Não surpreende ninguém que Bento embarque nas naus com os seus homens de confiança. Muitos serão figurantes, menos ainda que secundários. Mas fazem parte desse conceito militar de grupo que mudou para sempre a perspectiva colectiva de uma selecção baseada, exclusivamente, na meritocracia. O futuro terá de esperar. Os mavericks, terão de assumir. Os homens do sargento Bento são os únicos que alguma vez entraram nas suas contas.
Quaresma nunca iria ao Brasil. Todos os que sabem como isto funciona sabiam-no mesmo antes do próprio Bento ter tomado a decisão. Não é um caso de agente certo ou errado. Há muito (demasiado) disso na selecção. Mas Mendes controla o futebol português via fundos, tem uma influencia crescente nos dois clubes com maior orçamento da liga. É o homem que mais jogadores portugueses tem na carteira e o pai espiritual de Cristiano Ronaldo. O seu fantasma, forçosamente, terá de pairar sempre sobre este projecto. Quaresma ficou de fora por outra coisa. Por como é. Dentro e fora de campo. O “Mustang” teve tudo para ser um jogador destinado a marcar uma década. Um arranque que eclipsou o do próprio Ronaldo. Talento a rodos, insultante até. A explosão mais pura de génio desde Futre, superior a um Figo que precisou de amadurecer com o tempo e as derrotas. Depois veio o Barcelona, cedo demais. Deixou marca. Mas no Porto, dentro de uma estrutura sábia, mostrou o grande que podia ser. Cometeu o maior erro da sua vida ao partir para o sonho italiano. A carreira acabou ali. O talento não. Mas deixou de ser insuficiente. Quaresma defende mal, Quaresma joga pouco com os colegas. Quaresma é génio puro no passe e no remate mas num jogo de detalhes é prescindível para quem já tem quem faça isso por ele. Ronaldo, que cresceu na sua sombra, tomou o caminho oposto e converteu-se num dos maiores jogadores da história. Ele é o líder espiritual em campo deste projecto e não precisa de sombras ao lado. E Quaresma não sabe não ser o protagonista. Os problemas em 2012 deixaram claro, para Bento, que quando fosse necessário, Quaresma nunca iria por o grupo à sua frente. E isso foi a sua sentença de morte. Os últimos meses do “cigano” têm sido penosos para quem já foi tão grande, um náufrago mais neste FC Porto para esquecer. Por talento genuíno está claro que Nani e Varela não pertencem à sua liga. Mas não é de talento que se fala quando se fala em selecções hoje em dia. Há quase duas década, desde a França de Jacquet, que a maioria das selecções decidiu ir pelo caminho do grupo. Nessa França o carácter de Cantona e Ginola não cabia. O mesmo passou com Gascoine e a Inglaterra de Hoddle. Com Romário e Zagallo e Scolari. Ou com Guti, Effenberg ou Michael Laudrup. Quaresma pertence, por um ou outro motivo, a esse grupo de vitimas de um bem maior, o de estar comprometido ao máximo com uma ideia durante quatro asfixiantes semanas.
Paulo Bento faz-se acompanhar dos seus. Dos que estiveram na fase de grupos.
Não quer jogadores que fingiram lesões como Danny. Está preparado a não convocar o melhor médio português este ano – por muito que agora venha o circo do pedido de regresso há dois anos – que é Tiago porque este, quando Bento lhe pediu, preferiu passar ao lado de uma equipa onde aconteciam demasiadas coisas fora da esfera desportiva e que culminaram no despedimento de Queiroz e o circo que se montou à sua volta. Tiago e Carvalho, dois velhos amigos que funcionam a outro ritmo nisto dos meandros do futebol, cansaram-se do circo e foram dizendo adeus. Por muito bem que tenham estado depois, deixaram de contar. Os homens do sargento não podem dizer que não. Ao Brasil vão os que aprenderam a dizer sim. Como Nani, com uma época (época?) penosa mas que tem o compromisso defensivo que dá asas a Ronaldo. Como Vieirinha, que foi de precioso auxilio quando Bento mais precisou, em Setembro, e que não voltou a ter continuidade. Como Ricardo Costa, Ruben Amorim e Eduardo, figuras decorativas em campo e fundamentais fora dele para o seleccionador. Como sucedeu em 2012, Portugal são onze titulares fixos e quatro alternativas recorrentes. Bento tem a sua espinha-dorsal da qual não vai abdicar. A esses nomes há que juntar Hugo Almeida (por Postiga), Varela (por Nani), William Carvalho (por Miguel Veloso) e Ruben Amorim (por qualquer um do meio-campo) que vão ser as substituições da praxe. Ninguém espere algo diferente. João Pereira e Fábio Coentrão são intocáveis e estão fixos. Os seus suplentes normais (Almeida e Costa) nem são sequer laterais de raíz. Uma pena para Antunes ou Cedric que ainda não são parte da “família”. Pepe e Alves são intocáveis como é Patricio por muitas Europa Leagues que ganhe Beto. Veloso-Moutinho-Meireles é um trio inegociável e no ataque não é preciso alongar-nos muito. Rafa, a grande e boa surpresa da lista, poderia ter minutos noutro contexto. Mas a fase de grupos mais dura dos últimos tempos para Portugal convida pouco a imaginar uma jovem e flamante promessa a explodir num palco Mundial. É pena.
Para o futuro fica a sensação de que este é o último grito de guerra de muitos jogadores. Há uma nova seiva de talento que pede a gritos a sua oportunidade. Não são só os André Gomes, Ivan Cavaleiro, Cedric, Anthonny Lopes ou João Mário. São também Bruno Fernandes, André Martins, Paulo Oliveira, Ronny Lopes, André Silva, Alexandre Guedes, João Cancelo, Bernardo Silva, José Sá, Miguel Rodrigues ou Tozé que tarde ou cedo serão cromos de futuras colecções. O futuro destes depende da vontade dos dirigentes do futebol português em dar-lhes espaço, do seleccionador de abrir as portas a nova sangue na família e à sua capacidade de aceitar que neste mundo em que se gera a “equipa das Quinas” ser bom, apenas, não chega. Há que ser algo mais. Há que ser parte dos homens do sargento!