Quinta-feira, 11.07.13

Em 2008 Josep Guardiola chegou à primeira equipa do Barcelona depois de realizar um trabalho notável com a equipa B do clube, que promoveu à segunda divisão depois de vários anos. O papel da Masia, a casa onde cresceu como homem e jogador, sempre foi fundamental na sua filosofia. Mas a direcção de Sandro Rossell, homem forte da Nike e com ânsias de protagonismo, sempre preferiu um modelo de "Globetrotters". As personalidades chocaram e foi Guardiola quem saiu. O resultado está à vista. Em pouco mais de um ano, há pouca esperança para a Masia.

 

No último ano de Guardiola, o que lhe custou os títulos com o Chelsea e Real Madrid, forçando-o a abandonar Camp Nou apenas com a Copa del Rey debaixo do braço, o papel da cantera foi tão importante como sempre.

Não só porque Sergio Busquets e Pedro Rodriguez - dois desconhecidos para a maioria dos próprios adeptos blaugranas - se tinham confirmado como titulares indiscutiveis do seu projecto, mas porque continuava a surgir gente nova com vontade de ocupar o seu lugar. O Barcelona chegou a efectuar jogos só com futebolistas formados em casa. Aos históricos Valdés, Puyol, Xavi, Iniesta e Messi, todos eles já em Can Barça quando Guardiola aterrou, juntavam-se Pique, Pedro e Busquets (parte da sua primeira fornada) e também o recuperado Cesc Fabregas e Thiago e Bartra (jogadores utilizados inicialmente nos dois anos seguintes à sua estreia). Onze futebolistas aos que se podiam começar a adicionar os estreantes Montoya, Cuenca e Tello. Todos eles, mais Sergi Robert e, pontualmente, Gerard Deulofeu, passaram pelo onze titular das mãos de Guardiola. Um total dezoito jogadores (se juntamos a Muniesa e Rafinha) que tiveram minutos nesse ano. Um número assombroso para uma equipa de elite mundial. Pep não venceu por pequenos detalhes os dois títulos principais mas não só consolidou o presente do Barça como arrancou o desenho do seu futuro. Os adeptos podiam estar tranquilos. Havia opções para todas as posições e mesmo aquela onde a equipa mais sofria (com os problemas de Abidal), a resposta estava outra vez em casa, no regresso de Jordi Alba ao clube que o formou. Não havia que enganar.

Um ano e alguns meses depois, a situação mudou radicalmente. Os jogadores formados no Barcelona que não eram já titulares indiscutiveis em 2011 parecem ter todas as vias da equipa principal fechadas. A operação saída começou ainda na época passada e prossegue neste Verão. Tito Vilanova, outro filho da Masia, mudou radicalmente a sua política face à do seu antigo amigo e superior. Para ele a cantera conta cada vez menos e a ideia de forjar um "Globetrotter" mundial, como quer o presidente Rossell, parece-lhe muito mais interessante.

 

Cuenca e Muniesa foram os primeiros descartados por Vilanova.

O extremo direito foi utilizado várias vezes por Guardiola em 2011/12 com boa nota mas acabou por ter de seguir a sua carreira no Ajax, enquanto o promissor central, vitima de vários problemas físicos, foi igualmente descartado. Robert e Rafinha, que tanto prometiam nesse último ano da era Pep, jogaram tão pouco que custa associar os seus nomes ao plantel campeão. Bartra só foi realmente opção para Vilanova quando ficou claro que utilizar Song e Adriano a centrais era aumentar os problemas em vez de diminuir os riscos. Fez boas exibições, mesmo nos momentos de maior aperto contra o Bayern Munchen, mas parece que para o clube isso não chega. Com Guardiola teria mais minutos, com Vilanova parece destinado a ser a quarta opção se finalmente chega a Can Barça uma estrela do nível de Thiago Silva ou um jovem com a projecção de Marquinhos. No lado direito, Montoya, que foi utilizado várias vezes pelos problemas físicos de Alves, continua a pedir mais minutos e a ponderar sair para encontrá-los. Com o mesmo problema encontrou-se Thiago.

O seu caso é verdadeiramente paradigmático. Não só porque o médio é o mais promissor futebolista a sair da Masia nos últimos sete anos, como durante anos foi anunciado como sucessor natural de um Xavi Hernandez que já tem 33 anos nas pernas. Thiago demonstrou o seu valor, não só de blaugrana ao peito mas também com a Rojita, e se começava a ganhar o seu espaço com Guardiola, com Tito perdeu-o por completo. A tal ponto que o seu contrato estipulava que, se disputasse x minutos, a cláusula seria de 30 milhões. Menos desse tempo de jogo e baixaria a 18. Com o título no bolso a várias jornadas do fim, Vilanova não teve a inteligência de o colocar a jogar regularmente para segurar o futebolista. Era visivel o seu desinteresse. E assim o mais velho dos irmãos Alcantâra tem a porta aberta com Guardiola em Munique.

O seu irmão Rafinha já tem guia de marcha, com um empréstimo ao Celta de Vigo. Deulofeu, a outra estrela da Masia, jogará com o Everton. Tello terá a concorrência directa de Neymar e Alexis apesar das excelentes exibições das últimas temporadas. Jogará muito pouco se a explosão do brasileiro se converter numa realidade.

Sob os planos de Vilanova, e a julgar pelo onze habitual da última temporada, mais Neymar, os "canteranos" que terão minutos serão os mesmos que já os tinham em 2011, mais Alba. Em 3 anos, todas as promessas da formação catalã foram descartadas. Mas não pela falta de talento. Todos eles têm um nível altíssimo de conhecimento de jogo e poderiam perfeitamente disputar a titularidade no Barça actual e dar a sua contribuição, como sucedia com Guardiola. Mas não será assim. Rossell e Vilanova preferem apostar noutro modelo de negócio, onde se abra espaço para o génio de Neymar, as habilidades de Alexis, as trapalhadas de Song, a frieza de Thiago Silva ou uma utilização excessivo de kms nas pernas de jogadores que têm um ritmo diferente como Puyol ou Xavi. A geração a quem Guardiola tinha deixado o testemunho para começar a ocupar o seu lugar foi convidada a sair. Muitos deles acabarão por regressar da mesma forma que a Xavi, Iniesta e Puyol lhes custou ser titulares. Outros estarão perdidos para sempre. Mas o mito da Masia como fábrica constante de jogadores para a primeira equipa foi desmantelado. Com um plantel curto e muitos jogos pela frente, havia tempo e espaço para todos. Pelo menos, com outro capitão ao leme!



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Domingo, 28.10.12

O triunfo do Benfica com golos de dois portugueses que têm sido actores mais do que secundários nos planos de Jorge Jesus reabre a questão de qual é o verdadeiro problema do futebol nacional. Jorge Jesus e os restantes técnicos das equipas de topo pode funcionar como uma boa resposta, particularmente quando afirma sem complexos, mais do que a sua habitual incapacidade comunicativa, que este tipo de jogadores para a prova nacional "vai dando". Um atestado de incompetência ao futebolista português que não deve surpreender. Há uma década que os jogadores nacionais são tratados assim.

 

Ao mesmo Gil Vicente que foi uma das revelações da passada temporada, graças ao brilhante trabalho de Paulo Alves, o FC Porto não conseguiu vencer com uma equipa que ainda tinha Hulk.

Esse mesmo conjunto de Barcelos acabou derrotado, sem grandes problemas, por um 3-0 contundente com dois marcadores surpresas. Não foram nem Rodrigo nem Cardozo, nem Nolito ou Gaitán. Os golos de Luisinho e André Gomes não foram fruto da casualidade. Pela primeira vez na época, talvez pela primeira vez desde que relançou a carreira de Fábio Coentrão, Jorge Jesus apostou em jogadores portugueses de perfil baixo e obteve lucros. Dois jogadores que, sem ser mediáticos, estiveram à altura das circunstâncias num terreno complicado de visitar e que responderam com golos e qualidade de jogo, algo que tem faltado a uma equipa que não termina de se encontrar. Jesus não se decide pelo modelo de jogo a seguir, depois da saída de Witsel, e muito menos pelo onze titular. Uma rotação constante e talvez excessiva que não permite encontrar um ritmo colectivo comum, talvez consequência dos erros das épocas passadas, épocas em que o Benfica esgotava o balão de oxigénio até metade da época e depois revelava-se incapaz de cumprir os objectivos. Afinal de contas, em três épocas, o técnico tem apenas um título de liga para presumir depois de ter contratado quase meia centena de jogadores.

Jesus, que é um conhecedor profundo da realidade do futebol português, habituado a viver até há bem pouco tempo no universo dos clubes que lutam para sobreviver, deveria ser o primeiro a saber a avaliar a real capacidade de um jogador nacional. No entanto, salvo Fábio Coentrão, a sua gestão como treinador do Benfica levou o último clube a contratar um estrangeiro entre os grandes a deixar de alinhar com portugueses provocando em algum momento da sua gestão a saída de Nélson Oliveira, Carlos Martins, Hugo Vieira, Mika, Ruben Amorim, Eduardo, César Peixoto, Nuno Gomes ou David Simão. Para o seu lugar, dezenas de jogadores estrangeiros com perfil suspeito que, na maioria dos casos, não passam seguramente para a posteridade do livro de honra do clube. 

Jesus não é diferente da maioria dos treinadores portugueses. André Villas-Boas, Vitor Pereira, Domingos Paciência ou Jesualdo Ferreira, para centrar-nos nas figuras de topo, não foram propriamente amigos do jogador português, relegando-os demasiadas vezes para um segundo plano mediático e desportivo injustificado. Como consequência dessa realidade, hoje a liga portuguesa continua a ser um oásis de oportunidades para as jovens promessas que procuram, como outros jovens do país, sucesso noutras paragens. Os casos de Bruno Gama, Paulo Machado, Vieirinha, Salvador Agra, João Freitas, Danilo Pereira estão aí e não há nenhum plantel de um grande português que possa presumir de ter, nos seus 25 jogadores, atletas melhores e mais bem preparados do que estes para ter um papel importante na equipa. Agora e amanhã.

 

Se Jesus não acredita que André Gomes, Luisinho, André Almeida ou Miguel Rosa têm um real potencial de futuro mas encontra-o em Melgarejo, Ola John, Enzo Perez ou Bruno César, parece claro que a realidade dificilmente mudará nos próximos anos.

As equipas B têm dado os primeiros passos para recuperar o tempo perdido e começam a ver-se as diferenças entre a gestão do Sporting, forçado tantas vezes a recorrer à prata da casa (apesar da última gestão presidencial ter mudado a política, para pior), que lidera a Liga Orangina, para a do FC Porto, que há muitos anos que deixou de procurar manter o espírito do dragão em casa e procura nos negócios sul-americanos lucro para manter a estrutura gigantesca criada à volta da sua SAD viva. O Benfica, encontra-se no meio, com jogadores de potencial para explorar mas com um treinador, que apesar do apoio da imprensa, tem-se mostrado incapaz em três anos de o fazer com jogadores nacionais potenciando a sua inevitável saída para outras partes. 

Num exercício oportunista de pura retórica, poderia formar-se um onze de jogadores nacionais só com futebolistas lusos descartados ou sem tempo de jogo entre os três grandes para descobrir que Mika, Luisinho, Tiago Ilori, Tiago Ferreira, Nuno Reis, João Mário, Sérgio Oliveira, André Gomes, André Almeida, Bruma, Hugo Vieira, Castro, Nélson Oliveira, Adrien, André Martins ou Ricardo Esgaio estão aí, à espera da sua oportunidade.

Em 1991, quando Portugal venceu o seu segundo Mundial de sub-20, numa tarde inesquecível para o futebol português, a maioria dos jogadores presentes no estádio da Luz já tinha disputado minutos com a primeira equipa do seu clube. Uma época de crise que forçou os clubes a virar-se para a prata da casa. Antes da lei Bosman, antes da liberalização do mercado, sim, mas com um olho agudo numa geração de jogadores que teve oportunidade de mostrar o que valia. Nem todos chegaram longe, muitos ficaram logo pelo caminho e uns tornaram-se Luis Figo e Rui Costa e outros Paulo Alves e Fernando Brassard. Mas o facto de terem tido a oportunidade significou que a base do sucesso da Geração de Ouro se fez à base de minutos nas pernas em jogos competitivos, não de retóricas falsas e oportunistas. 

Os realmente bons emigraram cedo, os que tiveram nível para permanecer nos clubes de topo fizeram parte da história da liga portuguesa na década seguinte e houve, inevitavelmente, aqueles que a história esqueceu. Se a situação não se alterar rapidamente, esta lista hipotética de 16 jogadores, uma equipa na sua essência, pode seguir esse caminho.

Jesus teve o mérito de colocar os jogadores em campo mas retirou-se a si mesmo o prazer do sucesso ao criticar o seu real valor e - com ele - o valor da liga portuguesa que é, no fundo - apesar de na sua cabeça o Benfica ser um candidato a vencer a Champions League - o seu objectivo real. Aquele que tem falhado nos últimos anos apesar de ter tido todas as condições para fazer bem melhor. As suas palavras, honestas na sua essência, não deixam de espelhar o que se passa nas entranhas do futebol de um país que teve uma selecção finalista num Mundial de sub-20 para agora não contar com nenhum jogador dessa equipa como, e já nem dizemos titular, suplente regular nas suas formações de topo. Enquanto o Braga se "nacionaliza", com jogadores nacionais descartados pelos grandes (Viana, Amorim, Micael, Coelho, Beto), os grandes mergulham no mercado para procurar soluções que encontrariam mais baratas dentro de portas. Mas sem paciência, sem tempo e sem vontade de remar com um objectivo comum (basta ver o número de jogadores estrangeiros nas equipas B, especialmente na do FC Porto), há pouco mais que se possa fazer.

 

Portugal, que sobrevive com a mesma geração há largos anos sem poder apresentar alternativas válidas, sofre com a cegueira dos dirigentes e técnicos dos seus principais clubes. Há uma geração de futebolistas que, com minutos nas pernas, como demonstra Pizzi na Corunha, pode dar um salto qualitativo importante que permite uma renovação sustentada à medida que os Moutinho, Ronaldo, Pepe e companhia se comecem a aproximar da idade limite. Nomes com potencial não faltam e aos 16 citados poderiam juntar-se mais uma dezena de jogadores espalhados pelo estrangeiro ou por equipas portugueses de menor perfil. Falta confiança, faltam jogos, faltam erros, faltam momentos que definem carreiras para inverter a tendência. Os golos e exibições de Luisinho ou André Gomes são uma boa notícia para quem acredita que nada está perdido. As palavras de Jesus uma arma útil para os pessimistas que pensam que, apesar da qualidade, o futebolista português está condenado ao ostracismo. Tal e qual como o país e as suas gentes.



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Terça-feira, 06.12.11

Seguramente que qualquer leitor do Em Jogo conhece James Will. Seguramente que muitos o viram jogar, a parar remates indefensáveis, a realizar defesas impossíveis no último minuto debaixo de um imenso temporal. Ou a comandar a área com a destreza dos mais hábeis e o espirito dos mais guerreiros. Seguramente que James Will é um nome tão familiar para qualquer um como seria Luis Figo...certo? Errado. James Will é o paradigma do erro, o exemplo da abordagem do futebol profissional ao futebol de formação que tem alimentado e destruido carreiras vorazmente durante os últimos 30 anos. Will é o anonimato da mesma forma que Figo representa o sucesso máximo. Cruzaram-se no caminho e pareciam ir por caminhos similares. Mas um continuou e o outro ficou para trás. E não foi o único.

Poucas pessoas realmente viram jogar James Will.

Uma das razões mais evidentes foi a curtissima carreira do jogador. E Will seria um de muitos anónimos que não singraram no jogo não fosse por um mero detalhe: em 1989 a FIFA achou por bem otorgar-lhe o prémio de Melhor Jogador do Mundial de sub-17, realizado na sua Escócia natal. Torneio que perdeu, na final, contra a Arábia Saudita. Nessa prova brilharam grandes futuros craques do futebol mundial como Fode Camara, Khalid Al Romahi ou Gil. Claro que, no meio deste talento que os olheiros da época se prestaram a encumbrar como estrelas futuras, havia um tal de Luis Figo, então ainda um mero júnior do Sporting CP que anos mais tarde se convertiria no simbolo do futebol mundial, depois de Florentino Perez fazer dele o primeiro "Galáctico". No dia em que assinou o contracto com o Real Madrid é dificil saber se algum dos anteriores jogadores ainda eram futebolistas profissionais. Will desde já não o era.

O guarda-redes escocês foi a grande figura do conjunto da casa e exibiu-se a alto nível. Mas nunca chegou a assinar um contracto profissional. Fartou-se das exigências do futebol de elite e seguiu a sua vida como policia de trânsito na sua pequena localidade. O futebol pode ter perdido um grande guarda-redes - como a FIFA sugeriu e muitos olheiros comprovaram - mas a sua experiência tornou-se no paradigma futuro de uma politica incapaz de entender as gigantescas diferenças entre o futebol de formação e o futebol profissional.

Com a globalização os clubes (e alguma imprensa) dedicam esforços à procura de prodigios cada vez mais precoces. Contratam jogadores imberbes, imaginam que em cada miudo de bairro está o próximo Messi e suspeitam a cada simples demonstração de talento os milhões que podem estar ali no futuro. E no entanto a maioria dos jogadores aos 17 anos (e aos 15 e aos 19) é um potencial Will mais depressa do que um potencial Diego Armando Maradona, que dez anos antes venceu o mesmo troféu que o escocês, mas que precisou de meia dúzia de anos para realmente "explodir" como futebolista.

 

A lista de "Wills" do futebol moderno não tem fim.

A cada torneio UEFA e FIFA surgem nomes que depois caem no esquecimento. Demasiadas expectativas, um torneio bom de um jogador com condições medianas, a performance colectiva capaz de exaltar o individuo, o peso do rival ou, simplesmente, a falta de comportamento profissional de um jogador que é ainda um miudo...tudo são factores que muitos esquecem na ânsia de ser os primeiros a descobrir a grande novidade a seguir. A maioria dos jogadores jovens sucumbem à pressão de serem exibidos como bandeiras. Muitos desistem como James Will. Outros são atraidos pelos milhões dos grandes clubes europeus para acabar por jogar em equipas de escalões inferiores, lamentando-se do que podia ter sido e não foi. E outros, pura e simplesmente, colapsam.

Arsene Wenger inaugurou a corrida às jovens promessas mundiais mas teve o savoir faire suficiente de seleccionar jovens que correspondiam a comportamentos padrão que definiam uma margem de sucesso considerável. Qualquer manager ou olheiro de elite sabe que um torneio curto é a pior forma de conhecer o valor real e potencial de um jogador. Normalmente aqueles que mais brilham neste tipo de competições são os que menos longe chegam como profissionais. Estrelas cadentes de um mundo sem perdão.

É no estudo continuado, na análise estatisticas de comportamentos, exibições e atitudes durante um largo periodo de tempo que se descobrem as verdadeiras pérolas do futuro. Muitos deixam-se levar pelo comportamento mediático das estrelas de domingo. Figo nesse torneio não brilhou talvez ao mesmo nível que Will. Mas profissionalmente a sua carreira foi ascendente, em todos os sentidos e beneficiou, de certa forma, dessa pressão ausente que sofreu o escocês e também nomes tão familiares como Nii Lamptey, Daniel Addo, Mohammed Kathiri ou Sergio Santamaria, todos eles detentores do mesmo troféu. Mesmo as consagrações de Landon Donovan, Sinama-Pongolle ou Anderson acabaram por ser mais prejudiciais do que benéficas para os jogadores e nos tempos recentes talvez só mesmo Cesc Fabregas (já então pupilo de Wenger) tenha escapado a uma maldição repleta de lógica e disfarçada de preconceito. O futebol de formação de hoje é cada vez mais uma escola de resultados e imediatismos. Os clubes e as federações procuram productos para vender agora e não estão dispostos a formar jogadores e profissionais para cinco anos. No último Europeu de sub-20 as selecções mais prometedoras, Espanha e Colombia, ficaram pelo caminho. E no entanto é fácil ver que daquele grupo sairão mais desportistas de elite do que das selecções finalistas, Brasil e Portugal.

 

A abordagem em modelos de jogadores mais fisicos e menos técnicos - e o caso francês é evidente - pode dar resultados no momento mas, a longo prazo, não dá frutos. Por cada Figo haverá sempre 100 James Will, jogadores de consumo imediato e precoce que, como as estrelas pop juvenis, se tornam em one hit artists superados facilmente pela fornada que vem já a seguir. O paradigma do erro, em que Portugal apostou recentemente, acreditando que o futebol de formação se faz de titulos e não da preparação de futebolistas de futuro não é caso único e no entanto não deixa de ser um erro repetido vezes sem conta. O projecto de formação do FC Porto, onde tanto dinheiro se investiu, foi coroado de titulos e no entanto não há a perspectiva de nenhum jogador da cantera estar agora ou no amanhã nos quadros da equipa principal. Se o sucesso espanhol mede hoje tudo, deveria ser óbvio para todos que apostar em futebolistas é mais rentável do que apostar em ganhadores, por muito que demore dez anos até que os génios de Xavi, Xabi Alonso ou Andrés Iniesta sejam devidamente reconhecidos. Pérolas individuais existirão como sempre, jovens potreros de bairro encandilarão olheiros atentos mas essa fome de descobrir the next big thing será sempre mais um handicap do que o caminho a seguir. O futebol de formação, como qualquer projecto educativo, precisa de tempo, espaço e ar para respirar. James Will sentiu na pele a asfixia de ter de ser alguém antes do tempo. Há 22 anos o paradigma do erro estava aí e poucos quiseram ver. Hoje há muitos como ele quando a sua história - e a de tantos outros - devia, a pouco e pouco, converter-se na excepção que faz a regra!



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:40 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 31.10.11

Quando Guardiola emerge como figura máxima da expressão artística que define hoje o seu maravilhoso Barcelona atrás de si emerge sempre a figura na sombra de Johan Cruyff. Espelho de uma relação de admiração mútua que traça directamente a ponte entre o Dream Team e o Pep Team, olvidando pelo meio aquele herói que, ainda hoje, Can Barça teima em renegar. Sem ele o futebol moderno seria bem mais pobre e talvez o duelo entre Guardiola e Mourinho hoje fosse apenas uma mera utopia.

O elogio unânime ao futebol do Pep Team parte do principio que o técnico de Santpedor foi, provavelmente, o primeiro treinador a conseguir transformar o Camp Nou no santuário do futebol internacional recorrendo, sobretudo, à célebre cantera da Masia. Em Roma e Londres, palcos das suas duplas conquistas europeias, o Barcelona de Guardiola alinhou com oito jogadores da formação. Sete, se excluirmos Pedro Rodriguez, que chegou a Barcelona já com 17 anos e a formação realizada em Las Palmas. E, no entanto, desses sete jogadores, apenas um deve a sua presença no palco principal do futebol europeu ao técnico: Sergio Busquets.

Guardiola falou várias vezes da herança de Cruyff como elemento refundador do FC Barcelona moderna. Um discurso no qual alinham os seus jogadores, directivos e a esmagadora maioria da imprensa catalã contemporânea. É um reconhecimento natural de quem sabe que deve a sua carreira ao técnico holandês e quem se tornou, de certa forma, o símbolo dessa mutação desportiva em Can Barça que foi a valorização do producto interno. Até aos anos 90 o Barcelona era um espelho fiel do que é o Real Madrid de hoje, um clube mais gastador do que formador, clube que apostava em figuras incondicionais como Cruyff, Maradona, Liniker, Schuster, Simonsen, Romário, Laudrup, Stoichkov ou Ronaldo para paliar o seu imenso défice de produção própria. A cantera de Barcelona celebrizou-se na figura esguia e célere de Guardiola, criou o mito do número 4 - do qual Xavi, Fabregas e Thiago são sucessores - mas até à chegada de Guardiola poucos lhe prestavam a devida atenção. Talvez porque interessa à sempre facciosa imprensa catalã valorizar uma figura local, um homem que, se quisesse, seria hoje president da Generalitat, em detrimento de um passado vestido de laranja. E não o laranja de sant Jordi.

 

Cruyff, o homem que refundou a cantera do Barcelona com o seu ideário de "rondo, rondo, rondo", jogou a final do Wembley de 1992 com dois jogadores formados em casa. Guardiola era um. Ferrer, o lateral direito que passou pelo Chelsea, era o outro. Durante a sua estância em Can Barça o técnico holandês especializou-se a comprar, comprar e comprar o sucesso que obteve. Chegaram da liga espanhola os bascos Zubizarreta, Bakero, Goikotxea, Nadal, Sergi e Salinas. Da nata do futebol internacional Koeman, Stoichkov, Laudrup e Romário. À base de muito dinheiro o Dream Team venceu a Champions League de 1992 - a primeira do clube - e quatro ligas consecutivas, três das quais na última jornada. Depois de três anos de derrotas aos pés da Quinta del Buitre do Real Madrid, a última verdadeira aposta na formação do clube merengue. Quando Cruyff foi despedido, em 1995, a sua filosofia de cantera ainda fazia muito pouco sentido para a directiva do clube que preferiu apostar num inglês - Bobby Robson - que trouxe ainda mais estrelas para a equipa como Ronaldo ou Vitor Baía, que se juntaram a Figo, Hagi e Popescu, nomes que Cruyff tinha contratado para renovar as suas fileiras. Seguindo essa politica o Barcelona continuou a ignorar o producto bruto e só a figura, sempre criticada, de Ivan de la Peña, surgia como um náufrago de estrelas alheias.

Foi a chegada de Louis van Gaal que mudou, definitivamente, o rosto do clube catalão.

Hoje, mais de dez anos depois do seu ambicioso discurso, a maioria dos adeptos do Barcelona continuam a preferir esquecer a sua figura quase dictatorial e o seu génio desportivo. Depois de triunfar em Barcelona (só lhe faltou vencer a Champions League), van Gaal já se reinventou na Holanda (com o seu AZ Alkmaar) e na Alemanha (com o Bayern) e mesmo assim o mundo do futebol continua a olhar por cima do ombro quando o seu nome veio à baila. Nessa apresentação em 1998 o técnico que tinha levado o Ajax à glória europeia anos antes com base na formação local defendeu que o Barcelona, devido à sua idiossincrasia, devia apostar numa equipa formada, maioritariamente, com jogadores locais. Vencer a Champions League com uma maioria de jogadores da casa era o seu objectivo numa gestão a longo prazo. Não o deixaram estar tanto tempo mas houve outros que viveram da sua politica desportiva.

 

Van Gaal foi o primeiro treinador a convencer os directivos do Barcelona a lançar, à imagem e semelhança do Ajax, uma rede de olheiros em todo o Mundo para pescar, na mais tenra idade, as grandes promessas do futebol internacional. Assim chegou, em 2001, um tal de Leo Messi desde a Argentina, algo impensável sob o modelo de gestão anterior do clube.

O técnico holandês queria aplicar a filosofia de Cruyff a outro patamar e foi com ele que realmente todas as equipas do clube, desde os infantis aos seniores, começaram a jogar no mesmo desenho táctico que permitia para o futuro formar algo mais do que números 4. O "rondo, rondo, rondo" continuou a ser o modelo de jogo vigente, mas os conceitos de pressão, de preparação física e, sobretudo, mental, que não existiam na filosofia cruyffiana, tornaram-se objecto de estudo e aprendizagem na fábrica de La Masia. Enquanto a equipa principal vencia títulos com esse misto de holandeses, estrelas internacionais e estrelas em ascensão, começavam a formar-se as condições para que os Iniesta, Fabregas, Valdés, Piqué e companhia encontrassem um Barcelona muito diferente àquele que Guardiola conheceu no final dos anos 80.

O mal amado holandês, sempre criticado pela imprensa local, foi também o responsável directo pelo sucesso actual do clube catalão quando, contra indicações da própria direcção, lançou na primeira equipa a jovens como Xavi Hernandez, Charles Puyol (na sua primeira etapa) e mais tarde a Andrés Iniesta, Victor Valdés e Fernando Navarro (hoje no Sevilla) quando voltou a Barcelona, sem grande sucesso. O seu braço direito de então, José Mourinho, foi o responsável por algumas dessas apostas, já que era o técnico responsável de orientar os jogos na Taça Catalunya, onde Xavi, Puyol e companhia deram os primeiros toques na bola como profissionais do Barça.

Quando van Gaal saiu do clube - e o projecto de Gaspart entrou em espiral destructiva - o clube equacionou vender tanto a Xavi como a Puyol. O dinheiro da transferência de Figo foi gasto em jogadores de segunda linha e a formação continuou a ficar esquecida até que outro holandês, Frank Rijkaard, herdou a herança de van Gaal (com Valdés e Iniesta à cabeça) e seguiu as suas directrizes, juntando ao quarteto da casa - que se sagrou campeão europeu em Paris - o génio de Ronaldinho. E, no entanto, sob o seu mandato - e o de Laporta - tanto Piqué como Arteta e Fabregas foram forçados a emigrar para a Premier porque o clube continuava a olhar de outro lado para o producto da casa por muito que o técnico tentasse ir lançando jovens da cantera.

 

Guardiola herdou um esquema perfeitamente montado pelo ideário táctico de Cruyff e, sobretudo, a aposta clara de van Gaal na ideia de um onze da casa. Herdou sobretudo um esqueleto formado por quatro jogadores em quem só van Gaal acreditou durante larguíssimos anos e a figura omnipresente de um Leo Messi que, talvez, sem a politica de prospecção importada pelo mal amado técnico desde Amesterdam talvez nunca tivesse jogado de blaugrana. Desde a sua chegada, em 2008, que Guardiola já fez estrear a 19 jogadores da casa, o último dos quais a grande promessa Gerard Deulofeu. E, no entanto, só um deles, Busquets, encontrou um lugar à sombra na equipa principal. Entre os restantes 18 há jogadores que abandonaram o navio, outros que continuam a preparar-se na equipa B e um trio (Fontás, Thiago e Cuenca) que é utilizado como back-up de um plantel que continua a ser quase tão gastador como nos dias de Cruyff (Villa, Alves, Ibrahimovic, Abidal, Adriano, Maxwell, Keita, Afellay, Alexis Sanchez) e que mesmo assim consegue transmitir uma ideia totalmente desfasada da realidade na opinião pública. O génio táctico de Guardiola é inequívoco mas o seu rosto de Lancelot da formação blaugrana é uma das mais gritantes falácias do futebol actual. À distância, o mesmo homem que rejuvenesceu o Ajax, revitalizou o Bayern Munchen e quebrou a hegemonia do futebol holandês com o seu AZ continua a ver a sua criação recolher os mais rasgados elogios sem que nunca o seu nome saia à tona. Mourinho, outro dos seus discípulos, outro producto dessa sua formação obsessiva - até de treinadores - está no outro lado da barricada e não tem o mais mínimo interesse em seguir a filosofia de um dos seus mentores. Talvez olhando para o que se vive em Barcelona tenha razão. Afinal, se nem Xavi nem Puyol se lembram de onde vieram, porque não acreditar neste conto de fadas?



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:58 | link do post | comentar | ver comentários (8)

Sábado, 15.10.11

No meio do deserto de ideias em que vive o futebol português a hipotética ideia de ressuscitar as equipas B num formato distinto ao seu modelo original é uma lufada de ar fresco. Insuficiente, dentro de um contexto muito mais lato, mas um passo correcto para uma realidade indismentível e que exige uma resposta imediata por parte de clubes e organizações directivas. No entanto a forma como se arranca o ideário deixa no ar algumas dúvidas pertinentes sobre um outro - e tão grave problema - do futebol luso como é o eventual fim de muitos projectos desportivos que até hoje sobrevivem por um fio.

 

Em 1999, quando a Federação Portuguesa de Futebol, através de uma equipa de trabalho que incluia Jesualdo Ferreira, apresentou a ideia das equipas B (um modelo já praticado em Espanha há décadas), capaz de emular a politica de equipas de reservas que existiram durante muitos anos no futebol português e que subsistem, ainda hoje, no futebol britânico, os aplausos foram generalizados.

Mas o projecto foi um fracasso imediato. A forma como se estruturou o projecto tornou-o imediatamente num nado morto. O impedimento das equipas serem promovidos a uma Liga de Honra a 18 equipas condenava no fundo os jovens futebolistas de FC Porto, SL Benfica, Sporting CP ou Maritimo a actuar eternamente contra jogadores amadores da 2º Divisão B. Perante esse cenário frustante tornou-se evidente que o projecto das equipas B era mais um encargo que uma solução. Os clubes acabaram por entender que era mais prático recuperar a velha fórmula do empréstimo, tão em voga desde finais dos anos 80, do que perder rendimento com um projecto sem futuro. Doze anos depois só a equipa do Maritimo sobreviveu, provavelmente devida à sua particular condição insular, e com um sucesso digno de menção honrosa.

Resgatar então o ideário das equipas B pode parecer um erro à primeira vista. Mas o contexto é outro. E a necessidade evidente.

Em 1999 o futebol português ainda não tinha entrado na sua era de ouro. A selecção A estava prestes a apurar-se para o Euro 2000, apenas a sua quinta grande competição em 80 anos. Os clubes portugueses não marcavam presença numa final europeia há uma década e os grandes nomes lusos contavam-se pelos dedos das mãos. A vitalidade de clubes de médio nivel era evidente na figura do Boavista, Guimarães, Maritimo e Braga de então e a liga lusa, apesar da invasão brasileira, ainda era maioritariamente composta por jogadores da casa. Doze anos depois, o dilúvio, como diria Luis XV, é evidente.

Entre a ilusão de uma década imaculada da selecção A, de três titulos europeus (e dois finalistas vencidos) e da consagração mundial de Figo, Mourinho e Ronaldo esconderam-se os problemas graves e estruturais do futebol nacional. Do descontrolo das contas dos clubes, do desaparecimento das equipas médias, da redução de equipas do futebol profissional, dos excedentes de jogadores estrangeiros e, sobretudo, do abandono da formação, aquilo que, precisamente, ajudou a transformar Portugal numa nação periférica num país capaz de olhar nos olhos das grandes potências desportivas. O final da herança do projecto Queiroz, apoiado pelos clubes nas suas próprias estruturas internas e, sobretudo, alimentado pelos clubes médios, abriu um fosso tremendo que começa agora a ser evidente. Entre as decisões mais importantes para reverter o rumo a formação ocupa um papel fulcral num país sem rendimentos para competir com o poderio financeiro doutras ligas. As equipas B são uma das soluções possíveis. Não a única, não a mais importante mas, seguramente, uma das mais certeiras, especialmente com a confirmação da UEFA da utilização definitiva da regra 6+5.

 

Segundo o projecto que será levado à próxima reunião da Liga de Clubes, o projecto federativo propõe o ressuscitar das equipas B apoiado por seis clubes. Ao Maritimo juntam-se Braga, Guimarães e os três grandes. As equipas só poderiam inscrever por cada jogo a três jogadores com mais de 23 anos (para recuperar atletas fora de forma da equipa principal, como sucede nas ligas de reservas inglesas) e tinham de ter inscritos 22 jogadores de formação do próprio clube que nunca poderiam alinhar pela equipa principal num periodo minimo de 72 horas.

A grande questão das equipas B foi a sua colocação errada num contexto amador como é a 2º Divisão B. Por isso foi fundamental a ideia de abrir definitivamente as portas da Liga Orangina com o inevitável impedimento de promoção à Liga Sagres, como sucede em Espanha ou Alemanha, por exemplo (o Barcelona B, na época passada, não só alimentou os campeões da Europa com jogadores como Thiago ou Fontás como terminou em lugares de play-off a liga regular). No entanto a forma como se introduzem as equipas obriga às habituais soluções de compromisso das entidades lusas. Em lugar de estruturar a competição a Liga toma o caminho mais fácil e aumenta para 22 equipas a competição, insinuando que pode contribuir também para mudar o número de promovidos e despromovidos entre as ligas profissionais de dois para três conjuntos bem como a despromoção progressiva de mais uma equipa para a 2º Divisão B nos próximos seis anos até voltar a nivelar os seus números de participantes a um minimo de 18. 

Na prática esta medida revela condições importantes. Hoje clubes como Sporting, Benfica ou FC Porto têm listas de dezenas de jogadores emprestados por vários clubes lusos e estrangeiros. Esta medida permitirá a Domingos, Jesus e Pereira a possibilidade de trabalhar lado a lado com esses Miguel Rosa, André Almeida, Nuno Reis, Cedric, Atsu ou Diogo Viana que significam, de certa forma, o futuro dos grandes de Portugal. Uma medida que também permitirá aos clubes grandes aligeirar a ficha de gastos no plantel principal já que dispõem de uma equipa alternativa que pode alimentar o plantel principal. Para os jovens de 18 anos saídos dos juniores (ou alguns titulares menos usados) competir com Belenenses, Leixões, Santa Clara ou Oliveirense não será muito diferente do desafio de defrontar os Feirense, Olhanense ou Gil Vicente que irão encontrar na Liga Sagres. Enquanto competem com rivais de maior nivel estão às ordens da equipa principal em lugar de passar um longo interregno, longe de casa, muitas vezes passando desapercebidos dos directivos e técnicos. Assim acabaram os Paulo Machado, Helder Barbosa, Vieirinha, Fábio Paim, Danilo Pereira e companhia do passado.

 

Se essa medida é importante para reforçar o papel dos jovens de formação nos seus clubes base (recordamos o gritante exemplo do FC Porto que não conta com um só jogador da sua formação na equipa principal o que implicou a penalizou da UEFA de inscrever apenas 21 jogadores na Champions League) a verdade é que também tem o seu reverso da medalha.

Desde há vários anos para cá que a politica de contratações dos clubes lusos se tornou numa máquina de importação fora do controlo. Os grandes (mais o FC Porto e menos o Sporting com o Benfica a inverter, agora, a tendência) lideraram o processo mas os pequenos e médios rapidamente os imitaram e de certa forma abandonaram também a sua formação. Se Figo, Baía e Rui Costa sairam dos grandes, Pedro Barbosa, Sá Pinto, Nuno Gomes ou Costinha sairam de clubes médios e pequenos. Esse fenómeno tornou-se um oásis no Bessa, Restelo, D. Afonso Henriques, AXA, Bonfim, Municipal de Coimbra...desde há muitos anos. Os clubes passaram a limitar-se a importar de forma impulsiva e a depender dos empréstimos dos jovens (e erros de casting) dos grandes para fechar os planteis. Isso significava menos gastos e uma dependência politica que Porto e Benfica souberam aproveitar bem criando verdadeiras relações de dependência com várias instituições.

Sem dinheiro, sem jogadores da casa, muitos desses clubes irão passar graves problemas quando os grandes deixarem de emprestar jogadores, desviando-os para a sua equipa B. Terão de encontrar rapidamente soluções para não cair no erro do Boavista ou Belenenses, clubes que andaram anos na corda bamba até que a corda finalmente se rompeu.

Um problema que terá consequências em projectos que acabarão como os Salgueiros, Alverca ou Estrela da Amadora do passado mas que será inverso na Liga Orangina. Com rivais das equipas B as equipas da segunda liga terão mais atenção, mais espaço mediático e estarão mais expostos aos clubes de primeira que queiram observar as jovens promessas em acção. Um aumento do interesse pelas equipas da prova pode equilibrar, e muito, o equilibrio da balança desportiva de várias instituições até hoje relegadas para segundo plano.

No fim de isto tudo está o futebol nacional como tal. A presença de equipas B dinamiza uma liga profissional abandonada, fomenta a formação, especialmente entre os grandes e sobretudo dá espaço e minutos para jogadores jovens começarem a ganhar o seu espaço. Se essa foi a bandeira do futebol luso até 2002 - e a base do seu sucesso - esse terá de ser o ponto de partida desta nova etapa. Se Nelson Oliveira, Miguel Rosa, André Almeida, Mika, Nuno Reis, Cedric, Sanu, Atsu, Viana e companhia começarem a ter minutos nas pernas, chamadas às equipas principais e reconhecimento público pode ser que a renovação geracional que se adivinha tão dificil se transforme num processo menos turbulento.

Claro que a ideia no papel funciona sempre melhor do que na prática, especialmente se falamos num futebol como o português, cheio de ratoeiras, armadilhas e corrupção activa e passiva. O projecto tem todas as pernas para andar (o sucesso do Barça ou do Villareal B em Espanha e das equipas de reserva na Alemanha, Inglaterra e Holanda assim o diz) e pode ser uma alavanca económica e social para reinventar o futebol luso. Mas é apenas uma solução de base que necessita muito trabalho estrutural por trás e muita vontade para funcionar. As equipas B são parte de uma ponte para um futuro melhor mas a margem é longa e vai ser necessário muito mais cimento, pedra e alcatrão para chegar ao outro lado do rio...



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 18:25 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Sexta-feira, 19.08.11

Nas vésperas de marcar presença na terceira final da sua história, Portugal não sabe bem como lidar com o sucesso da equipa de Ilidio Vale. Sentimentos desencontrados, orgulho escondido, criticas disfarçadas e pouco entusiasmo têm vindo a pautar a campanha da selecção sub-20 portuguesa. Frente ao Brasil a equipa das Quinas pode fazer história e lograr um inesperado tricampeonato mundial mas as sensações de Riade e Lisboa esbateram-se no tempo. Realmente, o que importa mais, vencer o Mundial ou vencer o futuro?

Falou-se durante anos da Geração de Ouro do futebol português, a mesma geração que se sagrou bicampeã mundial de forma consecutiva entre 1989 e 1991. A de Rui Costa, Paulo Sousa, Figo, João Vieira Pinto, Fernando Couto, futuras estrelas mundiais. Mas também a de Jorge Couto, Paulo Madeira, Paulo Alves, Rui Bento, Capucho, Tulipa, Hélio ou Folha, jogadores de nivel médio que tiveram carreiras aceitáveis. E ainda a de Valido, Morgado, Abel Silva, Amaral, Cao, Toni ou Gil, atletas que, pura e simplesmente, nunca conseguiram dar o salto no futebol profissional. Todos eles podem gabar-se de serem campeões do Mundo mas muito poucos contribuiram, eficazmente, para o crescimento desportivo do futebol português.

O sucesso mediático de Figo e companhia só sucedeu muito depois, quase uma década, do seu triunfo, no Euro 2000, onde pela primeira vez Portugal deu provas de ter superado os seus complexos de inferioridade e começou a bater-se de igual com as restantes potências do Velho Continente. Um cenário que Espanha também viveu. Em 1999 os espanhóis venceram o troféu pela única vez numa selecção onde Casillas era suplente e Xavi, inevitavelmente, o eixo central do jogo da Rojita. Foram precisos nove anos para nuestros hermanos lograrem com a absoluta o êxito que a mesma geração tinha antecipado no torneio disputado na Nigéria. É muito dificil antecipar se um jogador que funciona bem nos moldes de um torneio etário dá o salto ao futebol profissional. Portugal sabe-o muitissimo bem e o sucesso posterior da geração dourada funcionou também porque houve vários jogadores que não foram campeões do Mundo, por ausência (Vitor Baía, Jorge Costa) ou porque despontaram mais tarde (Dimas, Vidigal, Costinha, Pauleta, Sérgio Conceição, Nuno Gomes), que se revelaram fundamentais no sucesso colectivo luso na última década. Em 2004 a estrutura do meio-campo, acente no jogo do FC Porto, incluia três jogadores que nem sequer tinham passado pelos escalões de formação da Federação. Vencer o Mundial de sub-20 amanhã não garante um futuro radioso ao futebol português. Gabor, Geovani, Bismark, Caio ou Oliveira são nomes de jogadores campeões do Mundo e, como Peixe, consagrados como o melhor do torneio que disputaram e nenhum deles deixou o mais minimo impacto no futebol profissional. Nessas mesmas competições andavam por lá Ronaldinho, van Basten, Protasov, Kostadinov, Boban, Suker, Sammer, ... mas claro, nem todos repararam neles.

 

O caso mais sintomático desta realidade chama-se Espanha.

O país vizinho é, desde há 15 anos, indiscutivelmente a melhor cantera do Mundo. A RFEF apostou forte e bem num sistema de formação nacional, estruturado a nivel federativo e com cumplicidade com os principais clubes. A aposta no producto nacional - apanágio espanhol em tudo - e, sobretudo, num estilo de jogo que explorasse as condições dos jogadores espanhóis (baixos, dotados de técnico individual, jogo mais ritmado sem a constante busca do choque e da verticalidade da Fúria). Essa politica transformou a Espanha numa potência mundial indiscutivel e, no entanto, salvo esse ano de 1999, os espanhóis nunca estiveram perto de vencer o troféu da FIFA.

Parece uma incongruência mas está longe de sê-lo. Os espanhóis preferiram em apostar em formar jogadores para a selecção nacional em vez de conquistar titulos nas categorias amadoras. Desde 1999 para cá tem havido titulos, é certo, mas sobretudo tem havido fornadas e fornadas de jogadores preparados para dar o salto para a elite sem pestanejar. Talentos como Iniesta, Silva, Fabregas, Cazorla, Villa, Pique, Xabi Alonso, Torres, Ramos e companhia são filhos dessa filosofia mas representam a nata. A liga espanhola está repleta de casos de sucesso que só não vão mais longe porque há sempre alguém melhor a ocupar o seu lugar na elite. Essa aposta ficou evidente na qualidade de jogo da Rojita que foi eliminada nos Quartos de Final pelo Brasil. Talvez a melhor selecção do torneio, juntamente com a Nigéria e Colombia, a equipa espanhola não fez o seu melhor jogo mas não é dificil ver o talento de Bartra, Oriol, Rodrigo, Isco e companhia a brilhar na selecção principal espanhola nos próximos anos. O mesmo não se pode dizer do escrete canarinho onde, apesar do talento individual de alguns jogadores, o mais provável é que se repita o mesmo cenário de sempre e a esmagadora maioria daqueles que serão rivais de Portugal amanhã caiam no esquecimento ou numa liga obscura por esse mundo fora. Espanha não venceu o torneio, mas venceu o futuro, conservou o seu espirito, a sua filosofia, os seus automatismos e lançou um aviso aos mais velhos: aqui há gente com fome de mais. O Brasil, que jogou sem Lucas, Neymar e Ganso, as suas principais figuras no Sudamericano do ano transacto, tem em Oscar, Coutinho e Gabriel as suas principais figuras mas o resto é uma imensa incógnita. A este nivel, onde o futuro é o que conta, triunfar é realmente o mais importante?

 

No entanto, longe da ditadura critica em que parece viver o adepto português, o mérito da selecção de Ilidio Vale é inquestionável e deve ser valorizado, por cima de qualquer outra circunstância. Chegar à final de um torneio, seja ele qual seja, quando muitos nem acreditavam que a selecção pudesse passar a fase de grupos é um feito tremendo. Portugal não tem um único jogador de encher o olho, nenhum elemento que deixe antever que poderá tornar-se numa estrela de futuro (ou presente). Mas em 1991 quem imaginaria o futuro de Figo, Rui Costa ou João Pinto num contexto pré-lei Bosman em que jogar no estrangeiro (e brilhar) estava ao alcance de muito poucos?

O problema da selecção nacional está na politica de abandono de formação da FPF - que nem a dignidade de construir uma casa de selecções tem depois de tanto dinheiro embolsado na última década com a absoluta - e dos principais clubes portugueses, aliado ao final dos clubes de nivel médio que antes forneciam o futebol luso de alguns dos seus melhores interpretes. Ilidio Vale, um dos responsáveis pelo abandono da cantera do FC Porto, é o homem perfeito para esta estrutura federativa mas sem ovos não se fazem omeletes e não há em Portugal muitos jogadores com menos de 20 anos que possam ambicionar chegar à selecção. O nivel é baixo e isso não merece discussão. Num contexto individual há pouco que referir, num contexto colectivo o trabalho é espantoso.

Portugal perdeu para a Espanha esse condão de equipa capaz de manejar os tempos, a bola e de jogar bonito com uma vocação ofensiva, precisamente a imagem de marca da "Geração de Ouro". Hoje, sem jogadores com essa técnica, Portugal, como tantos outros, fecha-se na táctica. E nas armas tácticas que um conjunto sólido é capaz de oferecer face a equipas com melhor expressão individual. Viu-se no duelo com a Argentina, voltou a ver-se contra a França. Um por um, Portugal é inferior. Colectivamente soube impor-se com uma excelente noção dos espaços e, sobretudo, muita disciplina defensiva. Se algo deixa o Mundial sub-20 para o futuro do futebol português é a consciência dessa disciplina defensiva que tanto faltou no passado e que agora começa a ser trabalhada. Mika pode ser um novo Bizarro, Cedric e Mário Rui novos Paulo Torres ou Nélson e a dupla Nuno Reis-Roderick não passar de uma nova versão de Gil e Paulo Madeira, mas a forma como encararam o torneio e como chegam ao jogo decisivo sem um golo sofrido (inédito) é um registo espantoso. Portugal soube defender melhor que atacar (aliás, a esmagadora maioria dos golos surge como consequência de lances de bola parada) e olhando para Nélson Oliveira, Rui Caetano ou Sérgio Oliveira é fácil imaginar o porquê. Mas uma das exigências futuras do futebol profissional é precisamente essa mentalidade que tanta falta fez ao futebol luso no passado. Nesse sentido o trabalho da selecção, apesar de estar longe de ser espectacular, será fundamental.

 

Portugal e Brasil reeditam a final mais memorável da nossa história. Naquele fim de tarde no velho estádio da Luz o 0-0 final não fez justiça a um grande jogo. 20 anos depois é o resultado mais expectável face a um encontro disputado entre uma equipa especializada em defender e outra que se sente pouco cómoda em ter a iniciativa. Não se espera um jogo bonito ou espectacular e como sucedeu em 1991 provavelmente só quatro ou cinco dos 22 miudos que subam ao relvado cheguem a ser jogadores de impacto mundial. O trabalho de Nigeria, México, França, Colombia e, sobretudo, Espanha terá consequências evidentes. A Portugal cabe-lhe saborear o raro momento e desfrutar de uma noite histórica. O resultado é o menos importante, o futuro é uma incógnita, mas o mérito, esse é indiscutivel!

 



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Sábado, 25.06.11

A preocupante situação financeira do Barcelona levou Sandro Rossell a adoptar uma postura que vai totalmente contra o ideário desportivo que a filosofia de Guardiola tem implementado, com um sucesso inquestionável, no futebol do clube. Apadrinhada por Johan Cruyff, sempre omnipresente em assuntos de estado, a ideia de abdicar de alguns dos maiores talentos da Masia para mergulhar no complexo mercado de transferências é um sério ponto de inflexão na filosofia do clube blaugrana e afasta o clube do ideário romântico que tanto sucesso tem tido junto do público mundial.

 

Bojan Krkic parece ser o primeiro. Mas seguramente não será o último.

O Barcelona, segundo Cruyff, deixou de ser "Més Que un Club" no momento em que aceitou "manchar" as camisolas blaugranas com publicidade. Depois do truque publicitário - e algo hipócrita - chamado UNICEF (que permitiu à UEFA dobrar, uma vez mais, as suas regras em prol do clube blaugrana ao permitir que o clube tenha duplo patrocinio na próxima Champions ao contrário do que está nos seus estatutos) chegaram os petrodólares da Qatar Foundation, a mesma organização que pagou o apoio de Guardiola à candidatura mundialista do país que organizará o Campeonato do Mundo de 2022. Mas o buraco financeiro deixado na era Luis Nuñez (e engordado com a gestão de Joan Laporta) é tal, que nem esse negócio das Arábias se revelou suficiente.

Juntamos a essa vicissitude as incursões pontuais do clube no mercado de transferências e o quadro complica-se.  Em quatro anos o Barcelona gastou mais de 280 milhões de euros em contratações, com alguns flops consideráveis como foi o caso de Chygrinski (30 milhões), Zlatan Ibrahimovic (40 milhões mais o passe de Samuel Etoo) ou um conjunto de jogadores que mal vestiu a camisola da equipa principal (Henrique, Keirrison, Cáceres e Hleb). Ao mesmo tempo o clube não conseguiu sacar proveito das suas vendas (Henry saiu de forma gratuita, Etoo foi oferecido, Ronaldinho idem, Ibrahimovic chegou emprestado ao Milan que tem agora de pagar 24 milhões pelo seu passe, metade do que custou, ...) e agrandou ainda mais o buraco financeiro. A aposta pessoal de Guardiola na cantera que conhecia como ninguém resultou ser um brilhante negócio para a presidência do clube. A prata da casa não só permitia ao técnico manter a competitividade e filosofia do seu projecto como garantia, ao mesmo tempo, uma imensa poupança em gastos que a médio prazo poderiam salvar as arcas do clube. Mais do que uma filosofia desportiva, apostar na Masia foi sobretudo uma brilhante jogada de gestão. Guardiola evitava ter, como tem o Real Madrid, jogadores de primeiro nivel internacional com salários principescos sentados no banco, e o clube baixava o que gastava em salários e comissões e rentabilizava as suas instalações desportivas de formação como nunca tinha logrado no passado. Mas depois de três anos de máximo sucesso desportivo e algum reequilibrio económico, Sandro Rossell quer inverter a tendência. A Masia, mais do que funcionar como apoio à primeira equipa, ameaça em transformar-se num apoio para a conta bancária do clube.

 

Cruyff deu o tiro de saída num dos seus artigos semanais no El Periodico de Catalunya.

O holandês, que está a caminho do Ajax para reorganizar o futebol base do seu clube de origem, lançou o desafio à directiva e equipa técnica. Afinal o clube conta com mais de uma dezena de jovens "canteranos" com mercado e projecção de futuro e outra dezena com uma projecção menor mas que, com o rotulo de escola Barcelona, vale mais no mercado que muitos jogadores mais bem preparados. A notável temporada do Barcelona B, terceira na Liga Adelante, deu a conhecer ao mundo o génio de Thiago, Sergi Robert, Jonathan dos Santos, Rafa, Oriol, Jonathan Soriano e companhia. Esses nomes juntavam-se aos já habituais da primeira equipa, Bojan, Jeffren e às promessas Botia, Muniesa e Miño. Um onze titular praticamente com um potencial de primeiro nível assinalável.

A maioria treinou com a equipa principal durante o ano e muitos estrearam-se mesmo ao serviço de Pep Guardiola que sabe quais são as pérolas de maior projecção da sua cantera. Mas hoje em dia os próprios jogadores da Masia olham para si com outros olhos. Inspirados pelo sucesso do clube e, sobretudo, pelo impacto de Busquets e Pedro, todos querem a sua oportunidade junto a Messi e companhia. Mas nem todos a terão. Continuar na equipa B é um desafio cada vez menos estimulante para alguns e sair um risco, para eles e para o clube. Não segundo Cruyff.

O homem que criticou o Real Madrid por vender os seus melhores canteranos com direito a opção de recompra agora aconselha precisamente isso mesmo ao clube, para equilibrar as contas e investir no mercado de transferência. Negociar o futuro de Bojan, Jeffren, Thiago, Soriano, Muniesa e companhia parecia uma utopia há uns meses. Agora começa a soar como uma inevitabilidade.

No meio desta jogada aparece a figura de Sandro Rossell. O ex-directivo da Nike, responsável pela chegada do primeiro batalhão de brasileiros durante o mandato inaugural de Laporta, quer deixar a sua influência no projecto do clube. O seu medo de que Guardiola deixe o banco do Camp Nou no final deste ano estimula-o ainda mais a tomar controlo da situação. O caso Fabregas representa o primeiro confronto directo entre direcção e técnico. Guardiola quer o capitão do Arsenal, sente-o como um dos seus e quer repetir o processo de Piqué. Mas Rossel não está disposto a pagar o que o Arsenal pede (algo que a Nike, sua antiga empresa, não veria com bons olhos porque precisa do espanhol para aumentar as suas vendas com o merchandising dos gunners) e prefere gastar o mesmo dinheiro em jovens promessas sul-americanas. Alexis Sanchez e Neymar são sonhos seus, não de Guardiola, que preferia Fabregas e Rossi (por quem o clube ofereceu uns miseros 25 milhões, mais Bojan). 

Guardiola não quer perder o seu backup, a sua cantera, mas começa a ser dificil manter a jogadores como Jeffren e Bojan contentes com o facto de serem os eternos suplentes de Messi e Villa. O próprio Thiago, talvez a maior promessa do clube em muito tempo, sabe que se chega Cesc, como quer o treinador e o plantel, o seu espaço de manobra desaparece. E o técnico de Santpedor entende a situação financeira do clube. Por isso avalou a saída de Bojan para a AS Roma, onde está o seu anterior adjunto Luis Enrique, e ao jovem dianteiro podem brevemente seguir-se muitos mais. O jovem avançado que explodiu no último ano de Rijkaard pagou o preço do seu nervosismo e da mutação táctica de Leo Messi, um génio que nunca falha e raramente perde um jogo. Depois de três anos onde actuou muito pouco, Bojan precisa de jogos para demonstrar que o mais concretizador avançado da história da Masia pode repetir o feito junto dos mais velhos. A sua venda, por 10 milhões, é o principio do fim do romantismo ideológico de Guardiola. Utilizar a sua cantera como meio de reforçar as contas do clube - como fez o R. Madrid com Negredo, Albiol, Arbeloa, Granero, Soldado, de la Red, Mata, Parejo e companhia - significa que os back-ups da primeira equipa passarão a ser jogadores de fora, sem a cultura de base da escola que tanto tem encantado o mundo.

Com uma primeira equipa de sonho é fácil perceber que - salvo a posição de defesa-esquerdo - há pouco onde se possa melhorar o actual Pep Team. Qualquer entrada será, como a de Affellay ou Keita, para servir como apoio. Enquadrar nomes consagrados como Rossi ou Cesc ou promessas do nivel de Sanchez, Neymar ou Pastore nessa politica pode dar mais do que uma séria dor de cabeça a Pep Guardiola. Ao mesmo tempo, vender o melhor que a cantera de Barcelona tem para oferecer diminuiu o prestigio moral do clube ao mesmo tempo que também permite que o ideário blaugrana encontre refúgio noutros projectos que pretendem emular a filosofia do clube da cidade Condal. A Masia tem, desde já, ordem para voar. É uma decisão que financeiramente pode funcionar a curto prazo mas que num futuro pode multiplicar os casos como o de Cesc Fabregas e acabar por ser um erro de planeamento a médio e longo prazo. Com esta jogada, Rossell demonstra também que o presidencialismo também já chegou ao Camp Nou.



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Sexta-feira, 09.10.09

Durante alguns anos foi-se vendendo a ideia de que as camadas jovens do FC Porto estavam a gerar uma verdadeira nova geração de ouro para rivalizar com Alcochete que acabava de soltar para a ribalta Hugo Viana, Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo. Eram vários candidatos a estrelas do futuro mas a realidade provou ser mais crua e em lugar de uma segunda geração de ouro acabamos por ter uma geração perdida.

 

Basta olhar para convocatória de António Simões e da nova selecção de sub-23. Estão lá todos. Com um idade superior à dos sub-21 mas sem nunca terem dado verdadeiramente o salto, eles espelham a problemática da formação nacional nos últimos anos. No FC Porto e na selecção das Quinas. Com 23 anos são hoje promessas falhadas. Ainda vão a tempo de provar o engano mas a situação parece complicada. Surgiram em 2005 da formação azul e branca. Tinham crescido juntos na Constituição e na formação da selecção nacional. Os nomes próprios são hoje, sobejamente conhecidos. O guardião Bruno Vale, tratado como o sucessor directo de Vitor Baía, chamado por Scolari para a selecção nacional antes de tempo. Paulo Machado era o médio de contenção, herdeiro directo da escola de Rodolfo, André e Paulinho Santos. Um portento de força e com bom sentido de colocação. Ao lado tinha Nuno André Coelho, jovem recrutado ao Sporting da Covilhã com um futuro promissor que foi-se integrando na formação junior azul e branca. A extremo direito surgia Vieirinha, o primeiro extremo puro a sair da formação portista desde Sérgio Conceição e Jaime Magalhães, que (tentava) imitiava o drible e sprint cultivado na escola sportinguista. No lado esquerdo estava Hélder Barbosa. Baixo mas com bom sentido de posicionamento, descaía para o lado esquerdo mas era realmente um armador de jogo. Bom nos lances estudados, tinha um pontapé temivel. E por fim Bruno Gama, o jovem prodígio contratado aos 16 anos ao Sporting de Braga que rapidamente chegou à equipa A, sofrendo depois o destino comum aos cinco. Durante dois anos foram jogando entre os juniores e empréstimos pontuais. A pouco e pouco iam saindo da Invicta rumo a outras paragens, comer "o pão que o diabo amassou", uma velha prática no clube das Antas. Só um deles voltou!

 

Num clube mais interessado em explorar o novo mercado argentino, os jovens não tinham lugar. Depois de constantes empréstimos a clubes de menor dimensão nacional (Académica, Setúbal, Rio Ave, Estrela Amadora...) ou do estrangeiro foram rescindindo o contrato com os actuais campeões nacionais. Sem nunca terem tido tempo de mostrar o seu valor. Sem oportunidades de crescer, alguns chegaram a actuar pela equipa principal. Outros nem isso lograram. E na selecção de sub-21, que lideravam orgulhasamente, as coisas corriam piores. Sob o comando de Agostinho e de Couceiro, Portugal realizou as piores exibições e os mais fracos resultados da sua história. No Europeu organizado em terras lusas foi mesmo humilhantemente eliminado à primeira. A equipa que incluía ainda vários nomes dessa geração perdida fora do Dragão (uns com um destino melhor que outros como Zé Castro, Manuel Fernandes e Hugo Almeida) destroçou o legado de vitórias da formação portuguesa e contribuiu ainda mais para a desconfiança geral. Ninguém estava disposto a apostar por jovens em Portugal, muito menos se na selecção mostravam sérias debilidades. Se as gerações anteriores tinham conquistado o seu lugar a pulso e com resultados, esta estava em sérios apuros. A pouco e pouco o sonho do salto foi-se esfumando.

 

Paulo Machado emigrou para França como tantos portugueses antes dele. Depois de três excelentes anos no St. Ettiene, este ano foi uma das pérolas mais cobiçadas do mercado. Agora é chave no Toulouse, clube com aspirações europeias. Queiroz ainda não conta com ele. Enquanto isso Bruno Vale, o único que chegou à selecção A, fartou-se dos sucessivos empréstimos que nunca deram continuidade ao seu futuro brilhante. É agora o suplente do Belenenses.  Por outro lado Vieirinha, o promissor extremo, actua no modesto PAOK grego, ao lado de Sérgio Conceição e sob as ordens de Fernando Santos. Nunca deu o salto de maturidade esperado. O jovem Bruno Gama foi durante algum tempo o patrão do Sado, mas as fracas épocas do Setúbal não o ajudaram a desenvolver-se. Agora volta a Vila do Conde, a casa, e é um dos responsáveis do bom arranque do Rio Ave. E Hélder Barbosa está na Vitória de Setúbal, depois de ter percorrido meio país, sem nunca ter feito realmente uso do seu imenso talento que levou José Mourinho a utiliza-lo alguns minutos durante o seu consulado. O único atleta que conseguiu voltar ao FC Porto é Nuno André Coelho. Depois de vários empréstimos o central, que também pode actuar a médio defensivo, é agora a quarta opção para Jesualdo Ferreira e ainda não teve tempo de mostrar o seu valor. Mas continua à espera.

A estes nomes podem juntar-se tantos outros que espelham o vazio da formação portuguesa na segunda metade da década que está prestes a findar. Promessas como Manuel da Costa, João Moreira ou Semedo. Como Tiago Targino, Flavio Meireles, Sereno e Pelé, da escola do Vitória de Guimarães. De Moreira, incapaz de agarrar na Luz a titularidade. De Vasco Fernandes, que anda por Vigo, de Ricardo Vaz Tê, que continua pelo Bolton inglês ou de Yannick Djaló e Carlos Saleiro, avançados por confirmar em Alvalade. Muitos deles estão agora a ser reciclados pela sub-23.

 

O seleccionador Carlos Queiroz procura recuperar o tempo perdido e dar uma oportunidade a quem não teve espaço para explodir. O problema é que um jogador precisa de condições para crescer, não é magia pura. Numa liga pouco competitiva, em clubes que jogam à defesa ou eternamente condenados ao banco por um técnico menos visionário é fácil transformar uma geração ganhadora numa geração falhada. Esta ainda não falhou, ainda não acabou. Tem tempo. Está perdida, de momento. Mas há que acreditar que em vinte jogadores, há certamente uns quantos que ainda têm uma palavra a dizer no futebol português.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 14:38 | link do post | comentar

Sábado, 15.08.09

O futebol francês tem uma longa tradição em criar médios geométricos, verdadeiros craques em ler o jogo e traçar, a régua e esquadro, todo o jogo da sua equipa. Colocados no eixo mais defensivo, sabem antecipar os lances dos adversários ao mesmo tempo que já desenham o contra-golpe perfeito. Uma tradição que já elevou à glória nomes como Jean Tigana, o príncipe Negro, ou Didier Deschamps. Em Paris, cidade iluminada, forja-se mais um digno sucessor desta escola única.

 

Clement Chantome é um producto da formação parisina. Chegou muito cedo ao Paris Saint-Germain e desde aí se assumiu como uma das mais valiosas pérolas do Sena. Aos 21 anos (nasceu a 11 de Setembro de 1987), o médio é hoje peça chave do projecto do PSG mas também alvo de grande cobiça de vários grandes europeus, com o inevitável Arsenal de Arsene Wenger à cabeça. O técnico francês procura um jogador capaz de fazer inteligentemente a ponte entre o seu bloco defensivo e o rápido ataque assente em Arshavin e van Persie face à provável saída de Cesc Fabregas. E para ele o seu jovem compatriota é a opção ideal. Chantome estreou-se na equipa profissional do PSG em 2006, então com 19 anos, e desde então se revelou peça chave na estrutura da equipa. O seu físico (mede 1m84) permite-lhe controlar o jogo defensivo mas é a sua visão de jogo que faz a verdadeira diferença no seu estilo. Presença regular nas selecções jovens dos Bleus, de Chantome esperam-se grandes feitos, mas Raymond Domenech, o polémico seleccionador gaulês ainda não se arriscou a entregar-lhe a batuta do meio campo. 

 

No último ano Chantome foi prejudicado pela chegada do veterano Claude Makelele, que trouxe mais experiência ao meio campo francês e tornou-se no braço direito do técnico Paul Le Guen. Com a saída do treinador e a chegada de Antoine Kombouaré, anterior técnico do Vallenciennes, o médio centro espera ter de novo a possibilidade de fazer, junto a Jeremy Clement, um bloco intransponível de forma a devolver o clube parisino à elite do futebol francês depois de mais uma temporada decepcionante. Em ano de Mundial será fulcral para o jovem Chantome tornar-se numa opção regular e assim persuadir Domenech que aqueles que dizem que o futuro meio campo da selecção gaulesa deve assentar na associação Chantome-Gourcouff, têm de facto razão.


publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:54 | link do post | comentar

Terça-feira, 11.08.09

Durante anos Turim foi uma autêntica fornada de pequenos génios com a bola colada aos pés. Um viveiro de talento que entre os dois grandes clubes da capital – a Juventus e o Torino – foram espalhando o perfume do seu futebol pelo Cálcio. No entanto, desde o aparecimento de Alessandro del Piero, já lá vão quinze anos, que nunca mais nasceu nas ruas da capital do Piemonte um futebolista capaz de prender o adepto ao seu lugar enquanto que passeia a sua classe pelo relvado. Até hoje. Sebastian Giovinco está chamado a retomar a tradição gloriosa dos criativos piemonteses.

 
Apesar de ter nascido em Turim no frio Inverno de 1987, nas veias do médio corre o quente sangue do sul de Itália. Um pai da Sicília e uma mãe da Calábria dão ao seu futebol esse toque mediterrânico particular quem tem sido a sua imagem de marca. No toque, mas também no carácter, que lhe tem provocado já alguns dissabores. O médio que passeou o seu futebol de dribles rápidos e passes letais pelo último Europeu de Sub21, onde liderou a squadra azzurra até à meia-final, ainda não se conseguiu impor no seu clube do coração. A eterna juventude de Del Piero e Nedved e a chegada agora do brasileiro Diego têm sido sucessivos entraves para a total afirmação de um futebolista que encanta quem tem a oportunidade de o seguir. Num país onde a oportunidade aos jovens é dada mais por clubes de metade da tabela do que pelos grandes emblemas, muito se especula sobre uma possível saída de Giovinco da Vecchia Signora para poder afirmar-se definitivamente no Cálcio.
 
O médio chegou com 14 anos à Juventus e em Maio de 2007 estreou-se finalmente pela equipa principal bianconera. Foi num jogo contra o Bologna que confirmou a subida de divisão da equipa turinesa, então na Série B e que lhe valeu também a sua primeira assistência oficial para golo, num passe letal para Trezeguet. Na época seguinte o médio juntou-se ao seu inseparável amigo Cláudio Marchisio num empréstimo ao Empoli onde se estreou a marcar na Série A tendo repetido a façanha na semana seguinte contra a Roma, equipa que então disputava directamente o segundo posto com a sua “Juve”. A excelente temporada realiza em Empoli foi suficiente para trazer-lhe de novo ao Dell Alpi para a temporada 2008/2009 onde começou à procura do seu espaço na equipa. Jogou o seu primeiro encontro oficial na primeira divisão com a Juve em Setembro assistindo Amauri para o golo da vitória contra o Catania. Em Dezembro estreou-se a marcar como jogador da Juventus num livre directo, já então uma das suas imagens de marca, cultivada depois de várias exibições de luxo pelas selecções jovens italianas, onde rapidamente assumiu a batuta de cada escalão onde se estreava. Depois de em 2008 ter sido eleito o melhor jogador do Torneio de Toulon, marcou presença nos Jogos Olímpicos de Pequim e liderou a azzura no último Euro sub21.
 
À espera de se afirmar definitivamente como titular, Giovinco prepara já o ataque ao Scudetto de 2009/2010. Com as contratações pedidas por Ciro Ferrara, o novo técnico da Vechia Signora, a Juventus poderá finalmente apresentar uma equipa sólida capaz de fazer frente ao Inter. Apesar da chegada do genial Diego o jovem Giovinco promete ser a grande sensação do ano e assumir-se definitivamente como o herdeiro natural da tradição de regista italiano.


publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:49 | link do post | comentar

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