Foi talvez o titulo mais saboroso. Se é que os triunfos têm um paladar especial. Porque o dinheiro não pagou o troféu. Foi o talento genuíno de uma geração de miúdos inesquecíveis que fez vibrar, uma vez mais, o imenso Welfastadion. Foi a visão de futuro de Jurgen Kloop, o alter-ego clubístico de Joachim Low, que permitiu moldar uma das equipas que marcaram o ano. Em Dortmund festeja-se mais do que o regresso à elite. Festeja-se um titulo que é todo ele dos miúdos da terra. E isso tem de saber a outra coisa...
Não foi preciso gastar milhões em Sammer, Chapuisat, Riedle, Koller ou Rosicky.
Os nomes e rostos dos títulos de 1995, 1996 e 2002, os únicos conquistados pelo clube histórico do Rhur depois dos anos 60, foram pagos a peso de ouro. Eram outros dias e o Dortmund fazia vibrar o futebol europeu graças a uma preciosa combinação de talento local e contratações sonantes. A distribuição dos lucros da renovada Bundesliga e o sucesso europeu na campanha europeia de 1993 deram esse balão de oxigénio tão importante para definir o projecto vitorioso de Ottmar Hitzfield. Em 2002, quando o clube vivia os seus últimos dias de bonança, ainda havia algum dinheiro para gastar e pagar a ambição de voltar a brilhar na Europa. Quando o clube caiu na bancarrota, tudo mudou. Forçados a vender o seu próprio estádio, santuário de décadas, os administradores do Borusia entenderam que o sucesso futuro tinha de vir ao mínimo custo possível. E a única forma de lá chegar passava por apostar, cegamente, na formação. Paciência, paciência e paciência. Foi o que foi preciso para aguentar anos dificeis até que a colheita correspondeu às expectativas. Em 2010 a equipa orientada pelo paciente Jurgen Kloop já dava ares da sua graça com um excelente final de campeonato. Estava na lista dos favoritos para 2011 mas a derrota inaugural contra o Bayer Leverkusen, um dos grandes derrotados do ano transacto, acendeu o sinal de alarme. Era falso. Mas poucos podiam imaginar que poucas jornadas depois o espectáculo do futebol champagne começasse a jorrar no estádio com os adeptos mais fervorosos do futebol europeu.
A média de idades de 23 anos é a mais jovem de sempre da história da competição alemã. No espaço europeu está no top5 de sempre e isso é dizer muito deste projecto onde a maioria das suas estrelas só este ano conseguiram saltar das selecções sub21 e sub19 para a elite. O dinheiro ficou no banco e a qualidade no terreno de jogo. O Dortmund apostou na prata da casa e montou um estilo de jogo que há muito não se via nos palcos alemães. A Bundesliga está a crescer e com equipas como o Borusia esse crescimento faz ainda mais sentido. Com Barcelona e FC Porto, os alemães tornaram-se nos símbolos do jogo bonito. Mesmo que não tenha funcionado na Europa - e Klopp assumiu a falta de interesse pela competição quando surgiram os duelos a doer - o modelo foi suficiente para carimbar, a dois jogos do fim, o sétimo titulo da história do clube do Rhur, esse clube que marcou o primeiro golo da prova em tempos tão pretéritos.
Falar desta equipa amarela e negra é falar de Nuri Sahin, o equivalente da selecção turca ao seu amigo "alemão" Ozil. De Matt Hummels, que o Bayern não quis e que agora é o esteio da melhor defesa alemã. De Shinji Kagawa que chegou à cidade alemã desde a segunda divisão do Japão, tal como Hulk. Dos extremos alemães, recém-chamados por Low à selecção principal germânica, Kevin Grosskreutz e Mario Gotze, dois miúdos de 19 anos que jogam com a classe de veteranos. Do killer-instinct de Lucas Barrios à segurança defensiva de Subotic. E tudo numa equipa sem vedetas onde a harmonia e o colectivo saiam sempre a ganhar. Duas derrotas e um empate em toda a primeira volta. Duas derrotas e três empates na segunda. Pelo meio vitórias históricas, contundentes, inapeláveis. Todas fieis a um estilo, a uma filosofia. O Borussia de Dortmund rugiu com voz própria, sem ter de recorrer às vicissitudes do mercado, e deixou a Alemanha em êxtase.
Com o ceptro alemão nas mãos os adeptos do Westfalenstadion perguntam-se agora pelo futuro. O dinheiro continua a ser uma necessidade para um clube que há poucos anos esteve bem perto do fim. Vender será inevitável e candidatos não faltam, com Nuri Sahin à cabeça. Haverá solidez colectiva suficiente para repetir o brilharete sem voltar a cair em erros antigos. Uma pergunta de resposta difícil que fica para depois. Agora até os mais sérios entre os alemães da cidade industrial à beira do Reno sabem que a hora é de celebrar. Momentos como estes acontecem de tempos a tempos. E se calhar por isso sabem tão bem!