Domingo, 26 de Fevereiro de 2012

Ser adepto do Arsenal podia ser aborrecido até ter aparecido Arsene Wenger. Hoje é um verdadeiro caso freudiano. Os gunners passaram numa década de ser a inveja intelectual da Europa a ser uma equipa incapaz de viver à altura dos seus melhores momentos. Wenger não perdeu o dom, mas a conjuntura onde se move é cada vez mais rasteira e dificil de gerir. A sua gestão nunca foi tão criticada e os dirigentes do clube londrino têm de tomar uma decisão que pode marcar profundamente o futuro do clube.

 

Quando Wenger chegou a Londres o “boring, boring Arsenal” era um destino tão pouco apetecivel que muitos técnicos ingleses nem se atreviam a aproximar-se. Apesar dos titulos da era George Graham o clube era mal visto pelos adeptos, mesmo os mais “hornbianos”, e a maior parte das suas estrelas viviam mergulhadas em alcool, calmantes e escândalos. A imprensa sensacionalista pode ter chamado ao gaulês “Arsene who?” no dia da sua apresentação mas o curriculum de Wenger no Monaco falava por si. O espectáculo estava garantido.

17 anos passaram. Muitos, em qualquer país, em qualquer clube, em qualquer filosofia desportiva. Muito mais neste mundo veloz e devorador, qual Saturno, dos seus próprios filhos. Wenger prometeu espectáculo e titulos e cumpriu. A equipa jogou como não o fazia desde os dias de Herbert Chapman e logrou mais vitórias que nas últimas cinco décadas juntas. Faltou o ceptro europeu para confirmar a sua hegemonia estética e emocional e esse karma acompanhou Wenger nos últimos anos como talvez nenhum outro. Se tivesse ganho uma Champions League com a magnifica geração dos Invencibles talvez as criticas de imprensa e adeptos fossem menos crueis. Mas frente a Barcelona e Chelsea a sorte e a frieza faltou-lhe e o fracasso europeu transformou-se, inevitavelmente, numa das suas imagens de marca. Agora, sete anos depois do seu último titulo essa lembrança doi mais do que nunca. A eliminação na FA Cup e na League Cup têm-se tornado realidades quase inevitáveis tal como a incapacidade dos gunners de lutar pelo titulo nacional. Se a vitória categórica sobre o Tottenham Hotspurs (depois de estar a perder por 2-0) parece devolver a esperança aos adeptos, a lembrança da derrota humilhante em Milão transformou-se na real vara de medir dos adeptos à gestão actual de Wenger.

 

Poucas equipas conseguiram destroçar tão facilmente o Arsenal de Wenger como o AC Milan de Allegri.

Não que os italianos tenham feito o jogo do ano. Apesar do resultado brilhante, notaram-se bastantes debilidades no conjunto rossonero para pensar que há uma diferença assim tão grande na realidade. O problema esteve em Wenger e, sobretudo na falta de espirito competitivo dos seus. Não se pode medir este Arsenal ao de há dez anos porque, inevitavelmente, a qualidade do plantel é infinitamente superior. Quando Wenger chegou ao clube dedicou-se a duas tarefas. Contratar jogadores de top infra-valorizados no futebol europeu (Petit, Overmars, Henry, Anelka, Vieira, Lehmman, Pires, Ljunberg) e lançar as bases para as equipas de futuro, formadas em casa. À medida que a primeira geração se esgotou os adeptos começaram a perceber que os substitutos, apesar de seleccionados criteriosamente, eram incapazes de igualar os feitos dos seus antecessores. Nem Diaby era Vieira, nem Walcott era Pires nem Bendtner podia aspirar a ser Henry. A qualidade de Fabregas, Nasri e Whilshere era evidente mas o talento individual era incapaz de encontrar um colectivo à altura. A equipa perdeu jogadores maturos, capazes de controlar os tempos de jogo. Perdeu calma, perdeu cordura e perdeu punch.

Vulgarizou-se e essa dura realidade começou a fazer ressentir-se nos resultados. À medida que o clube gastava o dinheiro que tinha a construir o Emirates, Wenger ficava despojado de recursos para combater com os seus rivais directos. O atraso, calculado, tornou-se irreversivel. Hoje o Arsenal não só não tem um plantel à altura da sua história. O seu destino é cada vez mais o do Liverpool. Numa Premier League inflacionada pelos milhões de Chelsea, Man City e Man Utd, os gunners são incapazes de manter as suas estrelas e ambicionar em contratar os grandes nomes de fora. A rejeição de Eden Hazard e Mario Gotze em deixar Lille e Dortmund por Londres é sintomático do real valor internacional do clube. As partidas de Nasri, Clichy e Fabregas consequência inevitável dessa perda de competitividade.

 

Friamente os adeptos do Arsenal podem estar gratos a Wenger. Há mais de cinco anos que o clube não tem nem o plantel nem o poder financeiro de estar regularmente na fase a eliminar da Champions League e no top 4 da Premier League. Este ano o banho de realidade custa mais do que nunca pelo sucesso desportivo do rival Tottenham. Mas a vitória dos gunners no duelo directo entre ambas as equipas espelha perfeitamente, não só a bipolaridade em que vive o clube, mas o importante papel de Wenger como comandante da nau. Contratar um novo treinador só funcionaria com uma injecção de dinheiro que nas últimas épocas foi negada ao francês e que permitiria recuperar o atraso financeiro com os clubes de topo. Na previsivel incapacidade de aumentar o orçamento, o clube tem de ser frontal com os adeptos e deixar claro, como fez o técnico, que os dias de ambicionar por troféus terão de esperar por tempos melhores. O Arsenal tem todas as condições para voltar a ser grande. Mesmo depois de sete anos sem nada vencer a paciência continuará a ser a melhor aliada dos adeptos gunners.



publicado por Miguel Lourenço Pereira às 16:34 | link do post | comentar

2 comentários:
De hugomocc a 26 de Fevereiro de 2012 às 23:58
Olá Miguel,

De facto o Arsenal de hoje é uma sombra dos "invincibles" mas antes de reduzir a questão à liderança de Wenger, impõem-se olhar para as circunstâncias contextuais que ligam esse passado recente ao actual momento menos bom dos "Gooners".

Desde o avultado mas imprescindível investimento no novo estádio à saida intempestuosa de David Dein (braço direito de Wenger dentro da direcção do clube), passando pela alteração do quadro competitivo com a ascenção dos clubes que Wenger diz estarem sob o efeito de "Doping Financeiro" ao mesmo tempo que a sua própria política salarial no Arsenal se revela desajustada face à conjuntura actual, entre tantos outros pequenos-grandes detalhes, uma fotografia mais nítida da realidade do clube norte-londrino aparece.

Porventura o maior problema de Wenger e do Arsenal é o facto de a relação de simbiose ter evoluido para uma fusão das duas entidades, Arséne e Arsenal confundem-se e hoje é quase impossível imaginar um sem o outro.

Mas a separação é inevitável e a pergunta que sobra é que Arsenal deixará Wenger? Um cheio de futuro mas sem presente ou um onde o futuro é hipotecado na fogueira do presente?


De Miguel Lourenço Pereira a 1 de Março de 2012 às 09:02
Hugo,

Desculpa pela tardança na resposta, uma maldita gripe manteve-me afastado uns dias.

Olhar para o Arsenal é olhar para um dos caminhos possiveis que o futebol pode seguir, mais perto do ideário do Fair Play UEFA. O Arsenal gasta o que tem, paga as contas, tem lucro e investiu muito num estádio que só agora começa a dar lucro. O preço a pagar foram estes anos onde não só ficaram titulos por ganhar, ficou também uma imagem pouco atractiva para jogadores de top que preferem dinheiro ou fama express noutros clubes, sejam os de origem, sejam os milionários do futebol. Contra isso Wenger pouco pode fazer.

É certo que apostou muito numa cantera que nunca esteve à altura das expectativas e que o nivel do plantel não é hoje nem sequer um dos 4 melhores da EPL. Mas isso só cimenta ainda mais o caracter de lider carismático de Arsene Wenger que tem feito omeletes sem ovos. A vitória sobre o Tottenham deixou isso bastante evidente contra um onze e um plantel bem melhores que o seu.

Um abraço


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