Segunda-feira, 20.05.13

Em 2005 o Sporting sonhava com o terceiro título nacional em cinco anos e com a consagração europeia em casa, depois de quatro longas décadas fora de uma final. Perdeu tudo. O título no derby da Luz e a final em Alvalade, contra o CSKA Moscovo. Alguns adeptos tinham feito a festa antes. Arrependeram-se. Oito anos depois o seu eterno rival sofreu o mesmo destino. Celebrar antes do tempo foi uma factura demasiado cara para a moral dos adeptos encarnados, condenados agora a limpar uma época que prometia ser memorável com uma Taça de Portugal. Alheio a tudo isto, o FC Porto sagrou-se tricampeão. É o sétimo título em oito anos. O nono em onze. Nada de novo para os lados do Dragão.

 

As brilhantes épocas do Estoril e Paços de Ferreira, dois clubes bem geridos desde dentro, sem megalomanias nem espirito kamikaze, foram as notas mais brilhantes de uma época cinzenta. De uma época que confirma, de uma vez por todas, a bipolaridade e o abismo que pauta o ritmo do futebol profissional em Portugal. Pela segunda vez em três anos o FC Porto foi campeão nacional sem perder qualquer jogo. Uma derrota em sessenta jogos, contra o Gil Vicente, são números que não encontram paralelo nem na Escócia, nem na Suíça, nem na Áustria, nem no Azerbeijão.

Não se trata, propriamente, de um FC Porto vintage, de uma formação capaz de conquistar a Europa como o faz com o país, tal como sucedeu em 2003 e 2004. É uma equipa moldada para consumo interno e que funciona como um relógio, particularmente quando defronta rivais que repetem o mesmo padrão de jogo semana atrás semana. Nos duelos directos, os que realmente decidem o título, o FC Porto foi fiel a si mesmo, ao seu modelo e à sua filosofia. O Benfica não. Por isso o título dormiu no norte de Portugal.

A equipa encarnada pode atrair com o seu jogo vertical e assumidamente ofensivo. Não é um projecto desportivo tacticamente exigente para os jogadores. O critério de saída da bola é sempre o mesmo, o jogo largo pelas alas e a acumulação de homens à volta da baliza fazem o resto. Jesus não sabe mais, como se tem visto na Champions League, mas o que sabe também basta para a Liga Sagres. Sobretudo porque os rivais não atacam e, portanto, não deixam a nú as fragilidades defensivas da sua ideia e de um plantel construído para ter apenas tracção à frente e onde não há criação pura - Aimar e Carlos Martins foram substituídos por Enzo Perez e Gaitán - só o faro de golo. O técnico encarnado contou com a melhor dupla de ataque do futebol português em largos anos, o eficaz Cardozo com o ágil Lima. Mas nem isso chegou. Na hora da verdade, só jogou um a titular. O modelo inverteu-se e, encostados à sua área durante mais tempo do que é habitual, os erros acumularam-se. No jogo da Luz e nos instantes finais do Dragão. Momentos que decidiram a época.

 

Ao futebol português continua a fazer muita falta alternativas sólidas.

O Sporting voltou a ser igual a si mesmo. Começou o ano de uma forma lamentável e acabou a recuperar o fôlego. Pelo caminho treinadores, jogadores e dirigentes continuaram a jogar com a emoção dos adeptos e o sétimo lugar, pior classificação de sempre, é um castigo justo mas pesado para um emblema fundamental para a competitividade da liga. Há jogadores suficientes para mudar a situação, resta saber se a nova equipa técnica e se uma directiva com um longo defeso pela frente estão à altura das expectativas de um ano sem provas europeias. O Braga, que até agora se tinha beneficiado desta implosão leonina, fez pouco melhor. Perdeu contra um rival muito inferior em tudo o particular assalto à Champions League, um verdadeiro fracasso desportivo por quem tarda em impor-se como alternativa credível. Uma vez mais José Peseiro voltou a demonstrar a incapacidade de lidar com a pressão dos desafios mais exigentes e a reinvenção dos Guerreiros do Minho tornar-se-á numa obrigação para António Salvador, até agora cómodo presidente no papel de triunfador surpresa.

Guimarães, Maritimo, Nacional e Académica realizaram épocas medianas, desportivamente pouco apelativas, com demasiados altos e baixos para terem encontrado uma posição mais alta na tabela classificativa. Aos primeiros os problemas financeiros obrigaram Rui Vitória a sacar da cartola uma geração de belas promessas. Os restantes nem isso ofereceram aos seus adeptos. Foi um ano cinzento, em contraste com a brilhante temporada de Rio Ave, Estoril e Paços. Os primeiros, com a bênção de Jorge Mendes, ganharam o sprint ao Sporting e ficaram a um ponto das provas europeias. Um lugar que pertenceu, com todo o mérito, ao Estoril, ainda há bem pouco tempo na segunda divisão, reflexo de que há uma forma comercialmente sustentável de fazer as coisas bem e ter resultados desportivos que acompanham. Uma lição que o Paços aprendeu há algum tempo. Na Mata Real existe tempo e paciência para os treinadores e faro com os jogadores. Sem um jogo espectacular, a solvência e a crença dos pacenses fez a diferença. Será muito dificil superar a concorrência no play-off da Champions League mas o clube merece pelo menos ouvir durante 180 minutos o hino da elite europeia.

Gil Vicente e Vitória de Setúbal voltaram a repetir o mesmo padrão de épocas recentes, muito sofrimento e uma salvação in extremis, algo que os adeptos do Olhanense, um clube financeiramente em sérios riscos de desaparecer, devem celebrar como um título. Poucos acreditavam na sua salvação, algo que seguramente o Moreirense merecia, particularmente pela aparição de Ghilas, uma das figuras individuais mais sonantes na liga de Jackson, Lima, Cardozo, André Martins, van Wolfswinkel, Josué, Tiago Rodrigues, Carlos Eduardo, Moutinho, Fernando ou Matic. O Beira-Mar, desde cedo, deu sinais de que o destino estava escrito. Há muito que tem de mudar em Aveiro para que o projecto futebolístico de um clube que não sabe muito bem a quem pertence tenha sucesso.

O triunfo do FC Porto foi o triunfo da normalidade. Os empates inesperados, com penaltys falhados na hora decisiva, contra Olhanense e Marítimo, adiaram a celebração de um título que pareceu ameaçado pela euforia encarnada. O tropeção das águias contra o Estoril ajustou quase as contas de falhos menores, mas suficientes para decidir para onde ia o troféu. Em 2010 o Benfica, em vésperas de celebrar o título, não conseguiu fazer a festa no Dragão. No ano seguinte os azuis-e-brancos deixaram a Luz às escuras e desde então recuperaram sempre de uma desvantagem pontual no campeonato para vencer o título depois de atropelar o rival nos duelos directos. É sobretudo aí que tem estado o calcanhar de Aquiles dos encarnados, um problema de mentalidade e de capacidade de jogar com a pressão, algo a que três décadas de sucesso constante tem deixado o FC Porto imune. Vitor Pereira, o treinador mais criticado, igualou o número de ligas dos maiores treinadores da história de Portugal, Cândido de Oliveira, José Maria Pedroto e José Mourinho. Tem uma mais do que Villas-Boas e Jesus e nos últimos trinta anos só segue atrás de Artur Jorge e Jesualdo Ferreira. A sua equipa tem um modelo definido, é lenta nas transições ofensivas e conta, sobretudo, com um plantel muito mal preparado pela SAD. Mas mesmo assim suficiente para conquistar o terceiro Tri da era Pinto da Costa. As anteriores sequências (95-99, 06-09) não se ficaram por aí. Para 2013/14 o FC Porto parte com o escudo de campeão no peito e o favoritismo nas casas de apostas. É a normalidade no futebol português.



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Terça-feira, 04.09.12

A realidade de um país em crise - em todos os sentidos - é perceptível na realidade do seu futebol. No caso português não é só a hemorragia de jogadores de qualidade mas, sobretudo, a necessidade dos clubes de vender para tapar os muitos buracos que aparecem nas suas contas. Todos os candidatos ao titulo desprenderam-se de jogadores fundamentais nas suas equipas da época passada. O campeonato nivela-se, uma vez mais, por baixo.

 

O ranking da UEFA diz que a Liga Sagres é a 5º mais bem classificada do continente europeu. 

Mas as finanças dos clubes e a qualidade dos seus plantéis talvez não estejam de acordo. Os clubes portugueses vivem com a corda na garganta. Os grandes porque os orçamentos astronómicos para a realidade portuguesa começam a pagar factura. Há passivos superiores a 400 milhões de euros (caso do SL Benfica) ou de 200 milhões, como acontece com o FC Porto. Empréstimos obrigacionistas que pagar com juros altíssimos, fundos a quem se devem favores e dinheiro e no caso do Sporting, a situação é tão delicada que os próprios dirigentes sabem que caminham bem ao lado de um perigoso precipício. Mesmo o Braga, um caso de sucesso em gestão financeira, não pode resistir a vender quando o dinheiro aparece porque há sempre contas que pagar.

Do top 4 para baixo a realidade é ainda mais asfixiante, negra e sem perspectivas de melhorar no futuro. Um clube histórico e com uma das maiores massas associativas do país como o Vitória de Guimarães está perto da falência. Na Madeira os clubes sobrevivem porque Alberto João Jardim deu volta atrás numa ideia inicial de retirar parte dos fundos do governo regional aos principais clubes da ilha. E de Olhão a Paços de Ferreira, de Aveiro a Coimbra, os tostões contam-se um por um. 

Essa falta crónica de crédito afecta os clubes como a sociedade portuguesa e os problemas de salários em atraso nos grandes, antes uma utopia, tornaram-se reais. Por isso vender, baixar a massa salarial, tornou-se na úncia solução. 

Os valores de algumas transferências roçam o ridiculo mas, neste caso, o ridiculo tornou-se na corda de salvação de alguns clubes. Axel Witsel, contratado há um ano ao Standard Liege, rumou para San Peterburg por 40 milhões, o mesmo valor que o Real Madrid pagou por Luka Modric e mais do que o Chelsea pagou por Eden Hazard, a grande estrela do futebol belga. Hulk saiu do FC Porto por igual valor liquido (depois de pagos os gastos de gestão pelo clube russo, num total de 60 milhões) depois de ter sido comprado em várias etapas por um valor total de 19 milhões. Um valor a que clubes como o Chelsea, PSG e Manchester City não conseguiram chegar. O valor dos rublos num país que quer apostar forte no futebol para a próxima década (e a contratação de Fabio Capello é bom exemplo) salvou, pelo momento, a saúde financeira de FC Porto e Benfica (que ainda contou com a venda de Javi Garcia ao Manchester City) enquanto que o Sporting teve de despreender-se de jogadores com salário elevado, perdendo o influente Matias Fernandez para a liga italiana por valores bem mais modestos. Enquanto a Europa se maneja numa realidade, os mercados emergentes jogam noutra divisão. Para os clubes portugueses é a única opção de sobrevivência.

 

Desportivamente a liga portuguesa baixou uns bons degraus.

Num ano histórico, com as três equipas presentes na fase de grupos da Champions League, o futebol português devia estar de parabéns. Ainda para mais, todas as equipas foram colocadas em grupos acessíveis, com o apuramento para os Oitavos de Final longe de ser uma utopia. Mas isso foi antes de Lima deixar Braga sem um ponta-de-lança, de Jorge Jesus ter perdido o seu meio-campo (não que o Benfica seja uma equipa que perca muito tempo no miolo) e o FC Porto dizer adeus ao seu simbolo dos últimos anos. Agora a realidade vai ser bem mais dolorosa e talvez dragões, águias e arsenalistas tenham de contentar-se com uma luta mais desigual com rivais que não só não perderam jogadores referência como se reforçaram bem como PSG, Dynamo Kiev, Spartak Moscow, Celtic e Galatasaray.

Na Liga Sagres todas as equipas que aspiram ao titulo perderam cartas de luxo. Não só isso piora claramente a qualidade da competição como abre ainda mais a disputa pelo troféu que mora nas vitrinas azuis e brancas pelo segundo ano consecutivo. O Benfica, que apostou forte em recuperar o titulo mantendo Jesus ao leme, preferiu apostar num over-booking de extremos e dianteiros e esqueceu-se de reforçar o eixo medular e defensivo. Se Luisão for suspenso por meio ano, como a sua acção exige, Jesus terá sérios problemas para resolver, sobretudo nos jogos com rivais directos onde a segurança defensiva encarnada vai ser realmente testada.

O Braga já sofreu em Paços o choque de realidade de perder um homem que nos últimos anos era uma garantia de duas dezenas de golo por época. Sem uma referência ofensiva, Peseiro terá de apostar na solidez do bloco bracarense e aproveitar-se dos erros dos rivais para manter as distâncias curtas. O Sporting, que arrancou com o pé esquerdo na temporada, continua a ter de apostar na juventude para resolver os seus problemas financeiros e desequilíbrios no plantel, e Sá Pinto corre contra o relógio para não perder o fundamenta comboio da Liga dos Campeões do próximo ano.

Por fim o FC Porto parte como favorito e apesar de ter perdido Hulk mantém o estatuto. Se o brasileiro era fundamental, sobretudo nos duelos fora de casa em campos de equipas bem organizadas defensivamente, a verdade é que Vitor Pereira tem o plantel mais equilibrado dos quatro candidatos ao título. Uma defesa sólida com Danilo e Alex Sandro definitivamente confirmados como titulares e um meio-campo onde a permanência de Moutinho é a melhor das noticias. Entre James, Varela, Atsu e Jackson a equipa terá de encontrar os golos que dava e marcava o "Incrivel". Esse é o grande desafio do contestado técnico portista.

 

Como o fosso entre os quatro primeiros e as restantes equipas continua tremendo, apesar das baixas nos planteis dos candidatos ao titulo, ninguém espera uma temporada de grandes surpresas. O título começa a ser discutido a quatro mas é previsível que antes de Dezembro um candidato tenha caído da perseguição e no final seja um mano a mano entre FC Porto e SL Benfica a decidir o troféu. Sem as grandes figuras do ano passado, este pode ser uma temporada onde, mais do que nunca, o papel de gestores humanos e analistas tácticos, dos quatro treinadores se revele ainda mais fundamental no jogo do titulo.



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Terça-feira, 01.05.12

No mesmo dia o futebol português assistiu a mais uma cena digna do surrealismo em que se move há alguns anos. Um clube campeão no sofá, outro derrotado no momento em que entraram em campo apenas oito dos seus jogadores. Apesar do que a UEFA diz, o futebol português vive dias negros e uma etapa para esquecer da sua história. O titulo de campeão vale pouco quando durante um ano os grandes, com orçamentos de dezenas de milhões, têm de se medir com equipas onde os jogadores não têm nem para viver. A Liga e a Federação continuam os seus jogos das cadeiras do poder, os grandes preocupam-se com ter uma maior fatia do bolo e os adeptos vendem-se à omnipresente SportTv para encontrar lá fora o espectáculo que ninguém vê cá dentro. 

Faltam três jornadas para terminar o campeonato nacional de futebol.

Há duas, talvez três, equipas a disputar o titulo de campeão. Um titulo que sabe melhor quando se festeja no relvado, no final de um jogo, um titulo que para os adepto significa mais do que para os próprios directivos. O adepto vê motivo de orgulho para seguir acreditando, para pagar as quotas, os bilhetes, as viagens ou simplesmente para ter orgulho em levar a camisola no dia seguinte para o trabalho. O directivo vê números, sonhos europeus e contas para pagar. Porque o que há mais no nosso futebol são contas para pagar.

O Benfica joga em Vila do Conde, o Porto na Madeira. Uma vitória dos campeões em titulo deixa tudo em aberto para o duelo do rival. E quando o Benfica empata, o FC Porto pode sair à rua para festejar. Depois de um dia do seu jogo. Em Portugal há gestores que percebem pouco de gestão e há programadores que não entendem nada de programação. Além de ser evidente para todos que os duelos dos dois candidatos ao titulo deveriam ser disputados nas últimas jornadas de forma simultânea, não parece curioso que seja a equipa que pode celebrar primeiro o titulo a que jogue antes? Estamos a falar de uma Liga que entrega as taças e medalhas de campeões com meses de atraso, algo único no panorama europeu, por isso já nada nos surpreende mas fazia todo o sentido ter sido o Benfica a jogar no sábado e o FC Porto, caso o rival tivesse repetido o mesmo resultado, desfrutado no domingo com a possibilidade de fazer-se a si mesmo campeão. Mas o surrealismo português, esse servilismo a Joaquim Oliveira e esbirros destrói até os momentos mais puros e belos de uma temporada, aqueles em que os adeptos enchem a rua e expulsam as frustrações que levam no corpo.

Numa prova de 16 muitos têm motivos distintos para celebrar mas só um grupo de adeptos pode invadir o espaço público com aquele sorriso no rosto. No Dragão já estão habituados a festejar, são 17 títulos em 25 anos, números asfixiantes para qualquer prova que quer ser competitiva. Os jornais bem tentam vender ligas abertas, oportunidades reais para todos os grandes e para algum intrometido, mas a verdade é que o FC Porto mantém-se num escalão por cima da concorrência. Porque tem um orçamento de 100 milhões de euros, superior a muitos clubes europeus em ligas mais poderosas. Porque tem uma estrutura desportiva e administrativa sem igual no espaço português, imune ao populismo do momento e capaz de ver para lá do horizonte. E porque tem um plantel que, mesmo em horas baixas, é capaz de responder nos jogos a doer. Os azuis-e-brancos ganharam a liga nos duelos directos, na Luz e em Braga, aqueles jogos onde se pedia algo mais. Nos restantes encontros o nivel futebolístico foi miserável, a falta de personalidade do técnico principal um enigma e a postura de muitos dos jogadores, um karma. E mesmo assim, a dois jogos do fim, mesmo assim o FC Porto repetiu o titulo e deixou claro que em Portugal é preciso existir uma catástrofe desportiva para que sejam outros grandes e felizes adeptos a saírem para as ruas.

 

Do outro lado desta prova kafkiana, o desespero de quem teve de mandar para longe a família. De quem come ás custas dos outros e de quem não sabe em que buraco se meteu.

Foi a União de Leiria. Mas antes já foram Salgueiros, Campomaiorense, Alverca, Estrela da Amadora, Farense, Boavista ou Belenenses. Todos clubes com passado europeu, essa imagem de marca que fica na retina e que explica a incapacidade dos directivos portugueses de uma gestão responsável. Tarde ou cedo estes clubes endividaram-se demais, ficaram demasiado pendentes de dinheiro alheio e começaram a desmoronar-se. Dinheiro gasto em infra-estruturas impossíveis de rentabilizar, abandono progressivo da formação, negócios privilegiados com agentes de jogadores, o padrão é o mesmo e o final da história também. A União de Leiria já nem está unida e também já não é de Leiria. Os jogos na Marinha Grande são o espelho dessa hipocrisia social de um clube que tentou crescer de bicos nos pés, sem sequer uma massa adepta empática e disposta a jogar tudo no clube da sua terra. Não é algo novo, viveu-se isso no Algarve, no Alentejo e nos clubes dos subúrbios das grandes cidades.

Mas a realidade mascarada é bem pior. Em Guimarães, um histórico como há poucos, os jogadores levam meses sem receber. Em Setúbal essa realidade é a tónica da última década. Na Madeira os projectos do Maritimo e Nacional só sobrevivem graças ao apoio do Governo Regional. A Académica de Coimbra vive em números vermelhos e o Beira-Mar não sabe muito bem a quem pertence. Numa liga de 16 equipas provavelmente há cinco que têm os salários em dia, mas mesmo essas apresentam um passivo sério que o futuro tratará de dizer quão grave pode ser. O FC Porto e Benfica precisam do dinheiro das provas europeias para respirar. O Sporting é cada vez mais um clube dos bancos e só o Braga, timidamente, oferece outra versão de como deve ser o futebol.

Os oito jogadores que entraram em campo com a camisola da União foram forçados a fazê-lo, pelos clubes que os emprestam (outro cancro do futebol português, o empréstimo compulsivo) e pela vontade de pegar no primeiro dinheiro que caia do céu e fugir. Ninguém os pode acusar de nada a não ser de sobreviventes, como tantos que trocaram o futebol português pelo Chipre, Roménia, Bulgária, Suiça ou Grécia, onde pelo menos os salários chegam a tempo e as famílias têm um tecto. No dia em que Portugal repetiu o campeão, a União de Leiria repetiu a farsa de que significa esta liga de 16. Ampliar o torneio para 18 ou 20 equipas é o espelho perfeito da idiotice do gestor português e só pode terminar numa operação cirúrgica que faça o proporcionalmente inverso. Por muito que doa ao adepto, Portugal não tem dinheiro para sobreviver como país e portanto não tem mercado para uma liga de mais de 8 ou 10 equipas. Uma liga como a que já conta o futebol suíço, alguns países nórdicos e do centro da Europa, países que sabem a que realidade pertencem. Uma prova a quatro rondas, como sucede na Escócia, onde o equilíbrio e a qualidade sejam a nota. Há clubes grandes e pequenos em todos os lados mas seguramente que entendo os jogadores do novo campeão, os mesmos que querem emigrar, quando sabem que uma vitória por 1, 2 ou 3 golos contra um rival que não tem dinheiro nem para comer vale o que vale. Muito pouco.

 

Mas esta situação não passa nos telejornais, não aparece na imprensa e não ocupa a cabeça dos adeptos. Se por eles fosse a liga seria de 20 equipas, os bilhetes seriam de 5 euros, os horários televisivos respeitariam as familias e tudo estaria bem. Mas não está. Na próxima década a probabilidade de que se multipliquem ao ano casos com o do Leiria é tremenda. Os grandes vivem a sua particular via crucis mas mascaram as contas com negócios com fundos desconhecidos, empresários polémicos e vendas fantasmas. Ninguém quer saber, todos assobiam para o lado, afinal estamos em Portugal. O FC Porto é campeão português, a União de Leiria daqui a uns anos aparecerá nas divisões regionais, por onde andava há largas décadas. Nada irá mudar e no entanto poucos se importam. De certa forma é normal, afinal foi a pensar assim que chegamos até aqui. E se Portugal fizer um brilharete no próximo Europeu haverá mesmo quem escreva que somos um exemplo para o mundo. Pena que os adeptos do Leiria ou do Campomaiorense saibam que não é bem assim. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 12:50 | link do post | comentar | ver comentários (14)

Segunda-feira, 26.03.12

O futebol português continua a trepar postos nos rankings UEFA e FIFA, a ter jogadores e treinadores coroados entre os melhores do Mundo. E, no entanto, quando a bola começa a rolar no tapete verde do rectângulo mais ocidental do velho Continente o futebol peca, demasiadas vezes, pela sua triste ausência. Numa das épocas mais pobres e desesperantes das últimas décadas repete-se um cenário demasiado frequente, demasiado desalentador. Esta Liga, assim parece, ninguém a quer ganhar.

Hoje o Sporting de Braga pode colocar-se como líder isolado da Liga Sagres.

A seis jogos do final da época, 18 pontos e um duelo de 90 minutos contra a Académica separam os bracarenses do topo do pelotão. Provavelmente os arsenalistas falharão. Não porque não mereça, não porque não sejam talvez a equipa que mais méritos recolhe para sagrar-se campeã nacional 2011-12. Simplesmente porque, ao longo deste ano, sempre que uma equipa parece ter na mão ganhar a liga, tropeça.

Essa vertigem á tabela classificativa é aflictiva mas não é nova. Em 2004-05 FC Porto, Sporting e Benfica foram tropeçando entre si até que a sagacidade de Giovani Trapatonni valeu mais que o descalabro emocional de José Peseiro e a natural incompetência de José Couceiro para quebrar com uma fome de dez anos do Benfica. Dois anos depois o cenário voltou a ser similar mas desta vez foi Jesualdo Ferreira a superar a Fernando Santos e Paulo Bento nesse desesperante sprint final. Emoção, seguramente. Qualidade, muito pouca.

O nível exibicional médio das 16 equipas da Liga Sagres, diga o que disser o ranking UEFA que apenas contabiliza o que fazem os quatro europeus habituais nos palcos internacionais, é pobre. Os portugueses exportam os melhores jogadores e técnicos que têm e em troca ficam com jogadores de terceira e quarta linha internacionais, fazem de jogadores de nível médio alto estrelas que nunca o serão e adormecem o mais tenaz dos espectadores com duelos onde os golos, a emoção e o futebol ofensivo primam, habitualmente, pela sua ausência. Os problemas financeiros que destruíram a classe média do futebol nacional e abriram ainda mais o fosso entre os grandes e os pequenos não ajuda seguramente a reequilibrar o cenário. E no entanto nunca como este ano os pequenos roubaram tantos pontos aos chamados grandes onde dá pena incluir um Sporting que, mais uma vez, continua a ser o terceiro clube nacional apenas em adeptos e nada mais. Com uma divida descomunal, um plantel desorganizado, um staff técnico que vai e vem ao sabor do vento e uma directiva incapaz de se fazer respeitar, os leões são o caso mais freudiano que o futebol português já gerou e merecem, como tal, diagnóstico á parte.

 

Nivelada por baixo como nunca a Liga Sagres pode cair nos braços de qualquer um do trio da frente e seguramente que a sensação de mérito e orgulho seja bem diferente a outras conquistas (no caso de Porto e Benfica) do passado. Os campeões nacionais cometeram o logro de destroçar em poucos meses um conjunto que muitos analistas colocavam na segunda linha do futebol europeu, apenas por detrás de United, Real Madrid e Barcelona. Á parte das péssimas performances europeias, o FC Porto de Vitor Pereira não é só o tigre mais domesticado e inofensivo que já passou pelo Dragão, ás vezes quando joga fora transforma-se mesmo num gatinho recém-nascido, presa fácil até de roedores e outros répteis que povoam a parte baixa da tabela. O empate em Paços de Ferreira impediu os dragões de dar um murro na mesa, algo que o clube do Dragão foi incapaz de fazer durante todo o ano. Nem depois de vencer na Luz, nem depois do enésimo tropeção pré-jogo europeu do Benfica em Olhão e, imagina-se, nem nos jogos que faltam. Apesar de liderar se há equipa nesta disputa que mais carece de espírito de liderança esse é, sem dúvida, este FC Porto.

E no entanto, no meio de tudo isto, e com 24 jogos compridos - salvo o duelo de Braga - o campeão é líder. Situação suficiente para embranquecer os cabelos á maioria dos adeptos encarnados, á moda de Jorge Jesus, provavelmente o maior perdedor do ano. Jesus até pode conseguir o seu segundo titulo nacional, sem dúvida, mas depois de o ter á mão de semear, desperdiçar uma vantagem incrível e correr o risco de dormir hoje no terceiro posto é suficiente para que os críticos adeptos do técnico tenham mais argumentos relativos á sua profunda desorganização táctica e incapacidade de gerir os esforços físicos de um plantel onde muitos jogam muito e alguns jogam muito pouco. Com talvez o plantel mais equilibrado dos três em disputa, Jesus tentou equilibrar o meio-campo com a inclusão de Witsel e Bruno César no apoio a Cardozo mas perdeu o efeito surpresa e, sobretudo, a eficácia de outras épocas. Em campo esta é a sua versão mais débil, a mais mentalmente instável e, portanto, a menos apta para sofrer até ao último minuto da liga como os sucessivos empates e derrotas conseguidos este ano têm demonstrado.

Se na Luz ninguém parece estar determinado a ganhar a Liga, pelo menos há uma óptima campanha europeia para justificar a falta de oxigénio e sagacidade mental. Em Braga a Europa este ano não foi empolgante como na época passada mas teve o mérito de permitir a Leonardo Jardim manter a cabeça e os pés bem assentes no chão. O Braga fez um campeonato de trás para a frente, durante algumas jornadas andou atrás do Sporting e depois arrancou num sprint silencioso que seria ineficaz se FC Porto e Benfica fossem tão autoritários como o dinheiro gasto e a qualidade dos dois planteis justificava. Com os tropeções pontuais e as crises mentais dos dois grandes o Braga encontrou preciosos aliados para desafiar a história. Pode acabar campeão ou juiz do campeonato, mas como o Boavista do virar de século, já não pode passar desapercebido. São muitos anos a manter a bitola alta e tarde ou cedo António Salvador pode suspeitar que o percurso similar ao dos axadrezados pode ser emulado. Até porque o nivel dos chamados grandes continua, ano após ano, a baixar assustadoramente.

 

Em Maio o titulo será atribuido ao melhor dos piores e disso poucos duvidam. A distância do primeiro ao quinto (FC Porto a Maritimo) é igual á do sexto (Vitória) com o 14º (Beira-Mar) e isso explica também o imenso buraco pontual, moral, financeiro e desportivo que ano após ano afunda o nivel qualitativo do futebol português. Com uma diferença pontual tão clara surpreende que situações como a de este fim-de-semana se repitam vezes sem fim esta temporada. FC Porto e Benfica venceram apenas 17 vezes numa liga onde só quatro equipas têm um goal-average positivo. Vitor Pereira e Jorge Jesus transformaram-se mais em dores de cabeça do que bálsamos para os seus adeptos e Leonardo Jardim acredita na lei do silencio para evitar construir o seu próprio cadafalso. No final deste sprint onde haverá ainda demasiados tropeções o freudiano Sporting pode ter a chave para medir a resistência futebolistica e moral dos candidatos que teimam em não querer ganhar este campeonato.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:15 | link do post | comentar | ver comentários (9)

Quinta-feira, 01.09.11

Fechou o mercado de transferências (até Janeiro) e agora as águas turvas do mundo do futebol vão acalmar por uns tempos. Foi uma azáfama, uma corrida contra o relógio até à meia noite que deixou alguns negócios surpresas e muitas, muitas dúvidas (ou certezas) sobre como anda o desporto-rei. Começa a ser cada vez mais evidente que a total liberalização do mercado de transferências abriu caminho a um amplio submundo de dinheiro negro, sujo, escondido que o grande público não vê por detrás de negócios hilariantes e sem nenhum sentido desportivo. Portugal continua a ser um exemplo perfeito de como mexer no mercado por todos os motivos, menos pelo jogo em si, mas não é caso único. Sob a inoperância das grandes organizações directivas poucos se atrevem a dizer que... o rei vai nu!

Sempre houve negócios sujos e estranhos nos mercados de transferência, com luvas por debaixo da mesa e comissões por declarar.

Mas o que se viveu este Verão, e nos últimos porque isto vai in crescendo, reforça a teoria de muitos de que o mundo do futebol é cada vez mais um mundo tão perigoso e suspeito como o de qualquer actividade ilegal perseguida e vigiada pelas autoridades policiais. No livro Pay as Yoy Play, um grupo de estudiosos ingleses analisa as contratações nos últimos 20 anos da Premier League e chega a essa conclusão: hoje, uma transferência, é cada vez menos um negócio desportivo e, cada vez mais, uma forma hábil de lavar dinheiro, pagar favores e ganhar influência.

Portugal continua a ser um paraíso de corruptos, seguindo a tradição mediterrânica que se estende por Itália, Grécia, Turquia e Espanha, e como paraíso de corruptos que é, de Norte a Sul, o futebol continua a ser uma arena perfeita para negociar por debaixo da mesa o que ainda é ilegal às claras. Só isso pode explicar mais de uma dúzia de negócios realizados à última hora por parte dos grandes clubes lusos - os pequenos limitam-se a copiar, em menor escala, o que vêm funcionar nos graúdos - que encontraram em agentes FIFA - nomeadamente o todo poderoso Jorge Mendes - e em clubes aliados por essa Europa fora, parceiros idóneos para maquilhar contas, pagar velhos favores, ganhar novos amigos e, sobretudo, agradar a quem realmente manda hoje em dia no mundo do futebol: os empresários desportivos.

Granada, Zaragoza e Atlético Madrid representam em Espanha o que de pior se pode imaginar nesse submundo de trocas e baldrocas desportivas, tão putrefacto que nem as autoridades se atrevem realmente a investigar. Não surpreende, portanto, que tenham sido os parceiros perfeitos para os negócios mais surpreendentes dos clubes lusos que têm realmente algo que ganhar com este mercado de três meses que muitos suplicam que se reduza a um e termine a 1 de Agosto esquecendo-se de que isso é tirar o pão da boca a quem paga o desporto, os milionários que movem o dinheiro e os agentes que lhes servem de intermediários.

 

FC Porto, Sporting CP e SL Benfica continuam a ser clubes com gestões pouco transparentes e, sobretudo, repletas de manchas no que ao Fair Play desportivo implica, pelo menos segundo os critérios da UEFA que continua a lavar as mãos e a olhar para o lado enquanto assiste, impassível, a este mercadilho.

Não é assim em todo o lado. Em Itália há uma velha tradição de co-propriedade que permite a dois clubes partilhar o passe de um jogador num prazo máximo de dois anos até que um dos clubes, finalmente, compra a percentagem restante. Uma situação muito mais limpa e transparente que dá pouca margem de manobra para negócios surpresa de última hora (um clube estrangeiro tem de comprar os 50% a ambos os clubes para ficar com a totalidade do passe do jogador). Em Inglaterra houve muita agitação e, salvo o caso de Joe Cole (emprestado ao Lille), muitos negócios entre clubes da Liga. Mas tudo às claras, sem comissões escondidas e, sobretudo, sem fundos porque a Premier não permite que um passe seja detido por alguém que não seja um clube, algo que vem dos dias de Tevez e Mascherano. Mas também é certo que a Premier foi a primeira liga a abrir a borbulha e a permitir a chegada dos milhões do petróleo e gás, que encontraram em clubes de futebol a forma perfeita de lavar o dinheiro ilegal que iam ganhando nos seus países de origem. O caso dos argentinos levou a FA e a Premier a acordar a tempo para a nova realidade negocial e a travar - juntamente com a velha exigência de que os jogadores tenham um minimo de internacionalizações pelo seu país - esta derrapagem financeira. Mas esse negócio abriu precedentes.

Como os de Alex Sandro e Danilo, novos jogadores do FC Porto. Os azuis voltaram a romper o mercado graças a Falcao (e recusaram propostas por Alvaro, Fernando e Moutinho até ao fim) mas acabaram por investir pouco do dinheiro ganho (12 milhões em Defour e Mangala e alguns trocos entre Kelvin, Iturbe e percentagens de passes adquiridos). Essencialmente porque os quase 20 milhões que custam os dois brasileiros são cortesia do fundo que comprou ambos os jogadores e que pretende utilizar o clube das Antas como plataforma na Europa. Os jogadores actuam no FC Porto até que uma proposta maior permita aumentar a rentabilidade do investimento e ninguém se surpreenderá se daqui a um ano nenhum dos dois atletas fique na Invicta. Um negócio obscuro que não é nada novo nas manobras de Pinto da Costa no mercado sul-americano que começou há uns anos com a compra de percentagens de passes (algo que em Inglaterra é ilegal, por exemplo) e nos negócios com empresários de reputação duvidosa que utilizavam os seus próprios clubes plataforma, criados ou reestruturados para potenciar jogadores, para sacar o seu lucro. O negócio mais chamativo dos dragões inclui a venda de Falcao por 45 ao Atlético. Uma surpresa porque ambos os clubes estavam de relações cortadas com o caso Paulo Assunção (que chegou até à UEFA) mas que se explica porque nenhum outro clube estava disposto a pagar tanto pelo colombiano. E porque Jorge Mendes estava envolvido na transferência.

O agente FIFA, que fez de Madrid a sua casa (os seis jogadores que tem no Real Madrid, incluindo um desconhecido Pedro Mendes que já se estreou no troféu Bernabeu para rentabilizar um passe que pertence ao próprio empresário), incluiu Ruben Micael no negócio por valores que vão de zero a cinco milhões, dependendo das versões. Um jogador que o Atlético não queria e que acabou no Zaragoza, clube que está em concurso de credores, mas que pode vender e comprar jogadores porque a lei espanhola é assim, uma lei sem lei. O Deportivo que bem se queixou do trato preferencial dado ao clube aragonês já ameaçou denunciar os "maños" à FIFA e com razão. Um clube sem dinheiro, com dividas astronómicas, que acabou por ser o rei do mercado nos últimos dias graças ao dedo miraculoso de Mendes. Um clube que comprou por uns meros 500 mil euros o passe de Helder Postiga, o avançado titular do Sporting. Um clube que adquiriu o jovem Juan Carlos, promessa da cantera do Real Madrid que foi comprado pelo Braga (com ajuda de Mendes) para acabar junto ao Ebro. Isto claro sem falar do negócio Roberto com o Benfica que levou o clube das águias a justificar à CMVM que a venda de 8 milhões de um guarda-redes que custara...8 milhões (num ano em que o seu passo desportivamente se desvalorizou de forma absoluta e inequivoca aos olhos do Mundo) se devia a que Roberto tinha sido adquirido por um fundo (onde também está Mendes) e que o Zaragoza tinha pago umas migalhas. Zaragoza, clube que adquiriu mais 10 jogadores (entre vários internacionais se inclui Fernando Meira) e que vendeu um dos seus dianteiros, Uche, ao  Villareal curiosamente pelo mesmo valor que era devido ao Getafe, o clube da sua procedência. Claro que Uche não vai jogar no Villareal mas sim no Granada, outro clube desta trilogia à espanhola envolvido intimamente com o futebol português. Detido por investidores italianos, onde se inclui o dono da Udinese, o Granada estreitou ligações com o Benfica, obtendo Jara, Yebda, Júlio César e Carlos Martins por empréstimo. Zaragoza e Granada, clubes sem dinheiro, com um estádio novo por construir, terrenos por alienar e amigos influentes no mundo da construção civil que se tornam alvos apetecíveis para tubarões de águas profundas.

Mas até históricos caem nesta rede de dinheiro que se move à velocidade da luz, aparece e desaparece, e permite a máquina continuar a funcionar. O Atlético de Madrid é o exemplo perfeito nas mãos de Gil Marin, filho do polémico Gil y Gil, e com a colaboração de Mendes. A chegada de Falcao é um exemplo perfeito mas mais interessantes são os casos do esquadrão bracarense e de Julio Alves. O irmão mais novo de Bruno Alves, que apenas jogou na Liga Sagres pelo Rio Ave, foi contratado para ser imediatamente emprestado ao Bessiktas onde, curiosamente (ou não), já jogam Simão, Manuel Fernandes, Bebé, Quaresma e Hugo Almeida. Todos "homens Mendes"!

De Braga chegou Silvio e um contrato de preferência sobre Pizzi, revelação no Paços, que acabou por aterrar no Calderon por um valor que pode chegar aos...15 milhões de euros, impensável para um jogador sem mercado, mais o empréstimo de Fran Merida, revelação espanhola por confirmar desde os dias do Arsenal. Mas se no Manzanares entram jogadores a preço de saldo, tal como sucedeu com Roberto - o Atlético também tem um novo estádio a ser preparado, relembro - saem jogadores com preços de mercado inflacionados. É o caso de Elias, descartado, raramente utilizado desde a sua chegada em Janeiro, que aterra em Alvalade pelos 8,5 milhões que custou. O Sporting, que mudou por completo o plantel de um ano para o outro, gastou pouco em muitos jogadores. Em Elias gastou mais do que arrecadou com todas as vendas e começam a voltar as suspeitas sobre a real saúde das finanças leoninas.

 

Casos graves que passam ao lado de investigações policiais sérias e independentes.

Mas que não são exclusivos de clubes lusos ou pequenas plataformas espanholas. Até um clube como o Real Madrid hoje depende dos empresários para confeccionar o seu plantel. Vejam o caso de Altintop. Um jogador livre, dispensado pelo Bayern Munchen, com uma grave lesão nas costas que acaba no Real Madrid de forma surpreendente. Para muitos talvez o que surpreenda é que o turco provavelmente nunca jogue com os merengues já que está prevista a sua venda ao Galatasaray no próximo Verão depois de um empréstimo de seis meses a começar em Dezembro. E porque chegou Altintop ao Real Madrid?

Porque o seu empresário é o mesmo de Nuri Sahin, a grande promessa turca que o clube merengue contratou ao Dortmund. Uma exigência do empresário (e do jogador, que é o "protegido" do capitão da selecção turca) foi sempre de chegar a Madrid acompanhado por Altintop para valorizar o seu passe de forma a que este pudesse voltar à Turquia sem problemas, já curado da sua lesão que, garantidamente, iria impedir a sua colocação durante o Verão em qualquer clube. O Real Madrid lutou contra a situação mas rendeu-se à evidência. E hoje oficialmente, Altintop é jogador merengue. Como Bebé foi jogador do Manchester United - sem o clube o ter visto sequer jogar - ou como Tevez ainda se move por Inglaterra sem saber-se realmente bem a quem pertence o seu passe.

Essa ditadura dos empresários, aliada à sagacidade de alguns dirigentes, tem condicionado por completo um mercado enlouquecido.

Na maioria dos casos os jogadores são conscientes do circulo vicioso em que entram. Aceitam contratos chorudos para paliar o mínimo impacto desportivo nas suas carreiras mas muitos deles voltam rapidamente ao ponto de origem, como virgens arrependidas. Outros deixam-se levar pela conversa de empresários e dirigentes e perdem-se completamente para o futebol, entregues aos excessos do dinheiro e ao mínimo controlo que o clube receptor exerce na sua carreira. A maioria dos casos são jogadores sem futuro a quem lhes custa muito recuperar. O caso de Ricardo Quaresma é, sem dúvida, o mais gritante. Negócio Mendes a três niveis, passou do FC Porto ao Inter, do Inter ao Chelsea por empréstimo e daí para o Bessiktas, desaparecendo a pouco e pouco o destelho de arte que o converteu numa das grandes promessas do futebol mundial. O mesmo se pode dizer de mil e um atletas, carne para canhão neste mundo de milhões que transformam presidentes de clubes em milionários, empresários em semi-deuses e treinadores em cúmplices de projectos desportivos que se desfazem. Manzano, Vitor Pereira, Jorge Jesus, Domingos Paciência, Javier Aguirre ou Leonardo Jardim são treinadores que viram os seus planteis aumentar e diminuir de forma descontrolada durante o último mês, sem saber realmente com quem contavam para trabalhar. Domingos ficou com um plantel praticamente novo. Jesus desmontou, quase definitivamente, a sua equipa campeã. Vitor Pereira ficou sem opções para zonas do terreno onde o FC Porto vive órfão e Leonardo Jardim limitou-se a acenar que sim quando António Salvador apareceu com o dinheiro no bolso. Realidades que os adeptos não entendem e que se estendem em clubes menores com compras em paquetes express a clubes sem expressão ou com o regresso de futebolistas perdidos em ligas como a romena, cipriota, grega, russa ou ucraniana e que tentam recomeçar do zero depois de terem sido abandonados, como cordeiros no altar, ao sacrifício do Dom Dinheiro.

 

O futebol continua a caminhar perigosamente para um túnel sem saída. O dinheiro que se move é cada vez maior e, sobretudo, cada vez mais oculto. Não se pagaram mais de 50 milhões por um jogador - como sucedeu nas últimas épocas - mas pagou-se muito dinheiro que ficou por declarar e justificar tendo em conta o rendimento de mais de um atleta. Projectos como o do Zaragoza sobrevivem com a cumplicidade da legislação, já de si construida para beneficiar quem mais tem a ganhar com ela. Clubes como o Benfica e Sporting entregam-se a negócios obscuros que dificilmente poderiam justificar e entidades como o FC Porto ou Atlético de Madrid continuam a utilizar os empresários e os misteriosos fundos para manter-se na ribalta quando financeiramente vivem na corda bamba do resultadismo. No caso dos portugueses, na constante presença na Champions League, no caso dos espanhóis nos empréstimos bancários e na borbulha imobiliária que definiu a vida de muitos clubes de futebol no país vizinho na última década. Olhando para estes nomes, números, para estas coincidências que não o são, para tantas suspeitas por justificar, é irónico ouvir a UEFA falar de fair play e as autoridades policiais a assobiar para o lado quando um negócio como o futebol, talvez uma das indústrias mais poderosas da actualidade, continua a ser pasto para corruptos e corruptores passearem à vontade sabendo que o risco é minimo e o lucro gigantesco. À medida que esses jogadores se movem, ocupando lugares em plantéis onde muitas vezes nem contam, os clubes abandonam a formação, a aposta em jogadores da casa ou em negócios desportivos realmente relevantes, ideias que se tornaram, na mente dos directivos de SADs quimeras quixotescas quando existe a possibilidade de ganhar milhões. Enquanto o mundo do futebol continuar a vier neste limbo muitos Julio Alves e Bebés acabarão na Turquia depois de sonhar com a glória da Liga Espanhola ou da Premier e muitos veículos desportivos, viagens de luxo, terrenos em zonas privilegiadas ou negócios bem mais perigosos passarão pelas mãos de quem realmente tem a bola debaixo do braço.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:19 | link do post | comentar | ver comentários (25)

Sábado, 21.05.11

Nunca uma liga portuguesa tinha sido ganha com tamanha autoridade. A vitória do FC Porto significou um regresso às origens para um clube habituado a mandar com autoridade no torneio. Na sombra do campeão invicto, um Benfica que só tem a si mesmo que culpar-se e um Sporting e Sporting de Braga ziguezagueantes que rapidamente mostraram que a liga deles é outra.

 

O simbolismo do triunfo na escuridão do FC Porto em pleno estádio da Luz resume bem o espirito da temporada.

Depois de uma época em que o Benfica venceu o trofeu e acreditou que podia interromper, de forma definitiva, o dominio autoritário do FC Porto na liga portuguesa (17 titulos em 30 anos), os azuis e brancos restauraram a normalidade com uma superioridade insultante que arrancou no primeiro jogo oficial da época e só terminou com a consagração europeia. Pelo meio a Liga Sagres foi o tapete perfeito para a equipa de André Villas-Boas demonstram que caminhava num mundo à parte. O FC Porto venceu 27 jogos, empatou três, um dos quais já depois de confirmar o titulo de campeão. Numa liga com 30 jornadas, o clube do Dragão foi campeão a cinco jogos do fim e no terreno do eterno rival a quem sacou uma vantagem de 21 pontos. Uma diferença abismal em comparação com o ano anterior em que o Benfica perdeu a hipótese de carimbar o titulo no Dragão e acabou por ter de sofrer até à última jornada para fazer a festa. Benfica que contribuiu, e muito, para que a corrida ao titulo do novo campeão fosse mais fácil. As derrotas surpreendentes nas jornadas inaugurais, o pior arranque de que há memória, deram ao FC Porto um colchão confortável, ampliado pela histórica goleada de 5-0 no Dragão. A partir daí o clube da Invicta geriu a vantagem sem pressão e concentrou-se noutros objectivos. O Benfica passou toda a época num sprint louco e desesperado que arrasou fisicamente com uma equipa já de si mal planificada. Quando as pernas começaram a faltar o rival deu a estocada final. Sem contestação.

 

No meio deste triunfo histórico pouco espaço houve para os outros.

No quadro europeu, Sporting e Braga mantiveram um pulso durante todo o ano pelo último lugar do pódio. O Sporting realizou a sua pior época de sempre em percentagem pontual mas na última jornada venceu o rival directo e evitou o descalabro de terminar dois anos consecutivos no quarto lugar. A instabilidade directiva, a venda de Liedson, o plantel mas planificado e os péssimos registos goleadores da equipa permitiram ao Braga, que arrancou a época com a cabeça na Europa, recuperar um grande atraso pontual para chegar a sonhar com o 3º lugar, perdido quando a equipa já tinha a cabeça na final de Dublin. Não muito longe pontualmente, mas num outro campeonato, o Nacional da Madeira garantiu o regresso à Europa batendo a concorrência directa de Maritimo, Rio Ave e União de Leiria. No entanto a grande sensação da metade de tabela pertenceu ao Paços de Ferreira. Os minhotos nem se inscreveram na Europa mas mereciam ter-se qualificado para a Europe League pela qualidade do seu jogo – muito bem orientado por Rui Vitória, com um grupo de jogadores jovem que foi premiado com a final da Taça da Liga – e pela gestão directiva dos pacenses. No quinto posto, com a tranquilidade de ter carimbado o seu lugar europeu através da Taça de Portugal, o Vitória de Guimarães soltou-se dos fantasmas recentes e realizou um ano sóbrio, sem entusiasmar, mas também sem desiludir o exigente público do D. Afonso Henriques.

 

A diferença abismal entre o FC Porto e os outros acentuou ainda mais o nivelamento por baixo que vai tomando conta do futebol luso.

Naval 1º de Maio e Portimonense foram despromovidos mesmo antes da última ronda, mas o pobre futebol de Olhanense, Académica, Beira-Mar e Vitória de Setubal leva seriamente a questionar a realidade competitiva de um torneio que viveu o seu ano de ouro na Europa mas que continua a ser mal gerido dentro das fronteiras. O fosso entre candidatos ao titulo, candidatos europeus e os demais é cada vez maior e não há nenhuma indicação de que a situação se possa vir a alterar. O FC Porto tem condições para restaurar a sua hegemonia e o Benfica continua a ser o rival a abater. Braga, Sporting e Vitória terão anos complicados pela frente e os demais procurarão sobreviver e recolher as migalhas pelo caminho. Triste sina para uma liga que continua com estádios vazios, preços proibitivos, horários televisivos anedócticos e uma federação que não sabem a que joga.

 

No meio de todo este pesadelo freudiano, o FC Porto foi igual a si próprio, o SL Benfica pagou o preço de uma ambição desmedida e o futebol português ficou pouco a ganhar com o asfixiante dominio dos clubes que mais investem no mercado. A sustentabilidade financeira da Liga Sagres está, cada vez mais, em cheque e a politica quase suicida dos grandes clubes só contribuiu para empequenecer os demais ao mesmo tempo que, lamentavelmente, mata o futebol de formação português. Em 2010/11 voltou a não haver um goleador luso (salvo o veterano João Tomás) nem sequer uma jovem estrela a despontar verdadeiramente (se excluirmos o promissor André Santos). A Liga enfraquece-se ano após ano e continua sem se dar conta. Na Invicta poucos se importam. O clube voltou a impor a sua lei. Com total naturalidade.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 13:04 | link do post | comentar

Quinta-feira, 19.05.11

André Villas-Boas tem motivos para lamentar-se numa noite histórica para o FC Porto. Foi a quarta vitória europeia, a sétima conquista internacional do clube português. Mas foi também a exibição mais cinzenta, nervosa e calculista de toda a temporada. Pouco para uma equipa que deixou a Europa com mel na boca e que na grande noite desiludiu os que imaginavam uma equipa de tracção dianteira com fome de golos pronta a romper todos os recordes. O Braga não estava pela labor mas a verdade é que o justo vencedor da Europe League também não procurou esforçar-se em demasia. O titulo é mais do que justo mas, na ressaca da vitória, fica a ideia de uma final que teve mais de jogo da Liga Sagres do que a glória de uma noite europeia. 

No final dos 90 minutos o delírio apoderou-se dos adeptos do FC Porto.

Mas foi um delírio contido de uma equipa que tem consciência de que a imagem dada não tinha sido a esperada. O técnico confirmou-o por palavras mas não era preciso. A falta de inspiração foi evidente.

Depois de uma campanha espantosa, com goleadas históricas e pouco habituais, o FC Porto mostrou-se em Dublin não como uma banda nova capaz de entusiasmar os fãs em concertos históricos. Foi antes um desses grupos de veteranos que sobe ao palco para tocar os greatest hits com pouca vontade e menos engenho. Ao contrário de Gelsenkirchen e Sevilla - nisto Viena foi um caso à parte - nunca houve essa sensação de superioridade que se podia esperar. Entre a comitiva azul e branca, adeptos incluidos, havia uma sensação de superioridade natural depois de um campeonato perfeito e um apuramento categórico para Dublin. Muitos imaginavam outro FC Porto alegre, vistoso, ofensivo e asfixiante no palco irlandês. Uma exibição para o mundo ver. Porque se muitos não viram como o campeão português desfez o Spartak ou o Villareal, muitos seriam os que acompanhariam com interesse a consagração dos homens de Villas-Boas.

No final, por mérito do Braga também, ficou uma imagem pálida de uma equipa que rematou uma vez à baliza. Bastou-lhe para vencer o troféu, mérito de Falcao, mas não para convencer os amantes do futebol de ataque que o jovem técnico tão bem soube explorar durante o ano. Villas-Boas estava nervoso. Os jogadores mais. Normal numa grande final. Caíram na teia táctica montada pelo Braga, que preferiu não deixar jogar a encarar o rival e assim tornou o jogo mais monótono e contido. O golpe de Falcao evitou uma mudança profunda ao intervalo que certamente já deveria andar pela cabeça do técnico. Poupou o risco que o FC Porto nunca teve no segundo tempo. Quando entrou Belluschi, foi para o lugar de Guarin, o melhor de um miolo sem espaço para pensar. Quando lançou James foi para render Varela, apagadíssimo, mas o jovem colombiano foi incapaz de acelerar com critério e dar mais largura ao terreno de jogo.

 

Villas-Boas perdeu o jogo táctico mas ganhou o duelo no terreno de jogo.

Não soube como responder ao previsível planteamento recuado de Domingos, reforçando o seu jogo a meio-campo desde o inicio (a equipa azul e branca esteve em constante inferioridade numérica) onde lhe faltou sempre um homem. Onde sobrava um inconsequente Varela fazia falta um Belluschi ou Micael com critério. Fiel ao seu ideário táctico o portuense esperou por um golpe de génio dos seus jogadores, a classe que os homens do Braga não tinham. Sabia à partida que sofrer um golo era difícil e que marcar tornar-se-ia mais provável à medida que o tempo fosse discorrendo. Mas sofreu na espera e sem corrigir o posicionamento no terreno de jogo. Hulk nunca soube aproveitar o pouco espaço que teve e perdeu-se, demasiadas vezes, em lances individuais. Abdicou de lances de bola parada estudados por remates sem sentido e foi o espelho da falta de alegria e classe desde FC Porto campeão comparado com a equipa que chegou até à final.

Mas no meio de todo este cinzentismo - e o FC Porto sabia-se superior e jogava com isso, sem procurar nunca o risco - o Braga nunca soube reagir à altura e deixou os azuis e brancos ainda mais cómodos. Villas-Boas foi mais Mourinho e menos Robson do que nunca e com a entrada do médio argentino deu um claro sinal de estar satisfeito com o rumo do jogo. Um segundo golo não era, nem ia ser, uma prioridade.

Depois do susto de Mossóro, com um Helton imenso (na sua melhor época em Portugal), o Braga demonstrou que o quarteto defensivo do Porto (especialmente Otamendi e Sapunaru, os mais desastrados) joga mal sob pressão. Mas os poucos erros individuais não tiveram continuidade e sempre que a bola chegava a Moutinho ou Fernando o jogo adormecia outra vez. Os médios do FC Porto nunca procuraram as diagonais a rasgar, a velocidade dos flancos e contribuíram, e muito, no afunilar do jogo ofensivo. A certa altura dava quase a sensação de haver um pacto de não-agressão entre todos, evidenciado várias vezes pela atitude de Helton, aplaudindo os rivais efusivamente. Ao clube do Porto não interessou nunca procurar uma vitória expressiva, o Braga nunca lhe deu demasiados espaços mesmo quando perdia e o golo de Falcao poupou a Villas-Boas exercer mais como táctico e menos como psicólogo.

 

No final, a sua desilusão, é algo que só pode atribuir a si mesmo e aos seus homens. Pouco incomodados é certo, para eles - e para muitos adeptos - as finais são só para ganhar. Mas depois de ter surpreendido os adeptos neutrais e ter ganho uma considerável legião de adeptos fora de Portugal (como sucedeu com o Dortmund alemão), fica a sensação de que vencer era quase um trâmite e era a imagem de uma equipa descomplexada e atacante que o clube deveria ter procurado dar. Optou pelo cinismo calculista de quem se contenta com a glória do sucesso e talvez com razão. Mas ninguém dúvida também que o clube do Dragão perdeu uma oportunidade de ouro para deixar ainda mais vincada a sua marca no seu impressionante historial europeu.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:15 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Em Dublin o Sporting de Braga apresentou a sua cara mais cinzenta. Foi uma equipa sem recursos e incapaz de dar a volta a um FC Porto muito nervoso e sem a solvência habitual. Domingos Paciência tentou vencer o jogo no tabuleiro de xadrez com Villas-Boas mas o golo de Falcao obrigou a sua equipa a fazer o que pior sabe e em 90 minutos o Braga nunca deu a sensação de poder ir mais longe. Uma carreira europeia com um mérito colectivo tremendo que terminou com a exibição mais pequena do ano.

Será fácil num futuro próximo catalogar esta final da Europe League como uma das mais pobres dos últimos tempos.

Faltou-lhe, quiçá, a emoção do prolongamento a que o Fulham obrigou o Atletico de Madrid na época passada ou a solvência das vitórias de Zenith St. Petersburg, Shaktar Donetsk ou Sevilla nas edições anteriores. Para muito contribuiu a postura do Braga.

O conjunto minhoto sabe quais são as suas limitações. No passado sábado não teve pulmão e know-how para dar a volta a um Sporting que foi tudo, menos entusiasmante. Ontem voltou a defrontar-se com os seus próprios fantasmas.

Uma equipa perfeita na organização defensiva (só cometeu um erro, mas para Falcao isso é suficiente) mas que depois tem muitas dificuldades no processo criativo. Domingos Paciência tentou prolongar ao máximo o marcador a zero, deixar os jogadores mais nervosos do que já estavam e tentar aproveitar um lance fortuito para ganhar. Não quis dar espectáculo, quis ser efectivo. Essa é a sua imagem de marca mas essa é também a realidade do seu plantel, especialmente depois da perda de Matheus, o único talento individual que podia ter destroçado a defesa azul e branca só com o movimento de corpo. Foi uma postura extremamente eficaz e para a qual André Villas-Boas nunca teve resposta. Guarin, Fernando e Moutinho estavam cercados por um quarteto asfixiante (Vandinho, Custódio, Viana e Lima) e a bola nunca chegava com regularidade ao tridente da frente. Silvio forçou Hulk a jogar sem os espaços que tanto gosta de explorar e do outro lado do terreno Varela nunca soube ganhar os duelos a Miguel Garcia. Um posicionamento táctico perfeito que deixou de funcionar ao minuto 44. Falcao fugiu a Rodriguez, olhou para Guarin e pediu a bola. A conexão colombiana destroçou com três toques toda a estratégia bracarense e Domingos percebeu então que a vitória seria quase impossível.

 

Mesmo a perder o técnico nunca arriscou muito, faz parte do seu carácter.

A lesão do central peruano, que deu lugar a Kaká, também não lhe deu a margem de manobra necessária. Mossoró, outro que entrou ao intervalo, teve a única oportunidade clara do Braga em todo o jogo mas os nervos encolheram a baliza e agigantaram Helton. A final acabou aí, depois veio a agonia de 40 minutos soporíferos. O Braga procurou mais a baliza do Porto mas sem critério, sem calma e sem uma única jogada com pés e cabeça. Nem nas bolas paradas, e foram várias, conseguiu ser eficaz. Cantos mal marcados, lançamentos laterais mal calculados, livres desperdiçados e Domingos desesperado. Na inoperância do tridente ofensivo preferiu abdicar de Lima em vez de Paulo César, sem ritmo de jogo. Errou e Meyong não trouxe nada de novo ao jogo do Braga. A equipa continuou a defender bem e a não dar espaços ao rival, mas ao mesmo tempo acabou por adormecer o jogo. Precisamente o que pretendia o rival.

No final dos 90 minutos o Braga pode queixar-se de uma expulsão perdoada a Sapunaru - por segundo amarelo - mas também pode olhar para o jogo bastante duro dos seus defesas (Paulão, Silvio e até Hugo Viana, substituído ao intervalo mais pelo cartão do que pelo seu papel no terreno de jogo) e perceber que o árbitro espanhol podia ter sido mais exigente nos critérios de penalização. Mas, acima de tudo, tem de queixar-se de si mesmo e das incapacidades que revelou durante todo o jogo. Se é verdade que em toda a campanha europeia na Europe League - precisamente depois do adeus de Matheus - o Braga só marcou 2 golos num jogo, também é verdade que em nenhum dos restantes encontros deu tanto a sensação de ser incapaz de incomodar minimamente o rival. Foi um jogo de equipa pequena, pelo menos no panorama europeu, que também não deve surpreender porque as limitações financeiras estão à vista de todos. Sem o técnico, Arthur, Vandinho, Silvio, Rodriguez e algum mais, o próximo ano revelar-se-á um verdadeiro desafio para António Salvador e Leonardo Jardim, o previsível herdeiro de Domingos Paciência. O que os adeptos do clube minhoto não se podem esquecer, apesar da fraca imagem deixada em Dublin, é que a campanha europeia foi, por si só, um pequeno grande milagre, talvez irrepetível, pelo menos nestas condições financeiras e desportivas.

 

Numa final que foi, pela primeira vez na história, 100% portuguesa, o Sporting de Braga ajudou a contribuir para um jogo muito ao estilo de Liga Sagres. Sem emoção, sem golpes directos, sem um ritmo intenso e com muito calculismo táctico à mistura. Espelho do futebol português actual, o Braga representa essa madurez táctica que começa a chegar aos clubes portugueses mas também esse cinismo que retira a componente espectáculo ao futebol luso. No final o conjunto bracarense tem de sair de cabeça erguida. A eles não se podia pedir mais.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 08:20 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quarta-feira, 18.05.11

A conexão colombiana voltou a funcionar e serviu para o FC Porto vencer, com serviços mínimos e muitos nervos á mistura, a sua segunda Europe League. Num jogo mais disputado do que emotivo, os azuis e brancos marcaram numa das poucas ocasiões criadas e depois geriram o resultado frente a um Braga combativo mas sem ideias. Numa final muito morna, os dragões entraram para a elite das poucas equipas europeias com quatro vitórias nas provas europeias. 

Um remate á baliza em oito ocasiões dizem muito de como o FC Porto esteve longe da imagem que deixou ao longo do ano.

A equipa com instinto assassino que fez uma campanha imaculada - e que asfixiou os rivais na prova nacional - mostrou o seu lado mais inofensivo e nervoso numa final em que o Braga nunca soube aproveitar o futebol macio e pouco esclarecido dos azuis e brancos. Até ao remate de Falcao, ao minuto 44, não tinha existido nenhuma ocasião de perigo em ambas as balizas. O Braga lutava muito - e bem - mas depois, com a bola nos pés, não sabia como coordenar os movimentos ofensivos e rapidamente perdia a possessão. O Porto, que tinha mais posse de bola, não sabia o que fazer com ela quando se encontrava com uma muralha defensiva de 4+1 (um excelente Vandinho) que não dava margem de manobra ao jogo em velocidade de Hulk e Varela. O avançado Falcao asfixiava-se no miolo sem poder conectar com Guarin e o jogo adormecia a cada minuto que passava.

Era esse o plano de Domingos, especializado em adormecer o rival e aproveitar as poucas ocasiões que a sua equipa habitualmente dispõe. E parecia estar a funcionar, plenamente, quando surgiu Guarin, com um recorte sublime e um centro milimétrico que entrou o avançado mais em forma do futebol mundial. A conexão colombiana funcionou em conjunto no momento certo. E deu o único ar de classe a um jogo que esteve longe dos pergaminhos de uma final europeia.

 

Com a necessidade de arriscar o Braga não se sente cómodo mas curiosamente foi Mossoró,ao minuto 46, que teve a única oportunidade de golo do segundo tempo. Falhou, clamorosamente, e deixou a nu todas as debilidades ofensivas de uma equipa construida detrás para a frente de tal forma que a qualidade do quarteto defensivo está ainda a anos-luz da qualidade do seu tridente da frente.

O Braga tentou tudo mas com uma ineficácia assustadora. O Porto preferiu não arriscar, não acelerar, sentindo-se cómodo com a curta vantagem que tinha. Só Bellushi, que entrou de forma surpreendente para o lugar de Guarin, o melhor do Porto até então, rematou á baliza. Os demais perderam a dose de pragmatismo que deu bom nome á equipa em toda a Europa e perdeu-se em lances individuais que podiam ter tido piores consequências não fosse a inoperância atacante do Braga.No único momento em que os bracarenses podiam ter dado um passo em frente no jogo, o árbitro Velasco Carballo, autor de uma arbitragem também longe do nível máximo europeu, errou ao não expulsarSapunaru. Poderia ter oferecido um jogo diferente. Acabou por nem sequer espicaçar o orgulho dos arsenalistas. Domingos não tinha margem de manobra no banco. André Villas-Boas, suplantado tacticamente na primeira parte, preferiu não gastar todas as armas que tinha no banco. Foi tão pragmático como os jogadores e no final conseguiu o objectivo. É o mais novo treinador a vencer uma prova europeia. Está muito perto de emular a histórica tripla de Mourinho. E mostrou, talvez pela primeira vez neste ano, que também sabe ganhar sem dar espectáculo com um futebol mais cínico e calculista. Um futebol que dá, de qualquer forma, títulos. O FC Portonão esteve ao seu nivel da época 2010/11 nem sequer ao nível das três anteriores finais que ganhou. Mas não precisou de mais face a um rival que, depois de uma temporada absolutamente fantástico, se viu sem recursos para ferir um rival mais débil do que nunca.

 

O FC Porto foi um merecido vencedor da Europe League 2010/11 mais pela grande épcoa europeia que realizou do que, propriamente, pela qualidade do jogo exibido durante a final. Para o próximo ano está no lote de candidatos a surpreender na Champions League mas Villas Boas sabe, melhor do que ninguém, que a equipa tem de dar ainda muitos aspectos a melhorar. Em Bragaa festa é justa e merecida. Uma noite histórica que possivelmente nunca mais se volte a repetir mas que, pelo menos, avala um excelente projecto desportivo que ainda pode dar mais de si. Numa festa absolutamente portuguesa não houve a emoção das grandes finais europeias mas no final para vencedores e vencidos isso acabou por importar pouco. Assim é, também, o futebol! 

 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 22:23 | link do post | comentar | ver comentários (21)

As equipas conhecem-se à perfeição e repetem em Dublin os duelos mais equilibrados que viveu a Liga Sagres na época que agora chega ao fim. Domingos e Villas-Boas nutrem uma longa admiração mútua. E sabem perfeitamente como passar-se a perna. Talvez por isso o duelo de hoje no Aviva Stadium seja muito mais equilibrado do que o cartel pode deixar antever.

 

Poucas vezes teve de suar tanto o FC Porto de Villas-Boas como nos duelos contra o Braga durante esta temporada.

O triunfo na cidade dos arcebispos deu o mote para o sprint rápido rumo ao titulo, antes que a época se tornasse numa longa maratona. A vitória no jogo do Dragão cimentou uma liderança intocável desde o primeiro dia. Mas os resultados em ambos os jogos enganam. Foram duelos muito mais tensos, equilibrados e disputados que pode parecer à primeira vista. Sem uma chispa de superioridade clara, os campeões nacionais sabem que vão encontrar uma equipa que se organiza como ninguém e que deixa poucos espaços para os matadores azuis e brancos. Mais do que nunca a luta a meio-campo vai determinar o rumo do encontro mas é nos espaços que se vai decidir a final. Nos poucos que deixe o Braga e que aproveite o FC Porto e nos muitos que os bracarenses encontrarão entre a linha de meio campo e a baliza de Helton.

 

 

Defesa adiantada, armadilha preparada

 

Villas-Boas já deixou claro que jogará como sempre e isso significa arriscar.

Especialmente com uma equipa que se desdobra com rapidez e precisão cirúrgica quando tem relva para correr. A adiantada defesa de quatro já deixou mais do que um arrepio nos duelos com Sevilla e Villareal, as equipas que melhor souberam aproveitar o adiantamento do quarteto defensivo azul e branco. Mas essa defesa adiantada é, de certa forma, um risco em formato de armadilha. Villas-Boas é um técnico que prefere jogar com a bola do que explorar os espaços. Mas também tem consciência que equipas bem organizadas no seu meio-campo, como é o caso do Braga de Domingos, precisam de um incentivo para abrir brechas na muralha. Ao adiantar o quarteto defensivo o FC Porto não ganha só em pressão alta e bolas recuperadas. Como o canto da sereia, atraia os lançamentos do rival e procura descolocar as suas peças chave no miolo para depois explorar esse posicionamento ofensivo. Foi assim que começaram as vitórias contra Sevilla e Villareal e foi dessa forma que as duas equipas russas foram massacradas pelo ataque liderado por Falcao e Hulk. O brasileiro é perito em explorar esse espaço mas é o colombiano quem melhor entende esta espécie de maré defensiva, penetrando nas brechas rivais quando menos se espera. Se o Braga opta por uma defesa zonal, como é o mais provável, Falcao terá certamente mais de uma possibilidade de apanhar a defesa em contra-pé e fazer o que sabe melhor. Mas os seus golos começam onde o trabalho defensivo acaba. Rolando, Otamendi, Sapunaru e Alvaro Pereira são os principais artífices do ataque porque, como a defesa de Sacchi no AC Milan, determinam o acordeão ofensivo do FC Porto.

 

Jogo de xadrez

 

O Aviva Stadium não viverá um desses jogos que tanto apaixona os adeptos britânicos de contragolpes.

Será, sobretudo, um jogo pausado, com um ritmo próprio, o que dicte quem tem a bola. E prevê-se que será o FC Porto. Moutinho e Guarin pautaram as velocidades a que se dispute o encontro e obrigarão Mossoró e Hugo Viana a correr, mais do que a pensar o jogo de ataque do Braga. É nesse carrossel, nesse jogo de circulação, que se começará a decidir o ritmo do encontro. Varela e Hulk terão, como principal missão, abrir ao máximo a largura do campo, emulando os princípios de jogo do Barcelona de Guardiola. Não só conseguem tapar o jogo lateral do Braga, sempre perigoso nas subidas de Silvio e Miguel Garcia, mas também forçarão a defesa de quatro do Braga (que será sempre de 4+1, porque se espera um Vandinho muito recuado) a abrir-se e deixar espaços para as diagonais de Falcao. Ter a bola no pé permitirá ao FC Porto explorar as suas armas sem deixar a sua baliza demasiado exposta. Ter a bola, para o Braga, significará, sobretudo, poder respirar. Uma necessidade que certamente Domingos passará aos seus jogadores. Explorar os contra-golpes mas, sobretudo, adormecer o jogo, respirar e não correr riscos desnecessários. Afinal o Braga chegou a Dublin sem nunca marcar mais de um golo por jogo desde o duelo com o Lech Poznan. Por isso não sofrer será sempre a primeira prioridade dos minhotos que sabem que têm pela frente a dupla de ataque mais eficaz do futebol europeu.

 

Em última análise o jogo poderá ser decidido no banco de suplentes. Se houve algo que André Villas-Boas já demonstrou é a sua capacidade de mudar radicalmente um jogo pelos seus ajustes da linha de fundo. O Braga, fruto da natureza épica da sua campanha, não tem as mesmas armas e Domingos Paciência tem poucas possibilidades de acrescentar mais ao que coloque em campo desde o inicio. Mas num duelo tão equilibrado como o que se prevê, as substituições funcionarão mais na dimensão colectiva (pela reorganização táctica na terreno) do que propriamente pelos desequilíbrios individuais que possam deixar a sua marca no marcador. Mas uma final é, inevitavelmente, uma final e todos os detalhes serão fundamentais.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 02:45 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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