Pelé disse que podia ser o seu sucessor. Num torneio juvenil ofuscou Del Piero e Verón. Para muitos era a maior promessa do futebol moderno, o protótipo do jogador ideal. E de repente, do nada, Nii Lamptey desapareceu do radar. Esta é a história de um dos maiores fracassos da história do futebol.
Treze clubes. Dezoito anos. Tantos sonhos desfeitos.
Aos dezassete anos Nii Lamptey era a grande sensação do mundo do futebol. Cinco anos depois o seu nome tinha caido no esquecimento. O que se passou a seguir foi uma soma de desencontros que transformaram a precoce estrela ganesa num jogador fantasma. No símbolo perfeito da jovem promessa que nunca chega a mais. Por muito boas cartas de recomendação que traga debaixo do braço.
Nii Lamptey foi um dos maiores fracassos da história do futebol porque se lhe exigiu um nível de excelência que o jovem ganês nunca teve. Em 1991 espantou o Mundo com uma série de memoráveis exibições no Campeonato do Mundo de sub17 que se disputou em Itália. Para muitos era o principio de uma grande carreira. Acabou por ser o fim antes de tempo. Nos campos italianos Lamptey jogou contra jovens da sua idade, sem a pressão de ser uma referência do protótipo ideal de futebolista africano, o jogador do século XXI segundo Pelé. Nunca a melhor pessoa para prever o futuro do que quer que seja. Nesse torneio juvenil o Gana saiu triunfador depois de bater a Espanha na final. Não surpreende muita gente que dessa selecção espanhola nenhum jogador tenha dado o salto à fama. Os grandes jogadores da competição cairam no principio da competição. Alessandro Del Piero, Juan Sebastian Verón, Leandro, Mauricio Gallardo, tudo futebolistas referenciados mas na sua fase de formação. No meio deste circuito de futuras, mas ainda anónimas, estrelas, o nome de Lamptey brilhou mais alto. Ganhou o prémio ao melhor jogador do torneio o que raramente é bom sinal para o futuro. A partir desse momento tudo o que alguém predice que fosse passar não aconteceu.
Lamptey chegou a Itália com um contracto assinado no ano anterior com o Anderlecht.
O clube belga, com boas relações com vários olheiros africanos, tinha-o descoberto quando despontou no campeonato do Gana com apenas quinze anos. Á época os clubes belgas não podiam alinhar jovens com menos de dezassete anos mas o impacto mediático de Lamptey foi tal que a lei foi alterada e o jovem tornou-se no mais precoce futebolista da história do futebol belga. Em 1993, com apenas dezanove anos, Lamptey trocou o clube de Bruxelas pelo PSV Eindhoven. Chegava para substituir o mito Romário que tinha acabado de assinar pelo Barcelona. Não durou uma temporada no clube. Os seus golos acenderam os campos da Eredevise e chamaram a atenção da Premier League. Apareceu o Aston Villa em cena e contra toda a expectativa, Lamptey aceitou abandonar o clube campeão holandês pelos Villains. Foi o principio do fim. Com o dinheiro ingressado pela transferência o emblema de Eindhoven foi contratar ao Brasil uma jovem promessa chamada Ronaldo Nazário.
Em Birmingham, por outro lado, Lamptey foi incapaz de manter a qualidade das exibições dos anos anteriores. Vitima de um contrato leonino com o seu empresário, o italiano Antonio Caliendo, o jovem jogador ganês não tinha qualquer voto na matéria no que à sua carreira dizia respeito. Vitima de abusos por parte dos pais, incapaz de ler e escrever, Lamptey era um boneco partido nas mãos de um titere desejoso de sacar o máximo lucro possível. Nos anos seguintes Lamptey continuou a ser convocado regularmente para os jogos da selecção do Gana(foi medalha de bronze nas Olimpiadas de 1992 e de prata no Mundial sub20 de 1993) mas cada ano que passava era forçado a actuar por um clube diferente. Passou por Coventry, Venezia, Santa Fém Ankaragucu até que chegou ao União de Leiria. Apenas sete anos depois de ter tido o Mundo aos seus pés o jogador que Pelé tanto admirou passou a maior parte da temporada no banco do velho Magalhães Pessoa na capital do Lis.
Lamptey tinha vinte e cinco anos e metade da sua carreira tinha passado como um cometa por um buraco negro. A restante não correria melhor destino. Quebrado o contrato com o seu agente, Lamptey viu-se só num mundo apenas interessado na próxima grande estrela. A morte do seu filho mais novo apenas contribuiu para aumentar a sua progressiva depressão. Cansado do futebol, mudou-se para o continente asiático onde passou os cinco anos seguintes a jogar em equipas de segundo nível, mais interessadas em contar com uma antiga grande promessa do que no seu valor real como futebolista. Da Ásia, Lamptey voltou a casa, ao continente africano, jogando pelo histórico Assante Kotoko antes de acabar a carreira na África do Sul. Quase duas décadas depois de tudo ter começado.
Na infância, Lamptey passou noites a dormir nas ruas para não ter de voltar a casa onde sabia que lhe esperava, invariavelmente, uma série de abusos reiterados por parte de um pai alcoólico e uma mãe depressiva. O futebol parecia ser a sua única tábua de salvação. Agarrou-se a ele com todo o desespero de um náufrago. Mas nesse mundo de interesses que sempre rodeia o desporto-rei, tornou-se em presa fácil de interesses paralelos e na epitome perfeita da necessidade constante de criar génios futuros a um ritmo cada vez maior. Todo o talento que Lamptey tinha não foi suficiente para triunfar. Faltou tudo o resto. O futebol não viveu verdadeiramente tudo o Lamptey tinha para oferecer porque decidiu exigir dele antes que fosse algo que não estava destinado ser. E assim acabou a história maldita de uma promessa que realmente nunca o foi. A do maior fracasso da história do futebol recente.