Durante os anos 80 houve uma selecção que fez furor por onde quer que passasse. Conseguiu o feito de estar em duas fases finais consecutivas de um Mundial e de desafiar a toda poderosa RF Alemanha na final do Euro 80. Foi uma década dourada para o futebol belga e em particular para o seu mentor, Jan Ceulemans.
Há poucos jogadores tão marcantes de uma geração como é Ceulemans para os belgas. A selecção que hoje se arrasta no quarto posto de apuramento para o Mundial viveu há mais de vinte anos a sua época dourada. Foi uma década repleta de gestas heróicas, triunfos inesperados e jogos para guardar na memória do mais apaixonado adepto futebolistico. Uma coincidência: em todos eles estava o dedo de Ceulemans.
Nascido em Fevereiro de 1957 em Lier, o jovem médio mal sabia que ia tornar-se no mais internacional de sempre do seu país, com 80 jogos às costas. Em 1974, com 17 anos, estreou-se na liga belga ao serviço do modesto Lierse. O seu estilo de jogo, rápido e versátil, rapidamente fez dele uma sensação no seu país. Depois de quatro anos em grande forma foi contratado pelo Club Brugges, um dos grandes do futebol belga de então. Impressionados pelos seus registos no anterior clube (em mais de 100 jogos apontou 40 golos), os dirigentes do Brugges entregaram-lhe a batuta do meio campo e Ceulemans respondeu com mestria.
Ao serviço do seu novo clube o jovem Ceulemans, então com 21 anos começou a fazer história ao guiar o Brugge à vitória na liga de 1980 contra o favorito Anderlecht. No conjunto azul e negro Ceulemans acabaria a carreira, doze anos depois. Tornou-se num simbolo belga quando publicamente anunciou que rejeitara ofertas de AC Milan e Juventus para deixar a Bélgica. A sua fidelidade foi recompensada pelos adeptos que fizeram dele o grande simbolo do clube e da liga que voltou a conquistar por três vezes em 1988, 1990 e 1992, ano em que se retirou. Por essa altura era já um mito vivo, com 410 jogos e cerca de 200 golos ao serviço do clube que levou ao estrelato. Mas apesar de nas provas europeias o Brugge não ter estado nunca à altura do seu génio, Ceulemans teve a oportunidade de brilhar ao serviço da equipa belga.
Sob a orientação do mitico Guy Thys, o médio foi a peça chave da equipa que disputou o Euro 80 em Itália. A equipa belga surpreendeu tudo e todos ao empatar o jogo de abertura com a favorita Inglaterra. Ceulemans empatou o jogo e liderou o ataque belga na contundente vitória sobre a Espanha no segundo encontro assistindo Gerets para o golo inaugural. No jogo chave a equipa belga conseguiu empatar com a anfitriã Itália a 0 e assim vencer o grupo. Na final, disputada em Roma, os belgas foram melhores mas um golo de Hrubesch a abrir e outro a fechar o jogo impediu a Bélgica de lograr o seu primeiro titulo internacional. Mas estava dado o aviso. Dois anos depois em Espanha, mais uma surpresa com o médio a ser a grande figura na vitória histórica sobre a Argentina, campeã mundial. Os belgas passaram à segunda fase mas aí perderam os dois jogos contra URSS e Polónia. Afastados do Euro84 os belgas voltaram em força no Mundial do México. Seria a prova de consagração do génio de Ceulemans que levou a equipa a um histórico quarto posto depois de eliminar a URSS de Belanov por 4-3 nos Oitavos de Final e de bater a Espanha em penaltys nos Quartos. Derrotado por Maradona no jogo das semi-finais os belgas não resistiram a Platini e companhia, mas com o 4 posto conseguiram aquele que é, até hoje o seu melhor resultado numa prova internacional. Ceulemans ainda marcou presença no Itália 90 mas a sua carreira já estava em fase descendente.
Após acabar a carreira como jogador Ceulemans optou pelo banco e começou uma carreira como técnico no modesto Aalst. Em 1999 tomou conta do Westerloo, no qual conseguiu surpreendentes resultados o que o levaram de novo ao seu Club Brugges em 2005. No entanto a performance ficou aquém das expectativas e o técnico voltou ao Westerloo onde ainda se encontra, a lutar no meio da tabela da liga Jupiter.