Três continentes, quatro filosofias. Nos duelos sem fim entre os integrantes do Grupo E prima o futebol veloz. Mas se uns gostam da velocidade na bola, outros preferem a velocidade nos atletas. O perfume das tulipas é diferente do aroma das selva africana. E está mais distante ainda da tão próxima dinamite dinamarquesa. Mas no futebol as distâncias medem-se em passes e não em quilómetros.
Um Mundial mais e a Holanda chega repleta de optimismo. E com razões para isso.
Especialistas em primeiras-fases de luxo e repletos de desilusões quando é a doer, os holandeses sabem que tiveram a benção do sorteio. Os rivais que lhes caem em sorte são, na melhor das hipóteses, equipas com que podem jogar de igual para igual. E isso permite poupar em desgastes tácticos. Fieis ao seu modelo de jogo, os orange querem deixar cedo a sua marca na prova.
Bert van Maarwjick, herdeiro de uma equipa que Marco van Basten nunca soube bem como potenciar, sabe que tem em mãos mais uma excelente geração de atletas. Arjen Robben e Wesley Sneijder chegam a África como dois dos homens do ano. Robbie van Persie está recuperado e Klaas-Jan Huntelaar é um homem diferente quando se veste de laranja. Atrás, o trabalho de Rafael van der Vaart, o resistente de Madrid, e Mark van Bommell voltou a provar que o diabo sabe mais por velho do que por diabo.
Sentir um pulsar de emoção quando se olha para o banco e se encontra a Elia, Kuyt, Babel ou Afellay é algo inevitável. Esta Holanda é veloz. Com e sem a bola nos pés. Tem jogadores para dois dispositivos tácticos e deverá trabalhar num modelo hibrido. Há quem queira ver aqui mais do que a tradição permite. Será só pura ousadia?
Num dos grupos com mais finalistas europeus do ano, é impossível não destacar o imenso Samuel Eto´o.
Há jogadores que definem equipas. Assim se passa com os Camarões e Eto´o. Ao contrário de Gana e Costa de Marfim, que valem pelo colectivo, os Camarões são um conjunto muito mais desordenado e inexperiente. Mas têm um toque de raça e espirito de sacrificio que lhes permite suplantar quase todas as adversidades. Como o seu avançado estelar, um dos poucos homens que podem presumir de ser tricampeões europeus. Sempre remando contra ventos e marés.
É verdade que o avançado do Inter não está só nesta luta. Há mais, como ele claro. Emaná do Bétis, Jean Il Makoun do Olympique de Lyon ou Stephane Mbia, recém sagrado campeão pelo Marseille, são lutadores natos. Homens a quem o destino enviou numa missão. Ao seu lado haverá elementos mais virtuosos (Alexander Song, Assou Ekotto, Idrissa) ou mais viris (Enoh, Geremi, Rigobert Song, Webo). Juntos, esta estranha familia, faz uma equipa a ter em atenção. Porque todos falam em África e ninguém fala em Camarões?
O grande rival dos "Leões Indomáveis" é bem conhecido em terras lusas. Uma equipa europeia como há poucas hoje em dia. O que não a impede de triunfar. Esta Dinamarca não tem nem estrelas, nem individualidades nem sequer um modelo de jogo que faz escola. Mas, como os camaroneses, é uma equipa veloz, disciplinada e dura. Dura de dobrar. Aguentou o peso mediático dos portugueses e o virtuoso ataque dos vizinhos suecos. Está por direito próprio na África do Sul e já mostrou, em edições anteriores, que é uma das equipas mais fiáveis do futebol europeu. Bendtner, Gronkjaer, Jorgensen, Agger ou Kalhenberg são nomes reconhecidos mas em campo são apenas constituintes do único jogador que sobe ao relvado: o colectivo. É essa a essência da dinamite dinamarquesa no seu formato mais puro.
O espectro do futebol oriental paira sempre sobre estas provas mas nunca com as cores azuis do Japão.
Quando a J-League emergiu, a meados dos anos 90, muitos acreditavam que o futuro do oriente futebolistico estava no país do "sol nascente". Mas não. Nem em 1998, nem no "seu" Mundial de 2002, nem em 2006. O Japão falha sempre na hora H e olhando agora para o plantel à disposição é dificil perspectivar outro cenário que não seja uma eliminação precoce, mas natural. Há coisas que dificilmente mudam.
A Figura: Um dos homens do ano, Wesley Sneijder chega à África do Sul com vontade de acabar com todas as dúvidas à sua volta. Sneijder é o barómetro deste Inter campeão europeu e também se espera que erga o seu olho de falcão para conquistar o coração da selecção holandesa. Foi peça chave na campanha de 2008 e a Holanda conta de novo com ele. Se a equipa for longe, muito longe, há um certo prémio à sua espera. E ele sabe disso!
O Duelo: São dois avançados que existem nos antipodas do jogo. Igualmente eficazes, igualmente amados, igualmente espectaculares, definem o diametralmente oposto que pode ser o beautiful game. Se os Camarões contam com Eto´o, o seu xaman particular, a Holanda está eufórica por poder voltar a contar com Robbie van Persie. Não é um killer à antiga, mas tanto ele como o avançado do Inter tratam a bola por "tu". E a baliza por "minha".
O Em Jogo aposta em: Holanda e Camarões