Há poucos jogadores europeus com tamanha margem de progressão como Kevin de Bruyne e Xherdan Shaqiri. Não são apenas talentosos, jovens e extremamente bem sucedidos. Revelaram-se também surpreendentes exemplos de negócios em tempos de crise. Chelsea e Bayern Munchen mostraram o caminho e deixaram em evidência a habitual politica de desbarato de alguns dos clubes de top do futebol europeu. Dois cracks, uma forma de fazer negócios que entra em sintonia com os novos tempos.
Fábio Coentrão custou 30 milhões ao Real Madrid. Falcao custou 40 milhões ao Atlético de Madrid. Alexis Sanchez trouxe às arcas da Udinese cerca de 40 milhões, tanto como as movimentações de Fabregas ou Aguero. Negócios milionários num ano de crise economica crescente que transparecem bem a teoria de que muitos se valem para criticar o universo futebolistico. Sem dúvida há clubes que trabalham à margem da realidade. Com dinheiro emprestado, com dividas crescentes e pagamentos a prazo que muitas vezes se atrasam sucessivamente. Raros são os bons negócios, raros são os negócios realistas que capturam tanto a essência de uma politica desportiva sustentável como a dinâmica económica da actualidade. No meio desta troca constante de divisas por valores astronómicos que poucas vezes traz uma verdadeira rentabilidade a longo prazo, há sempre excepções. Sadias e esperançadoras excepções. Por cada Sanchez ou Coentrão existe um De Bruyne ou Shaqiri.
O potencial tanto do extremo belga como do craque suiço não está longe do que podemos imaginar com o defesa português e o dianteiro chileno. E no entanto Chelsea e Bayern pagaram a metade de Real Madrid e Barcelona pelos jogadores. Negócios rápidos, silenciosos e que se afastam cada vez mais da ideia mediática da contratação para a ergonomia sustentável de uma gestão quase empresarial que começa a tomar forma em Londres e que há muito faz escola em Munique. Se o Bayern é o exemplo perfeito de como um clube de futebol deve ser gerido, ao Chelsea há que reconhecer que, progressivamente, o clube vai dando passos similares nessa direcção e se afasta, cada vez mais, do fantasma milionário de Abramovich como bolsa sem fundo. De Bruyne e Shaquiri, como sucedeu com Lukaku, Mata, Oriol Romeu, Courtois, Boateng, Rafinha ou Luis Guztavo são espelhos de uma politica de contratação racional e profundamente orientadas para o futuro.
De Bruyne é o terceiro belga a aterrar em Stanford Bridge num ano.
Há muito que o Chelsea soube identificar no outro lado da Mancha um verdadeiro viveiro de talentos a que se podem incluir Hazard, Defour, Witsel e Verthogen. O extremo do Genk tem sido nos últimos anos uma das principais atrações da Jupiler League e apesar dos seus tenros 20 anos há muito que estava referenciado pelos clubes de top do futebol europeu. Em Brugge tentaram aguentar as investidas de Arsenal, Milan e Bayern mas acabaram por ceder aos argumentos do Chelsea. O clube londrino pagou a misera quantia de 9 milhões de euros por um jogador com um valor potencial de mercado capaz de rondar o triplo. O negócio não só garantiu ao clube inglês um substituo à altura para Kalou – de saída do clube – como ainda beneficiou o Genk que ficará com o jogador como empréstimo até ao final da temporada.
O mesmo acordo foi establecido entre Bayern Munchen e Basel FC.
É dificil encontrar um extremo tão entusiasmante na praça europeia nos últimos dois anos que Xherdan Shaqiri. Desde que brilhou com as cores helvéticas num Europeu de Sub-19, o extremo tem deixado a salivar os olheiros dos grandes nomes do Velho Continente. O seu clube de formação foi rejeitando ofertas tentadoras de Espanha e Inglaterra. Por detrás da decisão dos gestores do Basel estava a expectativa numa boa campanha europeia que se veio a concretizar. Shaqiri liderou o melhor Basel da história numa fase de apuramento empolgante que acabou com a eliminação do Manchester United, garantindo aos suiços a presença nos Oitavos de Final. Por 10 milhões de euros os bávaros garantiram a sua contratação para reforçar uma temivel linha ofensiva onde já estão Robben, Ribery, Muller, Kroos e Gomez. A capacidade técnico e a velocidade do suiço transformam-no obrigatoriamente numa das grandes sensações dos encarnados para a próxima temporada. O negócio entrou na dinâmica recente do Bayern, o único clube a conseguir um lucro no exercicio anual pelo 15 ano consecutivo, algo inédito na história de um desporto onde a maioria das instituições vive mergulhada em dividas.
Com estes dois negócios tanto Bayern Munchen como Chelsea não garantem apenas dois elementos que farão parte do futuro do futebol europeu a um baixissimo preço. Ambos clubes establecem uma linha de gestão económica que nos dias do Fair Play establecido pela UEFA deve marcar o futuro das negociações desportivas. Enquanto existirão sempre clubes dispostos a recorrer ao chamado “doping financeiro” e sem esquecer que o desnivel do mercado é real, negócios como este abrem uma esperança para um futuro mais sustentável, realista e ao mesmo tempo empolgante para o futebol europeu.