Numa liga onde os recursos são escassos e onde o dinheiro flui com dificuldade, os clubes que não na castradora categoria de "grandes" vêm-se aflitos por manter-se à superficie e disputar de igual para uma igual uma prova quase viciada à partida. Entre todos a última década viu destacar dois modelos de gestão de resultados distintos. Por um lado está o Nacional da Madeira, habilmente gerido por Rui Alves que encontra nas suas frequentes viagens ao Brasil, pequenas pérolas atlânticas que logo se tornam em negócios da China. Desta forma os alvinegros têm-se afirmado nos patamares superiores da Liga depois de décadas a viver na sombra dos rivais União e Martimo.
Já no continente e bem a norte está a politica seguida pelo Sporting de Braga. O clube da cidade dos arcebispos tem feito, ano após ano, uma forte aposta desportiva que o consagre no tal "quarto grande" que lhe permita disputar titulos, adeptos...e rendimentos que a condição actual não consegue gerar. Apesar de época após época a aposta ser cada vez maior, a verdade é que à parte da vitória na Taça Intertoto (tornando os bracarenses o quarto clube português...a vencer uma prova oficial da UEFA) e a boa campanha na Taça UEFA da passada época, a nivel interno o Braga nunca conseguiu realmente disputar os primeiros postos até ao fim da temporada regular, tendo mesmo sido surpreendido, há dois anos, pelo eterno rival de Guimarães que, chegando direitinho da Liga de Honra, passou a maior parte do ano no segundo posto acabando por ficar com o posto mais baixo do pódio. Um lugar que os bracarense ainda não lograram alcançar. A equipa do Sporting Braga tem sido, ano após ano, das que melhor futebol tem praticado no terreno de jogo, mas as falhas em jogos decisivos têm impedido sempre de sonhar com algo mais. A falta de resultados desportivos obrigou António Salvador a abrir o plantel para realizar um encaixe que permite evitar que o clube entre numa espiral que destroçou outros projectos ambiciosos para lograr esse mitico titulo de "grande".
A assinatura do protocolo de cooperação estratégica com o Manchester United é a primeira etapa para a nova vida dos bracarenses. O clube que curiosamente até equipa à Arsenal, um dos rivais históricos dos Red Devils, vai tornar-se no novo parceiro estratégico no continente do tricampeão inglês depois de vários anos a trabalhar directamente com o Antwerp belga. A equipa de Sir Alex Ferguson sempre apostou em ter um clube a disputar um campeonato competitivo na Europa dentro da sua esfera de influência. A aposta no Braga resulta da boa campanha europeia dos bracarenses mas também do crescente interesse do técnico e do seu staff em relação ao mercado português (e sul-americano principalmente), uma relação que não surpreende face à passage de Carlos Queiroz por Old Trafford num periodo onde os Red Devils contrataram três jogadores a actuar em Portugal (Cristiano Ronaldo, Nani e Anderson) e se voltaram claramente para o mercado brasileiro. Sabendo bem que Portugal é a ponte priveligiada para os jovens brasileiros darem o salto ao futebol europeu, ter uma parceria estratégica com um clube da Liga Sagres é o ideal. Por outro lado, para o Braga, é fundamental ter um parceiro forte capaz de emprestar jogadores de alto nivel e margem de progressão sem ter necessariamente de depender de um rival directo (Benfica ou Porto) dentro de portas. Um novo modelo de parceria estratégica que pode ser a solução para muitos clubes a nível mundial que não lograram ainda dar o salto à elite desportiva. Um núcleo onde o Braga se encontra há já meia década.
Rodrigo Possebom é o primeiro exemplo de como o clube arsenalista pode crescer com esta relação. O médio brasileiro mas com passaporte italiano (já actuou pela selecção sub20 da azzurra), é um dos jogadores com mais potencial do plantel do Manchester United. Com excelente visão de jogo e fino recorte, tem uma imensa margem de progressão tendo mesmo sido estreado já na equipa titular do United na época transacta. Uma estreia contra o Newcastle onde actuou no posto de médio box-to-box. No entanto poucas semanas depois, num jogo contra o Midlesborough, sofreu uma selvagem entrada do austriaco Pogatetz que lhe provocou a fractura da perna e o abandono da competição até ao final do ano. Contratado em 2007 (no mesmo ano que chegaram a Manchester os gémeos Fábio e Rafael da Silva e o portista Anderson, a primeira vez na história do clube que o United contou com 4 brasileiros) ao Internacional de Porto Alegre onde já destacava, o jovem jogador foi uma aposta pessoal de Queiroz que chegou a tê-lo na lista dos futuros "nacionalizáveis" para a equipa portuguesa. O médio de 20 anos não é o primeiro jogar do United a chegar ao AXA Estádio (a distinção cabe ao angolano Evandro Brandão, outro avançado jovem de grande potencial do United) mas será um elemento fundamental na estratégia de Domingos Paciência.
Uma nova etapa na vida do clube que encontrou um excelente desvio para contornar os problemas financeiros sem perder a competitividade do seu plantel mantendo-se assim como um dos sérios candidatos a disputar os primeiros postos da Liga Sagres 2009/2010.