunto dos Toffees, o galês encarnou à perfeição o espírito combativo de Howard Kendell mas foi com o treinador que começaram as desavenças que, em 1998, o levariam a norte a juntar-se ao projecto quase megalómano do Newcastle de Kenny Dalglish. Depois da ressaca da era Keegan (com dois titulos perdidos perto do fim), o técnico escocês procurou alguém que tivesse a calma necessária para trazer estabilidade a um onze demasiado balançado para a frente. Mas com a saída de Kenny e a chegada de Gullit e o seu "sexy football", o papel de Speed em St Jame´s Park, onde era mais um operário no meio de uma constelação de egos, viu-se relegado para um injusto segundo plano que pautou toda a sua passagem pelo Tyneside.

Como sempre - e como sucedia nos seus dias com a camisola vermelha de Gales ao lado do flamante Ryan Giggs com quem combinou sempre tão bem, e tão sós estiveram - lutou, impôs-se, brilhou sem ser espectacular, foi visto e deixou-se ver com remates colocados de segunda linha, livres directos implacáveis e um pulmão inesgotável.

Quando a sua etapa em Newcastle chegou ao fim, nova viagem e lá fomos para Bolton, talvez a primeira equipa inglesa a entender o jogo continental como algo mais que uma pura excentricidade. Speed foi contratado pela experiência mas, sobretudo, pela calma que transmitia ao jogar e ao lado de Sam Allardyce. O seu impacto junto dos colegas e adeptos foi tal que a direcção o convidou como técnico interino quando o manager abandonou o Reebok Stadium. Um primeiro passo rumo aos bancos que durou pouco. A bola ainda rolava na sua mente com demasiada insistência e Speed preferiu voltar ao tapete verde do que a manter-se comodamente sentado à espera de ver os dias passar. Primeiro em Bolton e depois em Sheffield matou a fome, mas a idade (39 anos) e as dores de costas, fizeram com ele o mesmo que com outros grandes. Disse-lhe adeus mas mantive-o debaixo de olho em Brammall Lane e depois em Cardiff, onde tomou conta do destino de um histórico que desde os anos 50 não participava numa grande prova internacional. O seu trabalho como seleccionador galês foi, todos o sabemos, impecável. Pela primeira vez em mais de duas décadas, Gales baixou do número 50 do ranking FIFA e o sorteio para o Mundial do Brasil parecia levantar sustentadas esperanças de um feito histórico. Bellamy, Bale e Ramsey convidavam a isso mesmo. Speed mais.

 

Enquanto o mundo de futebol se dedica a homenagear, a aplaudir de pé um desses heróis esquecidos, um desses guerreiros inombráveis, eu lembro-me de Speed com a mesma clarividência com que me fui cruzando com ele. Aquele remate colocado frente ao Norwich. O golo de cabeça que desmontou a defesa do Newcastle. O tiro indefensável que deu longos pesadelos a Peter Schmeichel. Essas correrias sem fim, essas tardes de sol, essas noites de chuva, essa eterna lembrança. Os jogadores de futebol não morrem, apenas eternizam esses longos 90 minutos...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:51 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Quinta-feira, 30.12.10

Israel ainda não é um país muito dado à magia do desporto-rei. Apesar das boas sensações do Hapoel Tel-Aviv, poucos são capazes de contar pelos dedos das mãos as principais figuras do futebol jogado pelos filhos das doze tribos. Mas essa odisseia, como a marcha de Moisés, teve um inicio. Nos pés de Avi Cohen, um lateral capaz de fazer a diferença, um jogador capaz de ultrapassar barreiras insondáveis, um profeta antes do tempo...

 

 

 

Há uns anos o mundo maravilhava-se com os golos de Revivo, então a grande estrela do melhor Celta de Vigo da história. Recentemente o You Tube ofereceu aos mais incautos os talentos de um tal Gui Asulin, que o Barcelona não quis guardar e que acabou na folha de pagamentos dos árabes - e viva a ironia - do Manchester City. Pelo meio estão os nomes que ninguém se lembra, as gestas inombráveis e os clubes que todos confundem com os rivais cipriotas, gregos ou turcos. É essa a sina do futebol de um país encrustado nas provas europeias para não ter de defrontar a cada duas por três os seus vizinhos árabes. Uma decisão politica que pouco fez para alterar o futebol em Israel e pouco impacto causou no circo europeu.

Quando a liga israelita ainda era totalmente amadora, o Liverpool, rei da Europa e do Mundo, do incumensurável Bob Paisley, espetou uma lança no coração de Tel Aviv e recrutou o primeiro de uma curta linha de profetas que ainda não fez do país criado à medida da diáspora hebreia, uma potência futebolistica.

Avi Cohen era um defesa de primeiro nível. Capaz de entrar no onze mais admirado do futebol europeu do final da década de 70. Nascido no Cairo, quando os pais procuravam forma de entrar no recém-criado estado israelita, cresceu na capital Tel Aviv, onde começou a actuar pelo Maccabi local. Rapidamente emergiu como uma das grandes figuras da liga local, vencendo duas ligas consecutivas, e chamou a atenção de alguns olheiros europeus. O Liverpool tomou a dianteira e contratou-o por 200 mil libras, valores significativos para um defesa à época.

 

Em Anfield Road moravam os melhores entre os melhores e Cohen demorou a entrar no onze titular.

Na equipa onde Dalglish era o farol, Johnson o goleador e Souness a alma viva, o israelita tornou-se num elemento importante da manobra defensiva, feudo de Thompson, o veterano capitão. Na sua primeira época o israelita entrou para a história dos Reds com um inusual e oportuno golo no derradeiro encontro frente ao Aston Villa. Um tento que deu o titulo aos de Anfield diante do eterno rival Manchester United, terminando com o curto reinado do Nottingham Forrest de Brian Clough. O golo valeu ao israelita um imenso prestigio na sua terra natal mas no ano seguinte Cohen tornar-se-ia persona non grata para a sociedade israelita ao aceitar jogar no Yom Kippur, dia sagrado para os hebreus. O Liverpool jogava em Southampton e o lateral jogou no empate a duas bolas contra uma equipa então liderada por Kevin Keegan. Os adeptos reconheceram-lhe o gesto mas no final da época um par de lesões e a ascensão meteórica de Alan Kennedy, autor do golo da vitória do Liverpool na final da Taça dos Campeões contra o Real Madrid, fecharam-lhe as portas de Anfield.

Cohen voltou então ao seu Maccabi antes de terminar a carreira em Glasgow, onde actuou durante duas épocas ao serviço do Rangers por convite pessoal do seu velho amigo dos dias à beira do Mersey, Graeme Souness, então treinador-jogador dos escoceses. O internacional israelita - jogou 51 vezes pelo seu país natal, um recorde à época - pendurou definitivamente as botas em 1990 e tornou-se primeiro técnico e mais tarde presidente da Associação de Jogadores Israelitas.

 

 

 

Considerado unanimemente como um dos maiores desportistas da história de Israel, Avi Cohen não sobreviveu aos ferimentos de um acidente de moto e depois de dias de incertidumbre, acabou por falecer. Das bancadas de Anfield ao Rebook Stadium de Bolton, onde o seu filho joga actualmente, passando por cada recanto de Israel, a sua morte sentiu-se profundamente. Afinal, ele foi o primeiro profeta de uma nação por descubrir. Um profeta que sabe que nunca caminhará só...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 00:45 | link do post | comentar | ver comentários (8)

Sexta-feira, 03.09.10

Pediu uma vez que o deixassem sonhar mas a memória atraiçoou-o e reservou-lhe um final que não se merecia. José Torres, o eterno "Bom Gigante", figura chave do futebol luso, faleceu hoje aos 71 anos, depois de uma longa e perdida luta contra o Alzheimer. Passou pela era dourada do futebol luso como uma das suas máximas estrelas acabando por testemunhar o final de um dos maiores pesadelos da história do futebol português.

Uns recordarão o Torres técnico, e as suas esperançosas declarações previas à viagem de Estugarda que garantiu o histórico regresso de Portugal a um Mundial. Outros lembram-se dele no primeiro Campeonato do Mundo de Portugal, dos seus golos, assistências e gestos técnicos primorosos. Em qualquer caso, Torres foi uma figura impar.

O ponta de lança que o SL Benfica contratou em 1959 ao Torres Novas fez parte da equipa encarnada que dominou por completo o futebol português nos anos 60. A sua altura (media 2 metros e 3 cm) garantiu-lhe o apelido que o eternizaria, mas a verdade é que durante três anos foi presença mais assidua na equipa de reservas do que no onze tipo daa equipa treinada por Bella Guttman. Depois do triunfo europeu de Berna, Torres passou a ser figura chave na estrutura ofensiva encarnada, rendendo a pouco e pouco o histórico José Águas. Ao lado de Eusébio, António Simões e José Augusto, compôs a mágica dianteira que venceu seis ligas nacionais em oito anos e chegou a três finais da Taça dos Campeões Europeus, todas perdidas. Na sua primeira época como titular absoluto apontou 26 golos, o que lhe valeu então a Bota de Prata, prémio que não voltaria a vencer apesar de ter estado perto dos números atingidos pelo seu parceiro de ataque, Eusébio.

Em 1963 Torres foi pela primeira vez chamado à selecção nacional, onde rapidamente reeditou o quarteto ofensivo que maravilhava o estádio da Luz. Com essa linha atacante Portugal chegou a Inglaterra e tornou-se no conjunto revelação do torneio. Durante a prova Torres sagrar-se-ia como o segundo melhor marcador da equipa portuguesa, com 3 golos, só atrás de Eusébio. No final da década de 60, com as chegadas de Toni e Artur Jorge, começou a revolução geracional que ditaria o final da etapa do "Bom Gigante" na Luz. Determinado a demonstrar a sua valia, o dianteiro rumou ao Vitória de Setúbal, então orientado por Fernando Vaz.

 

Em 1971 chegou ao Sado onde disputou quatro épocas com os sadinos, conseguindo aí as suas últimas convocatórias para a equipa das Quinas, despedindo-se num Portugal-Bulgária de 1973, curiosamente no mesmo dia que os seus eternos parceiros, Simões e Eusébio. Depois da aventura em Setúbal, Torres retirou-se definitivamente do futebol ao serviço do Estoril-Praia, em 1980. Aí arrancou igualmente a sua carreira como treinador principal.

Orientou o Estrela da Amadora, Varzim e Boavista antes de ser chamado, surpreendentemente, em 1984 para o cargo de seleccionador nacional. A Federação Portuguesa de Futebol procurava um técnico de baixo perfil depois dos graves problemas vividos pelo quadriuvirato composto por Toni, Morais, José Augusto e Cabrita durante o Europeu de França. A escolha do simpático Torres tinha como principal propósito, desanuviar as tensas relações entre a FPF e os jogadores, e entre os atletas do Benfica e FC Porto. Um trabalho nada fácil que teve de ser compaginado com a dura qualificação para o Mundial de 1986. Depois de vários resultados adversos, Portugal beneficiou da sorte, com a derrota da Suécia diante da Checoslováquia o que levou o técnico a proferir a célebre frase "deixem-me sonhar" à partida para Estugarda. Portugal precisava de ganhar à já apurada RF Alemanha e assim o fez, com um remate monumental de Carlos Manuel. Conseguido o apuramento, voltaram os problemas. Em Fevereiro de 1986 começa a gestar-se o que viria a ser a base do caso Saltillo, circunstância em que o seleccionador nunca soube impor a sua voz. Falhou como o mediador que a FPF e os jogadores precisavam e falhou depois no terreno de jogo. Após a vitória inaugural contra a Inglaterra, num jogo em que Portugal foi claramente inferior, e das declarações explosivas de Paulo Futre, o seleccionador perdeu o controlo da situação e Portugal viu-se superado por Polónia e Marrocos. À chegada a Lisboa a equipa federativa não lhe perdoou a falta de apoio no conflito com os jogadores e Torres foi despedido.

A partir daí a sua carreira tornou-se errática até que abandonou, definitivamente, o futebol quando lhe foi diagnosticado um principio de Alzheimer que marcou profundamente os seus últimos anos de vida. A morte de um dos melhores pontas-de-lança do futebol marca assim o dia que deveria significar um renascimento da equipa nacional por quem tanto lutou. Quanto a José Torres, o jogador e o técnico, há muito que garantiu o imortal lugar na história do nosso futebol. Como poucos lograram antes dele.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:22 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 15.02.10

Não entra nas listas dos grandes treinadores. Nem sequer dos grandes jogadores. Mas foi uma das figuras incontornáveis da história do futebol espanhol dos últimos 60 anos. Faleceu aos 84 anos esse operário que o Santiago Bernabeu nunca esquecerá. Nunca antes, nem depois, houve um homem tão comprometido e dedicado com o clube como ele. Luis Molowny foi, sem dúvida, um homem para todos os oficios.

Saiu dos relvados quando o Real Madrid começava a forjar o seu mágico historial. Deixou saudades num estádio rapidamente rendido às novas estrelas galácticas de Santiago Bernabeu. Mas voltou. Várias vezes. Sempre para servir como bombeiro. Talvez o maior dos apaga-fogos que o futebol espanhol conheceu. Não era fácil ser-se Molowny mas o canário lograva-o com bastante êxito. Soube sempre viver acima das expectativas que criava cada vez que o seu telefone tocava e do outro lado alguém lhe pedia para salvar a casa merengue. Logrou-o sempre e, no entanto, acabou por ser o eterno preterido face a outros nomes de maior prestigio. Se tivesse tido a confiança dos presidentes madridistas, a começar pelo próprio Santiago Bernabeu, talvez tivesse passado duas décadas ao leme do clube espanhol. Mas não. Foi e veio como um fiel ajudante que não sabia dizer que não. E o tempo, o historial, a memória, acabou sempre por falar mais alto. Como treinador principal conquistou três ligas espanholas, duas Taças UEFA e duas Copas del Rey. Tudo isto em apenas cinco anos. Isso, sim, bem espaçados no tempo. Como a sua memória.

 

Conta a história da eterna guerra entre Real Madrid e Barcelona que Molowny assinou pelos brancos porque Santiago Bernabeu, uma velha raposa, enviou o seu representante de avião até às ilhas Canárias onde o jovem "Mangas", como era conhecido, começava a dar nas vistas como interior direito. Quando o emissario do Barcelona chegou - tinha viajado de barco - já o contrato estava assinado e a caminho de Madrid. A estreia seria semanas depois com um golo de cabeça. Contra o Barcelona.

Como jogador merengue Molowny fez parte de uma geração histórica que fez a ponte entre a equipa do final dos anos 40 e aqueles que viriam a reinar na Europa. Titular absoluto, fez com Di Stefano uma bela dupla que ganharia duas ligas e a primeira Taça dos Campeões da história do futebol. Já internacional pela Espanha - estreou-se numa vitória por 5-1 contra Portugal em 1949 - o médio foi forçado a retirar-se com a chegada à constelação de estrelas no estádio Chamartin de Kopa e Rial. Voltou às suas Canárias e começou a trabalhar na carreira como treinador. Depois de provar as camadas jovens surpreendeu tudo e todos ao assumir o controlo do modesto Las Palmas. Com o conjunto canário fez história no final dos anos 60. Durante dois anos consecutivos lutou até ao fim pelo titulo, algo inédito nos amarelos. Em ambos os casos saiu derrotado no último jogo. A fama de homem justo e sério que tinha no relvado acompanhou-o para o banco e em 1974, com Santiago Bernabeu a viver mais uma crise desportiva, foi chamado ao velho Chamartin para tomar conta da equipa. E começou uma longa história de honesta servidão.

 

As equipas de Molowny jogavam, acima de tudo, um futebol aberto e ofensivo. Não eram primores da táctica nem maestres técnicos eximios como outras gerações. Mas primavam pela eficácia. No seu primeiro mandato, que durou apenas até ao final da época, Molowny substituiu o consagrado Miguel Muñoz e venceu a Copa del Rey, a primeira da sua carreira. Um triunfo que não foi suficiente para ficar com o posto. Bernabeu - tal como hoje Perez - gostava de treinadores de renome e contratou o sérvio Miljan Miljanic. Três anos depois o sérvio foi despedido e o clube voltou a recorrer a Molowny. Durante dois anos orientou ao chamado "Madrid de los Garcia", vencendo uma liga de Espanha e disputando uma final da Taça dos Campeões que perderia contra o Liverpool. Nessa equipa pontificava Vicente del Bosque, o actual seleccionador espanhol, que sempre lhe chamou "pai espiritual". A trajectória de ambos apresenta curiosas semelhanças. Depois de mais um periodo fora dos bancos acabou por voltar a suceder ao seu substituto, Boskov em Março. Em dois meses minimizou a queda classificativa dos merengues mas voltou a ser preterido, desta feita a favor do seu amigo Di Stefano. Só que o mago dos relvados foi-o menos nos bancos em em 1985 chegou de novo Molowny e com ele começou a formar-se a celebre Quinta del Buitre. Durante dois anos o conjunto conquistou duas Taças UEFA, uma Liga e uma Copa del Rey, um registo que servia de precedente para uma década de sonho (o clube viria a ganhar mais três ligas consecutivas). No final de 1986 o próprio Molowny anunciou que passava a director técnico do clube mas durou pouco nas funções.

Honesto, frontal e dono de um sentido de humor único, Luis Molowny é um dos nomes próprios da história do Real Madrid. Técnico premiado, jogador de elite e um notável descubridor de jovens jogadores (Emilio Butrageño, Michel, Martin Vasquez, Vicente del Bosque foram todos lançados por ele), foi uma figura repleta de carisma sem nunca perder o tom humilde. Sem ter o estatuto de glória que sempre foi vedado aos técnicos do Real Madrid em nome das estrelas em campo, forjou a letras de ouro o seu nome na vida de um clube que continua a ter um historial único. E muito graças a ele, o seu particular homem dos sete instrumentos.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:39 | link do post | comentar

Quarta-feira, 16.12.09

Um dia 16 de Dezembro. Á 13 Jornada. Ao minuto 13. Sombria conjugação suficiente para marcar a letras negras a história do jogo. Um passe para a direita e subitamente o estádio entra em suspense. Horas depois confirmava-se o pior cenário. Tinha morrido Pavão, em pleno relvado das Antas. E o futebol português perdia no campo de batalha a um dos seus melhores guerreiros.

Tinha a transferência para o Manchester United de Tommy Docherty já acertada. Ia tornar-se no primeiro grande emigrado do futebol português, com um salário muito superior ao ganhava no clube que o formou e lançou para a ribalta. Com isso pensava pagar o bar que queria abrir com a mulher na Invicta. Sonhos desfeitos por um momento escalofriante. Anos antes tinha chegado de Chaves repleto de ilusões. Até aquele minuto fatídico, há precisamente 36 anos, tudo lhe tinha corrido melhor do que esperado. Tinha emergido como um lider no meio do destroçado conjunto azul e branco e era o grande baluarte do onze orientado por Bella Guttman, na sua segunda etapa na Antas. Internacional, médio de corte elegante e espirito guerreiro, Fernando Pascoal Neves era o ídolo dos então ainda "andrades". Chamavam-lhe Pavão pela sua peculiar forma de fintar, com os braços erguidos como que dançando sobre os rivais. Tinha nascido 26 anos antes em Trás-os-Montes e fora Flávio Costa, ex-seleccionador brasileiro, que o descobriu nos juniores onde Artur Baeta tinha conseguido fazer que se pagassem 300 contos ao Chaves para o contratar ainda júnior. Promoveu-o rapidamente à equipa principal e com 18 anos estreou-se a titular. Frente ao SL Benfica. Marcou Mário Coluna de forma implacável. Nunca mais saiu da equipa que capitanearia anos depois.

 

Um ano depois chega José Maria Pedroto. O novo técnico traz novas ideias para o seu clube de sempre e imediatamente detecta em Pavão um diamante para pulir. Entrega-lhe a batuta do meio-campo, apesar da sua juventude, e rapidamente o promove a mais jovem capitão de sempre dos azuis e brancos. No segundo ano Pavão lidera o FC Porto para a única vitória durante os longos 19 anos de jejum, uma final da Taça de Portugal no Jamor contra o Setúbal. A saída abrupta de Pedroto voltou a devolver o clube à mediania e os anos seguintes são marcados por constantes vai e vens de técnicos. O inglês Tommy Docherty é dos que mais captivado fica com o jovem e depois de ser despedido deixa uma nota na imprensa: que Pavão era demasiado grande para jogar num clube que não lutava por titulos. A chegada do peruano Cubillas estava confirmada - o peruano tinha sido apresentado poucos dias antes e só se incorporaria em Janeiro - e a venda de Pavão tornou-se numa inevitabilidade que os adeptos já começavam a lamentar. Nesse 1973 o conjunto azul e branco contava com uma nava vaga de talentosos jogadores como António Oliveira e já se lançavam as bases do que viria a ser, anos mais tarde, a equipa do título que acabou com a era de sofrimento nas Antas.

 

Nesse 16 de Dezembro os azuis e brancos recebiam o Vitória de Setúbal de...Pedroto. A equipa sadina lutava pelos primeiros postos e era um rival temivel. Ao minuto 16 da primeira parte Pavão lança um passe de morte para António Oliveira e subitamente cai no chão, inanimado. Os colegas rapidamente se precipitam sobre ele e o estádio fica em silêncio. Pavão é levado do relvado para o hospital de Santo João. O jogo continuou e os azuis e brancos até venceram. Mas a noticia já se começava a espalhar pela cidade. Momentos depois a confirmação, por rádio, da morte de Pavão. 

O motivo da morte nunca foi bem explicado e levantou inumeras teorias, desde um problema coronário aos celebres chazinhos de Bella Guttman, então técnico dos portistas. A direcção não quis aprofundar a investigação e o tempo encobriu o real motivo para a primeira morte súbita num relvado português. A mulher que deixou recebeu promessas de ajuda que nunca chegaram. Poucos anos depois foi erigido um busto comemorativo do capitão à porta do estádio. Com a mudança ao Dragão o busto ficou guardado num qualquer armazem. Curiosamente no passado fim de semana o FC Porto recebeu de novo o Setubal à 16 Jornada, a três dias do fatidico dia da morte do jogador. A direcção azul e branca manteve-se imutável. Como tem sido o seu apanágio nos últimos anos com as grandes glórias passadas do clube. Mas mesmo assim há heróis impossíveis de esquecer.

Hoje os jovens já mal conhecem a lenda de Pavão. Quem o viu jogar guardou na memória a verticalidade do seu jogo, o espirito de raça e a forma tranquila como emergia como o lider de uma geração que viveu os piores anos da história do clube. Em Inglaterra o seu estilo de jogo poderia ter levado a Pavão a outros patamares. O destino ceifou-lhe a oportunidade de se tornar num dos grandes. Ficou a memória de um principe guerreiro como poucas vezes as já extintas bancadas das Antas contemplaram. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:15 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quarta-feira, 11.11.09

Chegando a casa tarde de um voo de Milão percorre velozmente as habituais páginas online para analisar as últimas novidades. Subitamente uma notícia destaca-se sobre as demais. Robert Enke morreu. Robert Enke. O nome ecoa imediatamente e traz-me recordações antigas. Lembro-me de o ver, numa noite de diluvio de Janeiro no velho estádio das Antas, desesperado com os seus companheiros à medida que os azuis e brancos metralhavam a sua baliza. Lembro-me da carreira em queda de uma das maiores promessas do futebol europeu. Robert Enke, um anjo caído que nunca mais terá de se defrontar à angústia da última linha. Infelizmente, deixou-nos um dos grandes.

Tinha 32 anos. Um longo historial clinico depressivo que pode explicar, em parte, o que passou ontem. Uma vida repleta de pequenas grandes tragédias. A morte de uma filha pequena, uma grave crise intestinal nunca verdadeiramente explicada. Uma série de noites negras que marcaram a sua carreira. E o seu caracter. Enke parece-nos hoje, mais do que nunca, producto daquela sociedade germânica que não admite o erro. E que procura o hara-kiri como forma de expiar os seus pequenos pecados. Enke nunca chegou aonde se esperava. E essa mágoa parecia acompanhá-lo. Aos 22 anos, quando aterrou em Lisboa, já trazia um olhar sério e ferido. Dez anos depois, as últimas imagens mostram um guardião resignado com o destino sem vontade de voltar à luta. Joachim Low tinha-lhe prometido um lugar na Mannschafft para o próximo Mundial. Algo que Enke perseguia há tanto tempo. O seu Hannover estava em alta na tabela e o seu nome, se bem que ofuscado pela nova geração dos Adler e Neuer, continuava a ser altamente popular. Mas parecia não ser suficiente. Pelo menos não para ele.

Enke começou muito novo a destacar-se da anónima multidão. Aos 19 anos no Borussia de Monchenlagdbach era já uma imensa promessa. Brilhou de tal forma que passou a ser referenciado como o sucessor natural de um tal Oliver Kahn. A Alemanha vivia uma grave crise de guarda-redes como alternativa àquele que era, então, um dos melhores do Mundo. Ao aterrar em Lisboa, pela mão de Jupp Heynckes, um bom conhecedor do anterior clube do guardião, a frieza germânica de Enke transparecia por todos os poros. Durante três anos mostrou que era, realmente, um jogador com grande potencial. Chegou a ostentar a braçadeira de capitão - espelho claro do estado desastroso em que vivia o Benfica de então - e quando percebeu que na Luz não conseguia mais, bateu com a porta. O próximo passo chamou-se Barcelona mas a jogada saiu-lhe mal. Não conseguiu convencer van Gaal, que apostou pelo argentino Roberto Bonano e ao fim de um ano ficou ligado à eliminação precoce dos catalães na Copa del Rey. Disputou apenas esse jogo e a partir daí passou a persona non grata. Foi um ano para Istambul, envolvido no polémico negócio de Rustu Recber, e noutro esteve nas Canárias, onde disputaria apenas 9 jogos ao serviço do Tenerife. Parecia amaldiçada a antiga promessa.

 

Terminado o contrato com o Barcelona voltou à Alemanha. E renasceu.

Em Hannover voltou a ser o Enke original. Frio mas com os reflexos a ponto. E num meio tranquilo. Sem a pressão dos grandes holofotes voltou a ser ele próprio. E tornou-se no idolo da bela cidade hanseática. Foi promovido a capitão, fez jogos inesquecíveis que levantaram a cobiça dos grandes da liga, venceu o prémio da Bild a melhor guardião da Bundesliga e estreou-se - finalmente - pela selecção. Tinha chegado ao zénite da sua carreira desportiva quando começaram os dramas familiares. A perda da filha, os problemas de saúde, uma vida pessoal conturbada. A sua vertente depressiva começou a desiquilibrar a balança. O final da época passada foi complicado. O início deste ano também. Mas pouco importa. Agora os canais de televisão tratam de recuperar as melhores imagens do passado, os sites da internet exploram as teorias de conspiração à volta do seu suicídio e os adeptos genuinos choram a perda de um grande desportista.

O futebol torna o mais comum dos mortais em semi-deuses. Alguns entram no panteão da imortalidade. Outros são vencidos pelo tempo e transformam-se em "anjos caídos". Mas alguns merecem esse lugar especial junto dos inesquecíveis. Independentemente dos motivos deste triste fim, este "anjo caído", este Robert Enke merece esse lugar. O panteão dos imortais agora também é dele.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:21 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sexta-feira, 31.07.09

Desde há muito tempo que o obituário estava pronto nas redações dos principais jornais tal era a gravidade da doença que o consumia por dentro e por fora. Foram anos de luta como só o velho leão era capaz de realizar com aquele sorriso tão honesto. Aos 76 perdeu o último jogo da sua vida, depois de ter derrotado os quatro tumores anteriores que o tinham atacado desde 1991. Uma vida marcada a letras de ouro na história deste desporto. Uma vida épica daquele que foi o último grande Mister. Uma vida mágica de um verdadeiro Sir. Obrigado Mister Robson!

Foi provavelmente um dos maiores gentlemans da história do desporto-rei. Durante quase quarenta anos provou que o seu estilo, sempre correcto e educado, tinha lugar num desporto cada vez mais envolto em picardias e confrontos. Começou a brilhar numa era de treinadores guerreiros como Brian Clough ou Bob Pasley, herdeiros directos da escola de Bill Shankly. Eram os jogos psicológicos, tão de moda nas ilhas britànicas, que então atraiam o público. Mas não o jovem Robert "Bobby" Robson, chamado então a converter-se num dos mais bem sucedidos treinadores da história do futebol inglês. Foi jogador durante os anos 50 e 60 no West Bromwich Albion e mais tarde no Fulham londrino, tendo sido internacional pelos Pross por várias vezes, incluindo uma participação nos Mundiais de 1958 na Suécia e 1962 no Chile. No entanto foi como treinador que Bobby Robson começou a fazer-se notar . O seu primeiro grande projecto foi o Ipswich Town, um clube modesto da zona de East Anglia, que vivia uma época tranquila quando chegou o jovem treinador para dar inicio a uma nova era. Esteve em Ispwich 14 temporadas e no final da sua etapa como técnico chegou o seu triunfo mitico na F.A. Cup (1978), seguido quatro anos depois pela sua primeira vitória europeia, na Taça UEFA. Daí passou para o banco da selecção inglesa, orfã de triunfos há quase duas décadas.

Depois de falhar o apuramento para o Euro 1984 conseguiu levar a Inglaterra ao Mundial de 1986. Na prova azteca colocou a equipa da rosa a jogar o seu melhor futebol em vários anos logrando chegar aos quartos de final. Aí foi derrotado pelo golpe de Maradona, do qual diria mais tarde que era "a mão de um embusteiro. Deus não tem nada a ver com isto!". Depois de uma performance para esquecer no Euro88, dois anos depois conseguiu o segundo melhor resultado da história do futebol inglês ao lograr o quarto posto no Mundial de Itália, depois de ter caído nos penaltis diante da Alemanha. Finalizada a notável carreira como seleccionador saiu das ilhas para orientar o PSV Eindhoven onde esteve dois anos conquistando as duas ligas lançando para o estrelato o jovem Romário. Foi então quando trocou o país das tulipas por Portugal. Sousa Cintra foi buscá-lo para o seu Sporting mas uma derrota em Salzburg afastaram-no de uma das melhores equipas leoninas da história. Despedido de forma amarga acabou por ficar em Portugal, substituido a Ivic no FC Porto. Com ele levou parte do seu staff técnico onde estava já o seu inseparável traductor, José Mourinho. Nas Antas arrancou para um notável final de época -logrando ultrapassar os próprios leões de Carlos Queiroz - e montou a base da equipa que ia conquistar o primeiro Penta. Entre 1994 e 1995 venceu dois titulos de campeão e uma Taça de Portugal. Lançou as bases de uma era dourada para os dragões com uma geração única mas foi também na Invicta que viu a carreira ser interrompida pelo cancro que lhe tinham diagonesticado anos antes. Durante meses esteve em tratamento e foi Augusto Inácio que acabou por orientar os campeões rumo ao bicampeonato. No final da época foi seduzido por Josep Luis Nuñez e partiu para Barcelona.

Na cidade Condal esteve apenas uma época mas viveu-a repleta de titulos. Do Porto levou consigo Vitor Baía, Fernando Couto e José Mourinho. E com Figo, Ronaldo, Luis Enrique, Guardiola e companhia terminou a época no segundo posto, venceu a Taça do Rei e a Taça das Taças, diante do PSG. Titulos insuficientes para a direcção blaugrana que o substituiram por Louis van Gaal. O técnico voltou então para o PSV mas sem o mesmo sucesso da primeira etapa. A doença começava a miná-lo e depois de vários anos parado, acabou por tomar as rendas do seu Newcastle, onde treinou até 2004 passando posteriormente a director técnico. Até que a doença triunfou e abandonou definitivamente os relvados, passando os últimos anos numa luta inglória e épica.

 

De Bobby Robson ficam as miticas conferências de imprensa (incluindo a mitica conferência na Luz onde declarou que o derby, que então deu o titulo aos encarnados, tinha sido um "Mozer 2-0 Fernando Couto"), as sempre correctas palavras com os seus rivais e o seu estilo de general tranquilo. Foi o mentor desportivo de José Mourinho, do qual se queixou mais tarde que nunca o reconheceria, e o exemplo do futebolista gentleman britânico que nos bancos não deixou de ter o comportamento perfeito que exibiu em campo. Numa era onde os simbolos escasseiam cada vez mais, onde os técnicos se matam numa refrega constante, sir Bobby Robson ficará sempre na história como um dos maiores nomes que nos deu este desporto tão belo a que o próprio Bobby sempre se referia como "the beautiful game".



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:38 | link do post | comentar

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