Quando a época arrancou os analistas preveram uma temporada tranquila, possivelmente culminada com um posto europeu. A realidade é bem diferente. O clube do principado mais famoso do mundo está à beira do precipicio. Em sete anos passaram de disputar a Champions League a olhar bem de perto para o fantasma da despromoção. O AS Monaco está em estado critico.
Quando Ludovic Giuly saiu lesionado, aos 22 minutos de jogo, na histórica final de Gelsenkirchen, poucos imaginaram que a partir daquele momento a vida do AS Monaco iria entrar numa espiral negativa com um potencial final dramático. O monegasco - o único em toda a equipa do Principado dos carros desportivos, casinos, corridas desportivas e filhas da realza polémicas - era a alma do conjunto montado habilmente por Didier Deschamps. Sem ele os restantes jogadores tornaram-se presa fácil para a ave de rapina que era o FC Porto de Mourinho. E a equipa não estava, propriamente, composta por pesos plumas. Patrice Evra, Sebastian Squillaci, Jerome Rothen, Hugo Ibarra, Emanuel Adebayor, Fernando Morientes ou Dado Prso. A derrota por 3-0, a maior numa final europeia desde a vitória do AC Milan diante do Barcelona por 4-0 uma década antes, deixou feridas. E precipitou o êxodo dos craques da equipa. Giuly, o porta-estandarte, rapidamente passou para o Barcelona. Ibarra voltou ao Boca Juniores, Rothen voou para Paris, Evra e Adebayor atravessaram o canal da Mancha rumo a Manchester e Londres, respectivamente, e Morientes continuou a navegar pelo mundo no seu exilio da Castellana. Sem jogadores sonantes, também Deschamps desistiu de levar o clube à glória e o principado viu-se orfão.
A equipa deixou a luta pelos postos europeus e mergulhou numa profunda depressão. Seis treinadores em quatro anos não ajudaram a dar à volta á situação e pela primeira vez em muitos anos o AS Monaco correu o grave risco de descer de divisão. Os dias de glória de Wenger e Deschamps pareciam cada vez mais distantes.
Em 2008 houve uma séria tentativa de mudar o rumo do clube.
A nova direcção, coordenada pelo banqueiro local Ettiene Franzi, entendeu que o futuro de um clube de uma cidade tão pequena e sem poderio financeiro para competir com os grandes da Ligue 1 tinha de passar pela formação. O clube passou a comprar jogadores extremamente jovens e a baixo custo, dando-lhes tempo para crescer. O projecto pareceu começar com o bom pé e depois das chegadas do coreano Park Chu-Young e do norte-americano Freddy Adu, houve quem acreditasse num ressuscitar muito semelhante ao da era Deschamps. Que o técnico no comando fosse o brasileiro Ricardo Gomes, central campeão pelo PSG e uma figura altamente respeitada no futebol francês, era outro bom sinal. Mas o tempo joga sempre contra a juventude e Gomes não resistiu à pressão dos resultados. O seu substituto, o histórico Guy Lacombe, não teve melhor sorte e a equipa acabou nas mãos do desconhecido Laurent Banide, antigo jogador da equipa e treinador das camadas jovens com um largo percurso pelo futebol árabe. Uma aposta que pretende emular o efeito Wenger (também ele técnico de camadas jovens com experiência no continente asiático, no seu caso o Japão), mas que até agora não tem dado frutos. O AS Monaco está na ante-penultima posição do campeonato, a última por debaixo da linha de água. E a situação é dramática. O conjunto monegasco tem menos três pontos que o AJ Auxerre (outro histórico que este ano até disputou a Champions League), menos quatro que o modesto Valenciennes e menos cinco que o Nancy, os restantes clubes nesta luta. Atrás de si segue o RCD Lens, a apenas um ponto. E o relógio continua a contar. Faltam dez jornadas para o final da prova e o calendário dos Rouges et Blanc não é nada fácil. A equipa de Banide tem de jogar com os três primeiros (Lille, Rennes e Lyon), as surpresas Sochaux, Saint-Etienne e Montpelier e o PSG. E também com Nancy, Arles e Lens, rivais na luta pela despromoção. O jogo final, que pode ser decisivo, é no Louis II contra o Olympique Lyon. Quase nada.
E no entanto ao olhar para o plantel da equipa para esta época há algo que convida à esperança. A politica de recrutamento do clube conseguiu juntar um conjunto de grandes promessas do futebol europeu e não só. Ao coreano Chu-Young, um dos porta-estandartes do seu país, juntam-se hoje os gauleses Coutadour, Appiah, Mendy, Ruffier, Makengo e também os africanos Nkolou, Mongongu, Malonga, Gosso, Lolo e Haruna. Uma equipa com imenso potencial que terá de saber sofrer neste sprint final de temporada se não quer cair na segunda divisão do futebol gaulês, algo que não sucede desde meados dos anos 70. O principado sofre como nunca mas ainda há luz ao fundo do túnel.