A ilusão de uma nação contra a organização de uma equipa. O processo defensivo dos mexicanos aguentou até ao minuto 54. A euforia de uma nação que todos tinham relegado para as portas dos fundos durou até aos 80 minutos. Ao final o empate que abre o Mundial confirma muitas das ideias pré-concebidas da prova. A emoção será a nota dominante.
O empate do México a 10 minutos do fim roubou aquele sorriso de ilusão que, durante 30 minutos, sobrevoou pelo Soccer City de Johannesburg.
Uma equipa que mais de meio Mundo tinha condenado a sair humilhada do seu próprio torneio levava de vencida o jogo inaugural da sua imensa festa. Um tento de Tshabalala ao minuto 54 abriu as hostilidades goleadoras do torneio e devolveu a esperança que muitos julgavam perdida. Um golo contra-corrente contra um onze azteca que tinha dominado a primeira parte, tendo estado por diversas vezes perto do golo. Valeu o heróico Khume, um desses guardiões imensos que esconde o continente africano, e o desacerto dos avançados mexicanos.
Javier Aguirre surpreendeu com o seu onze. Abdicou de Ochoa na baliza por Perez, mais veterano. Lançou o lateral Juarez para o lugar de extremo direito, na mesma linha onde pululava Carlitos Vela. Atrás a organização de Marquez e Torrado impunha respeito. Coube a Giovanni dos Santos ser o animador ofensivo face ao pobre jogo exibido por Guille Franco. Nomes próprios dos primeiros 45 minutos para os quais os locais, remitidos para a sua área, pareciam não ter argumentos. O apito para o intervalo era um suspiro para os adeptos e um grito de raiva para a Tri mexicana, sempre mais perto do tento.
Mas quis o destino que o primeiro golo do Mundial fosse sul-africano.
Poderá ser o último, mas esse momento de glória já ninguém lhes rouba. Um excelente movimento colectivo e Tshabalala, esse jogador com nome de feiticeiro zulu, rompeu as redes de Perez de forma contundente. A festa, o ruido das vuvuzuelas, foi mais intenso do que nunca. Já sabemos que pulso tem um Mundial em África.
O golo empolgou a equipa da casa que se mostrou mais mandona do que no primeiro tempo. Culpa de Masilela, esse temível lateral esquerdo que ajudou a criar os desiquilibrios ofensivos que foram dando o controlo de jogo à equipa de Parreira. A estrela, Piennar, andava desaparecida mas parecia não fazer falta. Perante esse cenário, Aguirre apostou na veterania de Blanco e na ousadia de Hernandez, o jovem avançado do Manchester United. Mas foi o "kaiser azteca", o veterano Rafa Marquez, quem subiu para impor ordem, respeito e o empate no marcador. Um excelente movimento que terminou num mano a mano com Khume que o africano não teve forma de travar. Um golo justo pelo jogo colectivo mexicano mas que destroçou a bela festa que se ia montando em Joannesburg. Um tento que despertou ainda mais a emoção contida e que teve o condão de lançar ambos os conjuntos para um trepidente término final, com Mphela, esse oportuno goleador, a acertar no poste num duelo onde o dificil era falhar.
O empate no jogo inaugural confirma que este será um grupo de detalhes. Nenhuma equipa se exclui da classificação e a África do Sul evita o fantasma de arrancar a zero o torneio. Uma vitória frente a um dos outros rivais poderá ser suficiente para sonhar com o histórico apuramento para os Oitavos de Final. Um cenário similar para os mexicanos, que parecem ter argumentos para ir crescendo jogo a jogo. Afinal, o Mundial só agora começou!