Quarta-feira, 08.01.14

A data de fundação do FC Porto sempre foi alvo de debate. O clube existiu em várias reencarnações. Mas apesar de um historial único, a verdadeira invenção do FC Porto moderno aconteceu depois de um aceso debate na pastelaria Petúlia que levou Pinto da Costa a proclamar a sua mítica frase de "largos dias têm cem anos...". O regresso de José Maria Pedroto às Antas foi também o início de um novo clube que rompia com os erros históricos do passado e lançava as bases para o que hoje é a potência dominadora por excelência do futebol português.

Se Eusébio foi o principal embaixador do futebol português nos relvados, no banco de suplentes sentou-se durante duas décadas o seu equivalente entre os técnicos. Portugal é um país historicamente capaz de produzir excelentes treinadores de futebol, desde os dias de Cândido de Oliveira até à consagração mediática de José Mourinho. Nenhum foi, no entanto, tão influente como José Maria Pedroto.

O popular Zé do Boné não se limitou a ser um inovador. Reinventou também um clube e com ele uma cultura futebolista que se prolongou no tempo graças ao trabalho do seu braço-direito emocional, Jorge Nuno Pinto da Costa. Juntos forjaram uma dupla histórica onde ao dinamismo do dirigente se juntava a inteligência e acidez do treinador. Pedroto foi tudo enquanto esteve vivo. Jogador de excelência, um dos mais completos da sua geração. Técnico altamente preparado, o primeiro em Portugal a formar-se no estrangeiro com diploma de excelência. Ideólogo e presidente "de facto", a partir do momento em que regressou às Antas debaixo do olhar corroído de Américo de Sá e de uma cultura futebolística habituada a considerar os azuis-e-brancos como actores secundários.

Pedroto revolucionou um clube preso ao amadorismo de outros tempos. Por um lado espicaçou a moral dos adeptos portistas com declarações públicas violentas contra o poder instituído do centralismo, os "roubos de Igreja" e a preferência política pelos clubes da capital. Uma ideia que defendeu sempre, mesmo enquanto jogador, a partir do momento em que assinou não pelo FC Porto mas sim pelo Belenenses. Ao vivo testemunhou com o circuito político do futebol português se concentrava entre os grandes da capital e não esqueceu a lição. Mas Pedroto não teria triunfado se a sua mensagem fosse apenas de conflito. De portas para dentro trabalhou para mudar a mentalidade pequena de um clube que não vencia um título nacional há quase duas décadas e que antes, no seu tempo de jogador, tinha estado quase igual período de tempo sem triunfar. A mentalidade pequena, provinciana, o medo de atravessar a ponte rumo a sul para jogar longe dos adeptos teria de ser alterada para uma forte cultura de clube inspirada no modelo que Shankly tinha aplicado em Liverpool. As Antas tornou-se um fortim com Pedroto mas foi a melhoria de prestações fora de casa que permitiram a uma equipa nas horas baixas, ultrapassada pelo seu rival local, voltar ao topo da classificação.

 

O técnico começou a sua carreira a principio dos anos 60.

Formou-se no estrangeiro - o primeiro treinador luso em consegui-lo - e com a selecção portuguesa de juniores alcançou um título internacional que hoje seria o equivalente do Mundial sub-20. De aí passou para a Académica e o Leixões antes de finalmente chegar ao banco principal nas Antas. Foi a maior lição da sua vida. Numa época em que Benfica e Sporting dominavam a liga - com vitórias europeias à mistura - Pedroto montou uma equipa capaz de lutar pelo título pela primeira vez em quase uma década. Mas um tiro no pé do próprio clube, reflexo da gestão quase amadora de alguns dirigentes e do comportamento pouco profissional de vários jogadores, colocaram-no em posição de ruptura com o clube. Num feito quase sem precedentes uma quente Assembleia Geral levou a direcção a expulsar Pedroto de sócio e a proibir a sua entrada nas instalações do clube. Foi um golpe quase mortal na sua ambição de devolver os dragões aquela que ele confiava ser a sua posição natural.

Sem Pedroto o clube da Invicta foi de mal em pior enquanto o Zé do Boné se tornava célebre nas suas passagens por Setúbal e pelo Boavista, equipas modestas com que venceu Taças de Portugal e colocou a lutar pelo título. Foi o primeiro treinador a aplicar os conceitos básicos do 4-4-2, a cultura do futebol de posse, a troca posicional de extremos e laterais para jogar com a perna trocada. Criou uma cultura de balneário impar, um corporativismo quase britânico, e exigiu apenas aos seus jogadores que encarassem cada jogo como se fosse o último. Pelo meio foi também seleccionador nacional, conseguindo um histórico empate em Wembley contra a Inglaterra. No Porto alguns viam o seu sucesso com inveja mas Pinto da Costa, sagaz, começou a fazer os possíveis e impossíveis para o devolver ao seu posto natural. Em 1975 uma nova Assembleia Geral finalmente levantou a suspensão ao sócio e um ano depois Pedroto era treinador da equipa principal do clube apesar das suspeitas de um desesperado Américo de Sá. Condição, só uma: Pinto da Costa seria o seu braço-direito, o director desportivo na área do futebol.

Com Pedroto ao leme os títulos regressaram. Um bicampeonato entre 1977 e 1979. E com eles uma nova cultura de clube. Jogadores formados em casa como Fernando Gomes, António Oliveira ou Rodolfo foram associados a jovens promessas de zonas circundantes (Jaime Pacheco, António Sousa) e a homens da confiança do técnico das suas passagens pelo Bonfim e pelo Bessa (Octávio, Duda e Freitas). Os mesmos princípios que tinham sido a base da sua carreira foram aplicados nas Antas com maior sucesso e a cultura de clube saltou do relvado para os escritórios do estádio. O choque era inevitável e o Verão Quente atrasou em quase uma década a afirmação definitiva dos azuis-e-brancos. Pinto da Costa continuou a luta política e Pedroto exilou-se em Guimarães, com Artur Jorge ao seu lado, esperando o momento certo para voltar. Em 1982 o antigo director desportivo tornou-se presidente graças ao apelo de Pedroto aos sócios e adeptos do clube e o Zé do Boné voltou para a sua terceira e última etapa no clube que durou até à sua morte, a 8 de Janeiro de 1985.

 

Pedroto mudou para sempre a história do futebol em Portugal. Transformou um clube de mentalidade provinciana na máxima potência do futebol português. Inculcou nos jogadores, mas também nos dirigentes e nos adeptos a crença de que não existia nenhum rival superior se eles assim quisessem. Paralelamente minou sempre que pode o centralismo crónico do futebol em Portugal com declarações e posturas que se enquadravam perfeitamente no espírito de um país em estado ainda revolucionário. À sua morte poucos podiam imaginar no que o FC Porto se iria tornar. Poucos sim, mas Pedroto seria seguramente um deles. Com os seus discípulos - o dirigente, Pinto da Costa, e o treinador, Artur Jorge - o FC Porto não só recuperou o título nacional como iniciou a sua saga europeia. Vinte e nove anos depois a história permanece igual ao sonho de um homem que na década de 70 inventou um clube moderno do nada.



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Sexta-feira, 28.12.12

Em Vila do Conde vivem-se momentos de euforia contida. No primeiro ano da era pós-Carlos Brito, a equipa comporta-se melhor do que muitos imaginavam e chega à paragem natalícia a disputar os lugares europeus. Mas por detrás, nas entranhas da vida do clube, uma figura começa a destacar-se sobre todas as outras, um nome que põe e dispõe do clube para o seu beneficio particular. A pouco e pouco o Rio Ave transformou-se no clube de futebol do empresário mais poderoso do Mundo, um casamento que funciona para o bem e para o mal!

 

Carlos Brito decidiu não seguir.

Sabia o que aí vinha e não estava disposto a ser mais uma peça de uma alavanca bem oleada. Já o tinha sofrido nos seus anos do Bessa e não iria repetir o erro. O Rio Ave que ele queria distanciava, e muito, do clube que Jorge Mendes queria. O empresário chegava em força e com ele a sua política desportiva. A colocação cirúrgica de jogadores seus e do seu grupo de colegas que fazem parte dos fundos onde ele é conselheiro ou sócio seria uma etapa mais na vida do clube dos pescadores. No Verão o Rio Ave adquiriu o promissor Fabinho lateral direito suplente do Fluminense, apenas para empresta-lo ao Real Madrid que, por sua vez, o colocou a rodar no Castilla. 

O processo não era novo, Mendes já o tinha feito utilizando o Sporting B, o Real Madrid e o Castilla com Pedro Mendes, um defesa que levantou muita polémica em Espanha quando Mourinho, sem vergonha na cara, o utilizou num jogo de Champions League em Amesterdão quando o central nem sequer jogava no filial. O importante era valorizar o passe do jogador, pagar o favor e fazer de Mendes uma peça mais apetecível no cartaz do empresário mais bem sucedido do mundo. 

Pedro Mendes hoje é um futebolista tão obscuro como era antes da sua passagem por Madrid e ninguém duvida que o mesmo passará com Fabinho. Mas o Rio Ave, o clube que o comprou e emprestou, seguramente ganhará pouco com a sua experiência. Mas também, não é para isso que o clube serve os interesses de Mendes. Em troca de servir como clube ponte, algo que os fundos de empresários necessitam cada vez mais, o clube recebeu jogadores do empresário que, noutra situação, seriam incomportáveis. O último de uma larga, larga lista, é Bebé.

 

O caso Bebé sacudiu Inglaterra e levou o prestigiado The Guardian a realizar uma suculenta reportagem sobre os negócios da Gestifute.

O jogador que Ferguson nunca viu jogar mas que pagou 7 milhões por ele ao Vitória de Guimarães é o exemplo perfeito de como funciona Mendes. Obviamente em Old Trafford passou ao lado de uma grande carreira e acabou por juntar-se ao Bessiktas, juntamente com o Deportivo, Zaragoza e Atlético de Madrid, outro clube da confiança do empresário. Aí, entre lesões e incapacidade crónica, foi-se perdendo até que agora volta a ser colocado no novo posto de exibição.

Para coordenar o projecto nada melhor que o primeiro homem de Mendes, o seu primeiro negócio, o seu primeiro amigo, o seu primeiro caso de sucesso. Com Nuno Espirito Santo o empresário da noite de Guimarães transformou-se em empresário de futebolistas e começou a desenhar o seu espantoso império. Mendes é um self made men puro, um génio na arte de negociar, capaz de superar preconceitos com talento e com uma capacidade de omnipresença espantosa até mesmo para um mundo onde os escrúpulos contam muito pouco. Nuno foi o seu primeiro negócio, abriu a sua rede de confiança e agora é o seu homem forte no clube vila-condense. No seu primeiro ano de treinador conta com recursos pouco habituais para o clube. E tem o mérito de os fazer funcionar. O Rio Ave está em postos europeus e pratica um futebol, para a média nacional, interessante.

Bebé vai juntar-se a Ukra, Ederson, Oblak, Filipe Augusto, Esmael, Filipe Souza, Obadeye, Del Valle, jogadores do empresário ou colocados no clube pela sua rede, que ajudam a reforçar um plantel de por si muito curto. O entreposto comercial em que se tornou o Rio Ave tem sido um processo lento mas extremamente bem organizado. Jogadores queixam-se de não ter oportunidades por terem outros agentes, velhas glórias do clube sentem a sombra de Mendes demasiado omnipresente e se os resultados desportivos dão a entender que o projecto tem pernas para seguir, há quem tema, e com razão, que a constante mudança de jogadores, para ir valorizando passes e colocando jovens estrangeiros, no final acabe por pagar factura. Para os rivais é também um problema. A Gestifute compra os jogadores e coloca-os nos clubes que, muitas vezes, nem arcam com a ficha salarial, gerando uma clara situação de concorrência desleal com clubes sem relações de afiliação com redes de empresários. Os resultados desportivos, sobre esse prisma, podem acabar por ter uma triste dupla leitura.

 

Não há na Gestifute uma ambição em transformar o Rio Ave num grande português, mas a presença em provas europeias do clube pode ajudar ainda mais a valorizar os passes dos jogadores adquiridos ou representados pela agência. É o objectivo principal de um clube que perde a pouco e pouco a sua natureza local para se tornar no enésimo clube entreposto comercial de fundos, às vezes a única solução para competir ao mais alto nível num universo onde o mercado dita as ordens e os valores valem cada vez menos.



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Domingo, 12.08.12

Foi o homem que marcou o golo decisivo que confirmou o regresso do West Ham United à Premier League. Oito anos depois de estrear-se na máxima competição inglesa, o avançado português está de regresso para provar definitivamente o seu valor. Foram oito anos de expectativas, desilusões para mergulhar agora numa ressurreição inesperada.

 

Foi colega de equipa de Nani no Real Massamá mas a carreira de ambos mudou radicalmente no dia em que o Sporting contratou o actual extremo do Manchester United enquanto Vaz Tê preferiu marchar para Inglaterra e assinar com o Bolton Wanderers. Prometeram fazer dele uma estrela, um sonho que qualquer jovem alimenta. Que dizer de um rapaz que aos dois anos deixou Lisboa para viver na Guiné-Bissau de onde o pai era natural e que aos 11 anos voltou à capital portuguesa, passando as horas com a bola nos pés no cimento frio dos subúrbios da cidade. O Bolton oferecia-lhe mais do que o clube leonino e à primeira vista parecia a melhor opção. Mas não foi.

Enquanto Nani amadurecia em Alcochete, até se tornar num dos melhores jogadores portugueses da década, Vaz Tê passou de grande promessa a maior desilusão. 

Estreou-se pela primeira equipa em 2004. Tinha apenas 17 anos. Contra o Middleslbrough na Premier League. Parecia um inicio entusiasmante mas a ilusão desfez-se. No ano seguinte, ainda com 18 anos, participou em 30 jogos pelo Bolton, sete como titular, e começou a representar as selecções de formação portuguesas, primeiro a sub-19 e mais tarde a sub-21. Mas depois chegaram os empréstimos, parte da cultura da gestão inglesa de jovens promessas. E com os empréstimos chegaram as lesões, as desilusões e o protagonismo inicial foi-se perdendo. Primeiro ao serviço do Hull City, depois com os gregos do Panonios. Sam Allardyce tinha deixado o Bolton, ele que apostara nele no inicio, e o novo staff técnico não parecia interessado em recuperá-lo. A sua carreira parecia sofrer o mesmo destino de tantas outras: o esquecimento.

 

Em 2010 o jogador desvinculou-se oficialmente do Bolton. Ninguém parecia interessado em contratá-lo e acabou por rumar à Escócia onde jogou uma época com o Hibernians. Depois voltou a Inglaterra para disputar o Championship com o Barnsley. Em nenhum dos casos chamou a atenção e relembrou o jogador que podia ter sido. Mas havia um homem que não se tinha esquecido do que Vaz Tê era capaz.

Sam Allardyce era técnico do recém-despromovido West Ham United. Sem dinheiro para investir aproximou-se de Vaz Tê no mercado de Inverno e desafiou-o a mostrar o que realmente valia com a camisola dos Hammers. Amor à primeira vista define perfeitamente esta história até agora. O dianteiro português renasceu e realizou uma época inesquecível.

Apontou dez golos e realizou cinco assistências em quinze jogos. Encaixou às mil maravilhas no esquema de ataque dos londrinos e quando a época chegou ao seu final, e o West Ham United foi forçado a disputar os play-off para lograr a promoção, Vaz Tê deu a sua melhor versão. No jogo decisivo, em Wembley, frente ao Blackpool, marcou o segundo e decisivo golo. O golo que permitia aos Hammers voltar à elite. O golo que o reconciliava consigo mesmo.

 

Ao lado de Carlton Cole, outro goleador maldito, o dianteiro português é a grande esperança dos adeptos do West Ham para a próxima época. Será a primeira temporada completa ao serviço do clube e se mantiver o mesmo rendimento que deu nos cinco meses da temporada passada, ninguém descarta que, mais cedo que tarde, Ricardo Vaz Tê cumpra o velho sonho de ser internacional pela selecção portuguesa. Face ao deficit crónico de goleadores, a ressurreição do dianteiro é uma das melhores noticias para o futebol nacional. A oportunidade está aí.



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Sexta-feira, 13.07.12

A decisão da Liga Portuguesa de Futebol apanhou todos de surpresa. Numa situação económica sem paralelo na história do desporto português, a Liga acabou com uma das fontes de sustentabilidade da esmagadora maioria dos clubes profissionais portugueses. Mas também colocou o ponto final a uma politica de obscuro controlo politico por parte dos clubes grandes sobre a imensa minoria dos pequenos e médios clubes. Financeiramente desastrosa a medida de acabar com os empréstimos na Liga Sagres não deixa de ser moralmente necessária.

Podem os clubes portugueses sobreviver a uma medida que eles próprios aprovaram contra o seu interesse?

Esse espiro auto-destructivo do nosso futebol é único no Mundo. Numa prova onde mais de 80% dos clubes contam com jogadores emprestados (na esmagadora maioria mais do que 3 até), terminar com os empréstimos parece um contra-senso. E financeiramente é mais do que isso, um verdadeiro hara-kiri. Equipas da segunda metade da tabela que vivem sobretudo do fluxo de empréstimos que chega dos grandes terão agora de encontrar plantéis competitivos pagando do seu próprio bolso o que até agora era maná dos céus. Terão de procurar dinheiro onde ele não existe - na situação actual, com emprestados, ele já é uma utopia - para fechar os plantéis para a próxima temporada e para arcar os gastos salariais de 100% dos jogadores, algo que até agora só seis clubes em Portugal o faziam.

 

E isso quando é hoje em dia bastante proveitoso apostar o que quer que seja no www.casinoonline.pt ou num outro site de apostas num jogador português.

 

A medida, de tão drástica que é, pode parecer anedóctica. Afinal, se a ideia era acabar com a politica de empréstimos havia sempre opções mais tolerantes, como proibir o número máximo de jogadores emprestados num clube ou proibir igualmente a proveniência de mais do que um jogador do mesmo clube de origem. Mas nenhum desses cenários, à inglesa, foi contemplado. De um golpe só a Assembleia Geral, numa proposta do Nacional da Madeira secundada pelo Sporting CP, declarou guerra ao poder instituído de FC Porto e SL Benfica tentando minimizar assim a sua asfixiante influência junto dos clubes pequenos do nosso futebol. Porque se há algo que é evidente neste conflicto é a absoluta falta de moralidade de um sistema que foi criado para ajudar a desenvolver jovens jogadores das equipas grandes e para resolver problemas pontuais dos clubes médios e pequenos e que acabou por se tornar numa forma controlada de exercício de poder por parte de águias e dragões.

 

O cenário é fácil de analisar.

FC Porto e SL Benfica descobriram há alguns anos que melhorar as relações com clubes "aliados" passava, muitas vezes, pelo simples gesto de garantir facilidades em empréstimos dos seus excedentes. Desde 2002 até hoje o tamanho dos quadros oficiais de jogadores de ambos os clubes duplicou e com mais de 20 jogadores sob contrato e sem colocação, a politica de emprestar para ganhar influência na tomada de decisões da Liga tornou-se evidente. Ambos os clubes estabeleceram laços com várias instituições, emprestando dois, três, quatro, cinco e até seis jogadores num só ano. Jogadores de talento, jogadores cujo o salário era habitualmente pago na totalidade pela casa mãe e jogadores que saiam duplamente grátis o que permitia, a curto prazo, que um plantel de 25 composto por seis ou oito emprestados levasse os clubes a gastar o que não tinham noutros jogadores, especialmente estrangeiros, muitas vezes com comissões de empresários afiliados aos clubes grandes com quem mantinham relações. Essa forma de mover dinheiro e influência resultou enquanto a crise não apertou forte.

Poucos questionavam os planteis gigantescos dos dois grandes, poucos criticavam os negócios pouco claros entre grandes e pequenos com jogadores que surgiam do nada e poucos pensavam que o dinheiro que os pequenos e médios clubes podiam ter poupado com isto estivesse a ser mal gasto em negócios com empresários escolhidos a dedo. Mas a crise chegou e para todos.

Primeiro os clubes grandes começaram a perceber que ter tantos jogadores sob contrato podia ser um problema e começaram a emprestá-los para clubes estrangeiros que, esses sim, já se faziam cargo de partes substanciais da sua ficha salarial. Por outro, os clubes pequenos deixaram de ter dinheiro liquido para investir e tornaram-se ainda mais dependente dos empréstimos. O caso da União de Leiria é paradigmático mas não é único.

Mas é preciso ver realmente quem está por detrás desta ideia. Clubes como o Feirense, que apostam em jogadores a custo zero, jogadores nacionais e jogadores que pertencem ao clube. Clubes que são incapazes de acreditar como há equipas que ano após ano se salvam agonicamente da despromoção com planteis cuja metade dos jogadores vem de um dos grandes, num autêntico acto de concorrência desleal. Clubes que, na segunda divisão, sabem quanto custa fazer um clube sustentável e competitivo e que, quando entram na elite, têm dificuldades em sobreviver se não entram no esquema de protecção de um dos grandes.

A reunião da Assembleia Geral contou com 9 votos contra, 1 abstenção e 19 votos a favor. Os clubes que apoiaram a iniciativa foram, esmagadoramente, os clubes da Liga Orangina. Eles, que este ano não terão de se confrontar com a lei, sabem que subir à primeira divisão será complicado mas, uma vez aí, o fosso entre os que já estão a lutar pela despromoção e eles será claramente inferior com esta medida.

 

O fim dos empréstimos é um caos financeiro mas é também uma porta aberta para o futebol português.

Juntamente com o aparecimento das equipas B e a necessária reorganização dos direitos televisivos, é uma medida que não só ajuda a limpar moralmente a competição como contribuiu, na sua essência, para uma nova aposta na formação. Os clubes, sem poder viver dos empréstimos, e sem dinheiro para ir ao mercado terão, forçosamente, de recorrer aos jogadores da casa. O mais provável é que se assista a uma maior quota de jogadores portugueses de formação própria nos clubes nos próximos anos. Mais, os clubes grandes, até agora habituados a comprar os jogadores que mais rapidamente se destacavam em emblemas inferiores, sabendo que os podiam usar como isco durante os anos seguintes, terão agora de pensar duas vezes. Contratar um jogador que não funcione no esquema da equipa principal acontece a qualquer um, mas nem todos estarão preparados para passar para a equipa B (o caso do benfiquista Djaniny é um bom exemplo) nem para ser emprestados ao estrangeiro, movimentos que aos clubes não traz nenhum lucro financeiro e politico. Sendo assim, com o dinheiro a escassear, os planteis a emagrecer, o aparecimento das equipas B como ponte de transição para os juniores, os grandes deixam de ter necessidade de atacar o mercado da mesma forma e jogadores como Hugo Vieira ou Fabiano, poderiam passar mais uns anos no seu clube de origem o que, a médio prazo, significa uma profunda melhoria dos clubes da classe média portuguesa, os que desapareceram nos últimos 10 anos, clubes como o Boavista e Belenenses, Vitória de Guimarães ou Maritimo, a maior parte dos quais passando a depender de uma politica de sobrevivência sem qualquer tipo de ambição.

 

Uma liga mais transparente é no entanto um conceito utópico no mundo do futebol. Seguramente que haverá manobras para contrariar a lei. Em Itália utilizam o método da co-propriedade, em Espanha o da venda com cláusula de recompra por valores irrisórios e ninguém põe de parte que uma nova directiva da Liga, pura e simplesmente procure eliminar a medida para agradar a águias e dragões. Mas o primeiro e necessário passo foi dado. Haverá clubes que irão sofrer mais do que outros com esta medida porque têm dependência crónica dos empréstimos e esses serão os primeiros a desaparecer. Mas a médio prazo a medida pode não só agilizar a aposta na formação e nos jogadores nacionais como restabelecer um equilíbrio no meio da tabela que só ajudará a fazer da Liga Sagres uma prova ainda mais competitiva.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:49 | link do post | comentar | ver comentários (7)

Sexta-feira, 01.06.12

Foi um ano em que se confirmaram velhas ideais do futebol português. A mais óbvia é que em Portugal a frase de Gary Liniker é facilmente adaptável a "e no final ganhamos os dragões". Num dos anos em que o FC Porto se mostrou menos seguro de si mesmo o bicampeonato logrado por Vitor Pereira deixa em evidência uma vez mais os erros dos rivais directos. Uma péssima gestão, por parte do Sporting, uma má planificação de época pelo Braga, que arrancou tarde, e claro, os ovos em diferentes cestos de um Jorge Jesus que teve o titulo na mão e deixou-o escapar das mãos. Isso num ano em que o futebol português, entretido com ampliações, esqueceu-se de pagar as contas e subiu ao terreno de jogo da forma mais vergonhosa de que há memória.

Não foi um FC Porto vintage, nem de longe nem de perto.

Mas foi uma versão profissional quando teve de ser. Em 18 pontos contra Benfica, Braga e Sporting, os dragões amealharam 16. E com isso selaram mais um titulo de campeão nacional, confirmando a hegemonia quase ditatorial que o clube do Dragão tem vindo a exercer sobre o futebol português nos últimos 30 anos. O sucesso dos azuis e brancos, visível também no espaço europeu, é um eucalipto que seca tudo à sua volta e esse domínio asfixiante que reduz a três os títulos do Sporting, um ao Boavista e sete ao Benfica, em 30 anos, é uma realidade preocupante para quem acredita, ou quer acreditar, que a Liga Sagres é realmente competitiva.

E no entanto dos titulos ganhos pelos azuis e brancos, este foi talvez o mais surpreendente porque parecia perdido muito cedo - um arranque de época penoso dentro e fora de portas, com a colaboração da gestão desportiva da SAD e da pouca vontade de um plantel que só acordou realmente em Fevereiro - para o Benfica de Jesus.

 

O técnico não conseguiu bater Villas-Boas em nenhum dos seus duelos com o anterior técnico portista. Mas para a Liga também foi incapaz de ganhar ao adjunto deste, Vitor Pereira, confirmando uma vez mais que o seu talento como treinador, exacerbado em 2010, continua a ser mais um problema que uma solução para o Benfica. A forma como exprimiu o plantel, deixando-o sem forças para o sprint final, repetiu o mesmo problema das últimas duas épocas (mesmo a do titulo) e deixa claro que o técnico encarnado acaba por ser o grande responsável pelo titulo azul e branco. A vantagem que o Benfica detinha em Dezembro parecia, numa liga tão pouco equilibrada como a lusa, suficiente. Não o foi. O Benfica não só perdeu o titulo em casa como voltou a viver com o bafo de um atrevido Sporting de Braga nas jornadas finais. Conseguiu um segundo lugar que sabe a pouco mas que em dinheiro vale muito. A sensação de supremacia moral dos azuis e brancos ficou, assim, imaculada, apesar da venda de Falcao ter aberto um cisma no balneário e um problema sério que Vitor Pereira teve dificuldades em resolver.

Para o FC Porto ter sido campeão também ajudou o mau arranque do Braga, que quando se lançou ao sprint final já partia com atraso, e o enésimo tiro no pé do Sporting, mudando um plantel de forma integra para depois deixar de apostar no treinador que liderava o projecto. O quarto lugar conquistado por Sá Pinto é um mérito, tendo em conta o desastre emocional dos leões em Janeiro, e reafirma a ideia de que a liga lusa é uma questão de um clube, que perde mais quando quer do que quando os demais realmente podem.

 

Do outro lado do mundo da Alice a União de Leiria tornou-se apenas o espelho da pobreza genuína de um futebol que abandonou a sua formação, os seus adeptos e a sua história para entregar-se a projectos insolventes, jogadores importados de terceiro nível e bancadas vazias graças aos preços e horários impostos por clubes e estruturas directivas.

Nesse mundo de loucos a Académica, que se salvou no último dia de descer de divisão, conquistou um lugar na Europe League porque todos os clubes, do 6º ao 13º posto, decidiram não inscrever-se previamente para disputar as provas da UEFA. Uns por decisão pessoal - os gastos das viagens a Israel ou Cazaquistão não são atractivos - e outros pelas dividas acumuladas que, fosse a liga portuguesa uma prova séria, significava a despromoção automática de quase metade dos participantes no torneio.

 

E no entanto 2011/12 foi o ano em que se falou da ampliação a 18 equipas, do regresso das equipas B, de empréstimos interessados de clubes grandes a "falsas" filiais para fintar a legislação e, sobretudo, da profunda crise de governabilidade num órgão onde os pequenos elegeram um presidente que não consegue governar sem o apoio dos grandes.

No meio desse cocktail molotov útil para um hara-kiri pirotécnico, muitos se esquecem de Pedro Martins e do seu Maritimo, da sustentabilidade dos projectos de Gil Vicente, Olhanense, Paços de Ferreira e mesmo do despromovido Feirense e do "aportuguesamento" do Braga, esquecido por Paulo Bento e pela maioria dos grandes com orçamento. Razões positivas para acreditar que há sustentabilidade futura, noutras condições organizativas e económicas, do futebol português. Mas o mais provável é que essa situação, quando se realize, não impeça o dragão de impor a sua lei. Com o plantel mais débil e o treinador mais contestado, o FC Porto revalidou o titulo nacional e nas Antas já começam a contar os anos que faltam para superar o histórico registo de um Benfica que teima em não dar uma versão alternativa sólida ao império do dragão.

 

 

 

Jogador do Ano

James Rodriguez

 

Hulk é o lider moral do FC Porto mas a dois jogos do fim do campeonato o jovem colombiano James Rodriguez tinha tantos golos como o brasileiro. Em metade dos jogos. Depois de uma grande segunda volta no ano de Villas-Boas, muitos esperavam que este fosse o seu ano. Vitor Pereira nunca o utilizou como titular absoluto, talvez interessado em lançá-lo mais como arma secreta pelo miolo em vez de o manter preso à ala. A sua exibição na Luz valeu um titulo, os seus golos e assistências foram nucleares para algumas das vitórias fundamentais do bicampeão e a sua afirmação deixa claro que com a inevitável saída do brasileiro, o projecto azul-e-branco crescerá nos seus ombros. 

 

Revelação do Ano

Lima

 

O Braga contratou-o ao Belenenses ultrapassando todos os outros e pagando tão pouco dinheiro que ainda hoje na Luz, Alvalade e Dragão muitos devem estar preocupados com o seu staff de prospecção. O brasileiro foi fundamental no grande ano dos bracarenses, com os golos, assistências e posicionamento em campo, uma mobilidade que explorava bem a ideia de jogo de Leonardo Jardim, dando espaço aos jogadores de segunda linha para aproveitar os espaços que deixou para trás. Jogador de grande potencial, será dificil que fique em Braga muito mais tempo. 

 

Onze do Ano

 

Helton salvou o FC Porto de muitos apuros durante longas jornadas, aquelas onde o onze de Vitor Pereira parecia estar perto de perder todas as possibilidades de revalidar o titulo. 

 

Se olharmos para a defesa do campeão nacional é dificil encontrar jogadores que tenham estado ao máximo nível durante todo o ano, mas no lado esquerdo Alvaro Pereira continua a ser um jogador sem igual na liga lusa. E esse problema extende-se à maioria das equipas de topo da liga lusa. Ezequiel Garay, bónus na transferência de Coentrão para o Real Madrid, destacou-se sobre a mediania na Luz e João Pereira manteve-se a bom nível em Alvalade. Em Braga a confirmação de Nuno André Coelho foi uma boa noticia 

 

Descartado pelo Sporting, o médio-centro Custódio encontrou em Braga em Hugo Viana, outro ex-leão, o parceiro ideal para um meio-campo sólido e tremendamente eficaz. À dupla de Braga podemos juntar outro médio minhoto, Hugo Vieira, revelação do Gil Vicente. 


Lima, serpente no Minho pescada por poucos tostões, e James Rodriguez, arma-secreta no manual táctico de Vitor Pereira, dançam à volta de Hulk, que mais uma vez foi o jogador mais determinante no bicampeonato azul e branco, jogando ora descaido na ala ou como o falso-avançado que os defesas nunca conseguiram bem travar. 

 

Treinador do Ano

Leonardo Jardim

 

Herdou um projecto sólido, com o melhor resultado nacional e europeu logrado por um técnico que deixou saudades mas em quem poucos na estrutura confiavam. Pedia-se-lhe que mantivesse o rumo. Cumpriu. Durante 17 jogos consecutivos manteve-se invencível e aproximou-se da disputa por um titulo que fraquejou nos jogos com os rivais directos. Mesmo assim, segundo apuramento para a Champions League em três anos, e um passo em frente em qualidade de jogo, mérito indiscutível de um treinador que está chamado a treinar um dos grandes nos próximos anos. 



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Sábado, 15.10.11

No meio do deserto de ideias em que vive o futebol português a hipotética ideia de ressuscitar as equipas B num formato distinto ao seu modelo original é uma lufada de ar fresco. Insuficiente, dentro de um contexto muito mais lato, mas um passo correcto para uma realidade indismentível e que exige uma resposta imediata por parte de clubes e organizações directivas. No entanto a forma como se arranca o ideário deixa no ar algumas dúvidas pertinentes sobre um outro - e tão grave problema - do futebol luso como é o eventual fim de muitos projectos desportivos que até hoje sobrevivem por um fio.

 

Em 1999, quando a Federação Portuguesa de Futebol, através de uma equipa de trabalho que incluia Jesualdo Ferreira, apresentou a ideia das equipas B (um modelo já praticado em Espanha há décadas), capaz de emular a politica de equipas de reservas que existiram durante muitos anos no futebol português e que subsistem, ainda hoje, no futebol britânico, os aplausos foram generalizados.

Mas o projecto foi um fracasso imediato. A forma como se estruturou o projecto tornou-o imediatamente num nado morto. O impedimento das equipas serem promovidos a uma Liga de Honra a 18 equipas condenava no fundo os jovens futebolistas de FC Porto, SL Benfica, Sporting CP ou Maritimo a actuar eternamente contra jogadores amadores da 2º Divisão B. Perante esse cenário frustante tornou-se evidente que o projecto das equipas B era mais um encargo que uma solução. Os clubes acabaram por entender que era mais prático recuperar a velha fórmula do empréstimo, tão em voga desde finais dos anos 80, do que perder rendimento com um projecto sem futuro. Doze anos depois só a equipa do Maritimo sobreviveu, provavelmente devida à sua particular condição insular, e com um sucesso digno de menção honrosa.

Resgatar então o ideário das equipas B pode parecer um erro à primeira vista. Mas o contexto é outro. E a necessidade evidente.

Em 1999 o futebol português ainda não tinha entrado na sua era de ouro. A selecção A estava prestes a apurar-se para o Euro 2000, apenas a sua quinta grande competição em 80 anos. Os clubes portugueses não marcavam presença numa final europeia há uma década e os grandes nomes lusos contavam-se pelos dedos das mãos. A vitalidade de clubes de médio nivel era evidente na figura do Boavista, Guimarães, Maritimo e Braga de então e a liga lusa, apesar da invasão brasileira, ainda era maioritariamente composta por jogadores da casa. Doze anos depois, o dilúvio, como diria Luis XV, é evidente.

Entre a ilusão de uma década imaculada da selecção A, de três titulos europeus (e dois finalistas vencidos) e da consagração mundial de Figo, Mourinho e Ronaldo esconderam-se os problemas graves e estruturais do futebol nacional. Do descontrolo das contas dos clubes, do desaparecimento das equipas médias, da redução de equipas do futebol profissional, dos excedentes de jogadores estrangeiros e, sobretudo, do abandono da formação, aquilo que, precisamente, ajudou a transformar Portugal numa nação periférica num país capaz de olhar nos olhos das grandes potências desportivas. O final da herança do projecto Queiroz, apoiado pelos clubes nas suas próprias estruturas internas e, sobretudo, alimentado pelos clubes médios, abriu um fosso tremendo que começa agora a ser evidente. Entre as decisões mais importantes para reverter o rumo a formação ocupa um papel fulcral num país sem rendimentos para competir com o poderio financeiro doutras ligas. As equipas B são uma das soluções possíveis. Não a única, não a mais importante mas, seguramente, uma das mais certeiras, especialmente com a confirmação da UEFA da utilização definitiva da regra 6+5.

 

Segundo o projecto que será levado à próxima reunião da Liga de Clubes, o projecto federativo propõe o ressuscitar das equipas B apoiado por seis clubes. Ao Maritimo juntam-se Braga, Guimarães e os três grandes. As equipas só poderiam inscrever por cada jogo a três jogadores com mais de 23 anos (para recuperar atletas fora de forma da equipa principal, como sucede nas ligas de reservas inglesas) e tinham de ter inscritos 22 jogadores de formação do próprio clube que nunca poderiam alinhar pela equipa principal num periodo minimo de 72 horas.

A grande questão das equipas B foi a sua colocação errada num contexto amador como é a 2º Divisão B. Por isso foi fundamental a ideia de abrir definitivamente as portas da Liga Orangina com o inevitável impedimento de promoção à Liga Sagres, como sucede em Espanha ou Alemanha, por exemplo (o Barcelona B, na época passada, não só alimentou os campeões da Europa com jogadores como Thiago ou Fontás como terminou em lugares de play-off a liga regular). No entanto a forma como se introduzem as equipas obriga às habituais soluções de compromisso das entidades lusas. Em lugar de estruturar a competição a Liga toma o caminho mais fácil e aumenta para 22 equipas a competição, insinuando que pode contribuir também para mudar o número de promovidos e despromovidos entre as ligas profissionais de dois para três conjuntos bem como a despromoção progressiva de mais uma equipa para a 2º Divisão B nos próximos seis anos até voltar a nivelar os seus números de participantes a um minimo de 18. 

Na prática esta medida revela condições importantes. Hoje clubes como Sporting, Benfica ou FC Porto têm listas de dezenas de jogadores emprestados por vários clubes lusos e estrangeiros. Esta medida permitirá a Domingos, Jesus e Pereira a possibilidade de trabalhar lado a lado com esses Miguel Rosa, André Almeida, Nuno Reis, Cedric, Atsu ou Diogo Viana que significam, de certa forma, o futuro dos grandes de Portugal. Uma medida que também permitirá aos clubes grandes aligeirar a ficha de gastos no plantel principal já que dispõem de uma equipa alternativa que pode alimentar o plantel principal. Para os jovens de 18 anos saídos dos juniores (ou alguns titulares menos usados) competir com Belenenses, Leixões, Santa Clara ou Oliveirense não será muito diferente do desafio de defrontar os Feirense, Olhanense ou Gil Vicente que irão encontrar na Liga Sagres. Enquanto competem com rivais de maior nivel estão às ordens da equipa principal em lugar de passar um longo interregno, longe de casa, muitas vezes passando desapercebidos dos directivos e técnicos. Assim acabaram os Paulo Machado, Helder Barbosa, Vieirinha, Fábio Paim, Danilo Pereira e companhia do passado.

 

Se essa medida é importante para reforçar o papel dos jovens de formação nos seus clubes base (recordamos o gritante exemplo do FC Porto que não conta com um só jogador da sua formação na equipa principal o que implicou a penalizou da UEFA de inscrever apenas 21 jogadores na Champions League) a verdade é que também tem o seu reverso da medalha.

Desde há vários anos para cá que a politica de contratações dos clubes lusos se tornou numa máquina de importação fora do controlo. Os grandes (mais o FC Porto e menos o Sporting com o Benfica a inverter, agora, a tendência) lideraram o processo mas os pequenos e médios rapidamente os imitaram e de certa forma abandonaram também a sua formação. Se Figo, Baía e Rui Costa sairam dos grandes, Pedro Barbosa, Sá Pinto, Nuno Gomes ou Costinha sairam de clubes médios e pequenos. Esse fenómeno tornou-se um oásis no Bessa, Restelo, D. Afonso Henriques, AXA, Bonfim, Municipal de Coimbra...desde há muitos anos. Os clubes passaram a limitar-se a importar de forma impulsiva e a depender dos empréstimos dos jovens (e erros de casting) dos grandes para fechar os planteis. Isso significava menos gastos e uma dependência politica que Porto e Benfica souberam aproveitar bem criando verdadeiras relações de dependência com várias instituições.

Sem dinheiro, sem jogadores da casa, muitos desses clubes irão passar graves problemas quando os grandes deixarem de emprestar jogadores, desviando-os para a sua equipa B. Terão de encontrar rapidamente soluções para não cair no erro do Boavista ou Belenenses, clubes que andaram anos na corda bamba até que a corda finalmente se rompeu.

Um problema que terá consequências em projectos que acabarão como os Salgueiros, Alverca ou Estrela da Amadora do passado mas que será inverso na Liga Orangina. Com rivais das equipas B as equipas da segunda liga terão mais atenção, mais espaço mediático e estarão mais expostos aos clubes de primeira que queiram observar as jovens promessas em acção. Um aumento do interesse pelas equipas da prova pode equilibrar, e muito, o equilibrio da balança desportiva de várias instituições até hoje relegadas para segundo plano.

No fim de isto tudo está o futebol nacional como tal. A presença de equipas B dinamiza uma liga profissional abandonada, fomenta a formação, especialmente entre os grandes e sobretudo dá espaço e minutos para jogadores jovens começarem a ganhar o seu espaço. Se essa foi a bandeira do futebol luso até 2002 - e a base do seu sucesso - esse terá de ser o ponto de partida desta nova etapa. Se Nelson Oliveira, Miguel Rosa, André Almeida, Mika, Nuno Reis, Cedric, Sanu, Atsu, Viana e companhia começarem a ter minutos nas pernas, chamadas às equipas principais e reconhecimento público pode ser que a renovação geracional que se adivinha tão dificil se transforme num processo menos turbulento.

Claro que a ideia no papel funciona sempre melhor do que na prática, especialmente se falamos num futebol como o português, cheio de ratoeiras, armadilhas e corrupção activa e passiva. O projecto tem todas as pernas para andar (o sucesso do Barça ou do Villareal B em Espanha e das equipas de reserva na Alemanha, Inglaterra e Holanda assim o diz) e pode ser uma alavanca económica e social para reinventar o futebol luso. Mas é apenas uma solução de base que necessita muito trabalho estrutural por trás e muita vontade para funcionar. As equipas B são parte de uma ponte para um futuro melhor mas a margem é longa e vai ser necessário muito mais cimento, pedra e alcatrão para chegar ao outro lado do rio...



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Sexta-feira, 19.08.11

Nas vésperas de marcar presença na terceira final da sua história, Portugal não sabe bem como lidar com o sucesso da equipa de Ilidio Vale. Sentimentos desencontrados, orgulho escondido, criticas disfarçadas e pouco entusiasmo têm vindo a pautar a campanha da selecção sub-20 portuguesa. Frente ao Brasil a equipa das Quinas pode fazer história e lograr um inesperado tricampeonato mundial mas as sensações de Riade e Lisboa esbateram-se no tempo. Realmente, o que importa mais, vencer o Mundial ou vencer o futuro?

Falou-se durante anos da Geração de Ouro do futebol português, a mesma geração que se sagrou bicampeã mundial de forma consecutiva entre 1989 e 1991. A de Rui Costa, Paulo Sousa, Figo, João Vieira Pinto, Fernando Couto, futuras estrelas mundiais. Mas também a de Jorge Couto, Paulo Madeira, Paulo Alves, Rui Bento, Capucho, Tulipa, Hélio ou Folha, jogadores de nivel médio que tiveram carreiras aceitáveis. E ainda a de Valido, Morgado, Abel Silva, Amaral, Cao, Toni ou Gil, atletas que, pura e simplesmente, nunca conseguiram dar o salto no futebol profissional. Todos eles podem gabar-se de serem campeões do Mundo mas muito poucos contribuiram, eficazmente, para o crescimento desportivo do futebol português.

O sucesso mediático de Figo e companhia só sucedeu muito depois, quase uma década, do seu triunfo, no Euro 2000, onde pela primeira vez Portugal deu provas de ter superado os seus complexos de inferioridade e começou a bater-se de igual com as restantes potências do Velho Continente. Um cenário que Espanha também viveu. Em 1999 os espanhóis venceram o troféu pela única vez numa selecção onde Casillas era suplente e Xavi, inevitavelmente, o eixo central do jogo da Rojita. Foram precisos nove anos para nuestros hermanos lograrem com a absoluta o êxito que a mesma geração tinha antecipado no torneio disputado na Nigéria. É muito dificil antecipar se um jogador que funciona bem nos moldes de um torneio etário dá o salto ao futebol profissional. Portugal sabe-o muitissimo bem e o sucesso posterior da geração dourada funcionou também porque houve vários jogadores que não foram campeões do Mundo, por ausência (Vitor Baía, Jorge Costa) ou porque despontaram mais tarde (Dimas, Vidigal, Costinha, Pauleta, Sérgio Conceição, Nuno Gomes), que se revelaram fundamentais no sucesso colectivo luso na última década. Em 2004 a estrutura do meio-campo, acente no jogo do FC Porto, incluia três jogadores que nem sequer tinham passado pelos escalões de formação da Federação. Vencer o Mundial de sub-20 amanhã não garante um futuro radioso ao futebol português. Gabor, Geovani, Bismark, Caio ou Oliveira são nomes de jogadores campeões do Mundo e, como Peixe, consagrados como o melhor do torneio que disputaram e nenhum deles deixou o mais minimo impacto no futebol profissional. Nessas mesmas competições andavam por lá Ronaldinho, van Basten, Protasov, Kostadinov, Boban, Suker, Sammer, ... mas claro, nem todos repararam neles.

 

O caso mais sintomático desta realidade chama-se Espanha.

O país vizinho é, desde há 15 anos, indiscutivelmente a melhor cantera do Mundo. A RFEF apostou forte e bem num sistema de formação nacional, estruturado a nivel federativo e com cumplicidade com os principais clubes. A aposta no producto nacional - apanágio espanhol em tudo - e, sobretudo, num estilo de jogo que explorasse as condições dos jogadores espanhóis (baixos, dotados de técnico individual, jogo mais ritmado sem a constante busca do choque e da verticalidade da Fúria). Essa politica transformou a Espanha numa potência mundial indiscutivel e, no entanto, salvo esse ano de 1999, os espanhóis nunca estiveram perto de vencer o troféu da FIFA.

Parece uma incongruência mas está longe de sê-lo. Os espanhóis preferiram em apostar em formar jogadores para a selecção nacional em vez de conquistar titulos nas categorias amadoras. Desde 1999 para cá tem havido titulos, é certo, mas sobretudo tem havido fornadas e fornadas de jogadores preparados para dar o salto para a elite sem pestanejar. Talentos como Iniesta, Silva, Fabregas, Cazorla, Villa, Pique, Xabi Alonso, Torres, Ramos e companhia são filhos dessa filosofia mas representam a nata. A liga espanhola está repleta de casos de sucesso que só não vão mais longe porque há sempre alguém melhor a ocupar o seu lugar na elite. Essa aposta ficou evidente na qualidade de jogo da Rojita que foi eliminada nos Quartos de Final pelo Brasil. Talvez a melhor selecção do torneio, juntamente com a Nigéria e Colombia, a equipa espanhola não fez o seu melhor jogo mas não é dificil ver o talento de Bartra, Oriol, Rodrigo, Isco e companhia a brilhar na selecção principal espanhola nos próximos anos. O mesmo não se pode dizer do escrete canarinho onde, apesar do talento individual de alguns jogadores, o mais provável é que se repita o mesmo cenário de sempre e a esmagadora maioria daqueles que serão rivais de Portugal amanhã caiam no esquecimento ou numa liga obscura por esse mundo fora. Espanha não venceu o torneio, mas venceu o futuro, conservou o seu espirito, a sua filosofia, os seus automatismos e lançou um aviso aos mais velhos: aqui há gente com fome de mais. O Brasil, que jogou sem Lucas, Neymar e Ganso, as suas principais figuras no Sudamericano do ano transacto, tem em Oscar, Coutinho e Gabriel as suas principais figuras mas o resto é uma imensa incógnita. A este nivel, onde o futuro é o que conta, triunfar é realmente o mais importante?

 

No entanto, longe da ditadura critica em que parece viver o adepto português, o mérito da selecção de Ilidio Vale é inquestionável e deve ser valorizado, por cima de qualquer outra circunstância. Chegar à final de um torneio, seja ele qual seja, quando muitos nem acreditavam que a selecção pudesse passar a fase de grupos é um feito tremendo. Portugal não tem um único jogador de encher o olho, nenhum elemento que deixe antever que poderá tornar-se numa estrela de futuro (ou presente). Mas em 1991 quem imaginaria o futuro de Figo, Rui Costa ou João Pinto num contexto pré-lei Bosman em que jogar no estrangeiro (e brilhar) estava ao alcance de muito poucos?

O problema da selecção nacional está na politica de abandono de formação da FPF - que nem a dignidade de construir uma casa de selecções tem depois de tanto dinheiro embolsado na última década com a absoluta - e dos principais clubes portugueses, aliado ao final dos clubes de nivel médio que antes forneciam o futebol luso de alguns dos seus melhores interpretes. Ilidio Vale, um dos responsáveis pelo abandono da cantera do FC Porto, é o homem perfeito para esta estrutura federativa mas sem ovos não se fazem omeletes e não há em Portugal muitos jogadores com menos de 20 anos que possam ambicionar chegar à selecção. O nivel é baixo e isso não merece discussão. Num contexto individual há pouco que referir, num contexto colectivo o trabalho é espantoso.

Portugal perdeu para a Espanha esse condão de equipa capaz de manejar os tempos, a bola e de jogar bonito com uma vocação ofensiva, precisamente a imagem de marca da "Geração de Ouro". Hoje, sem jogadores com essa técnica, Portugal, como tantos outros, fecha-se na táctica. E nas armas tácticas que um conjunto sólido é capaz de oferecer face a equipas com melhor expressão individual. Viu-se no duelo com a Argentina, voltou a ver-se contra a França. Um por um, Portugal é inferior. Colectivamente soube impor-se com uma excelente noção dos espaços e, sobretudo, muita disciplina defensiva. Se algo deixa o Mundial sub-20 para o futuro do futebol português é a consciência dessa disciplina defensiva que tanto faltou no passado e que agora começa a ser trabalhada. Mika pode ser um novo Bizarro, Cedric e Mário Rui novos Paulo Torres ou Nélson e a dupla Nuno Reis-Roderick não passar de uma nova versão de Gil e Paulo Madeira, mas a forma como encararam o torneio e como chegam ao jogo decisivo sem um golo sofrido (inédito) é um registo espantoso. Portugal soube defender melhor que atacar (aliás, a esmagadora maioria dos golos surge como consequência de lances de bola parada) e olhando para Nélson Oliveira, Rui Caetano ou Sérgio Oliveira é fácil imaginar o porquê. Mas uma das exigências futuras do futebol profissional é precisamente essa mentalidade que tanta falta fez ao futebol luso no passado. Nesse sentido o trabalho da selecção, apesar de estar longe de ser espectacular, será fundamental.

 

Portugal e Brasil reeditam a final mais memorável da nossa história. Naquele fim de tarde no velho estádio da Luz o 0-0 final não fez justiça a um grande jogo. 20 anos depois é o resultado mais expectável face a um encontro disputado entre uma equipa especializada em defender e outra que se sente pouco cómoda em ter a iniciativa. Não se espera um jogo bonito ou espectacular e como sucedeu em 1991 provavelmente só quatro ou cinco dos 22 miudos que subam ao relvado cheguem a ser jogadores de impacto mundial. O trabalho de Nigeria, México, França, Colombia e, sobretudo, Espanha terá consequências evidentes. A Portugal cabe-lhe saborear o raro momento e desfrutar de uma noite histórica. O resultado é o menos importante, o futuro é uma incógnita, mas o mérito, esse é indiscutivel!

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:09 | link do post | comentar | ver comentários (23)

Sábado, 28.05.11

 

Guarda-Redes

Helton

 

Num ano em que os guarda-redes da Liga Sagres se erigiram, muitas vezes, nos grandes protagonistas, Helton confirmou-se definitivamente como um dos grandes com a sua melhor época desde que aterrou no Dragão. O sucessor de Vitor Baía sempre tinha deixado a impressão de insegurança e displicência em pontuais momentos das épocas anteriores mas com Villas-Boas ao leme mostrou-se um capitão em toda a linha e soube ser o pendulo perfeito para o equilibrio defensivo de uma equipa com profunda tracção dianteira. Olhando para como correm as coisas no Brasil, um regresso à selecção não seria de todo injusto.

 

Outros: Rafael Bracalli, Nilson e Artur foram nomes próprios numa época em que os guarda-redes estiveram em alta (podiamos também falar de Cássio e Patricio). O primeiro continua a mostrar o seu alto nivel ao serviço do Nacional que tem um historial curioso em acertar em cheio nas suas apostas para a baliza (de Hilário a Benaglio). O segundo confirmou em Guimarães o bom que tinha adiantado e é hoje um sério seguro de vida para uma equipa que precisa de dar um passo mais na sua aproximação às equipas do topo. Artur chegou da Roma, onde teve pouco espaço, e superou as expectativas, especialmente depois do fiasco em que se tornou o irregular Felipe. O brasileiro esteve nos grandes momentos do Braga e fez esquecer a sombra de Quim.

 

Defesa-Direito

Silvio

 

É verdade que jogou parte da época no lado esquerdo da defesa mas quando explodiu realmente, no inicio do ano, Silvio era o defesa direito com que contava Domingos. Logo o crescimento de Miguel Garcia e as sucessivas falhas de Elderson desviaram o jovem internacional para o lado esquerdo mas na retina ficaram alguns dos momentos mais entusiasmantes do Braga da primeira volta. O seu nome é já uma certeza no futebol português e uma transferência para o Atlético de Madrid o prémio de uma época imaculada.

 

Outros: Fucile e Sapunaru dividiram as honras no lado direito da defesa portista. Os problemas fisicos de ambos permitiram que fossem alternando no posto (aliado à passagem de Fucile para a esquerda com a lesão de Alvaro) mas sempre a um óptimo nivel. João Pereira mostrou em Alvalade que é um jogador regular e sério, capaz de salvar-se do naufrágio colectivo em que se tornou a temporada dos leões. O brasileiro Baiano foi a grande revelação, jogador com critério e segurança defensiva que ofereceu profundidade de campo ao futebol de ataque do Paços de Ferreira.

 

Defesa-Esquerdo

Fábio Coentrão

 

Se a época do Benfica se avalia-se apenas em critérios individuais a única nota elevada seria para Fábio Coentrão. O lateral-esquerdo ganha em regularidade e influência onde outros são apenas cumpridores. Coentrão desdobrou-se ao longo do ano entre a defesa e o ataque e, muitas vezes, foi o único a manter viva a esperança da revalidação do titulo nas hostes encarnadas. É, sem dúvida, um dos laterais mais em forma do futebol mundial e será complicado que o Benfica não seja forçado a vendê-lo na próxima época se não encontrar forma de melhorar o contrato a um jogador cobiçado por meio mundo. Veloz, goleador, influente, Coentrão salvou-se num oceano de mediania gritante.

 

Outros: Alvaro Pereira foi fundamental no jogo ofensivo do FC Porto mas as lesões deixaram muitas vezes o lado esquerdo dos azuis e brancos coxo no ataque. A sua velocidade e desborde permitiram as diagonais de Varela e a liberdade de Belluschi na primeira parte da época e só quando regressou no final do ano se voltou a ver um FC Porto aberto em todo o campo. Evaldo provou em Alvalade, como João Pereira, que a disciplina e regularidade ganhos em Braga sobreviveu ao caos de Alvalade.

 

 

Defesas Centrais

Paulão e Otamendi

 

Não foi o central que mais jogos disputou mas o seu estilo deixa adivinhar claramente um jogador com um potencial tremendo. Nicolas Otamendi chegou da Argentina para confirmar aquilo que Maradona já tinha adiantado sobre ele há uns meses. Sério, regular e profundamente disciplinado, o argentino foi pedra base nos momentos mais importantes da época do campeão e o seu establecimento definitivo como parceiro de Rolando uma óptima noticia face à inconstância de Maicon.

Paulão esteve para o Braga de Domingos da mesma forma que Moisés tinha estado na época passada. Um verdadeiro seguro de vida, seguro a defender, influente no jogo de transição rápido que o técnico leceiro pediu constantemente à sua linha defensiva, o brasileiro foi um dos jogadores mais em forma do Braga durante a segunda volta.

 

Outros: Rodriguez foi outro eixo fulcral na muralha defensiva bracarense. Um jogador determinante na estratégia de Domingos que certamente seguirá o técnico na sua próxima aventura. O internacional português Rolando foi a figura mais regular da defesa portista mas teve uma época com luzes e sombras que continua a deixar alguma insegurança sobre a sua concentração em momentos chave. O brasileiro Luisão e o português Daniel Carriço foram figuras mais em defesas em constantes problemas. No Benfica pela irregularidade dos restantes elementos do sector defensivo e em Alvalade pela profunda desorganização estrutural que deixaram muitas vezes o jovem central sozinho contra o Mundo.

 

 

Médio Defensivo

Vandinho

 

Voltou a ser o grande pendulo que definiu o inicio de época do Braga 2009/10 e Domingos soube rodea-lo de um leque de grandes interpretes (Salino, Matheus, Mossoro e Viana) que lhe permitiram respirar e fazer jogar com o critério que tão bem sabe. Fundamental a tapar os espaços, determinante a soltar as rédeas do jogo, a excelente recuperação do onze bracarense e a eficácia defensiva dos arsenalistas fica muito a dever ao renascimento de Vandinho.

 

Outros: Enquanto o médio brasileiro não atingiu a sua melhor forma o Braga pode contar com o imenso pulmão de Leandro Salino, uma descoberta de Domingos que foi fundamental em manter o Braga vivo, especialmente nos palcos europeus. Fernando foi também peça nuclear no jogo do FC Porto. O brasileiro deu um salto qualitativo face a 2010 e jogou com mais critério mas continua ainda a ser um jogador excessivamente stopper e com alguma dificuldade em associar-se em tarefas mais ofensivas. A revelação do ano foi, inequivocamente, o jovem André Santos. Num meio-campo repleto de internacionais europeus ele foi o mais regular e constante dos médios leoninos e as suas boas exibições garantiram-lhe, merecidamente, a sua primeira estrela de internacional. Mais um bom producto de Alcochete.

 

Interior Direito

João Moutinho

 

Trocou o Sporting pelo FC Porto porque queria ganhar titulos e conseguiu todos na sua primeira aventura no norte. O jovem algarvio foi uma peça chave no novo rosto apresentado pelo FC Porto e confirmou todo o potencial que fez dele, há três anos, o médio jovem mais cobiçado do futebol europeu. Uma compra por valores pouco habituais para o mercado interno mas que compensou o investimento desde o primeiro momento. A Moutinho faltou apenas aumentar os seus indices de eficácia ofensiva para redondear um ano perfeito em que o seu estilo de jogo combativo e eficaz acentou como uma luva na filosofia futebolistica de Villas-Boas.

 

Outros: O brasileiro Mossoró continua a ser um dos homens mais entusiasmantes do Sporting de Braga e um ano mais voltou a ser um seguro de vida, especialmente quando Matheus se rendeu aos milhões do leste europeu. Joao Alves continua a ser o patrão de jogo em Guimarães e foi peça chave para que a máquina de Machado funcionasse no seu regresso à Europa. O croata Skolnik foi uma das agradáveis surpresas do ano, exibindo-se a um óptimo nivel no Funchal e oferecendo, dessa forma, um herdeiro ao jogo de Ruben Micael no onze do Nacional.

 

 

Interior Esquerdo

Freddy Guarin

 

Só jogou a titular no final da época mas o seu impacto no FC Porto foi de tal forma tremendo que é impossível ignorar o ano que protagonizou Freddy Guarin. O colombiano soltou-se, finalmente, do estigma que carregava de ser uma eterna promessa e ajudou a decidir o titulo com os seus golos certeiros em deslocações complicadas e os seus passes exactos nas combinações com Falcao e Hulk. Herdou o lugar do argentino Bellushi e não o voltou a perder até ao final do ano dando razão aqueles que ainda se lembram dele quando era só uma jovem promessa sul-americana.

 

Outros: Hugo Viana voltou a ser ele mesmo, sóbrio, discreto mas profundamente eficaz. À medida que foi entrando no jogo do Braga foi conquistando o espaço que lhe pertenceu na época transacta e no final da temporada afirmou-se como o pensador por excelência do futebol bracarense. Os argentinos Aimar e Bellushi voltaram a entusiasmar com os seus golpes de classe mas ambos foram vitimas de problemas fisicos e acabaram por sofrer com uma certa irregularidade que só não afectou mais o colectivo, no caso do portista, pela aparição de Guarin. O Benfica pagou o preço de não ter tido uma alternativa à altura do seu criativo. Destaque igualmente para o batalhador Andre Leão, outro nome próprio do Paços de Ferreira de Rui Vitória.

 

 

Extremo Direito

Hulk

 

Foi o jogador do Campeonato, olhe por onde se olhe. Golos, assistências, espirito de liderança, Hulk encarnou o renascimento do FC Porto depois de dois anos onde dava já indicações de ser um jogador diferente. Utiliza o corpo como poucos, explora as transições com segurança mas também sabe aparecer nos espaços certos para definir. Marcou um terço dos seus golos de penalty mas quase todas as faltas sofreu-as ele também o que explica, de certa forma, a sua omnipresença no jogo dos dragões. O espirito do brasileiro, um dos mais agraviados pelos problemas disciplinários que marcaram 2010, ajudaram a liderar o projecto de Villas-Boas e deram ao FC Porto um plus de qualidade dificil de encontrar em todas as restantes ligas de topo do futebol europeu.

 

Outros: David Simão foi uma das mais agradáveis surpresas da Liga Sagres. No Paços de Ferreira passou do meio ao lado direito do ataque com finura e critério e dá a impressão de ser um jogador com um futuro muito interessante. Em Braga o brasileiro Alan continua a mostrar que a sua passagem pelo Dragão foi um lapsus numa carreira em Portugal verdadeiramente admirável. O argentino Jara teve menos tempo do que se imaginaria mas quando apareceu em boa forma deu um plus de qualidade ao ataque do Benfica que Jesus não aproveitou sempre da melhor forma.

 

Extremo Esquerdo

Varela

 

Apagou-se no final da época (deixando muitas vezes o lugar ao jovem James Rodriguez) mas na primeira parte da época foi o rei das assistências e dos golos importantes. O “Drogba” da Caparica revelou-se fundamental na estratégia desenhada por Villas-Boas e ofereceu a velocidade e descaro que faltava a um ataque estelar dos azuis e brancos. Sofreu um abaixamento de forma, alguns problemas musculares e foi-se tornando uma peça menos importante à medida que a prova avançava mas, mesmo assim, deixou bem marcada a sua marca na prova.

 

Outros: Pizzi chegou a Paços de Ferreira emprestado pelo Sporting de Braga e esta época fez méritos suficientes para conquistar um lugar ao sol na formação bracarense em 2011/12. Por outro lado o argentino Salvio mostrou finalmente aquilo que em Madrid tinha ficado por ver e foi importante nas sucessivas reviravoltas do Benfica na etapa mais quente do ano. Faltou-lhe mais regularidade nos momentos decisivos.  

 

 

Avançado

Falcao

 

Foi provavelmente o jogador mais importante do ano para o FC Porto e hoje é dificil olhar para Falcao e não ver nele um dos melhores pontas-de-lança do Mundo. O dianteiro colombiano já supera os números de todos os dianteiros portistas pós-Jardel e ninguém duvida que o seu estilo e influência no jogo supera inclusive o instinto assassino do brasileiro. Falcao marcou, deu a marcar e foi decisivo nos momentos mais importantes do ano. A sua lesão inoportuna e a sua espectacular recuperação, mérito inequivoco do trabalho do departamento médico azul e branco, deram pulmão para o final de temporada onde se começou a aproximar da série goleadora do brasileiro Hulk.

 

Outros: João Tomás continua a ser o melhor goleador português e os seus número no Rio Ave não enganam. Apesar da idade, apesar da falta de cartel, o dianteiro continua a falar a linguagem do golo como nenhum outro e afirma-se como o único português concretizador nos primeiros lugares da lista de melhores marcadores. Carlão, da União de Leiria, foi até à sua saida em Janeiro uma das peças mais concretizadores da Liga enquanto que o pacense Rondon mostrou uma maior regularidade aliada a uma profunda capacidade de marcar nos momentos decisivos. Cardozo, Bota de Prata em 2010, e o vimaranense Edgar, foram também nomes escritos na história da edição 2011 à base de golos.

 

Treinador

André Villas-Boas

 

Inevitavel reconhecimento para o brilhante trabalho de um técnico de 33 anos com poquissima experiência como técnico principal que no primeiro ano venceu tudo o que havia para ganhar, dentro e fora de portas, e de uma forma autoritária que, por muito que não o queira, transformam as comparações com José Mourinho em algo absolutamente inevitável. O FC Porto de Villas-Boas manteve o desenho e a estrutura mas mudou o sistema e a mentalidade e com isso devolveu os portuenses de volta ao topo. O futuro é seu e está claro que tem todas as condições para establecer uma nova tirania azul e branca antes da sua inevitável emigração

 

Outros: Rui Vitória merece uma menção especial já que o seu Paços de Ferreira foi, provavelmente uma das equipas que melhor jogou durante toda a época com os poucos recursos que dispunha. Domingos Paciência confirmou todo o seu talento como treinador mantendo o Braga na elite, ao mesmo tempo que apostava forte na Europa, e agora espera-se com curiosidade o seu próximo desafio em Alvalade. Manuel Machado continua a ser um treinador cumpridor. Depois da desilusão vivida em Guimarães no final da época passada o técnico prometeu devolver o Vitória à Europa e logrou-o pela posição na Liga Sagres mas também pela brilhante campanha na Taça de Portugal, a primeira final em 20 anos do clube.

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:59 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sexta-feira, 27.05.11

 

Explicar o que sucedeu em 2010/2011 com o FC Porto pode resumir-se apenas numa palavra: mistica.

 

Os dragões realizaram na passada época uma das mais suas mais lamentáveis temporadas, reflexo de um profundo desgaste interno com a bem sucedida gestão de Jesualdo aliados à clara melhoria de dois rivais, Braga e Benfica, e também ás polémicas arbitrais que marcaram um antes e um depois no torneio. Sem Jesualdo, mas com o esqueleto do seu projecto, o FC Porto transformou-se radicalmente numa equipa autoritária, possessiva e profundamente atacante. Mérito total de André Villas-Boas, o primeiro técnico portuense (e portista) desde António Oliveira, que soube recuperar essa mistica sem alterar profundamente os cimentos da equipa. Villas-Boas transformou o jogo de transição de Jesualdo num jogo de possessão, adiantou o quarteto defensivo, deu mais liberdade ao duo mais avançado do triângulo do miolo e apoiou-se no espirito goleador do colombiano Falcao e nos desiquilibrios constantes provocados por Hulk. E ganhou.

 

A forma autoritária como o FC Porto arrancou para a época dictou os tempos posteriores.

Beneficiando do atraso do Benfica, que foi perdendo pontos inimagináveis por culpa própria, a goleada frente ao rival no Dragão praticamente fechou as contas do titulo e obrigou os azuis e brancos a gerir, com tranquilidade, uma vantagem que acabou em números absolutamente escandalosos e que não reflectem a real diferença entre os rivais directos. Villas-Boas, motivador por excelência da escola de José Mourinho, soube também gerir um plantel que conheceu apenas três adicções significativas relativamente ao ano anterior. Se a Otamendi e James Rodriguez o técnico foi dando tempo, revelando-se fundamentais na segunda metade da temporada, já João Moutinho foi o interprete perfeito do seu ideário desportivo, a balança que permitiu a fluidez de jogo dos novos campeões nacionais, afastando definitivamente os fantasmas dos seus últimos anos em Alvalade. Num plantel sólido e bem preparado o técnico soube igualmente explorar os momentos de forma ideias dos seus jogadores. Recuperou Belluschi na primeira parte da temporada para entregar-se a Freddy Guarin, um dos nomes próprios da segunda volta da equipa. Viveu do pulmão de Varela até que este não aguentou mais e cedeu o palco a Cristian e James Rodriguez que se foram alternando em grande parte do final da época.

 

Pouco se pode apontar a uma equipa que olha para trás com a consciência de que logrou fazer história. Vencer um campeonato de 30 jogos sem qualquer derrota (93 golos marcados, apenas 16 – a metade do segundo classificado – sofridos) é um feito em qualquer liga europeia. Mesmo no profundamente debilitado campeonato português não deixa de ser um logro espantoso. Basta recordar que só o Benfica de Haggan logrou o feito, já lá vão quase quarenta anos. Se ao titulo ganho de forma simbólica no estádio de Luz se juntam as vitórias em mais três provas (Supertaça, Taça e Europe League) é fácil entender que estamos ante uma das equipas mais importantes da história do futebol português. Anos asssim são como os cometas. Mágicos e que se repetem de tempos a tempos para espanto dos comuns mortais...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:55 | link do post | comentar

Quinta-feira, 26.05.11

 

SL Benfica


A época do SL Benfica seria digna de entrar na história do clube não fosse pelo habitual discurso populista e demagogo dos seus dirigentes e equipa técnica que elevou a fasquia de tal forma que destroçou qualquer possibilidade do adepto encarnado se sentir satisfeito com o ano que findou.

 

Nos últimos 10 anos o Benfica venceu apenas dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e três Taças da Liga sendo que o máximo que logrou a nivel europeu foi uns Quartos de Final na Champions League de 2006. Face a este registo recente que se pode dizer de um ano que garantiu um vice-campeonato (com pré-eliminatória da Champions League garantida), a terceira melhor classificação da década, uma nova Taça da Liga e uma semi-final europeia, inédita há 20 anos no historial do conjunto encarnado?

 

Os excelentes números entalam-se numa ambição desmedida que acabou por provocar um profundo, e legitimo, sentimento de frustração. Luis Filipe Vieira prometeu a grandeza europeia e o dominio do futebol nacional e Jorge Jesus secundou o presidente tornando-se refém das suas próprias palavras. Depois da euforia do titulo de 2010, o péssimo planteamento de época começou a ditar o final das aspirações encarnadas. Sairam Di Maria e Ramires, peças chave no jogo trepidante de Jesus, e ainda Quim, despedido em directo pelo técnico que queria um guarda-redes que garantisse titulos e pontos. A escolha acabou por se tornar numa cruz para a equipa já que o guardião Roberto esteve directamente ligado à maioria dos fracassos do colectivo ao longo do ano. Jesus não soube aproveitar os seus activos, não encontrou alternativas à baixa de forma de Aimar, Saviola e Cardozo e perdeu dinamismo no meio-campo com a saída, não compensada, de Ramires. As perdas de pontos cruciais nas primeiras jornadas obrigaram a equipa a jogar no seu máximo durante o resto de 2010 para manter-se na perseguição ao FC Porto mas a copiosa derrota no Dragão dictou o fim do campeonato e, mais ainda, significou um profundo desgaste fisico que pagaria factura.

 

Face à debacle europeia na Champions League, com a equipa a cinco minutos de terminar a fase de Grupos no último posto, surgiu a campanha na Europe League para dinamizar os adeptos encarnados mas a derrota frente a um Braga que soube sofrer, tornou ainda mais doloroso os eventos prévios, as duas derrotas caseiras frente ao eterno rival que significaram a perda do titulo diante dos seus (com um lamentável comportamento dos directivos encarnados) e a eliminação nas meias-finais da Taça de Portugal depois de uma vantagem conseguida no Dragão de dois golos (no melhor jogo da época do conjunto da Luz). Derrotas contra os rivais directos nas três competições que dão esse travo amargo a um projecto que viveu mais da garra e da improvisação – com Fábio Coentrão com imagem perfeita desse estado de animo descontrolado e frenético – do que de um planteamento pensado e trabalhado no laborátorio de Jesus. Os erros individuais não escondem a profunda quebra colectiva, nomeadamente nos niveis fisicos, e deixam a reputação do técnico em baixa apesar do titulo de 2010.

 

Para o próximo ano espera-se de novo um Benfica combativo em todas as frentes como aliás sempre soube ser, com a excepção da Champions League, durante 2010/11. Mais do que melhorar o aspecto técnico-táctico aos encarnados pede-se, essencialmente, um pouco mais de honestidade intelectual para com a sua legião de adeptos e um leque de objectivos realistas que não se deixem levar por discursos populistas mas que carregam com um pesado preço na hora do infortunio.

 

 

Sporting CP

 


algo muito podre em Alvalade e começa a levantar legitimas suspeitas aos adeptos leoninos de que se trata de um regresso a um tortuoso passado que significou estar 18 anos a ver os titulos passar. Depois de quatro épocas consecutivas num segundo lugar inexpressivo o Sporting começa a cair cada vez mais fundo. Na tabela classificativa. Junto dos seus próprios adeptos e no respeito do futebol português, ainda aburguesado a velhos ritos sociais para entender que entre passado e futuro há uma grande diferença. O Sporting ainda é um grande, principalmente pela sua herança longinqua. Em 30 anos sumou 3 titulos, menos 5 que o seu rival Benfica e menos 15 que o FC Porto. E a situação parece estar longe de inverter-se.

 

Os graves problemas financeiros do clube na ressaca do plano Roquette continuam sem encontrar fim à vista e a polémica à volta das eleições presidenciais apenas contribuiu para aumentar o pessimismo e descrença dos adeptos. O Sporting navega sem rumo, sem ideias e sem forças. A celebre academia conta cada vez menos na gestão desportiva do clube e muitos dos seus melhores frutos são aproveitados por rivais directos. Chegam jogadores sem nivel, velhas glórias com contractos milinários e despedem-se abonos de familia e maças podres que, resulta, ainda têm muito para dar noutras paragens. Paulo Sérgio foi aposta pessoal da direcção desportiva de Costinha e transformou a sua reputação de técnico com projecção numa caricatura de si mesmo. Sem uma ideia de jogo definida o Sporting não encontrou os golos de Liedson e desesperadamente foi caindo no poço. A Europa virou-lhe as costas, as provas a eliminar também e a Liga Sagres tornou-se um martirio constante. Com as excepções de Rui Patricio e André Santos, recém-internacionais, o plantel nunca ofereceu a sua melhor cara e entre os falhanços de Postiga e Djaló, a inconstância de Valdés, Fernandez e Vukcevic e os problemas fisicos intermináveis de Pedro Mendes e Maniche, deixaram a nu a má planificação do plantel na pré-temporada. Nem o terceiro lugar, resgatado ao Braga no último dia, deixa um bom sabor de boca. Afinal, em termos percentuais, esta é mesmo a pior época do conjunto de Alvalade. O anterior registo negro remonta ao ano passado onde a equipa nem passou do quarto lugar.

 

Sem vencer um trofeu há três anos, sem vencer uma Liga há nove, este Sporting começa a assemelhar-se cada vez mais a uma caricatura caduca de grandeza do que a um projecto ganhador. O problema não está, forçosamente, no técnico ou nos jogadores mas sim na falta de uma coerência desportiva que minou nos últimos anos os projectos de Peseiro e Paulo Bento e atirou para o descrédito total um clube ainda com uma significativa franja de adeptos que cada vez menos tem razões legitimas para sonhar.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 21:52 | link do post | comentar | ver comentários (24)

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