O eterno duelo minhoto há anos que ganhou outra preponderância no futebol português. O fim abrupto do Boavista e o desafinar constante da orquestra sportinguista abriu as portas à emergência de um novo centro de poder. Se o Minho tivesse só um clube, hoje talvez seria a terceira força nacional. Mas mesmo divididos em dois os minhotos sentem que sopra uma brisa favorável ao futebol nortenho. Vitória e Braga dizem presente.
A vitória dos vimaranenses no duelo minhoto não é uma novidade. O ano transacto coube à equipa então orientada por Paulo Sérgio quebrar a invencibilidade do rival de Braga. Três pontos que decidiram, a longo prazo, o titulo a favor do Benfica. Este ano o Braga não está a exibir-se com a mesma fluidez, vitima do natural desgaste de ter várias frentes abertas, mas o Minho continua a lutar pelo titulo. Ou pelas migalhas deixadas pelo FC Porto. O triunfo do Vitória de Guimarães permitiu à equipa de Manuel Machado continuar a liderar a perseguição à frente do pelotão da capital. Tal como há dois anos atrás, quando os vimaranenses só tropeçaram nas jornadas finais, depois de estar perto da glória lograda pelo eterno rival, o ambiciado segundo lugar. A média de resultados dos dois grandes clubes minhotos há muito que deixou de ser uma novidade. O Braga tem um projecto consolidado desportivamente e desde há cinco anos para cá que é uma força a ter em conta. 2009/2010 foi o culminar de uma politica desportiva pensada ao mais minimo detalhe e apesar da nova época não apresentar o mesmo Braga, a verdade é que a equipa segue nas várias frentes que o calendário impõe. Taças a tiro, Champions League de bom nível com presença europeia garantida para Fevereiro, onde quer que seja, e o segundo lugar na Liga Sagres (que lhe permite reeditar o melhor resultado da sua história) a uns significativos sete pontos. Os mesmos pontos que o separam do seu eterno rival vimaranense. Há muito que o Minho deixou de ser apenas pasto para os adeptos encarnados do Norte que jogavam em casa a cada visita do SL Benfica a Braga, Guimarães, Barcelos e arredores. Hoje os dois clubes têm atrás de si uma massa adepto involucrada, uma politica desportiva pensada e uma atitude de grande. Os resultados não surpreendem.
Sem Boavista, vitima do risco da sua politica desportiva, e com um Sporting incapaz de conseguir mais do que 3 titulos em 3 décadas de campeonato, é legitimo pensar que o terceiro posto no ranking do futebol português está em aberto. O Sporting passou os últimos oito anos a destroçar o que construiu em apenas três. Titulos perdidos no principio ou no fim da Liga, técnicos que vão e vêm, jogadores veteranos e jovens misturados sem critério e uma politica presidencial que destroça qualquer projecto desportivo a médio prazo. Imaginar hoje o Sporting a meio da tabela classificativa já não é tão complicado como há uns anos. É até mesmo natural ver o sofrimento dos adeptos sportinguistas jornada após jornada. Os leões conseguiram nas últimas jornadas recuperar a face e seguem já no quinto posto da classificação (a 14 do lider) mas o ano parece perdido, mais um. E a paciência de Job que caracterizou o sofrimento de uma massa adepta que viveu 18 anos (de 1982 a 2000) sem títulos parece ter voltado. A grandeza dos verdi-brancos começa a ostentar-se mais no nome do que no poder desportivo e mediático. Uma verdadeira quebra moral.
Sem Belenenses e Boavista, únicas equipas capazes de sagrar-se campeãs numa liga pautada pelo poder dos chamados "3 Grandes", cabe ao Minho reclamar a sua quota de destaque. O Vitória de Manuel Machado, equipa sem dinheiro mas com muita imaginação, é o perfeito exemplo dessa atitude. Poucos se relembram da notável campanha de 2008 dos vimaranenses, que ficaram às portas de disputar a Champions League no ano seguinte, e talvez por isso muitos se surpreendam com o notável arranque de época de um conjunto que não perdeu com os rivais directos Porto, Benfica, Braga, Sporting e Nacional na sua ambição por superar o seu melhor registo histórico. Com os milhões deixados nos cofres por Bebé e com uma equipa montada quase a custo zero, os vimaranenses revelam-se um conjunto sólido e estruturado, capaz de reviravoltas com truques sacados da cartola, e com estomago para aguentar a pressão de rivais tecnica e financeiramente muito superiores. A viagem à Madeira, terreno do rival que roubou o sonho europeu na última ronda da época passado, será uma boa prova (mais uma) do estofo do conjunto vimaranense.
Uns kilómetros a norte o Braga olha com desconfiança para a época que se vai desenrolando a pouco e pouco. A margem de manobra no campeonato é cada vez mais curta para não perder a ligação com o pelotão da frente e um duelo com o Nacional da Madeira o confronto menos apetecível. A gesta europeia frente ao Sevilla teve o seu preço e apesar das primeiras duas derrotas nos duelos da prova rainha europeia, a dupla vitória frente ao Partizan Belgrado confirmou a presença europeia dos bracarenses em 2011. Um verdadeiro sucesso europeu que teve as suas consequências na liga, onde a falta de concentração e atitude custaram pontos preciosos. Domingos Paciência sabe que o brilharete europeu não pode destroçar o bom trabalho ligueiro e o mais seguro é pensar que a equipa arsenalista passará a ter a prova nacional como máxima prioridade, pelo menos até Fevereiro. Tempo de sobra para recuperar o atraso com o grupo da frente com o qual já não tem duelos pendentes a disputar.
Sem um Hugo Viana na melhor forma e com um ataque em baixo de forma, o Braga perdeu o rótulo de equipa de máxima eficácia. Mas, mesmo assim, não deixa de ser um rival sério à luta pelos postos europeus (Champions League incluida) e apesar do arranque de época tremido, os bracarenses partilham com os vimaranenses uma legitima ambição a trepar um escalaão no pódio do futebol nacional. Esse lugar que o Sporting, entre crise financeira e desnorte desportivo, parece determinado a querer abandonar.