Quinta-feira, 10.02.11

Hoje os investidores estrangeiros são os únicos capazes de injectar dinheiro em projectos desportivos, muitas vezes, absurdamente estagnados. Petro-dolares, rupias indianas, rublos russos, tudo vale. No entanto, o modelo dos magnatas com dinheiro, ilusões mas muito pouca paciência não é novo e no passado deixou as suas vitimas. Poucas terão tido o mesmo impacto mediático do que o Matra Racing Paris. Durante dois anos tentou comprar o sucesso. Falhou e caiu na penumbra do esquecimento...

 

 

 

Quando em 1981 o milionário francês Jean-Luc Lagardére se juntou a Daniel Filipachi para comprar o espólio do grupo de revista Hachete, brincou com os amigos comentando que só lhe faltava mesmo comprar um clube de futebol. O homem que relançou a revista Elle era já então dono de uma imensa fortuna, graças à sua posição na empresa Matra (com considerável sucesso no automobilismo). Por essa altura, gastava essencialmente o seu dinheiro na grande paixão da sua vida, os cavalos de corrida. Mas o futebol também lhe tocava na alma e na cidade-luz de Paris não havia uma equipa que apoiar. O PSG vivia a sua primeira década, rodeado de incertezas, e a ideia começou a matutar na mente do empresário. Quatro anos depois comprou o quase extinto Racing Club Paris, um dos primeiros grandes do futebol gaulês que tinha caido praticamente no anonimato nos anos do pós-guerra. O clube estava na Ligue 2, lutando por sobreviver. Lagardére colocou o dinheiro à disposição da direcção com um objectivo claro: fazer do Racing um colosso europeu.

Começou assim a subida ao céu do clube azul e branco. O presidente conseguiu o apoio da Matra e mudou oficialmente o nome do clube para Matra Racing Club, o primeiro caso de uma instituição desportiva europeia que viu o seu nome alterado para incluir uma designação comercial. Um nome que se assemelhava, e muito, ao já usado pela empresa na sua etapa na F1 e que levantou suspeitas sobre o real interesse de Lagardére num negócio com muitos "ses". O projecto, no entanto, começou a dar os seus frutos. Em 1986 o clube venceu o titulo da segunda divisão do futebol gaulês e chegou, pela primeira vez em largas décadas, à elite. Era preciso dinheiro para permitir ao Matra - então alvo de uma imensa campanha de marketing nas revistas e jornais do grupo Hachette - competir com os maiores da época (o Bordeaux de Jacquet, o Marseille de Goethels ou o Monaco de Wenger). E com o dinheiro chegaram as estrelas.

 

Recém-coroado campeão europeu, o português Artur Jorge foi o primeiro a ser seduzido pela ambição de Lagardére.

Trocou a cidade do Porto pelo conforto de uma vida de luxo em Paris com um recorde milionário para qualquer treinador à época. O objectivo era vencer a prova que o tinha coroado num prazo de quatro anos e para tal chegaram ao modesto Stade des Colombes, nomes à altura. O alemão Piere Litbarski e o uruguaio Enzo Francescoli juntaram-se aos gauleses Pascal Olmeta, Luis Fernandez ou um jovem David Ginola. Mais tarde chegariam ainda o holandês Sonny Silooy, o uruguaio Ruben Paz e o camaronês Eugene Ekéké.

Artur Jorge pediu tempo para formar um onze ganhador - ainda estavamos na época em que só podiam jogar três estrangeiros - mas os resultados demoraram demasiado em chegar. A meio da temporada 1987/1988, o Racing Matra andava perdido na segunda metade da tabela, apesar do talento indiscutivel dos seus artistas, particularmente Francescoli, que confirmou as suspeitas que tinha deixado ao serviço da selecção do Uruguai e que mais tarde inspiraria a Zidane. A segunda volta foi bastante melhor, com a equipa a trepar até ao sétimo posto mas, mesmo assim, fora das provas europeias e a onze pontos do primeiro lugar. O dinheiro de Lagardére começou a desaparecer e os ingressos das bilheteiras do diminuto estádio parisino (7 mil pessoas) e do contracto televisivo eram insuficientes para arcar com os salários principescos das principais estrelas. Artur Jorge partiu (ele que voltaria a Paris para cumprir o seu sonho de campeão com o PSG dois anos depois) e o director desportivo, René Hause, tomou o seu lugar. Mas sem dinheiro, também Francescoli e Litbarki se foram, sem deixar grandes saudades, para brilhar em Marselha e Colónia, respectivamente. E a equipa ressentiu-se em demasia. O projecto começou a desmoronar-se e a equipa terminou a época seguinte num decepcionante 17º posto, salvando-se por um golo da despromoção. Para a Matra e para o seu presidente, era demais. Lagardére demitiu-se, vendeu a sua parte do clube e levou a Matra consigo, deixando o clube em estado de bancarrota. Os melhores jogadores da equipa saltaram do navio em movimento e apesar de ter chegado à sua única final da Taça em 1990, rapidamente a equipa caiu nos escalões do futebol amador francês, onde ainda milita. O dinheiro de Lagardére foi desviado para a France-Galop, empresa especializada em desportos hipicos e nunca mais se aventurou no mundo do futebol.

 

 

 

O projecto do Matra Racing Paris é um aviso a navegantes. Hoje, num mercado mergulhado em negócios obscuros e milionários que entram e saiem com demasiada facilidade, a nefasta gestão do pequeno clube parisino que quis dar um passo maior que a própria sombra podia transferir-se a um qualquer desses clubes com gestões milionárias. O fracasso do Portsmouth inglês, as dividas de West Ham United, o quase desaparecimento do Deportivo Alavés são apenas reflexos desse episódio. Quando o dinheiro quer comprar o sucesso, muitas vezes o único que acaba por conseguir é comprar o fim...lenta e dolorosamente.



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Terça-feira, 18.01.11

Camisola fora dos calções para esconder a barriga. Olhar perdido no coração do tapete verde. Ar cansado. E, de súbito, um toque genial, um golpe de esforço, uma pitada de mestria e et voilá! Assim funcionava o homem que pautou o ritmo do futebol europeu durante grande parte dos anos 80. Quando viu que o fisico não lhe permitia aguentar as exigências do novo futebol, disse adeus. Atrás de si, a glória de uma era. E poucos que se lembravam da sua inoportuna barriga de sofá...

 

 

 

Giovanni Trapattoni berrava, vezes sem conta, a cada jogo da sua super-Juventus.

Durante meia década, os bianconeri foram a equipa italiana por excelência. Em titulos e estilo de jogo eram intocáveis e só nos palcos europeus pareciam ter dificuldades em impor a sua hegemonia. Mesmo assim, durante três anos consecutivos, marcaram presença em três finais. E só perderam uma, uma triste noite em Atenas. A cada jogo, "Il Trap" gritava sempre para o mesmo jogador. Pedia-lhe que corresse, que fechasse espaços, que ajudasse. Mas, a maioria das vezes, gritava em vão. Subitamente, o mesmo pequeno homem de orelhas quentes, arrancava com a bola nos pés e fazia magia. Decidia jogos, épocas. Era assim Michel Platini.

Fisicamente foi o último simbolo de uma era que desprezava a prepração fisica, cada vez mais importante à medida que os anos 80 vão abrindo passo à era do futebol de pressão total. Platini detestava treinar, detestava fazer exercicio e nunca conseguiu, ao largo da sua carreira, esconder uma visivel barriga pouco habitual num desportista de elite. Soltava a camisola, sempre justo e por dentro dos calções até então, para dissimular. Mas nunca conseguiu deixar o vicio do cigarro antes, durante e depois dos jogos. Nem as celebres jantaradas que Il Avvocato, Gianni Agnelli, fingia que não via, nas noites de Turim. Porque no terreno de jogo o pequeno Napoleão respondia. Não corria, para isso estavam os outros dizia sem pejo, mas decidia. Foi Capocanonieri três anos consecutivos. Muito para um número 10 que jogava ao lado de Boniek e Rossi. Foi o herói das grandes noites do clube. Livres directos executados à perfeição, penaltys nunca falhados mesmo quando a tensão era máxima, sprints endiabrados que deixava qualquer defesa de mãos na cabeça. Para Michel tudo servia. Tudo para maior glória. A sua.

 

Com a Juventus, por quem assinou em 1982 depois de se ter tornado na grande figura de um Mundial ganho, precisamente, por uma Itália repleto de jogadores da Vechia Signora, venceu tudo. Duas Serie A - com um intervalo pelo meio, cortesia do Hellas Verona de Preben Elkjaer Larsen - uma Copa di Italia, uma Taça das Taças (numa histórica final contra o FC Porto), 1 Taça Intercontinental (na sua noite mais brilhante, frente ao Argentinos Juniores), 1 Supertaça Europeia e a tão ansiada Taça dos Campeões. Nessa noite, no Heysel Park, os dois maiores artistas de ambos conjuntos, Platini e Dalglish, abraçaram-se. E perceberam para onde o futebol caminhava. Dois anos depois, ambos tinham, precocemente, pendurado as botas. Mas o francês tinha um curriculum invejável.

De 1983 a 1985 venceu de forma consecutiva três Ballon´s D´Or. O último em lográ-lo. E se muitos acusavam a publicação gaulesa France Football de chauvinismo, esquecendo-se de que eram os correspondentes nacionais que votavam,e não os jornalistas franceses, basta olhar para esses três anos e pensar no que se passava no panorama europeu de futebol. Principalmente naquele ano de 1984 em que Platini fez com a França o que Maradona emularia, dois anos depois, com a Argentina. Vencer uma prova praticamente sozinho.

O seu Euro 84 foi demoniaco. Marcou em todos os jogos, desde o encontro inaugural com a Dinamarca até à final e àquele golo mal sofrido por Arconada. Foi o melhor marcador do torneio e emendou-se depois daquela deprimente meia-final com a RF Alemanha no Bernabéu, dois anos antes. Alemanha que seria a sua carrasca dois anos depois em México. Três dias antes Platini falhara o primeiro penalty da sua carreira. Mas a França seguia em frente. Durante os 90 minutos o seu golo, frente ao Brasil romântico de Sócrates e companhia, tinha sofrido o seu último golo internacional. Ele que em 1978 se tinha estreada a marcar pela França frente à futura campeã, a Argentina. Era a época do Nancy, o seu primeiro grande amor. Depois chegou o Saint-Ettiene e a consagração gaulesa. Seis anos como simbolo máximo da Ligue 1 antes de aterrar no Calcio das estrelas. Em 1987, vendo como chegava o AC Milan de Sacchi e como brilhava o Napoli de Maradona, a Roma de Voeller e o Inter de Mathaus, o pequeno génio entendeu que já não podia esconder um fisico que não lhe permitia exibir-se ao mais alto nivel. E retirou-se, com uma simplicidade assombrosa, num jogo de estrelas frente ao seu grande rival individual da época, o inimitável Maradona.

 

 

 

Durante seis anos Michel Platini foi um jogador inigualável nos palcos europeus. A imprensa mediática nunca lhe deu a devida importância talvez porque metade do tempo elogiava o talento de Maradona e a outra metade criticava o estilo da Juve de Trapatonni. Foi o mentor do futebol-champange e exprimiu o melhor do futebol de toque curto na era que terminou com o dominio do futebol directo do norte da Europa. Inigualável nos relvados, falhou como técnico e emendou a mão como directivo. Agora na UEFA, é igual a si próprio. A barriga continua lá, maior ainda. O génio que brotava com tamanha facilidade das suas botas provavelmente também. Tudo em Platini tem um suave toque de mestria. E de pura eternidade...



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Sexta-feira, 10.12.10

Fechou a carreira com uma bofetada de luva branca a todos os criticos que durante anos pediram a sua cabeça. Fartou-se do futebol depois de ter entendido que tinha atingido o ponto mais alto da sua carreira, um feito inigualável. Como ele próprio. Durante vinte anos, Aimee Jacquet foi, muito provavelmente, o mais genial treinador gaulês. Um génio eternamente incompreendido.

 

 

 

Poucos treinadores influenciaram tanto a história do futebol de uma nação como Aime Jacquet.

O técnico que marcou o destino da Ligue 1 durante a década de 80 renasceu, dez anos depois, para fechar um ciclo interminável de sofrimento para os gauleses. Primeiro técnico campeão do Mundo a despedir-se na noite da sua consagração, o seu sucesso foi relegado para um segundo plano. A imprensa, sua inimiga figadal durante décadas, preferiu destacar o talento individual da França multicultural quando já sabiam, como mais tarde se revelaria, que metade dos jogadores daquela deslumbrante selecção nem se falava. A França campeã do Mundo em 1998 completou uma saga pessoal de um homem que tinha sido sempre desprezado como um técnico provisório e que acabou por lograr o que os grandes mentores do passado tinham falhado.

No dia da final contra o Brasil, o destino da carreira do técnico ficou selado. Três golos sem resposta deram o titulo à França e marcaram um adeus depois de quatro anos de polémica como seleccionador nacional. Mas o seu passado de riff-raffes e disputas remontava a muitos anos antes, aos seus dias de jogador no histórico Saint-Ettiene. O Jacquet técnico sempre se pareceu ao Jacquet jogador. Como atleta foi um elemento nuclear na ascensão desportiva dos Les Verts. Chegou ao clube em 1960 com 19 anos, depois de quatro anos a dividir o seu dia a dia entre uma equipa amadora do seu bairro e o trabalho diário numa fábrica de metalúrgia. Dias dificeis na França do pós-guerra que moldou o forte caracter do homem que lideraria o clube de Saint-Ettiene a cinco titulos nacionais durante a década de 60, tornando-se na maior potência desportiva na era pós-Stade Reims. Quando os directivos do clube achavam que estava velho demais, Jacquet rejeitou a reforma antecipada prometida e rumou a Lyon, então um clube de terceira linha. Na capital do Ródano esteve três épocas e ajudou a moldar o conjunto que significaria o rejuvenescimento dos Les Gonnes. Em 1973 colocou final a uma carreira de quinze anos para começar, duas épocas depois, a sua carreira como técnico. Em Lyon precisamente.

 

Com Platini a liderar o renovado Saint-Ettiene, o trabalho de técnico de Jacquet no Lyon superou as expectativas dos directivos que o tinham apenas contratado até encontrar o homem certo. Em três anos o conjunto do massiço central gaulês voltou a lutar pelo titulo francês, apesar de não estar ao nível da elite gaulesa de então, liderada pelo Nancy, PSG e Saint-Ettiene. O sucesso de Aimé Jacquet foi tal que o Girondins Bordeaux o elegeu em 1980 para liderar o projecto do clube do Garonne liderado agora pelo milionário Claude Bez.

Em Bordeaux o técnico revolucionou o futebol francês. Com Giresse, Tigana, Girard e Lacombe o meio-campo dos girondinos marcou o patrão de excelência do futebol da selecção francesa, com a indispensável adicção de Michel Platini. O Bordeaux, a viver uma grave crise institucional, renasceu das cinzas. Venceu três ligas (84, 85 e 87), duas Taças de França e chegou a duas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus, caindo aos pés da Juventus e do AC Milan. Quebrou finalmente o dominio do Saint-Ettiene e erigiu uma escola de bom gosto futebolistico que marcou uma geração. Nove anos depois da sua chegada, e depois de perder pelo segundo ano consecutivo o titulo para o Olympique Marseille de Bernard Tapie, o presidente do Bordeaux decidiu despedir Jacquet. O projecto desportivo tinha chegado ao fim e com ele o mandato do técnico que o impulsionara. Jacquet passou pelos bancos dos modestos Montepellier e Nancy antes de chegar a Clairefontaine. Surgiu primeiro como número dois do recém-nomeado seleccionador Gerard Houllier e depois da eliminação deste na fase de qualificação ao Mundial de 1994, foi eleito seleccionador interino.

A partir de 1994 o mandato de Jacquet começou uma profunda transformação no futebol de um país que sabia que quatro anos depois seria o centro do Mundo. O técnico preferiu abdicar do talento incontrolado de Eric Cantona e David Ginola, as grandes estrelas da época, e apostou numa geração de jovens promessas onde destacavam Zinedine Zidane, Youri Djorkaeff e Christoph Dugarry. No Euro 96 em Inglaterra surpreendeu os criticos com uma presença nas meias-finais quando todos davam os gauleses como presas fáceis dos rivais do Grupo B. A performance valeu-lhe a renovação do contrato e os primeiros ataques da imprensa que o acusavam de ser excessivamente cauteloso. Com Jacquet o eixo defensivo francês, o calcanhar de Aquiles histórico da equipa, começou a funcionar com a precisão de um relógio suiço. Barthez, Blanc, Thuram, Lizarazou e Desailly tornaram-se fixos. Vieira e Deschamps funcionavam no apoio e davam total liberdade a Petit, Djorkaeff e Zidane por detrás do solitário goleador. Um onze sem muitas alternativas (daí as precoces chamadas de Henry e Trezeguet em 98) e que funcionou mal nos amigáveis prévios ao torneio. Durante a prova Jacquet foi diariamente atacado pela imprensa gaulesa. No campo a equipa respondia com convição. No balneário a multiculturalidade tinha provocado a formação de guetos étnicos bem distantes.

 

 

 

O seleccionador sobreviveu às batalhas internas e externas e fez história. A França venceu todos os jogos desde o arranque com a África do Sul à vitória categórica sobre o Brasil. O conto de fadas de Kopa e Platini tinha agora com Zidane e companhia um final feliz. O homem que todos aprenderam a desvalorizar montou o onze que quebrou o enguiço. Depois ajeitou os óculos, olhou para o céu e bateu com a porta. Até hoje. Era um homem feliz então. Doze anos depois continua igual a si mesmo. Sabendo que o lugar no Olimpo será seu para sempre.



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Quinta-feira, 28.10.10

Em 1999 Lorenzo Sanz perdeu a cabeça e gastou uma fortuna nunca vista na jovem promessa francesa Nicolas Anelka. O dianteiro tinha impressionado ao serviço do primeiro Arsenal de Wenger e chegou a Madrid rodeado de pompa. Saiu pela porta pequena, com mil problemas no curriculum. Dez anos depois Florentino Perez repetiu a fórmula e o resultado final parece-se cada vez mais com o caso original. Benzema é, cada vez mais, um novo Anelka.

Segundo a doutrina "mourinhiana", Karim Benzema está morto.

O dianteiro leva um ano e largos meses em Madrid com o cartel de goleador. Sem que nunca ninguém se tenha apercebido do seu faro de golo. O jovem que despontou há cinco anos no Olympique Lyon esfumou-se e hoje é uma sombra de si mesmo. Contratado por cerca de 30 milhões por Florentino Perez, o homem das galáxias, o presidente que foi até à sua casa para o convencer a deixar o Ródano pelo Manzanares, Benzema não rendeu nem uma décima parte do seu investimento. No primeiro ano passou ao lado dos golos, apesar das oportunidades dadas por Manuel Pellegrini. Chegou o defeso e o aviso de José Mourinho. Ou o dianteiro gaulês, envolto também em vários escandalos (acidentes de automóvel, problemas de balneário por recusar-se a aprender espanhol, a não convocatória para o Mundial pelo caso Zayra), tinha de se aplicar a fundo para contar para Mou. Uma jogada arriscada porque, tal como Kaká e Cristiano Ronaldo, o francês era um dos meninos-bonitos do "Ser Superior" que controla Madrid com a palma da sua mão (imprensa desportiva incluida), e desafiar um dos homens do presidente era algo que tinha saído muito caro ao técnico chileno.

Mourinho puxou por ele e deu-lhe oportunidades. Titularidades, em detrimento do menos dotado mas mais eficaz Higuain, e minutos a sair do banco onde o jogo "se vê melhor", para o português. Nada. Benzema desaproveitou cada uma delas e na goleada ao Racing Santander foi estrondosamente assobiado pelas bancadas do Bernabeu. Mourinho avisou-o. Murcia podia ser a sua última oportunidade. Uma hora depois do arranque do jogo, Benzema foi rendido. Caras largas no banco, nenhum gesto de ambas as partes. O principio do fim está cada vez mais ao virar da esquina.

 

Há dez anos o cenário foi o mesmo. No lugar de Mourinho, o plácido Vicente del Bosque. O homem que nunca arranja problemas.

Há poucas semanas o actual seleccionador espanhol confessou que os piores momentos como técnico foram vividos com Anelka sob as suas ordens. Porque não foi nada fácil. O adolescente Anelka despontou no PSG e foi logo "raptado" por Arsene Wenger para o seu recém-criado Arsenal. Na Premier League o dianteiro explodiu e transformou-se num dos mais letais goleadores do futebol europeu. Com 20 anos era uma estrela cintilante e portava-se como tal. Lorenzo Sanz, presidente então da entidade merengue, não resistiu ao talento do francês, mesmo avisado do seu dificil caracter. E contratou-o por 23 milhões de libras, o recorde máximo à época.

Anelka chegou a uma equipa repleta de jovens espanhóis como Raul, Morientes, Guti, Michel Salgado que vinha de uma série de meses convulsos que terminaram com a nomeação do interino Del Bosque como técnico. A equipa teve um desempenho doméstico sofrivel frente ao Barcelona de Louis van Gaal mas foi escalando eliminatórias europeias até que se viu na iminência de disputar um posto na final com o eterno rival. Nesse jogo, contra o Barça, Anelka foi o que esperavam dele. Estelar. Decidiu o apuramento do Real Madrid para a final espanhola, frente ao Valencia, em Paris.

Entretanto o seu caracter tinha-o tornado já persona non grata no balneário para os jovens espanhóis e para os veteranos Hierro e Sanchis. Recusava-se a falar espanhol, faltava aos treinos com assiduidade e um dia, pura e simplesmente, recusou-se a treinador. Foi o culminar de uma série de braços-de-ferro entre equipa e jogador. Foi multado e suspenso por 45 dias e colocado de parte pela equipa técnica. No final do ano, o novo presidente....Florentino Perez, vendeu o jogador ao PSG por cifras similares à da compra e livrou-se de um problema. O dianteiro demorou quase uma década até encontrar um clube estável e agora no Chelsea é um homem novo. Terá Karim Benzema de esperar, também ele, uma década, para finalmente provar o que vale?

Karim Benzema tem todas as condições técnicas para brilhar. Mas psicologicamente é um desastre, o jogador que gosta de ser a estrela e que a equipa existe em função da sua presença no terreno de jogo. Como ele houve dezenas de casos no passado e continuarão a existir no futuro. Resta saber se o dianteiro emendará a postura até ao final do ano ou se a sua aventura madrileña acabará por ter o mesmo fim que o seu compatriota há uma década atrás.



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Terça-feira, 19.10.10

O abelhudo micro da reporter da Sexta espanhola apanhou um avispado Cristiano Ronaldo farto das perguntas sobre a sua falta de pontaria. Chamou-lhe "la puta ansiedad". Um problema que a imprensa gosta de hiperbolizar ao extremo e que afecta, num momento ou outro, qualquer jogador que viva do golo. Uma crise goleadora que já deixou de afectar o português mas que grassa por meia Europa deixando vitimas ilustres pelo caminho...

David Villa fintou o problema da "ansiedade", reforçando a ideia de que ele, como qualquer goleador de top que se preza, vive com ela desde que tocou pela primeira vez na bola. E é a mais pura realidade. No mundo do futebol jogam 11 contra 11 mas só há dois modelos de jogadores com os focos constantemente em cima: o guardião e o goleador.

Uma relação intimamente ligada com a sua evidente productividade. Um médio centro pode perder bolas e compensar com recuperações. Os extremos podem baixar o volume de assistências e resolver o problema com golos. Os centrais podem falhar marcações mas emendar-se com cortes cirúrgicos. Os guarda-redes e os ponta-de-lanças. Não vivem com a opção. O guara-redes é o eterno bode espiatório das derrotas, o homem que raramente é alabado pelas suas defesas e que acaba facilmente crucificado pelos erros. E vive com isso, melhor ou pior. Já o avançado pode trabalhar para a equipa, e aliás, esse dianteiro corporativo ganhou popularidade nos últimos anos com os técnicos mais disciplinados, mas o adepto nunca o perdoará se passa por um daqueles periodos de seca angustiado, de pólvora molhada. De perda do instinto assassino que faz parte do seu ADN. Sem golos o avançado perde a chama. Ele perde a confiança, o técnico duvida, o público assobia e o defesa rival cresce. É uma equação de fácil resolução. Basta a bola entrar. Uma vez. Mas, primeiro que entre...

 

Cristiano Ronaldo viveu esse estigma no inicio do ano.

O Bota de Ouro 2007/2008 tardou vários meses - e milhões de remates disparatados depois - até encontrar-se com o golo. E agora é o Pichichi da Liga Espanhola (e o rei das assistências também) e o jogador mais em forma do campeonato do país vizinho. E no entanto, há poucas semanas, tinha de conviver com a "puta ansiedad". Um problema que a imprensa desportiva diária, na eterna busca pela sobrevivência/lucro, gosta de enfocar. Comparativas, estudos, análises, flashbacks. Tudo vale para despojar o dianteiro do seu orgulho até que a bola não rompe com a lógica e establece a tranquilidade do golo ao seu dono, o goleador.

Agora são outros os "ansiosos". Em Espanha, David Villa, tem de viver com o peso da sua chegada a um clube que arrancou a época de forma mais titubeante que se imaginava. Nem o goleador do ano passado, Leo Messi, nem David Villa parecem encontrados com o golo. O argentino está numa forma deficiente desde o Mundial. O espanhol, goleador do torneio e contratação mais cara do defeso estival, já marcou com a camisola blaugrana. Mas pouco, demasiado pouco. Contra o Valencia, a sua antiga equipa, tiveram de ser Iniesta e Puyol a salvar a honra do convento. Pela equipa espanhola, só de penalty, na Escócia, o dianteiro conseguiu marcar. Depois de dezenas de oportunidades clamorosas ao lado. O seu companheiro de selecção, a meias entre lesões e um clube em pleno estado comatoso, Fernando Torres, é outro caso se ânsia incontrolada. O seu treinador, Roy Hogdson, menos compreensivo que Guardiola ou Mourinho, já deu a receita ao desinspirado homem golo. Mas até a bola não entrar, as palavras servirão de pouco. E que dizer de Diego Milito, o Principe que Mourinho ergueu em San Siro e que agora vive à sombra do vazio. Não marca, não faz jogar, não ilusiona. Esfumou-se no espaço e no tempo. Edin Dzeko e Ivica Olic, promessas eslavas cumpridas da Bundesligas vivem também o seu divórcio com o "thor". Como os Gomis, Lisandro, Gervinho e companhia na Ligue 1. Ou o inefável Wayne Rooney, que há meio ano que não marca a não ser de penalty. A ansiedade é um virus internacional.

Como sempre as ondas vão e vêm e o mar segue igual. O goleador que não marca hoje inevitavelmente marcará amanhã. Se exceptuarmos os casos dos dianteiros pontuais, com um ano em alta, a maioria dos grandes avançados do futebol internacional vivem de altos e baixos. Épocas de grande productividade vão caminhando ao lado de épocas de longas secas goleadores. Mas é preciso vender, interessar o público, dividir para reinar. Falcao, Liedson e Cardozo deixaram de valer porque a bola deixou de entrar? Villa, Torres, Rooney, Milito e companhia já não fazem parte da elite? Ilusões vendidas em papel barato de baixo custo. O futebol vive a sua própria linguagem, e no campo não há espaço para a "puta ansiedade".



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 10:46 | link do post | comentar

Domingo, 29.08.10

O anúncio das contratações de Yohan Gourcouff e André-Pierre Gignac por Olympique Lyon e Olympique Marseille confirmam uma tendência que os últimos dois anos têm vindo a reforçar. A Ligue 1, talvez a mais imprevisível do espectro europeu, começa progressivamente a bipolarizar-se entre os dois gigantes do Sul. Esta época será determinante para entender quem ganha o braço de fora. Os "Olympiques" ou...os outros.

São dois nomes obrigatórios do presente e futuro do futebol gaulês.

Se Gourcouff é há muito referenciado como o novo Zinedine Zidane, depois de se ter afirmado no Girondins Bordeaux, já Gignac consagrou-se há duas épocas pela sua tremenda veia goleadora ao serviço do Toulouse. São nomes fulcrais para o novo seleccionador francês, Laurent Blanc, e representam mais do que um sério investimento por parte de Lyon e Marseille. São o espelho de uma estratégia recente que vai esvaziando o poder dos rivais directos, transformando os dois "Olympiques", nas equipas mais fortes da equilibrada Ligue 1.

O Lyon assumiu-se na última década como um clube que vende bem e compra melhor.

Gourcouff é o consagrar de uma longa estatégia que inclui a vários negócios redondos, particularmente de jogadores que destacam em clubes mais modestos da Ligue 1. Se no ano passado foram Lloris, Gomis e Bastos os elegidos, este ano ao médio centro, o criativo que faltou à França no passado Mundial, junta-se ainda o brilhante dianteiro Jimmy Briand, uma das grandes esperanças do futebol francês. Chegado do Rennes, Briand é um avançado temivel, veloz e possante, perfeito para acompanhar Lisandro e Gomis num tridente ofensivo de muito respeito. Com o patron contratado ao Bordeaux ladeado por Toulalan e Kallstrom (sem esquecer Gonalons, Makoun, Pjanic, Ederson ou Delgado), a equipa de Lyon tem, claramente, o mais forte plantel da Ligue 1. Na época passada o sonho europeu impediu o conjunto de recuperar o ceptro perdido à dois anos, depois de sete titulos consecutivos. Agora, o poder económico do clube presidido por Jean Michel Aulas enfraqueceu um rival directo (Bordeaux) e garantiu outra grande promessa (Briand). No meio fica o progressivo afastamento do clube com a sua formação, se bem que Grenier, Taffer e Mehama são já nomes a seguir apesar da sua juventude. Um cenário em tudo similar ao clube que reina sob a Cote D´Azur.

 

O Marseille quebrou a sua longa fome de titulos na passada época graças ao forte investimento feito pela direcção.

Do técnico Didier Deschamps ao argentino Lucho Gonzalez, os marselheses reforçaram-se em toda a linha e aguentaram o ritmo dos rivais até à fase determinante. Este ano, apesar de terem perdido o goleador Niang para o Fenerbache, os azuis voltaram a demonstrar no mercado gaulês que são uma força com um forte poder de persuasão. À parte do espanhol Azpiculeta, uma das grandes promessas do país vizinho, o clube do Velodrome assediou o Toulouse e trouxe Andre Pierre Gignac, o nome próprio da sobrevivência da equipa onde milita o português Paulo Machado. O dianteiro junta-se assim a outra grande promessa francesa recém-chegada, Loic Rémy e a Mathieu Valbuena e Steven Mandanda, outros habituais da selecção gaulesa. Se a esses se juntam André Ayew (uma das revelações do passado Mundial) e o patrão Gonzalez, e fica claro que temos uma equipa de primeiro nível europeu. Construida, tal como o rival de Lyon, à custa dos seus competidores directos.

É portanto fácil de perceber que neste defeso as equipas médias do futebol gaulês sairam a perder. Mais do que é habitual. Só o Lille conseguiu manter as suas duas estrelas maiores (Hazard e Cabaye), enquanto que Toulouse, Rennes, Nice e Montepellier foram despojados dos seus nomes fortes. AS Mónaco e PSG, duas glórias dos anos 90 a anos-luz dos seus melhores dias, sobrevivem graças à sua aposta na formação e em jovens promessas. Quanto ao Girondins Bordeaux, a grande sensação dos últimos dois anos, a saída de Blanc, Chamkah e Gourcouff pode por um ponto final a uma aventura que agora parece mais pontual que eterna. O clube perdeu as suas máximas referências e corre o risco de se afundar na mediania de metade da tabela.

Sem rivais à altura, Lyon e Marseille têm todas as condições para fazer desta época uma luta a dois do primeiro ao último suspiro. Se é verdade que a Ligue 1 é conhecida pelos seus vencedores surpresa e pelo imenso equilibrio que pauta as sucessivas edições, também é verdade que há muitos anos que não existem duas forças tão fortes, no papel, com relação à concorrência directa. França pode tornar-se brevemente num feudo pessoal dos Olympiques. A bipolaridade do sul ameaça a imprevisibilidade da história.


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Terça-feira, 10.08.10

A saída de David Silva abriu um buraco na orquestra valenciana. O clube espanhol foi rápido e garantiu os serviços de uma das maiores promessas do futebol gaulês. Feghouli tem nos pés a irreverência e atrevimento de quem joga sem nada a perder. Depois de dois anos ao melhor nível no modesto Grenoble, a Europa espera mais um candidato a suceder a Zizou...

Milhões de pessoas tinham acabado de abrir os presentes quando Feghouli quis nascer. Essa festa não era nada com ele. A sua viria depois. 

O jovem de ascendência argelina, mais um dos muitos que povoam o hexágono, nasceu a 26 de Dezembro de 1989 em Levallois-Perret, um desses muitos banlieus povoados de imigrantes magrebinos que dão outra cor à bela Paris. Como todos, Sofiane Feghouli cresceu a ver de perto a miséria e com a sede de conquistar a Mundo da única forma que sabia. Com uma bola nos pés.

Começou a jogar em pequenos clubes de bairro e em 2005 apresentou-se no Paris Saint-Germain para uma prova. O clube dos seus sonhos, aquele que Paris ainda não aprendeu a amar até à exaustão, disse-lhe que não. Demasiado baixo, demasiado magro, demasiado árabe, talvez. O rapaz não desistiu. Cresceu, alimentou-se, mas tornou-se mais magrebino do que nunca, rumando para sul. Nos Alpes encontrou o seu recanto particular. E começou a despontar como uma nova e brilhante estrela no firmamente juvenil gaulês, em periodo de reinvenção.

 

A estreia com o Grenoble Foot 38 surgiu num dia chuvoso de Abril de 2007. Contra o Stade de Reims, um dos duelos quentes da Ligue 2. Tinha 17 anos.

A boa exibição deu-lhe confiança. Em vez de voltar ao banco, o técnico apostou nele para os restantes jogos que da época. Convenceu. De contracto amador passou a profissional, assinando até 2010 com o clube. Com uma pequena cláusula de rescisão. Sempre a pensar no futuro. Em 2008 explodiu e começou a ouvir a expressão "petit Zidane" por todos os lados. Capa de L´Equipe e Onze, o jovem tornou-se na mais quente sensação da liga francesa. O seu futebol vertical desarmava as defensivas contrárias. Rápido, solicito, sempre hábil no disparo, Feghouli tornou-se na estrela da companhia e liderou o conjunto alpino a uma história promoção. Algo que ninguém esperava e para o qual as suas oito assistências e três golos foram fundamentais. O clube segurou-o das investidas locais, particularmente do Olympique Marseille, e viu-o estrear-se pela selecção sub-21 francesa contra a Bosnia. Para desespero dos pais, que o queriam ver com a camisola argelina. Um sonho de todos e de ninguém.

Durante dois anos Feghouli tornou-se, por definição, num dos enigmas Ligue 1. No seu primeiro ano como profissional na alta roda actuou em 24 jogos até que uma gravíssima lesão, no duelo contra o Veledrome, o impediu de terminar o ano. Perdeu a pré-época da última temporada, ainda a recuperar-se do golpe, e quando quis voltar, em Outubro, voltou a recair na lesão. O menisco cedeu e teve de voltar à mesa de operações. Quando todos pensavam que iria explodir, o corpo pediu descanso. Até ao final da temporada, agónica para o Grenoble, o jogador foi mantido à parte. A direcção não gostou de que o Valencia se tivesse entrometido entre as negociações de renovação de contracto. O clube espanhol levou a melhor e assinou com o jogador em Maio, antecipando já a saída de Silva. Ao jovem franco-argelino foi prometido o papel de criativo mor de uma equipa que regressa pela porta grande à Champions League. Resta saber se o corpo de Feghouli aguentará o desafio.

Desde que Zidane se afirmou que França clama pelo seu sucessor. De Nasri a Ben-Arfa, muitos foram já os que ostentaram o rótulo de sucessor do idolo gaulês por excelência. Sofiane Feghouli é um jogador radicalmente diferente, vertical e rápido, mais apto para equipas que jogam em velocidade e não conjuntos que gostam de parar e pensar excessivamente o jogo. O seu modelo adequa-se bem à velocidade de Mata e Dominguez, os seus futuros parceiros de ataque, e agora terá de ser o alto nível de exigência da Liga BBVA a ditar sentença.  



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:17 | link do post | comentar

Sexta-feira, 16.07.10

pessoas que marcam épocas. Definem filosofias. No Maciço Central francês a pequena cidade rocosa de Auxerre cresceu desportivamente à sombra de um abade filho de um anarquista que cedo percebeu que o futebol era a melhor forma para captivar a juventude gaulesa. A história de um clube de futebol muitas vezes une-se à de uma personagem. Em Auxerre isso não poderia ser mais certo.

Ernest-Théodore Deschamps.

Um nome que hoje é desconhecido por tudo e todos. Mas este homem, religoso convicto, apaixonado pela vida, foi uma das grandes figuras paternais do futebol francês. Durante a primeira metade do século XX a sua imagem tornou-se no espelho da rectidão humana e desportiva. Um abade num país laico, como poucos, dificilmente teria ganho o respeito do público se não tivesse entendido que o novo ópio do povo, quando o século XX se prepara para arrancar, era já então o futebol.

Filho de um anarquista, Ernest Dechamps nasceu em 1868 em Villiers sur Tholon, pequena cidade da Borgonha, em pleno rebulíço politico. O pai, um activista radical e anti-clerical, escondia por detrás do seu trabalho como carniceiro o rosto de uma organização anárquica de implantação nacional. O jovem Ernest seguiu o caminho oposto e decidiu seguir a via religiosa, rompendo com a familia. Rumou para sul, para Auxerre, onde se formou em Filosofia e tomou os hábitos. Se não herdou o ódio pela igreja do seu pai, certamente que a sua infância lhe fez perceber o valor da acção social já que durante anos se tornou num dos grandes benfeitores dos mais desfavorecidos da zona. Em 1900, depois da morte do pai, que muito o afectou, e de passagens pontuais por outras cidades, é nomeado definitivamente como Abade de Saint-Etienne de Auxerre. O século tinha virado e com ele muitos aspectos da sociedade gaulesa. O futebol emergia de forma inesperada e, rapidamente percebendo o seu potencial, o abade Deschamps abraçou-o e decidiu fazer dele a base do seu trabalho social.

 

Em 1905, depois de largas negociações com a Igreja e com o Municipio da pequena cidade, finalmente fundou a Association Pour La Jeunesse Auxerrois. O nome foi reduzido a AJ Auxerre (Associacion Jeuness Auxerre) e tornou-se num caso único de uma equipa desportiva suportada por uma instituição religiosa, ainda que oficiosamente.

O clube arrancou com mais secções para lá do futebol (ginástica, tiro e uma secção musical) e o seu afã era menos competitivo e mais de formação juvenil. Depois de vários problemas para inscrever-se na Federation Française du Foot, numa década em que a questão da separação entre Estado e Igreja estava constantemente na ordem do dia, finalmente a equipa logrou estrear-se num encontro oficial. Foi em 1906 contra uma formação modesta de Migennes. A partir desse momento, e até ao inicio da I Guerra Mundial, a AJA venceu todos os campeonatos regionais da Borgonha. Por uma vez, em 1909, chegou à final do Campeonato Nacional, num duelo contra o Bons Gard de Bordeaux, perdida por 5-1. A morte da maioria dos jogadores da equipa, na guerra das trincheiras, coloca em causa o próprio projecto. Uma vez mais, o presidente Deschamps, pega no projecto e mantém-no vivo, mesmo quando em anos de grandes dificuldades económicas a equipa é forçada a não participar na prova nacional, remetendo-se aos duelos regionais. No pós-guerra, a semi-profissionalização do clube começa a ganhar forma. A chegada do primeiro treinador oficial, Pierre Grosjean, escolhido pelo próprio presidente depois de uma conversa filosófica numa mesa de chá, é o ponto de partida para a nova etapa da vida do clube. Um periodo que Ernest-Theodore já não vai viver. Com 81 anos, o eterno presidente e inspirador da AJ Auxerre, falece a 1 de Dezembro de 1949, deixando consternado todo o futebol gaulês. O clube rapidamente substituiu o nome do velho estádio pelo seu e começa as obras de melhoramento que terminaram com o recinto que ainda recebe os jogos da AJA. Dez anos depois entra pela porta de entrada do estádio um jovem de nome Guy Roux. Tornar-se-á treinador do clube durante meio século. Sempre respeitando os mesmos ideais que levaram um determinado abade a mudar a face do futebol do imenso massiço central francês. 

Ainda hoje há poucos clubes com o espirito do Auxerre. Especializado na formação, hoje como sempre, é um clube modesto mas com um historial de respeito. Em França é venerado pelos românticos e respeitado até pelos mais cinicos, como um clube diferente. O próprio Eric Cantona, que por lá passou nos principios da sua carreira, declarou que França não merecia uma instituição como a AJA. Um trabalho de décadas que brotou da mente de um homem, que viu para lá do hábito, a necessidade de utilizar o jogo como tábua de salvação para os mais desfavorecidos. A sua aura ainda ilumina o estádio com o seu nome, sempre que a sua equipa sobe ao relvado para recordar dias tão distantes.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 09:37 | link do post | comentar

Quarta-feira, 19.05.10

Fazer um top 11 na Ligue 1 é matéria quase impossível. Significa deixar de fora Diarra, Plasil e Chamkah do Bordeaux. Abdicar do jogo de Cris, Cissokho, Pjanic ou Lisandro Lopez do Lyon. Esquecer-se de encontrar lugar a qualquer jogador do surpreendente Monteplier. Ter de deixar de fora o jogo vertical de Ben Arfa. O trabalho incansável de Pedretti e Hazard. Ou de qualquer jogador de AS Monaco ou Rennes. E que Vahirua ou Niculae, rivais de Lucho entre os reis das assistências fiquem de fora, como os goleadores Nene ou Jelen. Mas é inevitável. As escolhas são sempre dificeis. Às vezes quase impossíveis.

 

 

 Hugo Lloris

(Olympique Lyon)

 

Actualmente é o melhor guarda-redes da Europa. Um nível altissimo exibido durante todo o ano nas distintas provas por onde navegou o Lyon. Na Ligue 1 não foi tão espectacular como na Champions League mas, mesmo assim, exibiu números escandalosos. Um guarda-redes com um potencial impressionante que muito dificilmente ficará em Lyon na próxima época. Um número 1 em toda a linha. 

 

Sebastin Corchia

(Le Mans)

 

Foi uma das maiores revelações da temporada. O jovem lateral direito começou a época com Paulo Duarte como técnico e o português não hesitou em entregar-lhe a titularidade. Foi uma aposta certeira. Apesar da péssima classificação do conjunto do noroeste francês, a verdade é que as exibições de Corchia foram de elite. Uma resposta constante para quem dizia que não aguentaria a exigência da elite. Para o ano dificilmente estará de vermelho e amarelo ao peito.

 

Mikel Ciani

(Girondins Bordeaux)

 

É o patrão da defesa do Bordeaux. Uma época desastrosa do campeão que até ao Natal deu todas as sensações de revalidar o trofeu e que acabou por lutar pelo último posto de acesso à Europe League. No entanto, Ciani, no meio desta turbulência, foi uma torre de tranquilidade. Exibições seguras acompanhadas, muitas vezes, de oportunos golos nas redes contrárias, definiram o nivel altissimo de um dos jogadores mais cobiçados do onze gascão.

 

Adem Coulibaly

(Auxerre)

 

É um dos rostos da serenidade do Auxerre. A equipa surpresa do ano manteve-se durante largos meses na parte alta da tabela classificativa, sem alaridos. Subitamente, da noite para o dia, começaram a trepar posições e acabaram por disputar taco a taco o título com o Olympique Marseille. No final Coulibaly foi um dos grandes responsáveis da fiabilidade defensivas do conjunto do massiço central, uma equipa a que um dia Eric Cantona caracterizou como "digna da mentalidade da Premier League".

 

Benoit Tremoulinas

(Girondins Bordeaux)

 

Há muito tempo que França não dispunha de uma colheita tão boa no lado esquerdo da defesa. Para lá dos consagrados Evra e Abidal estão Cissokho e, sobretudo, Tremoulinas. O jovem lateral do Bordeaux é uma seta espetada no lado esquerdo, defendendo e atacando com destreza. Rápido, hábil nos cruzamentos, seguro a defender, o lateral foi um dos achados do final da época passada em França e este ano confirmou todas as expectativas criadas. Um dos jogadores do ano.

 

Yohan Cabaye

(Lille)

 

É o pulmão do conjunto do norte, o cérebro da equipa do Lille. E um dos mentores de mais uma época extraordinária. A sua associação com Eden Hazard, um prodigio belga, levou o clube de Lille de metade da tabela à luta pela Champions League. Perito em assistências, autor de golos decisivos, o trabalho de Cabaye foi ao longo do ano excepcional. Tem futuro para figurar em qualquer onze de elite na Europa. 

 

Benoyt Cheyrou

(Olympique Marseille)

 

É o capitão e espirito vivo deste Marseille recém-sagrado campeão. Depois de vários anos onde se duvidou da sua eficácia, Cheryou assinou uma época brilhante. Ao lado de Valbuena e Lucho montou um triangulo no meio-campo letal que ajudou o clube de Deschamps a recuperar de um inicio de prova titubeanta. Já foi uma grande promessa, nos dias do Sochaux, e agora é mais do que uma consagrada certeza. Merecia entrar nas considerações de Domenech. 

 

Lucho Gonzalez

(Olympique Marseille)

 

Foi o jogador do ano nesta edição da Ligue 1, talvez só ofuscado pelo génio de Lloris.

O argentino chegou a Marselha debaixo de grande expectação e cumpriu com juros tudo o que se esperava dele. El Comandante pautou o futebol fluido do Marselha da mesma forma que o seu técnico fazia a principios dos anos 90. Trouxe calma e espirito competitivo a uma equipa amaldiçoada na hora H. Foi um dos reis das assistências da prova, marcou golos de classe e tornou-se no lider natural dos marselheses. Depois de reinar na Invicta, agora Lucho Gonzalez é o senhor da Cote D´Azur.

 

Yohan Gourcouff

(Girondins Bordeaux)

 

Comparado com a época passada, Gourcouff tem de estar desiludido.

O genial médio centro francês foi o espelho da temporada do Bordeaux. Começou o ano em alta-voltagem, ajudou a levar a equipa às costas durante a primeira volta e brilhou na Champions League. Com Fevereiro começaram os tropeções da equipa, a baixa de forma e a posterior eliminação na prova rainha europeia. Gourcouff não conseguiu incutir o espirito de lider como na época transacta, mas mesmo assim mostrou detalhes só ao alcance dos eleitos. Talvez Hazard pudesse ocupar o seu lugar, mas ainda não há um jogador em França do mesmo nível que o pequeno Yohan.

 

Kevin Gameiro

(FC Lorient)

 

É a prova viva de que Portugal é um país que vive a dormir. Filho de emigrantes portugueses, poderia ter sido chamado várias vezes por Portugal nas selecções jovens, para colmatar o vazio de pontas-de-lança no nosso futebol. Mas poucos sabem ainda quem é, aquele que sucede a Gignac como o rei dos goleadores da Ligue 1. Gameiro ajudou o Lorient a uma das suas melhores épocas de sempre. Os seus golos, de todas as formas e feitios, mostram que estamos diante de um avançado com instinto. E no entanto, apesar da sede de golo, não deixa de ser um jogador de equipa. Resta saber se sofrerá a maldição dos goleadores, da qual o anterior detentor do troféu é só mais um exemplo recente.

 

Mammadou Niang

(Olympique Marseille)

 

Foi o homem golo do Marseille, um elemento fulcral na corrida ao titulo do clube de Deschamps. Demorou a encarrilhar  uma série demolidora de golos a marcar, mas quando começou a trepar na classificação dos goleadores da prova também o clube foi subindo até chegar ao primeiro posto. Uma época de sonho para o jovem senegalês que se torna, naturalmente, num dos avançados mais cobiçados do mercado europeu. Não tem o mesmo esforço fisico que Lisandro Lopez, por exemplo. Mas sabe ser tremendamente eficaz.

 

Jean Fernandez

(Auxerre)

 

Poderia ser Deschamps, ou até mesmo Rudy Garcia. Mas o treinador do ano foi mesmo Jean Fernandez.

O antigo internacional sub-21 francês logrou emular a figura mitica de Guy Roux, o técnico que esteve 48 anos no banco do Abbé-Deschamps. Sucedeu ao polémico Santini e sobreviveu às criticas. Pegou numa equipa que vive apenas da sua escola de formação e moldou um colectivo competitivo. Passou largos meses a lutar pelos postos europeus e terminou o ano a sonhar com o titulo da Ligue 1. Acaba por ter de se contentar com o terceiro posto, que será sempre insuficiente tendo em linha de conta de que as armas com que batalhou foram sempre inferiores a todos os restantes clubes da primeira parte da tabela da prova. Mérito absoluto de Fernandez. 



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 20:12 | link do post | comentar

O Bordeaux terminou com o reinado do Olympique de Lyon. Coube ao Marseille dar a estocada final. Não houve bicampeão nem um regresso ao passado recente. O futebol francês recuperou a dinamica dos anos 90 - de 1993 a 2002 nenhuma equipa repetiu o título - graças a uma conjuntura inesperada de circunstâncias que favoreceram o regresso de um velho campeão. Pela mão do mesmo homem.

Deschamps ergue aos céus a histórica Champions League de 1993 em Munique.

Foi o último grande troféu dos marselheses em 17 anos. Depois da glória, o inferno. A despromoção, o titulo despojado, a longa agonia. Regressa Deschamps, regressam os titulos. Uma analogia inevitável que aumenta ainda mais a aura do antigo capitão aos olhos do magnifico e vibrante Velodrome. O homem que, com o AS Monaco não conseguiu bater o Lyon (apesar de chegar a uma final da Champions), soube finalmente o que é ser campeão francês...no banco.

O seu Olympique Marseille não foi a melhor equipa do ano. Nem a que melhor futebol jogou nem a que tinha melhor plantel. Mas saiu a ganhar de um ano curioso para o futebol gaulês.

A notável época europeia de Bordeaux e Lyon abriram o caminho para o irromper do trovão azul. Depois de uma primeira volta a roçar a mediania, Deschamps mexeu na equipa, mudou o esquema e a jogada saiu-lhe bem. Foi subindo postos na classificação e chegou-se à frente. Em três semanas passou do quinto ao primeiro lugar depois dos sucessivos tropeções de Lyon e Bordeaux, que alinhavam reservas na liga doméstica a pensar na final de Madrid. Quando os "Gonnes" eliminaram o Bordeaux, este já estava demasiado longe da cabeça. Quando, por sua vez, o Bayer Munchen venceu no Gerland, foi a vez do Lyon perceber que o Marselha estava noutro plano. Preparado para celebrar.

Ironicamente o titulo acabou por ser disputado entre quatro equipas inesperadas. Monteplier primeiro e mais tarde Auxerre e Lille, foram os únicos conjuntos que fizeram realmente sofrer os adeptos marselheses. Os triunfos nas últimas quatro jornadas confirmaram o titulo.

 

Atrás do insuspeito campeão, veio o Lyon.

A equipa de Claude Puel desde cedo que atestou baterias na Champions e depois de uma excelente primeira fase e da eliminação do Real Madrid em pleno Bernabeu, o sonho de superar a barreira dos quartos foi mais forte. O técnico passou a utilizar uma versão soft na Ligue 1 e pagou bem caro o preço. Chegou a andar longe dos postos europeus e só um sprint final repleto de garra e oportunismo garantiu que não caía na mesma dinamica auto-destructiva do Bordeaux, que acabaria o ano em sexto lugar e muito longe da glória europeia num ano para esquecer para os de Blanc.

No último posto Champions acabou o Auxerre treinado pelo técnico do ano, Jean Fernandez. O homem que melhor soube manobrar a imensa herança de Guy Roux, montou uma equipa organizada e aplicada que foi ganhando os pequenos duelos contra os seus rivais até se ver, subitamente, a lutar pelo titulo. o braço de ferro durou três semanas, até ao encontro com o futuro campeão. A partir daí a luta passou a ser por um regresso à Champions, prova onde o conjunto não está desde que venceu o seu último titulo em 1995. Missão cumprida às custas de Lille e Monteplier. Os de Rudy Garcia, apoiados por Cabaye e Hazard, fizeram uma época excepcional e mereciam algo mais, tendo deixado no entanto boas indicações para a próxima época. Já o Monteplier, sensação durante a primeira ronda, foi perdendo gás sem tropeçar e conseguiu um posto europeu inesperado para quem arrancava a época com o temor da despromoção. Foi um ano redondo, especialmente depois da péssima época do eterno rival de Toulouse.

 

Atrás do conjunto europeu ficaram os de sempre. Desde os decepcionantes AS Monaco e PSG, que continuam a arrancar, ano após ano, com altas expectativas, para terminar sempre em terra de ninguém. Surpreendente foi mesmo o ano do modesto Lorient, do goleador luso-francês Kevin Gameiro, que se sagrou melhor da prova a par de Niang. O conjunto do noroeste lutava para não descer mas acabou a meros cinco pontos de um lugar europeu. No extremo oposto o Toulouse, de Gignac e Sissoko, que dos sonhos europeus da época passada passou a sofrer com o espectro da despromoção, que só evitou a poucos jogos do fim. Despromovidos acabaram mesmo por ser Grenoble, Bologne e Le Mans. A equipa orientada no inicio do ano por Paulo Duarte não resistiu aos maus resultados enquanto que Grenoble e Bologne passaram o ano sempre em postos de despromoção, nunca dando ideia de poder inverter a tendência negativa.

Para o próximo ano todas as cartas estão na mesa. O Bordeaux, sem Blanc, terá de recomeçar do zero enquanto que o Lyon ameaça reforçar-se à altura do desafio. Caberá ao Olympique Marseille tentar repetir o feito de 1991, a última época em que logrou o bicampeonato. Vinte anos espaços no tempo numa liga sempre emocionante.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:32 | link do post | comentar

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