Sucede em todos os torneios e a maior parte das vezes com algumas surpresas. Em 2008 ficou a França pelo caminho. Em 2004 foi a Alemanha e quatro anos antes ingleses e germânicos. Tal como sucedeu no Euro 2004, Holanda e Alemanha voltam a medir-se. Mas agora os papeis invertem-se. São, com a campeã em titulo, os máximos favoritos ao ceptro europeu o que não deixa em bom lugar Portugal e uma Dinamarca que já venceu o grupo de apuramento ao conjunto luso. Três campeões em titulo, um eterno aspirante, as máximas figuras individuais do futebol europeu e seis jogos de cortar a respiração.
Neste carro desportivo de alta gama só cabem dois passageiros. Há quem volte a pé para casa. Quem, é o dilema.
A Dinamarca chega a este Europeu em processo de renovação. O mítico Morten Olsen, figura chave da Danish Dynamite dos anos 80, sabe que se há selecção em prova de quem nada espera algo, depois do sorteio da fase final, é da sua. E pretende jogar com isso a favor. Se no último Mundial os dinamarqueses defrontaram a Holanda, sem mostrar uma grande inferioridade, e se na fase de grupos bateram Portugal, outro rival directo, cabe pensar que a distância entre os dinamarqueses e o apuramento não é tão grande como se possa imaginar. Mas é certo que desde 1992, quando vieram de férias para sagrar-se campeões da Europa, os dinamarqueses apenas se apuraram para a seguinte fase em Portugal, sendo eliminados imediatamente pela República Checa. Um cenário que se adequa ao perfil dos nórdicos, equipa sem figuras mas com um forte sentido colectivo, liderada pela experiência de Thomas Sorensen e pelo talento inato de Christian Eriksen, a mais flamante promessa do futebol dinamarquês desde os dias dos irmãos Laudrup.
Entre os dois movem-se jogadores que vêm de uma boa época - casos de Niklas Bentner, Simon Kjaer, Daniel Agger, Dennis Rommedahl e Christian Poulsen - e que funcionam bem em conjunto, num futebol bastante pragmático, onde o jogo dos laterais (Wass e Jacobsen) ajuda a dar velocidade e abertura de campo a um ataque que se move bem nas bolas áreas e é hábil na reorganização do meio-campo. Os dinamarqueses são uma das equipas com maior low profile da prova e no entanto um dos rivais mais difíceis de bater em 90 minutos onde a pressão estará sempre do lado do rival. O jogo inaugural, contra a Holanda, pode ditar o rumo que a prova tomará para a armada nórdica.
A Holanda chegou à África do Sul sem ser favorita e saiu da final com o sabor ágrio de ter perdido um titulo mundial por culpa própria.
Os holandeses fizeram um torneio pragmático e no último jogo preferiram jogar pouco e esperar muito, demasiado. A Bert van Maarjwick a jogada não saiu perfeita mas deu-lhe pistas que seguramente irá seguir neste torneio. Da Holanda não se espera o dilúvio ofensivo da fase de qualificação e sim uma versão mais cautelosa, expectante, com a bola nos pés mas sem desgastar-se em demasia, procurando o espaço e a velocidade de Arjen Robben e Robbie van Persie, dois jogadores que chegam ao torneio em estado de graça.
Atrás desse duo de bailarinos estão Wesley Sneijder, Dirk Kuyt, Rafael van der Vaart, Mark van Bommell e Nigel de Jong, o mesmo esqueleto da campanha da África do Sul, o verdadeiro segredo do sucesso desta "Laranja Mecânica" mas pouco espectacular. Resta saber como se comportará uma linha defensiva que foi no Mundial exemplar, apesar da ausência de nomes de vulto e, sobretudo, de quanto tempo nas pernas vão ter os jogadores mais jovens (e mais em forma) que chegam ao torneio sob a sombra dos titularissimos consagrados. Strootman, de Jong, Janssen e Huntelaar são alguns dos jogadores de maior destaque da época europeia mas terão o duplo trabalho de convencer ao seleccionador que podem jogar lado a lado com o seu bloco bem definido. Essa profundidade de banco pode ser uma vantagem a longo prazo mas nos dois primeiros duelos - com Dinamarca e Alemanha - será menos influente do que saber o estado real de forma de alguns dos titulares absolutos.
Ficou no último Mundial a sensação que, apesar de cair nas meias-finais, a selecção mais espectacular tinha sido a Alemanha de Low. O técnico que herdou o projecto de Klinsmann soube levar uma versão menor da Mannschaft à final em 2008. Agora que chega com aquela que é seguramente a sua melhor geração em 30 anos, o titulo é o objectivo único.
Ozil, Muller, Schweinsteiger, Gomez, Kroos, Gotze, Klose, Khedira, Neuer, Boateng, Lahm, Reus, Hummels ou os irmãos Bender são os nomes próprios deste projecto, uma conjugação de talento individual que mais nenhuma selecção no torneio é capaz de reunir. Não só o projecto de renovação geracional está completo como a própria metamorfose táctica operada por Low parece estar definitivamente assimilada. Esta Alemanha joga com a bola nos pés, joga utilizando o espaço e, sobretudo, exerce a sua autoridade do primeiro ao último instante. Tanta matéria prima dá possibilidades a explorar outras variantes mas é sobretudo a eficácia do onze titular que os alemães esperam que seja decisiva para superar nos dois primeiros jogos rivais temíveis como são Portugal e Holanda.
Low confiará nos seus mas também já demonstrou ser um técnico que privilegia sempre quem está em melhor forma. Schweinsteiger e Muller são, portanto, o seu maior enigma para acompanhar a Khedira, Ozil, Podolski e Gomez na linha de ataque. Toni Kroos e Mario Gotze são as alternativas naturais, Marco Reus e Lars Bender as mais surpreendentes, mas qualquer um dois seis jogadores mantém alto o nível do jogo de transição e posse que os germânicos têm sabido aliar tão bem.
Atrás do sexteto ofensivo - e no caso alemão até o médio mais recuado é uma arma de ataque - está o hipotético ponto débil da Mannschaft. Mas, mesmo aí, a melhoria de Neuer, Boateng, Hummels, Badstuber e Howedes tem sido clara no último ano e meio e a presença de veteranos como Lahm e Meerstzacker garante a estabilidade emocional necessária para aguentar com a pressão de ser um dos máximos favoritos. Os alemães não vencem um troféu há 16 anos mas depois dessa noite em Londres já estiveram em duas finais e duas semi-finais com versões menos estéticas e aclamadas que esta. Olhar para esta equipa e não imaginar o futuro campeão da Europa é um exercício difícil de fazer mas algo que os rivais da Alemanha e o seu próprio seleccionador terão de ser capazes de fazer.
O Em Jogo aposta em:
1º Alemanha
2º Holanda