A consagração de uma grande equipa logra-se nos palcos europeus. Se o Barcelona de Guardiola ou o FC Porto de José Mourinho não tivessem aliado o seu esmagador domínio interno à vitória na Champions League, hoje olhar-se-ia para essas duas equipas de forma bem distinta. Wenger tem essa assinatura pendente, Ferguson viveu durante muitos anos nesse vazio e o "Chelski" continua fora da elite porque falhou o assalto à "orelhona". O Benfica tinha, esta época, a oportunidade de ouro para demonstrar que a época passada não foi um acaso. Até agora a desilusão não podia ser maior. Este campeão está na prova errada.
Três pontos, os mesmos que o estreante Braga (nestas andanças) ou que o Cluj, Basel FC ou Marseille.
Muito pouco, demasiado pouco para uma equipa que regressava à Champions com ambição e um discurso que apontava mesmo à final de Londres, a 28 de Maio. Prosápia para vender jornais que não encontra qualquer tipo de justificação no relvado. Chegados ao equador da primeira fase o Benfica tem ainda abertas as portas do apuramento. Mas se o primeiro lugar do grupo é já uma miragem (o Lyon leva mais seis pontos e basta-lhe apenas uma vitória para carimbar a liderança) a verdade é que mesmo o segundo lugar começa a tornar-se algo bem mais complicado do que muitos previam. Num grupo claramente acessível, talvez o que mais na primeira fase, o Benfica apenas venceu o adversário mais débil, os israelitas do Hapoel Tel-Aviv. Uma derrota convincente na Alemanha, frente ao mais fraco Schalke 04 de que há memória em terras germânicas, e um repasso futebolistico em França, contra um renascido Lyon (que há um mês andava também pelos últimos lugares da Ligue 1) foram suficientes para deixar a nu todas as debilidades de uma equipa sem estofo para a alta-competição. Tal como se vai observando no desenrolar da Liga SagresZon, o Benfica planeou mal a época em que sabia que ia ter quatro frentes de combate bem abertas. A legitima ambição europeia empolgou os adeptos mas não encontrou eco na reestruturação do plantel depois de perder os dois elementos chave na reconquista do titulo nacional, Ramires e Di Maria. O técnico Jorge Jesus perdeu a profundidade de campo que os dois sul-americanos lhe davam e teve de confiar nos regulares e nada espectaculares Carlos Martins, Ruben Amorim e Nicolas Gaitan para dar a volta. Sem sucesso.
Contra o Lyon o Benfica voltou a ser uma equipa mansinha, facilmente domada e, acima de tudo, tremendamente infantil.
Os franceses, semi-finalistas da época passada, são uma equipa de verdadeiro estofo europeu e levam já oito anos (a contar com este) com uma presença assegurada na fase a eliminar. Mesmo nos maus momentos, é uma equipa capaz de bater o pé a qualquer um. Que o diga o Real Madrid, na época passada. O Benfica chegou com um discurso de facilitismos e saiu com a licção bem aprendida. Gaitan viu em solo francês os cartões que habitualmente ficam no bolso em Portugal e deixou os colegas em inferioridade numerica contra uma equipa astuta como uma raposa e ferida no orgulho. O primeiro golo dos Gonnes surgiu das habituais desatenções do sector defensivo encarnado. Excelente remate de Michel Bastos, bola no poste, o lance continua a meio-campo, Gourcouff recupera a bola perdida infantilmente (uma de tantas) por Carlos Martins, e com o brasileiro monta um contra-golpe rápido e letal. Jimmy Briand, uma das grandes promessas do ataque gaulês, fez o mais fácil. Percebia-se bem a diferença de atitude, a mesma que levou ao repasso futebolistico em Liverpool na passada temporada, onde a falta de maturidade de Jesus e as desatenções do sector defensivo terminaram, abruptamente, com a campanha uefeira dos encarnados.
No segundo tempo o Olympique Lyon continuou o seu dominio claro e o Benfica continuava sem arranhar. O jogo a meio campo era ganho pelo músculo de Pjanic e Gonalons, e pelo imenso talento do jovem Gourcouff, fundamental na campanha europeia do Bordeux no ano passado. Tal como contra o Hapoel (onde só o golo de Luisão evitou o escândalo) e contra o renascido Schalke 04 (com um Raúl já recordista), no desafio contra os franceses percebeu-se que a este Benfica falta algo mais que profundidade. Sem velocidade, sem espirito matador (um golo em três jogos) e sem concentração, foi fácil a Lisandro Lopez, o dianteiro, ex-FC Porto, que conhece bem a defesa encarnada, ampliar a vantagem. Um lance onde a defesa encarnada, pela enésima vez, viu jogar e acabou com as mãos na cabeça. 2-0, e obrigado.
Mais do que a derrota, ficou a imagem de que o SL Benfica é, realmente e ainda, uma equipa de Europe League. Não mostrou grandes diferenças em relação ao estreante Braga e deixou a nu a grande dificuldade das equipas portuguesas em medirem-se de igual para igual nos grandes palcos europeus. Vencer os próximos dois jogos torna-se portanto, fundamental, para sonhar com os Oitavos. Com o calendário a apertar, cada segundo conta. E este Benfica, há muito se nota, começou a época já a correr contra o tempo. Mau sinal, depois de tanta ambição!