Segunda-feira, 4 de Junho de 2012

Sucede em todos os torneios e a maior parte das vezes com algumas surpresas. Em 2008 ficou a França pelo caminho. Em 2004 foi a Alemanha e quatro anos antes ingleses e germânicos. Tal como sucedeu no Euro 2004, Holanda e Alemanha voltam a medir-se. Mas agora os papeis invertem-se. São, com a campeã em titulo, os máximos favoritos ao ceptro europeu o que não deixa em bom lugar Portugal e uma Dinamarca que já venceu o grupo de apuramento ao conjunto luso. Três campeões em titulo, um eterno aspirante, as máximas figuras individuais do futebol europeu e seis jogos de cortar a respiração.

 

Neste carro desportivo de alta gama só cabem dois passageiros. Há quem volte a pé para casa. Quem, é o dilema.

A Dinamarca chega a este Europeu em processo de renovação. O mítico Morten Olsen, figura chave da Danish Dynamite dos anos 80, sabe que se há selecção em prova de quem nada espera algo, depois do sorteio da fase final, é da sua. E pretende jogar com isso a favor. Se no último Mundial os dinamarqueses defrontaram a Holanda, sem mostrar uma grande inferioridade, e se na fase de grupos bateram Portugal, outro rival directo, cabe pensar que a distância entre os dinamarqueses e o apuramento não é tão grande como se possa imaginar. Mas é certo que desde 1992, quando vieram de férias para sagrar-se campeões da Europa, os dinamarqueses apenas se apuraram para a seguinte fase em Portugal, sendo eliminados imediatamente pela República Checa. Um cenário que se adequa ao perfil dos nórdicos, equipa sem figuras mas com um forte sentido colectivo, liderada pela experiência de Thomas Sorensen e pelo talento inato de Christian Eriksen, a mais flamante promessa do futebol dinamarquês desde os dias dos irmãos Laudrup. 

Entre os dois movem-se jogadores que vêm de uma boa época - casos de Niklas Bentner, Simon Kjaer, Daniel Agger, Dennis Rommedahl e Christian Poulsen - e que funcionam bem em conjunto, num futebol bastante pragmático, onde o jogo dos laterais (Wass e Jacobsen) ajuda a dar velocidade e abertura de campo a um ataque que se move bem nas bolas áreas e é hábil na reorganização do meio-campo. Os dinamarqueses são uma das equipas com maior low profile da prova e no entanto um dos rivais mais difíceis de bater em 90 minutos onde a pressão estará sempre do lado do rival. O jogo inaugural, contra a Holanda, pode ditar o rumo que a prova tomará para a armada nórdica.

A Holanda chegou à África do Sul sem ser favorita e saiu da final com o sabor ágrio de ter perdido um titulo mundial por culpa própria.

Os holandeses fizeram um torneio pragmático e no último jogo preferiram jogar pouco e esperar muito, demasiado. A Bert van Maarjwick a jogada não saiu perfeita mas deu-lhe pistas que seguramente irá seguir neste torneio. Da Holanda não se espera o dilúvio ofensivo da fase de qualificação e sim uma versão mais cautelosa, expectante, com a bola nos pés mas sem desgastar-se em demasia, procurando o espaço e a velocidade de Arjen Robben e Robbie van Persie, dois jogadores que chegam ao torneio em estado de graça. 

Atrás desse duo de bailarinos estão Wesley Sneijder, Dirk Kuyt, Rafael van der Vaart, Mark van Bommell e Nigel de Jong, o mesmo esqueleto da campanha da África do Sul, o verdadeiro segredo do sucesso desta "Laranja Mecânica" mas pouco espectacular. Resta saber como se comportará uma linha defensiva que foi no Mundial exemplar, apesar da ausência de nomes de vulto e, sobretudo, de quanto tempo nas pernas vão ter os jogadores mais jovens (e mais em forma) que chegam ao torneio sob a sombra dos titularissimos consagrados. Strootman, de Jong, Janssen e Huntelaar são alguns dos jogadores de maior destaque da época europeia mas terão o duplo trabalho de convencer ao seleccionador que podem jogar lado a lado com o seu bloco bem definido. Essa profundidade de banco pode ser uma vantagem a longo prazo mas nos dois primeiros duelos - com Dinamarca e Alemanha - será menos influente do que saber o estado real de forma de alguns dos titulares absolutos.

 

Ficou no último Mundial a sensação que, apesar de cair nas meias-finais, a selecção mais espectacular tinha sido a Alemanha de Low. O técnico que herdou o projecto de Klinsmann soube levar uma versão menor da Mannschaft à final em 2008. Agora que chega com aquela que é seguramente a sua melhor geração em 30 anos, o titulo é o objectivo único. 

Ozil, Muller, Schweinsteiger, Gomez, Kroos, Gotze, Klose, Khedira, Neuer, Boateng, Lahm, Reus, Hummels ou os irmãos Bender são os nomes próprios deste projecto, uma conjugação de talento individual que mais nenhuma selecção no torneio é capaz de reunir. Não só o projecto de renovação geracional está completo como a própria metamorfose táctica operada por Low parece estar definitivamente assimilada. Esta Alemanha joga com a bola nos pés, joga utilizando o espaço e, sobretudo, exerce a sua autoridade do primeiro ao último instante. Tanta matéria prima dá possibilidades a explorar outras variantes mas é sobretudo a eficácia do onze titular que os alemães esperam que seja decisiva para superar nos dois primeiros jogos rivais temíveis como são Portugal e Holanda.

Low confiará nos seus mas também já demonstrou ser um técnico que privilegia sempre quem está em melhor forma. Schweinsteiger e Muller são, portanto, o seu maior enigma para acompanhar a Khedira, Ozil, Podolski e Gomez na linha de ataque. Toni Kroos e Mario Gotze são as alternativas naturais, Marco Reus e Lars Bender as mais surpreendentes, mas qualquer um dois seis jogadores mantém alto o nível do jogo de transição e posse que os germânicos têm sabido aliar tão bem.

Atrás do sexteto ofensivo - e no caso alemão até o médio mais recuado é uma arma de ataque - está o hipotético ponto débil da Mannschaft. Mas, mesmo aí, a melhoria de Neuer, Boateng, Hummels, Badstuber e Howedes tem sido clara no último ano e meio e a presença de veteranos como Lahm e Meerstzacker garante a estabilidade emocional necessária para aguentar com a pressão de ser um dos máximos favoritos. Os alemães não vencem um troféu há 16 anos mas depois dessa noite em Londres já estiveram em duas finais e duas semi-finais com versões menos estéticas e aclamadas que esta. Olhar para esta equipa e não imaginar o futuro campeão da Europa é um exercício difícil de fazer mas algo que os rivais da Alemanha e o seu próprio seleccionador terão de ser capazes de fazer.

 

 

O Em Jogo aposta em:

1º Alemanha

2º Holanda



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 15:18 | link do post | comentar

8 comentários:
De Gil Von Doellinger a 4 de Junho de 2012 às 19:57
É sempre um prazer ler as suas palavras Miguel, e, confesso, continuo sem entender a falta de feed-back , ao nível de comentários, que se assiste neste seu blog tão enriquecedor.

Concordo inteiramente consigo, no que diz respeito às selecções deste grupo que se apurarão, assim como com a respectiva ordem na classificação ao fim dos três jogos. Portugal. lamentavelmente, ano após ano, geração após geração, teima em desperdiçar o talento que vai aparecendo e do qual vai dispondo surpreendentemente - pela forma como vamos trabalhando e organizando o nosso futebol, mas isto é conversa para outro dia. Restar-nos-á lutar para não ficarmos em último com a mui bem trabalhada selecção dinamarquesa.

Se me permite, deixe-me que lhe peça a sua opinião relativamente à titularidade de dois jogadores:

1ª - Será que Huntelaar , mesmo depois dos seus 12 golos na fase europeia de apuramento - melhor marcador da mesma - irá mesmo ter que fazer por merecer um lugar, ou acha que já é dono do mesmo, na frente de ataque? Van Persie , que é o jogador que é e fez uma época fantástica em Inglaterra, marcou 6 golos em 6 jogos na fase de apuramento. Mas a estes números Huntelaar respondeu com 12 golos em 8 jogos e, acima de tudo, com um talento que parecia andar escondido desde os tempos do seu início de carreira.


2ª - Eu não teria tanta certeza da titularidade de Mario Gómez caro Miguel. É bárbaro um jogador assim, com o tanto que tem jogado e feito, encontrar-se ainda numa situação dúbia no que diz respeito à titularidade na sua selecção. Mas, estou em crer, a única dúvida que assaltará Low será se é possível coabitar Gómez com Klose , mas nunca terá dúvidas entre um ou outro. Jogando a selecção alemã só com um ponta-de-lança , esse será, indubitavelmente, Miroslav Klose . Gostaria de saber a sua opinião sobre isto.


P.S. - O texto já vai longo - nunca tive capacidade de síntese como qualidade - e peço-lhe desculpa por isso. Mais uma vez aproveito para lhe deixar os parabéns pelo excelente trabalho que aqui tem feito.



De Miguel Lourenço Pereira a 7 de Junho de 2012 às 13:29
Gil,

Obrigado pelo comentário e pelas palavras!

Em relação ao grupo, estamos totalmente de acordo. Quanto ás questões, creio que o Huntelaar começa contra o banco porque van Maarjwick tem o esquema bem estudado e só há espaço para um dianteiro, e esse é Robie van Persie. Mas acredito que tenha minutos e possa fazer bastantes golos, está num ano excelente.

Quanto à Alemanha, Klose tem perdido protagonismo mas o final de época de Gomez no Bayern, com o péssimo jogo na final da Champions, pode pesar emocionalmente no hispano-alemão e não excluo que Klose seja o elemento mais avançado no jogo com Portugal. Mas continuo a ver Gomez como avançado titular.

um abraço


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